Tu e Eu Meu Amor
Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.Nua a mão que segura
outra mão que lhe é dada
nua a suave ternura
na face apaixonada
nua a estrela mais pura
nos olhos da amada
nua a ânsia insegura
de uma boca beijada.Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.Nu o riso e o prazer
como é nua a sentida
lágrima de não ver
na face dolorida
nu o corpo do ser
na hora prometida
meu amor que ao nascer
nus viemos à vida.Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.Nua nua a verdade
tão forte no criar
adulta humanidade
nu o querer e o lutar
dia a dia pelo que há-de
os homens libertar
amor que a eternidade
é ser livre e amar.
Passagens sobre Amados
506 resultadosCantigas
1
Não há pressas, nem demoras,
No coração das cantigas;
Nem os relógios dão horas
Quando cantam raparigas.2
Como algum dia ando hoje;
Sou o mesmo apaixonado;
Quem disser que o tempo foge
É de nunca ter amado.3
A saudade é queda d’água
Que ao longe quebra, ao bater;
É um compasso de mágoa
Marcado por te não ver.4
Como um adeus de saudade
Não há palavra tão louca:
Dizer adeus, ninguém há-de
Ouvi-lo da minha boca.5
Quem ama liga-se à terra,
Quem canta, ao reino dos céus;
Quem pára que Deus o salve,
Quem anda que vá com Deus.
Tanto sofre o ciumento que sente alegria quando morre antes do que o ser amado objeto do seu ciúme.
Para seres amado, ama.
A Esperança de uma Relação Profunda
Conhecemos as pessoas durante anos, até mesmo dezenas de anos, habituamo-nos a evitar os problemas pessoais e os assuntos verdadeiramente importantes, mas guardamos a esperança de que, mais tarde, em circunstâncias mais favoráveis, se possam justamente abordar esses assuntos e esses problemas. A esperança, sempre adiada, de um relacionamento mais humano e mais completo nunca desaparece completamente, porque nenhuma relação humana se contenta com limites definitivos, restritos e rígidos. Permanece, portanto, a esperança, de que haja um dia uma relação «autêntica e profunda». E permanece durante anos, até mesmo décadas, até que um acontecimento definitivo e brutal (em geral, uma coisa como a morte) vem dizer-nos que é demasiado tarde, que essa «relação autêntica e profunda», cuja imagem tínhamos amado, também não existirá; não existirá, tal como as outras.
Actores Puros
Porque será que sentimos um desejo de proteger ao observarmos o ser amado que não se sabe observado? Porque será que nos dói o coração ao vermos um par de sapatos abandonado? Ou o ser amado que dorme? Pode ser que o corpo adormecido do ser amado expresse todo o patético desta ausência, todo o desamparo de quem ignora que está a ser observado…Os actores são pagos
para fingir que não sabem que estão a ser observados, mas é claro que eles esperam a cooperação de quem os observa, e quase sempre a obtêm. E também há os actores que não são pagos (pensei eu): esses é que é preciso observar.
O único e verdadeiro amor é aquele que se consagra à felicidade do objecto amado.
A Solidão não Constitui Alimento, apenas Jejum
Se não temos aptidão para fazer amigos, remodelemo-nos até consegui-la. A solidão só vale como remédio, como jejum – não constitui alimento; o carácter, como Goethe o viu com tanta clareza, só se forma no tumulto da vida. Se nos tornamos excessivamente introspectivos, estamos na senda da perdição, ainda que o nosso negócio seja a psicologia; olhar com persistência excessiva para dentro de nós mesmos é provocar o desastre do jogador de ténis que conscientemente mede a distância, os ângulos e a força dos golpes, ou como o pianista que pensa nos dedos. Os amigos são necessários, não só porque nos ouvem, como porque se riem para nós; através dos amigos conseguimos um pouco de objectividade, um pouco de modéstia, um pouco de cortesia; com eles também aprendemos as regras da vida, tornando-nos melhores jogadores dos jogos que a compõem.
Se queres ser amado, sê modesto; se queres ser admirado, sê orgulhoso; se queres as duas coisas, usa externamente a modéstia e internamente o orgulho. Mas o próprio orgulho pode ser modesto, raramente se deixando ver, e nunca se deixando ouvir.
Não revelar muita agudeza: os epigramas tornam-se odiosos quando farpeiam fundo a carne; e adoptar como lema o De vivis nil nisi bonum.
Unge-me de Perfumes
“Gosto tanto de ti…”, dizes. É pouco.
É das tuas mãos erguidas que eu preciso.
Vê bem, Amor: não é orgulho louco.
Para os outros eu sou apenas riso.Unge-me de perfumes, minha amada,
Como certa Maria de Magdala,
Ungiu os pés d´Aquele cuja estrada
Só começou para além da vala.Ama-me mais ainda, ó meu amor
Como aquela mulher ungiu o Cristo,
Unge o meu corpo todo, a minha dor…Ela ungiu-o p´ra o túmulo, p´ra a Cruz.
Unge-me teu, p´ra o Sol por quem existo:
Viver é ir morrendo a beijar luz.
O casamento de uma filha amada é um acontecimento que se espera e que se deseja; é, porém, como um parto – alegria acompanhada de dores terríveis.
A suprema felicidade da vida é ter a convicção de que somos amados.
Mestre que não é amado pelos seus discípulos é um mau mestre.
Ser Amado
Às vezes, é preciso conseguirmos o que não se consegue: parar de amar por um momento, para se ser amado por quem se ama.
Seria bom podermos parar para nos sentirmos amados sem ser de volta, na confusão de duas pessoas a amarem-se. Se não amássemos quem amássemos, talvez pudéssemos receber o amor dela e saber como era.
Mas não é provável. Se não a amássemos, não quereríamos saber. Ser amado seria um pedido, uma intromissão, um desconforto à espera de uma resposta nossa, de uma desilusão, de uma insensibilidade àquele amor que não queremos para nada, que nos apanhou e embaraça. Se calhar, na vida e na morte de quem ama e quem se ama, só se sente o não ser amado e o já não ser amado e, quando muito, o já ter sido amado. A ausência e a tristeza, por muito grandes que sejam, não são tão grandes como a presença, a alegria e a angústia do amor vivo, que ocupa os corpos todos e as almas todas.
É pena que enquanto se é amado por alguém nunca pareça que se é. Amado, de certeza, incondicionalmente, como é amado – também sem saber –
Para o Sexo a Expirar
Para o sexo a expirar eu me volto, expirante,
raiz de minha vida, em ti me enredo e afundo.
Amor, amor, amor — o braseiro radiante
que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo.Pobre carne senil, vibrando insatisfeita,
a minha se rebela ante a morte anunciada.
Quero sempre invadir essa vereda estreita
onde o gozo maior me propicia a amada.Amanhã, nunca mais. Hoje mesmo quem sabe?
enregela-se o nervo, esvai-se-me o prazer
antes que, deliciosa, a exploração acabe.Pois que o espasmo coroe o instante do meu termo,
e assim possa eu partir, em plenitude o ser,
de sémen aljofrando o irreparável ermo.
Ao amar alguém, pergunta a ti mesmo se estás desejando ter para ti o corpo da pessoa amada, ou se estás disposto a sacrificar por ela teu próprio corpo. Teu amor será tanto mais impuro quanto maior for o primeiro sentimento, e tanto mais puro quanto maior o segundo sentimento.
Mysticismo Humano
A alma é como a noute escura, immensa e azul,
Tem o vago, o sinistro, e os canticos do sul,
Como os cantos d’amor serenos das ceifeiras
Que cantam ao luar, á noute pelas eiras…
Ás vezes vem a nevoa á alma satisfeita,
E cae sombria, vaga, e meuda e desfeita…
E como a folha morta em lagos somnolentos
As nossas illusões vão-se nos desalentos!Tem um poder immenso as Cousas na tristeza!
Homem! conheces tu o que é a natureza?…
– É tudo o que nos cerca – é o azul, o escuro,
É o cypreste esguio, a planta, o cedro duro,
A folha, o tronco a flor, os ramos friorentos,
É a floresta espessa esguedelhada aos ventos;
Não entra o vicio aqui com beijos dissolutos,
Nem as lendas do mal, nem os choros dos lutos!…– E os que viram passar serenos os seus dias…
E curvados se vão, ás longas ventanias,
Cheio o peito de sol, atravez das florestas,
Á calma do meio dia… e dormiam as sestas,
Tranquillos sobre a eira, entre as hervas nas leivas…
Maio de Minha Mãe
O primeiro de Maio de minha Mãe
Não era social, mas de favas e giestas.
Uma cadeira de pau, flor dos dedos do Avô
— Polimento, esquadria, engrade, olhá-la ao longe —
Dava assento a Florália, o meu primeiro amor.Já não se usa poesia descritiva,
Mas como hei-de falar da Maromba de Maio
Ou, se era macho, do litro de vinho na sua mão?
O primeiro de Maio nas Ilhas, morno como uma rosa,
Algodoado de cúmulos, lento no mar e rapioqueiro
Como Baco em Camões,
Límpido de azeviche
E, afinal de contas, do ponto de vista proletário,
Mais de mãos na algibeira do que Lenine em Zurich.
(Porque foi por esta época: eu é que não sabia!)A minha Maromba tinha barriga de palha como as massas
E a foice roçadoira da erva das cabras do Ribeiro
Que se pegou, esquecida, no banco do martelo de meu Avô
Cujas quedas iguais, gravíficas, profundasMuito prego em cunhal deixaram,
Muita madeira emalhetaram,
Muita estrela atraíram ao bico da foice do Ribeiro
Nas noites de luar em que roçava erva às cabras.
A consciência de amar e ser amado traz um conforto e riqueza à vida que nada mais consegue trazer.
Vendo A Anarda Depõe O Sentimento
A serpe, que adornando várias cores,
com passos mais oblíquos, que serenos,
entre belos jardins, prados amenos,
é maio errante de torcidas flores;se quer matar da sede os desfavores,
Os cristais bebe com a peçonha menos,
por que não morra com os mortais venenos,
se acaso gosta dos vitais licores.Assim também meu coração queixoso,
na sede ardente do feliz cuidado
bebe cos olhos teu cristal formoso;Pois para não morrer no gosto amado,
depõe logo o tormento venenoso,
se acaso gosta o cristalino agrado.
O que nos entristece não é o fato de deixarmos a vida e, sim, o de deixarmos o que dá valor à vida. Quando o ser amado é nossa vida, que diferença haverá entre vivermos juntos ou morrermos juntos?