Passagens sobre AngĂșstia

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Nenhum Prazer Ă© um Mal em Si

Nenhum prazer Ă© um mal em si, mas certas coisas capazes de engendrar prazeres trazem consigo maior nĂșmero de males que de prazeres. Se as coisas que proporcionam prazeres Ă s pessoas dissolutas pudessem livrar-lhe o espĂ­rito das angĂșstias que experimentam diante dos fenĂłmenos celestes, da morte e dos sofrimentos, e se, por outro lado, lhes ensinassem o limite dos desejos, nada teriamos de censurar nelas, pois que as cumulariam de prazeres, sem mistura alguma de dor ou pesar, os quais constituem precisamente o mal.

Soneto Para EugĂȘnia

O tempo que te alonga todo dia
é duração que colhes na paisagem,
tĂŁo distante e tĂŁo perto em ventania,
sitiando limites na viagem.

Desse mar que se afasta em maresia
o vago em teu olhar se faz aragem
nas vagas que se vĂŁo em vaga via
vigia de teus pés no vão das margens.

E o fio da teia vai fugindo fosco,
irreparåvel névoa pressentida
nos livros que nĂŁo leste, nesses poucos

momentos que sobravam da medida.
AngĂșstia de ponteiros, sol deposto,
no tédio das desoras foge a vida.

Vida que bem mereces por inteiro,
e Ă© pouca a que te dou de companheiro.

Uma Doença CĂșmplice

uma doença cĂșmplice, marcas pĂșrpura
dĂŁo ao teu rosto a expressĂŁo do exĂ­lio
a que te submetes, gemeste
toda a noite, soçobraste

Ă  febre alta do final da tarde, uma prega,
vincada no teu rosto,
mantém-te inanimado
entre a vigĂ­lia e a injĂșria

que hĂĄ no sacrifĂ­cio
e te pÔe a carne em chaga.
uma doença altiva, a consistĂȘncia

do silĂȘncio Ă© como aço e o transe
permanece, Ă© superiormente excessiva
tanta angĂșstia.

HĂĄ vezes em que nos prejudicamos dizendo ‘Pode vir qualquer hora’, pois nesse dia experimentamos a angĂșstia da expectativa. É acertada a expressĂŁo popular ‘Esperar Ă© mais penoso do que ser esperado’.

Amador sem coisa amada

Resolvi andar na rua
com os olhos postos no chĂŁo.
Quem me quiser que me chame
ou que me toque com a mĂŁo.

Quando a angĂșstia embaciar
de tédio os olhos vidrados,
olharei para os prédios altos,
para as telhas dos telhados.

Amador sem coisa amada,
aprendiz colegial.
Sou amador da existĂȘncia,
nĂŁo chego a profissional.

Antidepressivos tratam a dor depressĂŁo, mas nĂŁo curam o sentimento de culpa e nem tratam a angĂșstia da solidĂŁo. (O Futuro da Humanidade)

A Mulher de Negro

Os sons da floresta, as ĂĄrvores, a bicicleta e, ao longe, o silĂȘncio imĂłvel de um vulto negro. Aproximei-me e era uma mulher vestida de negro. Um xaile negro sobre os ombros. Um lenço negro sobre a cabeça. O som dos pneus da bicicleta a pararem, o som de amassarem folhas hĂșmidas e de fazerem estalar ramos. Os meus pĂ©s a pousarem no chĂŁo. Os olhos da mulher entre o negro. Os olhos pequenos da mulher. O seu rosto branco. Vimo-nos como se nos encontrĂĄssemos, como se nos tivĂ©ssemos perdido havia muito tempo e nos encontrĂĄssemos. O tempo deixou de existir. O silĂȘncio deixou de existir. Pousei a bicicleta no chĂŁo para caminhar na direcção da mulher. Era atraĂ­do por segredos. Durante os meus passos, a mulher estendeu-me a mĂŁo. A sua mĂŁo era muito velha. A palma da sua mĂŁo tinha linhas que eram o mapa de uma vida inteira, uma vida com todos os seus enganos, com todos os seus erros, com todas as suas tentativas. Os seus olhos de pedra. Senti os ossos da sua mĂŁo a envolverem os meus dedos. NĂŁo me puxou, mas eu aproximei o meu corpo do seu. Senti a sua respiração no meu pescoço.

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Ser companheiro vale mais do que ser chefe. É preciso que os homens Ă  sua volta nunca tenham nenhuma angĂșstia, nĂŁo sofram nunca por o sentirem a vocĂȘ superior a eles; a sua superioridade, se existir, deve ser um bĂĄlsamo nas feridas, deve consolĂĄ-los, aliviar-lhes as dores. A sua grandeza, querido Amigo, deve servir para os tornar grandes, no que lhes Ă© possĂ­vel, nĂŁo para os humilhar, para os lançar no desespero, no rancor, na inveja.

O Pior Dos Males

Baixando Ă  Terra, o cofre em que guardados
Vinham os Males, indiscreta abria
Pandora. E eis deles desencadeados
À luz, o negro bando aparecia.

O Ódio, a Inveja, a Vingança, a Hipocrisia,
Todos os VĂ­cios, todos os Pecados
Dali voaram. E desde aquele dia
Os homens se fizeram desgraçados.

Mas a Esperança, do maldito cofre
Deixara-se ficar presa no fundo,
Que Ă© Ășltima a ficar na angĂșstia humana…

Por que não voou também? Para quem sofre
Ela Ă© o pior dos males que hĂĄ no mundo,
Pois dentre os males Ă© o que mais engana.

A Casa Branca Nau Preta

Estou reclinado na poltrona, Ă© tarde, o VerĂŁo apagou-se…
Nem sonho, nem cismo, um torpor alastra em meu cĂ©rebro…
NĂŁo existe manhĂŁ para o meu torpor nesta hora…
Ontem foi um mau sonho que alguĂ©m teve por mim…
HĂĄ uma interrupção lateral na minha consciĂȘncia…
Continuam encostadas as portas da janela desta tarde
Apesar de as janelas estarem abertas de par em par…
Sigo sem atenção as minhas sensaçÔes sem nexo,
E a personalidade que tenho estĂĄ entre o corpo e a alma…

Quem dera que houvesse
Um terceiro estado pra alma, se ela tiver sĂł dois…
Um quarto estado pra alma, se sĂŁo trĂȘs os que ela tem…
A impossibilidade de tudo quanto eu nem chego a sonhar
DĂłi-me por detrĂĄs das costas da minha consciĂȘncia de sentir…

As naus seguiram,
Seguiram viagem nĂŁo sei em que dia escondido,
E a rota que devem seguir estava escrita nos ritmos,
Os ritmos perdidos das cançÔes mortas do marinheiro de sonho…

Árvores paradas da quinta, vistas através da janela,
Árvores estranhas a mim a um ponto inconcebĂ­vel Ă  consciĂȘncia de as estar vendo,

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Hino Ă  Morte

Tenho Ă s vezes sentido o chocar dos teus ossos
E o vento da tua asa os meus låbios roçar;
Mas da tua presença o rasto de destroços
Nunca de susto fez meu coração parar.

Nunca, espanto ou receio, ao meu Ăąnimo trouxe
Esse aspecto de horror com que tudo apavoras,
Nas tuas mĂŁos erguendo a inexorĂĄvel Fouce
E a ampulheta em que vais pulverizando as horas.

Sei que andas, como sombra, a seguir os meus
[passos,
TĂŁo prĂłxima de mim que te respiro o alento,
— Prestes como uma noiva a estreitar-me em teus
[braços,
E a arrastar-me contigo ao teu leito sangrento…

Que importa? Do teu seio a noite que amedronta,
Para mim nĂŁo Ă© mais que o refluxo da Vida,
Noite da noite, donde esplĂȘndida desponta
A aurora espiritual da Terra Prometida.

A Alma volta Ă  Luz; sai desse hiato de sombra,
Como o insecto da larva. A Morte que me aterra,
Essa que tanta vez o meu Ăąnimo assombra,
NĂŁo Ă©s tu, com a paz do teu oĂĄsis te terra!

Quantas vezes,

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DĂłi-me a Vida aos Poucos

Estou num daqueles dias em que nunca tive futuro. HĂĄ sĂł um presente imĂłvel com um muro de angĂșstia em torno. A margem de lĂĄ do rio nunca, enquanto Ă© a de lĂĄ, Ă© a de cĂĄ, e Ă© esta a razĂŁo intima de todo o meu sofrimento. HĂĄ barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida nĂŁo doer, nem hĂĄ desembarque onde se esqueça. Tudo isto aconteceu hĂĄ muito tempo, mas a minha mĂĄgoa Ă© mais antiga.
Em dias da alma como hoje eu sinto bem, em toda a consciĂȘncia do meu corpo, que sou a criança triste em quem a vida bateu. Puseram-me a um canto de onde se ouve brincar. Sinto nas mĂŁos o brinquedo partido que me deram por uma ironia de lata. Hoje, dia catorze de Março, Ă s nove horas e dez da noite, a minha vida sabe a valer isto.
No jardim que entrevejo pelas janelas caladas do meu sequestro, atiraram com todos os balouços para cima dos ramos de onde pendem; estão enrolados muito alto, e assim nem a ideia de mim fugido pode, na minha imaginação, ter balouços para esquecer a hora.
Pouco mais ou menos isto, mas sem estilo,

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HĂĄ cristĂŁos que parecem ter escolhido viver uma espĂ©cie de Quaresma sem PĂĄscoa. Compreendo as pessoas que se vergam Ă  tristeza por causa das graves dificuldades que tĂȘm de suportar, mas Ă© preciso permitir que aos poucos a alegria da fĂ© comece a despertar, como uma secreta mas firme confiança, mesmo no meio das piores angĂșstias.

Sofrer Por Sofrer

Parti. Quis te deixar abandonada
às lembranças do amor que nos prendeu.
Trouxe comigo, na alma torturada,
um ciĂșme atroz ciumentamente meu…

Fugi… fuga cruel, desesperada,
quando supus que nosso amor morreu…
Fuga inĂștil, se ainda Ă©s a minha amada,
se continuo inteiramente seu!

NĂŁo, nĂŁo me livro deste amor nefasto,
nem dessa angĂșstia, dessa luta, desse
ciĂșme que aumenta quanto mais me afasto…

E hoje concluĂ­, fugindo de meus passos,
que sofrer por sofrer, antes sofresse
como sempre sofri… mas nos teus braços!

És Linda

És linda. E nem sabes quantos pedaços de beleza tive de juntar para chegar a esta conclusĂŁo. Para te construir, tive de misturar a conspiração das searas com a tristeza do choupo, a inquietação da cotovia com o cheiro lavado do vento do ocidente. E a firmeza repartida dos livros, com a alegria explosiva dos miosĂłtis e a luz escura das violetas. Juntei depois um pouco de ansiedade das estrelas, a paciĂȘncia das casas Ă  beira da falĂ©sia, a espuma da terra, o respirar do sul, as perguntas de gesso que se fazem Ă  lua. Acrescentei-lhe a canção das margens e pequenos pedaços da angĂșstia do olhar. NĂŁo esqueci a intimidade do frio nem a dor branca que habita o coração dos muros. Por fim, deitei na tua pele o sono dos alperces, aos teus mĂșsculos prometi a violĂȘncia das cascatas, no teu sexo acordei a memĂłria do universo.
A tua beleza está no meu desejo, nos meus olhos, na minha desigual maneira de te amar. És linda, repito. Mas tenta não encarar o que te digo como um elogio.

A Necessidade da CompaixĂŁo

Arrebatavam-me os espectĂĄculos teatrais, cheios de imagens das minhas misĂ©rias e de alimento prĂłprio para o fogo das minhas paixĂ”es. Mas porque quer o homem condoer-se, quando presenceia cenas dolorosas e trĂĄgicas, se de modo algum deseja suportĂĄ-las? Todavia, o espectador anseia por sentir esse sofrimento que, afinal, para ele constitui um prazer. Que Ă© isto senĂŁo rematada loucura? Com efeito, tanto mais cada um se comove com tais cenas quanto menos curado se acha de tais afectos (deletĂ©rios). Mas ao sofrimento prĂłprio chamamos ordinariamente desgraça, e Ă  comparticipação das dores alheias, compaixĂŁo. Que compaixĂŁo Ă© essa em assuntos fictĂ­cios e cĂ©nicos, se nĂŁo induz o espectador a prestar auxĂ­lio, mas somente o convida Ă  angĂșstia e a comprazer o dramaturgo na proporção da dor que experimenta? E se aquelas tragĂ©dias humanas, antigas ou fingidas, se representam de modo a nĂŁo excitarem a compaixĂŁo, e espectador retira-se enfastiado e criticando. Pelo contrĂĄrio, se se comove, permanece atento e chora de satisfação.
Amamos, portanto, as lĂĄgrimas e as dores. Mas todo o homem deseja o gozo. Ora, ainda que a ninguĂ©m apraz ser desgraçado, apraz-nos contudo a ser compadecidos. NĂŁo gostaremos nĂłs dessas emoçÔes dolorosas pelo Ășnico motivo de que a compaixĂŁo Ă© companheira inseparĂĄvel da dor?

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Dies Irae

Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mĂŁo do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que nĂŁo temos
E as angĂșstias paradas!