Passagens sobre AngĂșstia

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O Que Verdadeiramente Mata Portugal

O que verdadeiramente nos mata, o que torna esta conjuntura inquietadora, cheia de angĂșstia, estrelada de luzes negras, quase lutuosa, Ă© a desconfiança. O povo, simples e bom, nĂŁo confia nos homens que hoje tĂŁo espectaculosamente estĂŁo meneando a pĂșrpura de ministros; os ministros nĂŁo confiam no parlamento, apesar de o trazerem amaciado, acalentado com todas as doces cantigas de empregos, rendosas conezias, pingues sinecuras; os eleitores nĂŁo confiam nos seus mandatĂĄrios, porque lhes bradam em vĂŁo: «Sede honrados», e vĂȘem-nos apesar disso adormecidos no seio ministerial; os homens da oposição nĂŁo confiam uns nos outros e vĂŁo para o ataque, deitando uns aos outros, combatentes amigos, um turvo olhar de ameaça. Esta desconfiança perpĂ©tua leva Ă  confusĂŁo e Ă  indiferença. O estado de expectativa e de demora cansa os espĂ­ritos. NĂŁo se pressentem soluçÔes nem resultados definitivos: grandes torneios de palavras, discussĂ”es aparatosas e sonoras; o paĂ­s, vendo os mesmos homens pisarem o solo polĂ­tico, os mesmos ameaços de fisco, a mesma gradativa decadĂȘncia. A polĂ­tica, sem actos, sem factos, sem resultados, Ă© estĂ©ril e adormecedora.

Quando numa crise se protraem as discussÔes, as anålises reflectidas, as lentas cogitaçÔes, o povo não tem garantias de melhoramento nem o país esperanças de salvação.

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Entendo e quase invejo a gentil e inocente alegria dos comuns, mas amo a angĂșstia de ser incomum.

A Racionalidade Irracional

Eu digo muitas vezes que o instinto serve melhor os animais do que a razĂŁo a nossa espĂ©cie. E o instinto serve melhor os animais porque Ă© conservador, defende a vida. Se um animal come outro, come-o porque tem de comer, porque tem de viver; mas quando assistimos a cenas de lutas terrĂ­veis entre animais, o leĂŁo que persegue a gazela e que a morde e que a mata e que a devora, parece que o nosso coração sensĂ­vel dirĂĄ «que coisa tĂŁo cruel». NĂŁo: quem se comporta com crueldade Ă© o homem, nĂŁo Ă© o animal, aquilo nĂŁo Ă© crueldade; o animal nĂŁo tortura, Ă© o homem que tortura. EntĂŁo o que eu critico Ă© o comportamento do ser humano, um ser dotado de razĂŁo, razĂŁo disciplinadora, organizadora, mantenedora da vida, que deveria sĂȘ-lo e que nĂŁo o Ă©; o que eu critico Ă© a facilidade com que o ser humano se corrompe, com que se torna maligno.

Aquela ideia que temos da esperança nas crianças, nos meninos e nas meninas pequenas, a ideia de que são seres aparentemente maravilhosos, de olhares puros, relativamente a essa ideia eu digo: pois sim, é tudo muito bonito, são de facto muito simpåticos,

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Prece

Bendita sejas tu em meu caminho!
Bendita sejas tu, pela coragem
com que fizeste de um amor selvagem
esse amor que se humilha ao teu carinho!

Bendita sejas, porque a tua imagem
suaviza toda angĂșstia e todo espinho…
JĂĄ nĂŁo maldigo a insipidez da viagem,
nem me sinto sĂł, nem vou sozinho…

Bendita sejas tantas vezes quantas
são as aves no céu; e são as plantas
na terra; e são as horas de emoção

em que juntos ficamos, de mĂŁos dadas,
como se nossas vidas irmanadas
vivessem por um mesmo coração!

Sentir a Felicidade

EntĂŁo isso era a felicidade. E por assim dizer sem motivo. De inicio se sentiu vazia. Depois os olhos ficaram hĂșmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que Ă© que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que jĂĄ estĂĄ começando a me doer como uma angĂșstia, como um grande silĂȘncio? A quem dou minha felicidade, que jĂĄ estĂĄ começando a me rasgar um pouco e me assusta? NĂŁo, nĂŁo quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas nĂŁo tĂȘm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que Ă© sentir-se feliz, e preferem a mediocridade.

Pequenina

Eu bem sei que te chamam pequenina
E ténue como o véu solto na dança,
Que és no juízo apenas a criança,
Pouco mais, nos vestidos, que a menina…

Que és o regato de ågua mansa e fina,
A folhinha do til que se balança,
O peito que em correndo logo cansa,
A fronte que ao sofrer logo se inclina…

Mas, filha, lĂĄ nos montes onde andei,
Tanto me enchi de angĂșstia e de receio
Ouvindo do infinito os fundos ecos,

Que nĂŁo quero imperar nem jĂĄ ser rei
SenĂŁo tendo meus reinos em teu seio
E sĂșbditos, criança, em teus bonecos!

Toda vez que ouvir ruĂ­dos, a pessoa pensarĂĄ ansioso: ‘SerĂĄ que o visitante chegou?’. Quando maior a afeição dessa pessoa por ti, maior serĂĄ a angĂșstia da espera. Quem sabe o quanto a imprecisĂŁo de horĂĄrio aflinge o prĂłximo e lhe atrapalha os afazeres, nĂŁo faz uma promessa tĂŁo cruel.

A Nau

A Heitor Lima

SÎfrega, alçando o hirto esporão guerreiro,
Zarpa. A Ă­ngreme cordoalha Ășmida fica. …
Lambe-lhe a quilha a espĂșmea onda impudica
E ébrios tritÔes, babando, haurem-lhe o cheiro

Na glauca artéria equórea ou no estaleiro
Ergue a alta mastreação, que o éter indica,
E estende os braços de madeira rica
Para as populaçÔes do mundo inteiro!

Aguarda-a ampla reentrĂąncia de angra horrenda
PĂĄra e, a amarra agarrada Ă  Ăąncora, sonha!
MĂĄgoas, se as tem, subjugue-as ou disfarce-as…

E nĂŁo haver uma alma que lhe entenda
A angĂșstia transoceĂąnica medonha
No rangido de todas as enxĂĄrcias!

O silĂȘncio Ă© o espaço que envolve toda a acção e vida em comum. A amizade nĂŁo precisa de palavras: Ă© a solidĂŁo livre da angĂșstia da solidĂŁo.

Nenhum Prazer Ă© um Mal em Si

Nenhum prazer Ă© um mal em si, mas certas coisas capazes de engendrar prazeres trazem consigo maior nĂșmero de males que de prazeres. Se as coisas que proporcionam prazeres Ă s pessoas dissolutas pudessem livrar-lhe o espĂ­rito das angĂșstias que experimentam diante dos fenĂłmenos celestes, da morte e dos sofrimentos, e se, por outro lado, lhes ensinassem o limite dos desejos, nada teriamos de censurar nelas, pois que as cumulariam de prazeres, sem mistura alguma de dor ou pesar, os quais constituem precisamente o mal.

Soneto Para EugĂȘnia

O tempo que te alonga todo dia
é duração que colhes na paisagem,
tĂŁo distante e tĂŁo perto em ventania,
sitiando limites na viagem.

Desse mar que se afasta em maresia
o vago em teu olhar se faz aragem
nas vagas que se vĂŁo em vaga via
vigia de teus pés no vão das margens.

E o fio da teia vai fugindo fosco,
irreparåvel névoa pressentida
nos livros que nĂŁo leste, nesses poucos

momentos que sobravam da medida.
AngĂșstia de ponteiros, sol deposto,
no tédio das desoras foge a vida.

Vida que bem mereces por inteiro,
e Ă© pouca a que te dou de companheiro.

Uma Doença CĂșmplice

uma doença cĂșmplice, marcas pĂșrpura
dĂŁo ao teu rosto a expressĂŁo do exĂ­lio
a que te submetes, gemeste
toda a noite, soçobraste

Ă  febre alta do final da tarde, uma prega,
vincada no teu rosto,
mantém-te inanimado
entre a vigĂ­lia e a injĂșria

que hĂĄ no sacrifĂ­cio
e te pÔe a carne em chaga.
uma doença altiva, a consistĂȘncia

do silĂȘncio Ă© como aço e o transe
permanece, Ă© superiormente excessiva
tanta angĂșstia.

HĂĄ vezes em que nos prejudicamos dizendo ‘Pode vir qualquer hora’, pois nesse dia experimentamos a angĂșstia da expectativa. É acertada a expressĂŁo popular ‘Esperar Ă© mais penoso do que ser esperado’.

Amador sem coisa amada

Resolvi andar na rua
com os olhos postos no chĂŁo.
Quem me quiser que me chame
ou que me toque com a mĂŁo.

Quando a angĂșstia embaciar
de tédio os olhos vidrados,
olharei para os prédios altos,
para as telhas dos telhados.

Amador sem coisa amada,
aprendiz colegial.
Sou amador da existĂȘncia,
nĂŁo chego a profissional.

Antidepressivos tratam a dor depressĂŁo, mas nĂŁo curam o sentimento de culpa e nem tratam a angĂșstia da solidĂŁo. (O Futuro da Humanidade)

A Mulher de Negro

Os sons da floresta, as ĂĄrvores, a bicicleta e, ao longe, o silĂȘncio imĂłvel de um vulto negro. Aproximei-me e era uma mulher vestida de negro. Um xaile negro sobre os ombros. Um lenço negro sobre a cabeça. O som dos pneus da bicicleta a pararem, o som de amassarem folhas hĂșmidas e de fazerem estalar ramos. Os meus pĂ©s a pousarem no chĂŁo. Os olhos da mulher entre o negro. Os olhos pequenos da mulher. O seu rosto branco. Vimo-nos como se nos encontrĂĄssemos, como se nos tivĂ©ssemos perdido havia muito tempo e nos encontrĂĄssemos. O tempo deixou de existir. O silĂȘncio deixou de existir. Pousei a bicicleta no chĂŁo para caminhar na direcção da mulher. Era atraĂ­do por segredos. Durante os meus passos, a mulher estendeu-me a mĂŁo. A sua mĂŁo era muito velha. A palma da sua mĂŁo tinha linhas que eram o mapa de uma vida inteira, uma vida com todos os seus enganos, com todos os seus erros, com todas as suas tentativas. Os seus olhos de pedra. Senti os ossos da sua mĂŁo a envolverem os meus dedos. NĂŁo me puxou, mas eu aproximei o meu corpo do seu. Senti a sua respiração no meu pescoço.

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