A Força da Alma não Basta sem o Conhecimento da Verdade
É verdade que há pouquĂssimos homens tĂŁo fracos e irresolutos que desejem apenas o que a sua paixĂŁo lhes dita. A maioria tem determinados julgamentos, pelos quais pautam uma parte das suas acções. E embora frequentemente esses julgamentos estejam errados, e mesmo se fundamentem em algumas paixões pelas quais a vontade anteriormente se deixou vencer ou seduzir, entretanto, como ela continua a segui-los quando a paixĂŁo que os causou está ausente, podemos considerá-los como suas prĂłrpias armas, e pensar que as almas sĂŁo tanto mais fracas ou mais fortes quanto menos ou mais conseguirem seguir esses julgamentos e resistir Ă s paixões presentes que lhes sĂŁo contrárias.
Mas há no entanto grande diferença entre as resoluções que procedem de alguma opinião errada e as que se baseiam apenas no conhecimento da verdade; tanto que, se seguirmos estas últimas, estamos seguros de nunca sentirmos pesar nem arrependimento, ao passo que sempre os temos por haver seguido as primeiras, quando descobrimos que estão erradas.
Passagens sobre Arrependimento
96 resultadosA Força de Toda a Decisão Reside no Tempo
A força de toda a decisĂŁo reside no tempo; as situações e as matĂ©rias rolam e mudam sem cessar. Na minha vida incorri em alguns erros graves e importantes, nĂŁo por falta de tino mas por falta de sorte. Há nos objectos que manejamos partes secretas e imprevisĂveis, principalmente na natureza dos homens; caracterĂsticas mudas, nĂŁo aparentes, Ă s vezes desconhecidas do prĂłprio possuidor, que se manifestam e despertam em circunstâncias imprevistas. Se a minha prudĂŞncia nĂŁo as pĂ´de penetrar e profetizar, nĂŁo a recrimino por isso; a sua tarefa atĂ©m-se aos seus limites; o desfecho derrota-me; e se ele favorecer o partido que rejeitei, nĂŁo há remĂ©dio; nĂŁo me culpo a mim; acuso a minha fortuna, nĂŁo a minha obra; isso nĂŁo se chama arrependimento.
Não nego nada do que fiz, também não tenho arrependimentos ou mágoas: eu não poderia ter agido de outra maneira.
Arrependimento Ă© um intervalo entre dois pecados.
O arrependimento cessa quando esquece o castigo.
Motivo de arrependimento Ă© nĂŁo aprender com os prĂłprios erros.
Há uma hora propĂcia ao arrependimento: a da morte, quando já nĂŁo Ă© possĂvel nos arrependermos dele.
Ser Amigo
O coração de um amigo Ă© uma coisa que sempre quer. Ser amigo Ă© estar ao lado de quem nĂŁo tem razĂŁo, contra qualquer inimigo que tenha, e apareça, dizendo com toda a justiça que o amigo nĂŁo a tem. NĂŁo Ă© suspender a razĂŁo – Ă© usá-la friamente, aplicá-la, estar sempre consciente dela. E, contudo, nĂŁo dizĂŞ-la, nĂŁo mostrá-la, ficar sempre acima dela. Ser amigo Ă© ter razĂŁo e nĂŁo querer saber dela. Ser amigo Ă© pensar duas vezes quando a Ăşltima vez pertence ao que repensa o coração.
O amigo discordava dele. Dizia: Queres tu dizer que para se ser um bom amigo é preciso, às vezes, ser-se muito má pessoa? Sim, respondia ele, era isso que ele queria dizer. Porque ser amigo tem de ser uma coisa que custa. Às vezes é um trabalho, muitas horas, muitas dores; um trabalho que é o contrário do que seria natural, e do que apetece. Ser má pessoa para se ser um bom amigo (ou um bom português, ou um bom professor), é fazer fé que um outro fim faz valer o desconforto, faz valer o arrependimento, acaba por se abater sobre a vergonha. E sofrer bastante para que o outro nada sofra,
Até de seus arrependimentos a mulher extrai novo encanto.
Para que serve o arrependimento, se isso nĂŁo muda nada do que se passou? O melhor arrependimento Ă©, simplesmente, mudar.
Rápida amizade, arrependimento certo.
NĂŁo seja o teu pesar pelo que fizeste senĂŁo o propĂłsito de tua futura melhora; todo outro arrependimento nĂŁo Ă© senĂŁo morte.
Depois do casamento vem o arrependimento.
Arrependimento: um sentimento que raramente incomoda as pessoas antes de começarem a sofrer.
Momentos que o fim torna ridĂculos. Momentos que fazem viver, esperando por um dia, depois de todas as desilusões, depois de todos os arrependimentos e fracassos, em que se possam viver de novo, para de novo chegar o fim e de novo a esperança e de novo o fim.
As Lágrimas e os Homens
Vede que misteriosamente puseram as lágrimas nos olhos a Natureza, a Justiça, a RazĂŁo, a Graça. A Natureza para remĂ©dio; a Justiça para castigo; a RazĂŁo para arrependimento; a Graça para triunfo. Como pelos olhos se contrai a mácula do pecado, pĂ´s a Natureza nos olhos as lágrimas, para que com aquela água se lavassem as manchas: como pelos olhos se admite a culpa, pĂ´s a Justiça nos olhos as lágrimas para que estivesse o suplĂcio no mesmo lugar do delito: como pelos olhos se concebe a ofensa, pĂ´s a RazĂŁo nos olhos as lágrimas, para que onde se fundiu a ingratidĂŁo, a desfizesse o arrependimento: e como pelos olhos entram os inimigos Ă alma, pĂ´s a Graça nos olhos as lágrimas, para que pelas mesmas brechas onde entraram vencedores, os fizesse sair correndo. Entrou Jonas pela boca da baleia pecador; saĂa Jonas pela boca da baleia arrependido. RazĂŁo Ă© logo e Justiça, e nĂŁo sĂł Graça, senĂŁo Natureza, que pois os olhos sĂŁo a fonte universal de todos os pecados, sejam os rios de suas lágrimas a satisfação tambĂ©m universal de todos; e que paguem os olhos por todos chorando, já que pecaram em todos vendo: Quo fonte manavit nefas,
O arrependimento prolonga a vida do homem.
Sempre Ă© possĂvel anular o passado. O arrependimento, o esquecimento e a renĂşncia poderiam apagá-lo. Mas o futuro era improvável.
A ira começa com desatino e acaba com arrependimento.
Atrás do consentimento anda perto o arrependimento.