Ă€ Fragilidade da Vida Humana
Esse baixel nas praias derrotado
Foi nas ondas Narciso presumido;
Esse farol nos céus escurecido
Foi do monte libré, gala do prado.Esse nácar em cinzas desatado
Foi vistoso pavĂŁo de Abril florido;
Esse estio em vesĂşvios encendido
Foi Zéfiro suave em doce agrado.Se a nau, o sol, a rosa, a Primavera
Estrago, eclipse, cinza, ardor cruel
Sentem nos auges de um alento vago,Olha, cego imortal, e considera
Que és rosa, primavera, sol, baixel,
Para ser cinza, eclipse, incĂŞndio, estrago.
Passagens sobre Céu
1151 resultadosPouco te Ama
Na metade do Céu subido ardia
O claro, almo Pastor, quando deixavam
O verde pasto as cabras, e buscavam
A frescura suave da água fria.Com a folha das árvores, sombria,
Do raio ardente as aves se amparavam;
O mĂłdulo cantar, de que cessavam,
SĂł nas roucas cigarras se sentia.Quando Liso Pastor, num campo verde,
Natércia, crua Ninfa, só buscava
Com mil suspiros tristes que derrama.Porque te vás de quem por ti se perde,
Para quem pouco te ama? (suspirava)
E o eco lhe responde: Pouco te ama.
Na Aldeia
A CristĂłvĂŁo Aires
Duas horas da tarde. Um sol ardente
Nos colmos dardejando, e nos eirados.
Sobreleva aos sussurros abafados
O grito das bigornas estridente.A taberna Ă© vazia; mansamente
Treme o loureiro nos umbrais pintados;
Zumbem Ă porta insectos variegados,
Envolvidos do sol na luz tremente.Fia Ă soleira uma velhinha: o filho
No céu mal acordou da aurora o brilho
Saiu para os cansaços da lavoura.A nora lava na ribeira, e os netos
Ao longe correm seminus, inquietos,
No mar ondeante da seara loura.
Garotas boas vão para o céu, as más vão para todo lugar
Não acredito em vida após morte, portanto não tenho que me preocupar em ter medo do inferno ou do céu. Por pior que sejam as torturas do inferno, acho que a chatice do céu é ainda pior.
Debaixo de uma aparente desordem e confusão, tudo é ordem e harmonia, na terra entre os viventes, como nos céus entre as estrelas.
Nossos antepassados viviam do lado de fora. Eles estavam tão familiarizados com o céu noturno quanto a maioria de nós com os nossos programas de televisão favoritos.
Um Céu e Nada Mais
Um céu e nada mais — que só um temos,
como neste sistema: sĂł um sol.
Mas luzes a fingir, dependuradas
em abóbada azul — como de tecto.
E o seu nĂşmero tal, que deslumbrados
neram os teus olhos, se tas mostrasse,
amor, tĂŁo de ribalta azul, como de
circo, e dança então comigo no
trapézio, poema em alto risco,
e um levĂssimo toque de mistĂ©rio.
Pega nas lantejoulas a fingir
de sóis mal descobertos e lança
agora a âncora maior sobre o meu
coração. Que não te assuste o som
desse trovĂŁo que ainda agora ouviste,
era de deus a sua voz, ou mito,
era de um anjo por demais caĂdo.
Mas, de verdade: natural fenĂłmeno
a invadir-te as veias e o cérebro,
tão frágil como álcool, tão de
potente e liso como álcool
implodindo do céu e das estrelas,
imensas a fingir e penduradas
sobre abĂłbada azul. Se te mostrasse,
amor, a cor do pesadelo que por
aqui passou agora mesmo, um céu
e nada mais — que nada temos,
que nĂŁo seja esta angĂşstia de
mortais (e a maldição da rima,
Maria
Maria, há no seu gesto airoso o nobre,
Nos olhos meigos e no andar tĂŁo brando,
Um nĂŁo sei que suave que descobre,
Que lembra um grande pássaro marchando.Quero, às vezes, pedir-lhe que desdobre
As asas, mas não peço, reparando
Que, desdobradas, podem ir voando
Levá-la ao teto azul que a terra cobre.E penso então, e digo então comigo:
“Ao cĂ©u, que vĂŞ passar todas as gentes
Bastem outros primores de valia.Pássaro ou moça, fique o olhar amigo,
O nobre gesto e as graças excelentes
Da nossa cara e lĂ©pida Maria”.
Quando
Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hĂŁo-de bailar
As quatro estações à minha porta.Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu nĂŁo estivesse morta.
Os Amigos Infelizes
Andamos nus, apenas revestidos
Da música inocente dos sentidos.Como nuvens ou pássaros passamos
Entre o arvoredo, sem tocar nos ramos.No entanto, em nĂłs, o canto Ă© quase mudo.
Nada pedimos. Recusamos tudo.Nunca para vingar as prĂłprias dores
Tiramos sangue ao mundo ou vida Ă s flores.E a noite chega! Ao longe, morre o dia…
A Pátria Ă© o CĂ©u. E o CĂ©u, a Poesia…E há mĂŁos que vĂŞm poisar em nossos ombros
E somos o silĂŞncio dos escombros.Ă“ meus irmĂŁos! em todos os paĂses,
Rezai pelos amigos infelizes!
Os crĂticos podem dizer que determinado poema, longamente ritmado, nĂŁo quer, afinal, dizer senĂŁo que o dia está bom. Mas dizer que o dia está bom Ă© difĂcil, e o dia bom, ele mesmo, passa. Temos pois que conservar o dia bom em memĂłria florida e prolixa, e assim constelar de novas flores ou de novos astros os campos ou os cĂ©us da exterioridade vazia e passageira.
Feliz como uma Criança
Oh! A idade venturosa da infância! Onde há outra mais feliz e mais tranquila, mais sorridente – isto Ă©, mais egoĂsta?… Em volta de nĂłs podem suceder as piores catástrofes. Se elas nos nĂŁo arrancam nem os brinquedos nem os bolos, nĂŁo nos atingem de forma alguma… nĂŁo as compreendemos sequer…
Quando muito, correm-nos lágrimas vendo chorar as nossas mĂŁes. No entanto, Ă© sĂł ainda vagamente que percebemos a dor humana. Por isso as nossas lágrimas secam depressa diante dos brinquedos. E se o quadro em que nos agitamos Ă© risonho, a infância tansforma-se-nos entĂŁo num jardim maravilhoso. Para as crianças felizes, sĂł para elas, existe realmente um cĂ©u – o ceĂş dos seus primeiros anos.
VĂŁo Arrebatamento
Partes um dia das Curiosidades
Do teu ser singular, partes em busca
De alamas irmĂŁs, cujo esplendor ofusca
As celestes, divinas claridades.Rasgas terras e céus, imensidades,
Dos perigos da Vida a vaga brusca,
Queima-te o sol que na AmplidĂŁo corusca
E consola-te a lua das saudades.Andas por toda a parte, em toda a parte
A sedução das almas a falar-te,
Como da Terra luminosos marcos.E a sorrir e a gemer e soluçando
Ah! Sempre em busca de almas vais andando
Mas em vez delas encontrando charcos!
Minh’alma Está Agora Penetrando
Minh’alma está agora penetrando
Lá na etérea plaga, cristalina!
Que mĂşsica meu Deus febril, divina
Nos páramos azuis vai retumbando!AlĂ©m, d’áureo dossel se está rasgando
Custosa, de primor, esmeraldina
Diáfana, sutil, longa cortina
Enquanto céus se vão duplando!Em grande pedestal marmorizado
De Paiva se divisa o busto enorme
Soberbo como o sol, de luz croadoDe um lado o porvir — Antheu disforme
Dos lábios faz soltar pujante brado
Hosanas! nĂŁo morreu! apenas dorme.
Vós, Crédulos Mortais, Alucinados
Vós, crédulos mortais, alucinados
de sonhos, de quimeras, de aparĂŞncias
colheis por uso erradas consequĂŞncias
dos acontecimentos desastrados.Se à perdição correis precipitados
por cegas, por fogosas, impaciĂŞncias,
indo a cair, gritais que sĂŁo violĂŞncias
de inexoráveis céus, de negros fados.Se um celeste poder tirano e duro
Ă s vezes extorquisse as liberdades,
que prestava, ó Razão, teu lume puro?Não forçam corações as divindades,
fado amigo não há nem fado escuro:
fados são as paixões, são as vontades.
Alucinação
Ă“ solidĂŁo do Mar, Ăł amargor das vagas,
Ondas em convulsões, ondas em rebeldia,
Desespero do Mar, furiosa ventania,
Boca em fel dos tritões engasgada de pragas.Velhas chagas do sol, ensangüentadas chagas
De ocasos purpurais de atroz melancolia,
Luas tristes, fatais, da atra mudez sombria
Da trágica ruĂna em vastidões pressagas.Para onde tudo vai, para onde tudo voa,
Sumido, confundido, esboroado, Ă -toa,
No caos tremendo e nu dos tempo a rolar?Que Nirvana genial há de engolir tudo isto –
– Mundos de Inferno e CĂ©u, de Judas e de cristo,
Luas, chagas do sol e turbilhões do Mar?!
O céu ainda não está acabado. São as mulheres que, desde há milénios, vão tecendo esse infinito véu.
Como Lidar com as Perturbações
NĂŁo pretendem os estĂłicos que a alma do seu sábio possa resistir Ă s primeiras visões e fantasias que lhe sobrevĂŞm; antes, como a uma sujeição natural, consentem que ele ceda ao grande barulho do cĂ©u ou de um desabamento, por exemplo, atĂ© Ă palidez e Ă contracção. Assim tambĂ©m nas outras paixões (impressões penosas), contanto que o seu julgamento permaneça salvo e Ăntegro e que a disposição do seu raciocĂnio nĂŁo sofra dano nem qualquer alteração, e que ele nĂŁo dĂŞ a menor aquiescĂŞncia ao seu terror e sofrimento.
Para aquele que nĂŁo Ă© sábio acontece o mesmo na primeira parte, mas coisa muito diferente na segunda; pois nele a impressĂŁo das paixões nĂŁo permanece superficial, mas vai penetrando atĂ© Ă sede da razĂŁo, infectando-a e corrompendo-a. Ele julga segundo as paixões e a elas se conforma. Vede muito eloquente e claramente o estado do sábio estĂłico: Inutilmente as suas lágrimas rolam: a sua alma Ă© inflexĂvel (VirgĂlio). O sábio peripatĂ©tico nĂŁo se isenta das perturbações, e sim modera-as.
Os pensamentos mais belos e as ideias mais baixas nĂŁo alteram o aspecto eterno da nossa alma, como os Himalaias ou os precipĂcios nĂŁo modificam, no meio das estrelas do cĂ©u, o aspecto da nossa terra.