Passagens sobre Céu

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Na aldeia, até as plantas tinham garras. Tudo o que é vivo, em Kulumani, está treinado para morder. As aves abocanham o céu, os ramos rasgam as nuvens, a chuva morde a terra, os mortos usam os dentes para se vingarem do destino.

Se eu pudesse ao menos te mostrar o que se enxerga lá do alto Com o céu tão perto, limpo e claro Ou com os olhos fechados.

O Sentido da Vida Está em Cada um de Nós

‘Vejamos, que vem a ser isto que me perturba?’, perguntou Levine a si prĂłprio, sentindo, no fundo da sua alma, a solução para as suas dĂşvidas, embora ainda nĂŁo soubesse qual fosse. ‘Sim, a Ăşnica manifestação evidente e indiscutĂ­vel da divindade está nas leis do bem, expostas ao mundo pela revelação que sinto dentro de mim e me identifica, quer queira quer nĂŁo, com todos aqueles que como eu as reconhecem. É esta congregação de criaturas humanas comungando na mesma crença que se chama Igreja. Mas o judeus, os muçulmanos, os budistas, os confuccionistas?’, disse para si mesmo, repisando o ponto delicado. ‘EstarĂŁo eles entre milhões de homens privados do maior de todos os benefĂ­cios, do Ăşnico que dá sentido Ă  vida?… Ora vejamos’, continuou, apĂłs alguns instantes de reflexĂŁo, ‘qual Ă© o problema que eu a mim mesmo estou a pĂ´r? O das relações das diversas crenças da humanidade com a Divindade? É a revelação de Deus no Universo, com os seus astros e as suas nebulosas, que eu pretendo sondar. E Ă© no momento em que me Ă© revelado um saber certo inacessĂ­vel Ă  razĂŁo que eu me obstino em recorrer Ă  lĂłgica!

‘Eu bem sei que as estrelas nĂŁo caminham’,

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As Vozes Da Natureza

As vozes que nos vĂŞm da natureza
Traduzem sempre um mĂştuo sentimento.
Cantam as frondes pela voz do vento,
Pelo manancial canta a represa.

Pelas estrelas canta o firmamento
Nas suas grandes noites de beleza.
Cada nota a outra nota vive presa,
É um pensamento de outro pensamento.

Pelas folhas murmura a voz da estrada,
Pelos salgueiros canta a água parada
E o amigo sol, apenas se levanta,

Jogando o manto de ouro ao céu deserto,
Chama as cigarras todas para perto,
Que Ă© na voz das cigarras que ele canta.

Mater Dolorosa

Quando se fez ao largo a nave escura,
na praia essa mulher ficou chorando,
no doloroso aspecto figurando
a lacrimosa estátua da amargura.

Dos céus a curva era tranquila e pura;
Das gementes alcĂ­ones o bando
Via-se ao longe, em cĂ­rculos, voando
Dos mares sobre a cérula planura.

Nas ondas se atufara o Sol radioso,
E Lua sucedera, astro mavioso,
De alvor banhando os alcantis das fragas…

E aquela pobre mĂŁe, nĂŁo dando conta
Que o sol morrera, e que o luar desponta,
A vista embebe na amplidĂŁo das vagas…

Para Voltar

A ver-te
Um sĂł instante,
A ti,
Que és mais bela que a lua,
Antes que a manhĂŁ recolha
As estrelas
Uma a uma
E as guarde
Do outro lado do céu,

Vou atravessar
O rio
Coberto de holofotes,
Que transformam o verde claro
Numa fosforescĂŞncia
De água assustada.

Se nĂŁo me matarem
Nem me apanharem vivo,
Mantém-te alerta
Mantém alerta
O desejo mais antigo
e o mais novo.

Vou passar
Do lado de fora
Da parede
Perfurada
Pelas balas:

Passa-me um lenço
De seda
Com o teu perfume.

Marca-o com o segredo
Dos teus lábios.

A Senhora de Brabante

Tem um leque de plumas gloriosas,
na sua mĂŁo macia e cintilante,
de anéis de pedras finas preciosas
a Senhora Duquesa de Brabante.

Numa cadeira de espaldar dourado,
Escuta os galanteios dos barões.
— É noite: e, sob o azul morno e calado,
concebem os jasmins e os corações.

Recorda o senhor Bispo acções passadas.
Falam damas de jĂłias e cetins.
Tratam barões de festas e caçadas
à moda goda: — aos toques dos clarins!

Mas a Duquesa é triste. — Oculta mágoa
vela seu rosto de um solene véu.
— Ao luar, sobre os tanques chora a água…
— Cantando, os rouxinĂłis lembram o cĂ©u…

Dizem as lendas que SatĂŁ vestido
de uma armadura feita de um brilhante,
ousou falar do seu amor florido
Ă  Senhora Duquesa de Brabante.

Dizem que o ouviram ao luar nas águas,
mais louro do que o sol, marmĂłreo, e lindo,
tirar de uma viola estranhas mágoas,
pelas noites que os cravos vĂŞm abrindo…

Dizem mais que na seda das varetas
do seu leque ducal de mil matizes…

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De Mayseder Gentil O Vulto Ingente

De Mayseder gentil o vulto ingente
De Corelli, de Spohr e de Nardini,
De Ole Bull supernal, de Veracini
Inspirados por Deus c’o plectro ardente;

Dessa lira febril, áurea, potente
Do artista sem par, de Paganini;
De Viotti dinal, do herĂłi Tardini,
De Lafont, de Baillot, Eck e Laurenti:

Sois rival feliz! e nesse crânio
Há em jorros, oh céus! extravasando
O ardor musical, o ardor titâneo…

Já bem cedo, veloz, ides galgando
Lá da glória os degraus, o supedâneo
Sobre um trono de luz rindo e cantando.

A Tempestade do Destino

Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar.
(…) E nĂŁo há maneira de escapar Ă  violĂŞncia da tempestade, a essa tempestade metafĂ­sica, simbĂłlica. NĂŁo te iludas: por mais metafĂ­sica e simbĂłlica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba.

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Sozinho

Quando eu morrer m’envolva a Singeleza,
Vá sem Pompa a caminho do coval,
Acompanhe-me apenas a tristeza
NĂŁo vá do bronze o som de val’ em val!

Chore o céu sobre mim de orvalho as bagas
Luz do sol-posto fulja em seu cristal,
Cantem-me o «dorme em paz» ao longe as vagas.

Gemente a viração entoe o «Amém»
Vá assim tĂ© ermas, afastadas plagas…
Lá… fique eu sĂł!
Não volte lá ninguém!

Havendo Escapado de uma Grande Doença

Foi tĂŁo cruel, tĂŁo duramente forte
A que passei tormenta repetida,
Que não fazendo já conta da vida,
SĂł chegava a fazer caso da morte.

Mas lastimada de meu mal a sorte,
Quando já me notava na partida,
Propícia e favorável me convida
Com porto alegre, com seguro norte.

Altiva torre fabriquei no vento,
Mas a esperança, vã que nela tive
O vento ma levou que sempre corre.

Do mundo o céu nos dê conhecimento,
Que a desgraça é morrer como quem vive,
E a ventura Ă© viver como quem morre.

Mudar para Melhor

Acredito piamente que enquanto tivermos o privilégio de encher o peito de ar e respirar, de pisar o chão quente ou frio de cada estação, de ver as mil cores que temos à nossa frente, de ouvir as mais belas composições que a natureza tem para nos oferecer e de cheirar cada uma das maravilhosas fragrâncias que existem em nosso redor, acredito que enquanto isso nos for possível, enquanto nos for possível sentir desta maneira e com esta intensidade, é nossa obrigação mudar para melhor, abandonar o que trazemos vestido há anos ou desde sempre, revestirmo-nos de uma nova pele e escalar, escalar, escalar até nos aproximarmos do nosso céu, daquele manto estrelado e infinito que é o amor por nós mesmos, a plenitude, lugar onde habita, entre outras coisas, a nossa confiança.

Quis Deixar-me a que Eu Adoro

Apartava-se Nise de Montano,
Em cuja alma, partindo-se, ficava,
Que o pastor na memĂłria a debuxava,
Por poder sustentar-se deste engano.

Por ũa praia do Índico Oceano
Sobre o curvo cajado se encostava,
E os olhos pelas águas alongava,
Que pouco se doĂ­am de seu dano.

Pois com tamanha mágoa e saudade,
(Dizia) quis deixar-me a que eu adoro,
Por testemunhas tomo céu e estrelas.

Mas se em vĂłs, ondas, mora piedade,
Levai também as lágrimas que choro,
Pois assim me levais a causa delas.

Se Tudo quanto Existe…

Se tudo quanto existe
é lenta evolução,
longa transformação
sem Deus e sem mistério;
se tudo no Universo tem sentido
sem o sopro divino;
se o segredo da vida, a criação,
se explica pela ciĂŞncia,
e a corrente vital
é também consequência;
se a humana consciĂŞncia
Ă© simples equação…
— que significa a vocação do eterno,
que quer dizer a aspiração do Céu
e o terror do inferno?

E se acaso Ă© o instinto a lei da vida,
se a verdade
Ă© sĂł necessidade
inexorável, lenta, laboriosa,

que sábia explicação
tem esta frágil, esta inútil rosa?

Cenário de Natal Sem o Natal

Nenhuma estrela luz, com mais brilho no céu.
Não oiço rumor d’asa ou de vagido
É meia-noite já. E ainda não nasceu.
O que terá acontecido?

Eu, para aqui ajoelhado,
A memória da infância a pedir-me alegria,
Todo o presépio armado
… E a mangedoira vazia!

O silĂŞncio apavora:
Nem uma loa, nem o som de um sino.
PorquĂŞ tanta demora?
Não mais irá nascer o meu menino?

Nenhum sinal de sobrenatural
No cenário onde a fé não sublima nem arde.
Por isso, o meu Natal
Vai chegar tarde.

(Para sempre tarde?)

ObsessĂŁo

Dentro de mim canta, intenso,
Um cantar que nĂŁo Ă© meu:
Cantar que ficou suspenso,
Cantar que já se perdeu.

Onde teria eu ouvido
Esta voz cantar assim?
Já lhe perdi o sentido:
Cantar que passa perdido,
Que nĂŁo Ă© meu estando em mim.

Depois, sonâmbulo, sonho:
Um sonho lento, tristonho,
De nuvens a esfiapar…
E, novamente, no sonho
Passa de novo o cantar…

Sobre um lago, onde em sossego
As águas olham o céu,
Roça a asa de um morcego…
E ao longe o cantar morreu.

Onde teria eu ouvido
Esta voz cantar assim?
Já lhe perdi o sentido…
E este cenário partido
Volta a voltar, repetido,
E o cantar recanta em mim.

In Extremis

1

Só a criança conhece a Eternidade
Que Ă© inocĂŞncia do desconhecido.
E o que me dá saudade
É havê-la em mim perdido.

Outra herança de tudo que não sou
Podeis levá-la! Faça-se a vontade:
Que a imortal, perene propriedade,
Perdeu-a o homem quando semeou.

Ah! como a onda do mar que Ă© mais bravia
É que abraça os escolhos,
SĂł terra de poesia
Foi na minh’alma dor, o luto dos meus olhos.

Entre o homem e o mundo há um novelo
De linha preta:
Meu acto de Fé é ser criança, e crê-lo,
Que Ă© ser poeta.

2

O que levamos da terra
É o céu que possuímos:
Esperança das sepulturas.

E Ă  morte que damos vida
Todos os deuses se igualam
Ao mesmo Deus das Alturas.

SĂŞ, Ăł Morte, o meu dia de JuĂ­zo
Se Ă© fantasia o que penso
Sonho a terra que piso.

Mas quando o corpo, a natureza morta
Me for nas mĂŁos dos homens
Com suas luvas pretas,

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Ballada do CaixĂŁo

O meu vizinho Ă© carpinteiro,
Algibebe de Dona Morte:
Ponteia e coze, o dia inteiro,
Fatos de pau de toda a sorte:
Mogno, debruados de velludo
Flandres gentil, pinho do Norte…
Ora eu que trago um sobretudo
Que já me vae a aborrecer,
Fui-me lá, hontem: (era Entrudo,
Havia immenso que fazer!…)
– Olá, bom homem! quero um fato,
Tem que me sirva? – Vamos ver…
Olhou, mexeu na caza toda…
– Eis aqui um e bem barato.

– Está na moda? – Está na moda.
(Gostei e nem quiz apreçal-o:
Muito justinho, pouca roda…)
– Quando posso mandar buscal-o?
– Ao por-do-sol. Vou dal-o a ferro:
(Poz-se o bom homem a aplainal-o…)

Ă“ meus amigos! salvo-erro,
Juro-o pela alma, pelo céu!
Nenhum de vĂłs, ao meu enterro,
Irá mais dandy, olhae! do que eu!