A Justa Medida, sem Grandezas nem Excessos
Uma grande alma distingue-se por desprezar a grandeza, e por preferir a justa medida aos excessos, jĂĄ que a primeira se limita ao que Ă© Ăștil e indispensĂĄvel Ă vida, enquanto os Ășltimos se tornam nocivos pelo prĂłprio facto de serem supĂ©rfluos. Ă assim que a fertilidade excessiva prejudica as searas, os colmos partem-se com o peso e a demasiada abundĂąncia de grĂŁo nĂŁo chega a amadurecer. O mesmo ocorre com as almas corroĂdas por um bem estar desmesurado, do qual usam em prejuĂzo nĂŁo sĂł dos outros como de si prĂłprias. Nenhum inimigo inflingiu a alguĂ©m golpes tĂŁo duros como aqueles que certas pessoas sofrem ocasionados pelos prĂłprios prazeres. SĂł uma coisa pode desculpar a imoderação, a louca voluptuosidade de tal gente: Ă© que sofrem a consequĂȘncia dos seus actos.
Não é sem razão, aliås, que uma tal loucura se apodera delas: o desejo de ultrapassar os limites naturais descamba necessariamente na desmesura. A necessidade natural tem o seu termo próprio, enquanto as necessidades artificiais derivadas do prazer nunca conhecem limitaçÔes. A utilidade serve de medida ao que é indispensåvel; mas por que padrão aferir o que é supérfluo? Por conseguinte, muitos afundam-se em prazeres sem os quais,
Passagens sobre ConsequĂȘncia
198 resultadosO comer carne Ă© a sobrevivĂȘncia da maior brutalidade; a mudança para o vegetarianismo Ă© a primeira consequĂȘncia natural da iluminação.
Aqueles que fazem o bem, fazem-no em grande quantidade: ao provarem aquela satisfação, sentem que Ă© suficiente, e nĂŁo querem ter o aborrecimento de se preocupar com todas as consequĂȘncias; mas aqueles que sentem prazer em fazer o mal, sĂŁo mais diligentes, estĂŁo sempre atrĂĄs de nĂłs atĂ© ao fim, nunca estĂŁo tranquilos, porque tĂȘm aquela ideia fixa que os corrĂłi.
Sem perceber, a sociedade moderna – consumista, rĂĄpida e stressante – alterou algo que deveria ser inviolĂĄvel, o ritmo de construção de pensamentos, gerando consequĂȘncias muito graves para a saĂșde emocional, o prazer de viver, o desenvolvimento da inteligĂȘncia, a criatividade e a sustentabilidade das relaçÔes sociais. Adoecemos coletivamente. Este Ă© um grito de alerta.
A consequĂȘncia de nĂŁo pertencer a nenhum partido serĂĄ a de que os incomodarei a todos.
Em Defesa da LĂngua Portuguesa
Desta audĂĄcia, Senhor, deste descĂŽco
Que entre nĂłs, sem limite, vai lavrando,
Quem mais sente as terrĂveis conseqĂŒĂȘncias
Ă a nossa portuguĂȘs, casta linguagem,
Que em tantas traduçÔes anda envasada
(TraduçÔes que merecem ser queimadas!)
Em mil termos e frases galicanas!
Ah! se, as marmĂłreas campas levantando,
SaĂssem dos sepulcros, onde jazem
Suas honradas cinzas, os antigos
Lusitanos varÔes, que, com a penaOu com a espada e lança, a Påtria ornaram;
Os novos idiotismos escutando,
A mesclada dição, bastardos termos
Com que enfeitar intentam seus escritos
Estes novos, ridĂculos autores;(Como se a bela e fĂ©rtil lĂngua nossa,
PrimogĂȘnita filha da Latina,
Precisasse de estranhos atavios)
SĂșbito, certamente pensariam
Que nos sertÔes estavam de Caconda,
Quilimane, Sofala ou Moçambique;
Até que, jå, por fim, desenganadosQue eram em Portugal, que os Portugueses
Eram tambĂ©m os que costumes, lĂngua,
Por tĂŁo estranhos modos afrontaram,
Segunda vez, de pejo, morreriam.
O Perfeito Controle da Alegria e da Dor
Alegria desmedida e dor muito violenta acometem sempre e apenas a mesma pessoa: pois ambas se condicionam reciprocamente e sĂŁo tambĂ©m condicionadas juntas por uma grande vivacidade do espĂrito. Ambas sĂŁo causadas, nĂŁo pelo simples presente, mas pela antecipação do futuro. No entanto, visto que a dor Ă© essencial Ă vida e, pelo seu grau, Ă© tambĂ©m determinada pela natureza do sujeito – o que implica que, na realidade, modificaçÔes repentinas, sendo sempre externas, nĂŁo podem mudar o seu grau -, na base do jĂșbilo ou da dor excessivos hĂĄ sempre um erro e uma falsa crença: por conseguinte, essas duas exaltaçÔes do espĂrito poderiam ser evitadas com o uso do juĂzo.
Todo o jĂșbilo desmedido repousa sempre na ilusĂŁo de ter encontrado na vida algo que nĂŁo se pode encontrar realmente, isto Ă©, uma satisfação durĂĄvel dos desejos ou preocupaçÔes tormentosos e sempre renascentes. Mais tarde, Ă© inevitĂĄvel que nos separemos de cada ilusĂŁo dessa espĂ©cie, pagando-a entĂŁo, quando desaparece, com igual dor amarga, independentemente da alegria que o seu surgimento nos tenha proporcionado.
Nesse sentido, ela assemelha-se por completo a uma altura da qual o Ășnico momento de descer novamente Ă© a queda, de maneira que deveria ser evitada: e toda a dor repentina ou excessiva Ă© justamente apenas a queda de tal altura,
Quem pensa nas consequĂȘncia dos seus gestos sabe que as pessoas nos respeitam muito mais pelas imagens que construĂmos dentro delas do que pelas palavras que proferimos fora delas.
Desfraldando ao Conjunto FictĂcio dos CĂ©us estrelados
Desfraldando ao conjunto fictĂcio dos cĂ©us estrelados
O esplendor do sentido nenhum da vida…Toquem num arraial a marcha fĂșnebre minha!
Quero cessar sem consequĂȘncias…
Quero ir para a morte como para uma festa ao crepĂșsculo.
…Procure ser uma pessoa de valor, em vez de procurar ser uma pessoa de sucesso. O sucesso Ă© consequĂȘncia…
A ConsciĂȘncia
A consciĂȘncia Ă© a Ășltima fase da evolução do sistema orgĂąnico, por consequĂȘncia tambĂ©m aquilo que hĂĄ de menos acabado e de menos forte neste sistema. Ă do consciente que provĂ©m uma multidĂŁo de enganos que fazem com que um animal, um homem, pereçam mais cedo do que seria necessĂĄrio, «a despeito do destino», como dizia Homero.
Se o laço dos instintos, este laço conservador, nĂŁo fosse de tal modo mais poderoso do que a consciĂȘncia, se nĂŁo desempenhasse, no conjunto, um papel de regulador, a humanidade sucumbiria fatalmente sob o peso dos seus juĂzos absurdos, das suas divagaçÔes, da sua frivolidade, da sua credulidade, numa palavra do seu consciente: ou antes, hĂĄ muito tempo que teria deixado de existir sem ele!
Enquanto uma função nĂŁo estĂĄ madura enquanto nĂŁo atingiu o seu desenvolvimento perfeito, Ă© perigosa para o organismo: Ă© uma grande sorte que ela seja bem tiranizada! A consciĂȘncia Ă©-o severamente, e nĂŁo Ă© ao orgulho que o deve menos. Pensa-se que este orgulho forma o nĂșcleo do ser humano; que Ă© o seu elemento duradoiro, eterno, supremo, primordial! Considera-se que o consciente Ă© uma constante! Nega-se o seu crescimento, as suas intermitĂȘncias! Ă considerado como «a unidade do organismo»!
Ă InĂștil Tudo
Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento,
Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda.
Adormeço sem dormir, ao relento da vida.Ă inĂștil dizer-me que as açÔes tĂȘm conseqĂŒĂȘncias.
Ă inĂștil eu saber que as açÔes usam conseqĂŒĂȘncias.
Ă inĂștil tudo, Ă© inĂștil tudo, Ă© inĂștil tudo.AtravĂ©s do dia de nĂ©voa nĂŁo chega coisa nenhuma.
Tinha agora vontade
De ir esperar ao comboio da Europa o viajante anunciado,
De ir ao cais ver entrar o navio e ter pena de tudo.NĂŁo vem com a tarde oportunidade nenhuma.
Ter como objectivo vital o triunfo pessoal tem consequĂȘncias. Mais tarde ou mais cedo, tornamo-nos egoĂstas, mais concentrados em nĂłs mesmos, insolidĂĄrios.
O Ciclo da Vida
O homem domina a natureza e Ă© por ela dominado. SĂł ele lhe resiste e ao mesmo tempo ultrapassa as suas leis, amplia o seu poderio graças Ă sua vontade e actividade. Afirmar no entanto que o mundo foi criado para o homem Ă© algo que estĂĄ longe de ser evidente. Tudo o que o homem constrĂłi Ă©, como ele, efĂ©mero: o tempo derruba os edifĂcios, atulha os canais, apaga o saber – e atĂ© o nome das naçÔes. (…) Dir-me-ĂŁo que as novas geraçÔes recebem a herança das geraçÔes que as precederam e que, por consequĂȘncia, a perfeição ou o aperfeiçoamento nĂŁo tĂȘm limites. Mas o homem estĂĄ longe de receber intacta a sĂșmula dos conhecimentos acumulados pelos sĂ©culos que o precederam e se aperfeiçoa algumas dessas invençÔes no que diz respeito a outras fica bastante atrĂĄs dos seus prĂłprios inventores; um grande nĂșmero dessas invençÔes chega mesmo a perder-se.
NĂŁo preciso sequer de sublinhar como certos pretensos melhoramentos foram nocivos Ă moral e ao bem-estar. Determinada invenção, suprimindo ou diminuindo o trabalho e o esforço, enfraqueceu a dose de paciĂȘncia necessĂĄria para suportar as contrariedades – ou a energia que temos de dar provas para as vencer.
Devemos começar a amar a fim de nĂŁo adoecermos e estamos destinados a cair doentes se, em consequĂȘncia de frustraçÔes, formos incapazes de amar.
O passado, Ă© infinitamente mais estĂĄvel do que o presente. Em consequĂȘncia os seus efeitos sĂŁo muito maiores.
A Dupla Realidade
A mente pregava-nos partidas. Fabricava estĂmulos, treslia sinais. LesĂ”es e fissuras instalavam-se no corpo caloso dos nossos cĂ©rebros, dificultando a comunicação entre as suas duas metades. Confundiam o hemisfĂ©rio da racionalidade e, nos momentos mais inconvenientes, obrigavam a entrar em acção aquele ao qual cabia o fabrico de histĂłrias.
Talvez tivesse sido o caso. Lera sobre isso. O cĂ©rebro podia ser mentiroso, e as ilusĂ”es Ăłpticas nĂŁo passavam do menor dos seus truques. Um pequeno desequilĂbrio entre o esplĂ©nio e o fĂłrnix era suficiente para a instauração de uma espĂ©cie de dupla-realidade â pelo menos atĂ© que se impusesse o dilema lĂłgico capaz de produzir o curto-circuito capaz de a desmontar. E nem nesse momento um homem poderia considerar-se a salvo, porque, como qualquer curto-circuito, tambĂ©m esse era de consequĂȘncias imprevisĂveis.
Uma verdade sĂł Ă© verdade quando levada Ă s Ășltimas consequĂȘncias. AtĂ© lĂĄ nĂŁo Ă© uma verdade, Ă© uma opiniĂŁo.