Passagens sobre Dor

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Frases sobre dor, poemas sobre dor e outras passagens sobre dor para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Anseio

Nessas paragens desoladas, onde
O silĂŞncio campeia soberano
Morreram notas do bulĂ­cio humano,
Nem vibra a corda que a saudade esconde.

Anseios d’alma aqui se perdem. Donde
Fluiu outrora a luz dum doce engano,
Hoje Ă© trevas, Ă© dor, Ă© desengano,
E eu ergo preces que ninguém responde.

Triste criança virginal, quem dera
Voar est’alma a ti, longe dos laços
Dessa jaula de carne que a encarcera!

Ah! Que unidos assim, lá nos espaços,
Cantarias do amor a primavera,
Tendo a minh’alma presa nos teus braços!

A uma Mulher

Para tristezas, para dor nasceste.
Podia a sorte pôr-te o berço estreito
N’algum palácio e ao pĂ© de rĂ©gio leito,
Em vez d’este areal onde cresceste:

Podia abrir-te as flores — com que veste
As ricas e as felizes — n’esse peito:
Fazer-te… o que a Fortuna há sempre feito…
Terias sempre a sorte que tiveste!

Tinhas de ser assim… Teus olhos fitos,
Que nĂŁo sĂŁo d’este mundo e onde eu leio
Uns mistérios tão tristes e infinitos,

Tua voz rara e esse ar vago e esquecido,
Tudo me diz a mim, e assim o creio,
Que para isto sĂł tinhas nascido!

Deus criou todos os homens iguais para a dor; pequenos ou grandes, ignorantes ou esclarecidos, sofrem pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue judiciosamente o mal que pode fazer.

LII

Que molesta lembrança, que cansada
Fadiga Ă© esta! vejo-me oprimido,
Medindo pela magoa do perdido
A grandeza da glória já passada.

Foi grande a dita sim; porem lembrada,
Inda a pena Ă© maior de a haver perdido;
Quem nĂŁo fora feliz, se o haver sido
Faz, que seja a paixĂŁo mais avultada!

PropĂ­cio imaginei (Ă© bem verdade)
O malévolo fado: oh quem pudera
Conhecer logo a hipĂłcrita piedade!

Mas que em vĂŁo esta dor me desespera,
Se já entorpecida a enfermidade
Inda agora o remédio se pondera!

Hino Ă  Alegria

Tenho-a visto passar, cantando, Ă  minha porta,
E Ă s vezes, bruscamente, invadir o meu lar,
Sentar-se Ă  minha mesa, e a sorrir, meia morta,
Deitar-se no meu leito e o meu sono embalar.

Tumultuosa, nos seus caprichos desenvoltos,
Quase meiga, apesar do seu riso constante,
De olhos a arder, lábios em flor, cabelos soltos,
A um tempo Ă© cortesĂŁ, deusa ingĂ©nua ou bacante…

Quando ela passa, a luz dos seus olhos deslumbra;
Tem como o Sol de Inverno um brilho encantador;
Mas o brilho é fugaz, — cintila na penumbra,
Sem que dele irradie um facho criador.

Quando menos se espera, irrompe de improviso;
Mas foge-nos também com uma presteza igual;
E dela apenas fica um pálido sorriso
Traduzindo o desdém duma ilusão banal.

Onda mansa que sĂł Ă  superfĂ­cie corre,
Toda a alegria Ă© vĂŁ; sĂł a Dor Ă© fecunda!
A Dor é a Inspiração, louro que nunca morre,
Se em nĂłs crava a raiz exaustiva e profunda!

No entanto, eu te saĂşdo e louvo, hora dourada,
Em que a Alegria vem extinguir,

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Veio Tudo de Longe

Veio tudo de longe para ser
uma sĂł coisa, nupcial e magnĂ­fica.
Caminho e tenda. O mar. Livros. A indizĂ­vel
matéria da dor. Ternura
cercada e repartida, pouco
a pouco, à mesa rápida
dos lábios, clandestina voz baixa
das mĂŁos juntas. Sobreviventes
de invernos, dĂşvidas, denĂşncias.
E o teu sorriso honrado. A oferta
duplicada e vulcânica
dos seios. Esta noite que nos pĂ´s
Ă  prova. Sobre o vento e o repouso
do vento. E a mĂşsica ainda cheia
de muitos outros quartos. Sim, a importância
do teu rosto: alvo claro deste mĂŞs
desmedido que nĂłs somos.

Veio tudo de longe para ser
uma só coisa, sagrada e partilhável.

O banho comum gradual e abundante
dos sentidos. As faces que sĂł tenho
entre o convĂ­vio doce dos teus dedos
sempre em férias. E a chave
do desejo. Erecta dureza doadora
do Ăłleo e da viagem
aos lugares da origem
e do ĂŞxtase. Resposta
da terra contra a terra.

E a surpresa ensina e desvenda
as partes mais antigas da alegria
dupla,

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SĂşplica

Se tudo foge e tudo desaparece,
Se tudo cai ao vento da Desgraça,
Se a vida é o sopro que nos lábios passa
Gelando o ardor da derradeira prece;

Se o sonho chora e geme e desfalece
Dentro do coração que o amor enlaça,
Se a rosa murcha inda em botão, e a graça
Da moça foge quando a idade cresce;

Se Deus transforma em sua lei tĂŁo pura
A dor das almas que o ideal tortura
Na demĂŞncia feliz de pobres loucos…

Se a água do rio para o oceano corre,
Se tudo cai, Senhor! por que nĂŁo morre
A dor sem fim que me devora aos poucos?

Poder sem magnanimidade e ar de luto sem dor, sĂŁo coisas que nĂŁo suporto presenciar.

Que Modo TĂŁo Sutil Da Natureza

Que modo tĂŁo sutil da natureza,
para fugir ao mundo, e seus enganos,
permite que se esconda em tenros anos,
debaixo de um burel tanta beleza!

Mas esconder se nĂŁo pode aquela alteza
e gravidade de olhos soberanos,
a cujo resplandor entre os humanos
resistĂŞncia nĂŁo sinto, ou fortaleza.

Quem quer livre ficar de dor e pena,
vendo a ou trazendo a na memĂłria,
da mesma razĂŁo sua se condena.

Porque quem mereceu ver tanta glĂłria,
cativo há de ficar; que Amor ordena
que de juro tenha ela esta vitĂłria.

A amizade desenvolve a felicidade e reduz o sofrimento, duplicando a nossa alegria e dividindo a nossa dor. A alegria de fazer o bem Ă© a Ăşnica felicidade verdadeira

A Noite de Pavese

Raras vezes me franquearam a porta
e me deixaram entrar. A febre
sitia-me a alma e quem me vĂŞ
assusta-se do aspecto do meu rosto,
esta barba por fazer onde um rouxinol
se esconde. E mais ainda assusta
a minha altura, este lugar de vertigem
e palavras poderosas, a presença
de ilimitados segredos que ninguém quer conhecer,
o estremecimento que corre nos meus ombros.
Embora nada peça, sabem que sou um pedinte.
E quando entro nas casas os meus gestos
afeiçoam-se a alguma coisa enigmática
que contorna o pavor e o entrega
por não se saber que espécie de vida ou de morte
vem comigo. Obviamente, eu abençoo
quem me deixa entrar, dou a entender
que alguma coisa brilha nas minhas mĂŁos
e posso matar a fome com uma ou outra palavra
prĂłxima do amor, um dedo nos cabelos
de quem me recebe. Subi as escadas que vĂŁo dar a esta casa
em silĂŞncio e em silĂŞncio aceitei que me aguardassem
com as inefáveis sombras que vejo nos outros
e tento decifrar para meu contentamento.
Mandaram-me sentar e deram-me de beber.

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As Minhas Ilusões

Hora sagrada dum entardecer
De Outono, Ă  beira-mar, cor de safira,
Soa no ar uma invisĂ­vel lira …
O sol Ă© um doente a enlanguescer …

A vaga estende os braços a suster,
Numa dor de revolta cheia de ira,
A doirada cabeça que delira
Num Ăşltimo suspiro, a estremecer!

O sol morreu … e veste luto o mar …
E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,
À flor das ondas, num lençol de espuma.

As minhas Ilusões, doce tesoiro,
Também as vi levar em urna de oiro,
No mar da Vida, assim … uma por uma …

A criança, só de pensar que terá de tomar injeção, chora antes mesmo de sentir dor. O adulto, só de imaginar que terá de enfrentar dificuldade, solta um longo suspiro de desânimo. Se és adulto, não imites a criança.

Acusam-me de Mágoa e Desalento

Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
nĂŁo fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.

Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que nĂŁo nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.

Entretanto, deixai que me nĂŁo cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.

A minha voz de morte Ă© a voz da luta:
se quem confia a prĂłpria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.