É Tempo de Natal
É tempo de Natal. Exibe-se um pinheiro,
Com lâmpadas de cor, sobre o balcão.
Tem, também, pendurados, a isca do dinheiro
E flocos finos de algodão.Nas férias, foge a freguesia
Do final das manhĂŁs,
Com os seus kispos disformes, de inflada fantasia,
E o conforto das lĂŁs.Bebem-se mais bebidas quentes.
O chĂŁo, mais hĂşmido, incomoda.
E há apelos insistentes
Do cauteleiro que anda à roda.Os embrulhos, nas mesas, nos regaços,
Com vistosos papéis,
Florescem de acetinados laços,
Lembram o oiro, o incenso, a mirra, em mãos de reis.Muitos adultos. Pouca criançada.
Muito cansaço. Pouca animação.
A vida (a cruz!) tĂŁo cara, tĂŁo pesada!
E dão-se as boas-festas sem se sentir que o são.Consigo mesa junto à vidraça.
E é em mim que procuro, ou é lá fora,
A estrela que nĂŁo luz, o pastor que nĂŁo passa,
O anjo que nĂŁo vem anunciar a hora?
Passagens sobre Fantasia
168 resultadosElogio da Morte
I
Altas horas da noite, o Inconsciente
Sacode-me com força, e acordo em susto.
Como se o esmagassem de repente,
Assim me pára o coração robusto.Não que de larvas me povôe a mente
Esse vácuo nocturno, mudo e augusto,
Ou forceje a razĂŁo por que afugente
Algum remorso, com que encara a custo…Nem fantasmas nocturnos visionários,
Nem desfilar de espectros mortuários,
Nem dentro de mim terror de Deus ou Sorte…Nada! o fundo dum poço, hĂşmido e morno,
Um muro de silĂŞncio e treva em torno,
E ao longe os passos sepulcrais da Morte.II
Na floresta dos sonhos, dia a dia,
Se interna meu dorido pensamento.
Nas regiões do vago esquecimento
Me conduz, passo a passo, a fantasia.Atravesso, no escuro, a névoa fria
D’um mundo estranho, que povĂ´a o vento,
E meu queixoso e incerto sentimento
SĂł das visões da noite se confia.Que mĂsticos desejos me enlouquecem?
Do Nirvana os abismos aparecem,
A meus olhos, na muda imensidade!N’esta viagem pelo ermo espaço,
A infância vive a realidade da única forma honesta, que é tomando-a como uma fantasia.
LX
Valha-te Deus, cansada fantasia!
Que mais queres de mim? que mais pretendes?
Se quando na esperança mais te acendes,
Se desengana mais tua porfia!Vagando regiões de dia em dia,
Novas conquistas, e troféus empreendes:
Ah que conheces mal, que mal entendes,
Onde chega do fado a tirania!Trata de acomodar-te ao movimento
Dessa roda volĂşvel, e descansa
Sobre tão fatigado pensamento.E se inda crês no rosto da esperança,
Examina por dentro o fingimento;
E verás tempestade o que é bonança.
Eu nĂŁo sou um moralista: sou um artista; o artista Ă© um ser nefasto – que nĂŁo Ă© responsável pelas suas fantasias, nem pelas suas vinganças.
A Alma Popular Ă© Totalmente Dominada por Elementos Afectivos e MĂsticos
A acção cada vez mais considerável das multidões na vida polĂtica imprime especial importância ao estudo das opiniões populares. Interpretadas por uma legiĂŁo de advogados e professores, que as transpõem e lhe dissimulam a mobilidade, a incoerĂŞncia e o simplismo, elas permanecem pouco conhecidas. Hoje, o povo soberano Ă© tĂŁo adulado quanto foram, outrora, os piores dĂ©spotas. As suas paixões baixas, os seus ruidosos apetites, as suas ininteligentes aspirações suscitam admiradores. Para os polĂticos, servidores da plebe, os factos nĂŁo existem, as realidades nĂŁo tĂŞm nenhum valor, a natureza deve-se submeter a todas as fantasias do nĂşmero.
A alma popular (…) tem, como principal caracterĂstica, a circunstância de ser inteiramente dominada por elementos afectivos e mĂsticos. NĂŁo podendo nenhum argumento racional refrear nela as impulsões criadas por esses elementos, ela obedece-lhes imediatamente.
O lado mĂstico da alma das multidões Ă©, muitas vezes, mais desenvolvido ainda do que o seu lado afectivo. DaĂ resulta uma intensa necessidade de adorar alguma coisa: deus, feitiço, personagem ou doutrina.
(…) O ponto mais essencial, talvez, da psicologia das multidões Ă© a nula influĂŞncia que a razĂŁo exerceu nelas. As ideias susceptĂveis de influenciar as multidões nĂŁo sĂŁo ideias racionais, porĂ©m sentimentos expressos sob forma de ideias.
A Flor Do Sonho
A Flor do Sonho, alvĂssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnĂłlia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruĂna.Pende em meu seio a haste branda e fina
E nĂŁo posso entender como Ă© que, enfim,
Essa tĂŁo rara flor abriu assim! …
Milagre… fantasia… ou, talvez, sina…Ă“ flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles sĂŁo tristes pelo amor de ti?!…Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minh’alma
E nunca, nunca mais eu me entendi…
A Arte de Viver, pela Fantasia
A fantasia Ă© a mĂŁe da satisfação, do humor, da arte de viver. Apenas floresce alicerçada num Ăntimo entendimento entre o ser humano e aquilo que objectivamente o rodeia. Esse ambiente envolvente nĂŁo tem de ser belo, singular ou sequer encantador. Basta que tenhamos tempo para a ele nos habituarmos, e Ă© sobretudo isso que hoje em dia nos falta.
O amor é a comédia na qual os actos são mais curtos e os intervalos mais compridos. Como, portanto, ocupar o tempo dos intervalos senão com a fantasia?
Soneto 263 A Mama Cass
Se magra Ă© minha Sandra carioca,
gordona foi Cassandra, outro tesĂŁo
das minhas fantasias, que hoje sĂŁo
lembranças se a vitrola, ao fundo, toca.Mulher o meu desejo só provoca
se for ou varapau ou balofĂŁo:
oitenta ou oito; o meio termo nĂŁo.
Por isso a Mama Cass, morta, me choca.Um simples sanduĂche nos privava,
fatĂdico, entalado na garganta,
daquela voz famosa, que nĂŁo gravamais coisas como aquilo que me encanta:
“Palavras de amor”. Cass, vocĂŞ foi brava!
Nenhum peso mais alto se alevanta!
Questiono-me se a guerra nĂŁo Ă© provocada senĂŁo pelo Ăşnico objectivo de permitir ao adulto voltar a ser criança, regredir com alĂvio Ă idade das fantasias e dos soldadinhos de chumbo.
Chuva E Sol
Agrada Ă vista e Ă fantasia agrada
Ver-te, através do prisma de diamantes
Da chuva, assim ferida e atravessada
Do sol pelos venábulos radiantes…Vais e molhas-te, embora os pĂ©s levantes:
– Par de pombos, que a ponta delicada
Dos bicos metem nágua e, doidejantes,
Bebem nos regos cheios da calçada…Vais, e, apesar do guarda-chuva aberto,
Borrifando-te colmam-te as goteiras
De pérolas o manto mal coberto;E estrelas mil cravejam-te, fagueiras,
Estrelas falsas, mas que assim de perto,
Rutilam tanto, como as verdadeiras…
Desejos em Função das Necessidades
O desejo tem mais fantasia do que a inclinação, e nem sempre ocorre segundo a necessidade. Pode-se desejar uma coisa da qual nĂŁo se tem experiĂŞncia. Por isso nĂŁo existe limite aos desejos que os inventores nos possam dar, como o aviĂŁo, o rádio, a televisĂŁo, ir Ă lua, etc. Deseja-se o novo. A sensatez exige que estabeleçamos os nossos desejos a partir das nossas necessidades e mesmo (afinal, adquirem-se necessidades) a partir do nĂvel mĂ©dio dos homens.
In Extremis
1
Só a criança conhece a Eternidade
Que Ă© inocĂŞncia do desconhecido.
E o que me dá saudade
É havê-la em mim perdido.Outra herança de tudo que não sou
Podeis levá-la! Faça-se a vontade:
Que a imortal, perene propriedade,
Perdeu-a o homem quando semeou.Ah! como a onda do mar que Ă© mais bravia
É que abraça os escolhos,
SĂł terra de poesia
Foi na minh’alma dor, o luto dos meus olhos.Entre o homem e o mundo há um novelo
De linha preta:
Meu acto de Fé é ser criança, e crê-lo,
Que Ă© ser poeta.2
O que levamos da terra
É o cĂ©u que possuĂmos:
Esperança das sepulturas.E à morte que damos vida
Todos os deuses se igualam
Ao mesmo Deus das Alturas.SĂŞ, Ăł Morte, o meu dia de JuĂzo
Se Ă© fantasia o que penso
Sonho a terra que piso.Mas quando o corpo, a natureza morta
Me for nas mĂŁos dos homens
Com suas luvas pretas,
Bilhete
O teu vulto ficou na lembrança guardado,
vivo, por muitas horas!… e em meus olhos baços
Fitei-te – como alguĂ©m que ansioso e torturado
Tentasse inutilmente reavivar teus traços…Num relance te vi – depois, quase irritado
Fugi, – e reparei que ao marcar os meus passos
ia a dizer teu nome e a ver por todo lado
o teu vulto… o teu rosto… e o clarĂŁo dos teus braços!Talvez eu faça mal em querer ser sincero,
censurarás – quem sabe? Essa minha ousadia,
e pensarás atĂ© que minto, e que exagero…Ou dirás, que eu falar-te nesse tom, nĂŁo devo,
que o que escrevo Ă© infantil e absurdo, Ă© fantasia,
e afinal tens razĂŁo… nem sei por que te escrevo!
Quando você está envolvido mesmo, de verdade, com alguma coisa, você quase sempre pensa em alguma outra coisa. Quando alguma coisa está acontecendo, você fantasia sobre outras coisas.
Critique os Seus Pensamentos Negativos
O «eu» representa a vontade consciente. Resgatar a liderança do «eu» Ă© gerir a produção dos pensamentos. O «eu» precisa de deixar de ser passivo, tĂmido e submisso diante dos pensamentos. Um dos maiores erros educacionais Ă© transformar o homem numa pessoa fraca no seu prĂłprio mundo.
Critique diariamente os pensamentos negativos. Confronte-se com as ideias que o paralisam e o desanimam. NĂŁo Ă© obrigado a viver passivamente as ideias que sĂŁo encenadas no palco da sua mente.
Discorde frontalmente de todos os pensamentos e fantasias que o amedrontam, entristecem, deprimem. Cada pensamento que nos incomoda deve ser questionado com ousadia e determinação pelo «eu». Tentar parar de pensar ou distrair-se são técnicas usadas há milénios sem resultado. A única possibilidade que temos é de gerir os pensamentos.
O futuro é sempre belo, porque se viaja na barquinha da esperança, cujas velas dilata aquela brisa inebriante, que é a fantasia.
Abandonei a minha busca pela verdade, e agora estou procurando uma boa fantasia.
Esperanças de um Vão Contentamento
Esperanças de um vão contentamento,
por meu mal tantos anos conservadas,
é tempo de perder-vos, já que ousadas
abusastes de um longo sofrimento.Fugi; cá ficará meu pensamento
meditando nas horas malogradas,
e das tristes, presentes e passadas,
farei para as futuras argumento.Já não me iludirá um doce engano,
que trocarei ligeiras fantasias
em pesadas razões do desengano.E tu, sacra Virtude, que anuncias,
a quem te logra, o gosto soberano,
vem dominar o resto dos meus dias.