Soneto I
De Amor escrevo, de Amor falo e canto;
E se minha voz fosse igual ao que amo,
Esperara eu sentir na que em vĂŁo chamo
Piedade, e na gente dor e espanto.Mas nĂŁo há pena, ou lĂngua, ou voz, ou canto
Que mostre o amor por que eu tudo desamo,
Nem o vivo fogo em que me sempre inflamo,
Nem de meus olhos o contino pranto.Assi me vou morrendo, sem ser crida
A causa por que em vĂŁo mouro contente,
Nem sei se isto que passo Ă© vida ou morte.Mas inda da que eu amo fosse ouvida
E crida minha voz, e da vĂŁ gente
Nunca entendida fosse minha sorte!