À Toa
O Primeiro Homem
Que lindo mundo! E eu só! Que tortura tamanha!
Ninguem! Meu pae é o céu. Minha mãe é a montanha.A Montanha
Os meus cabellos são os pinheiraes sombrios
E veias do meu corpo os azulados rios.Os Rios
Nós somos o suor que o Estio asperge e sua,
Nós somos, em Janeiro, a agoa-benta da Lua!A Lua
Eu sou a bala, no Ar detida, d’essa guerra
Que teve contra Deus, em seu principio, a Terra…A Terra
E eu uma das maçãs, entre outras a primeira,
Que certo Virgem viu cair d’uma macieira!A Macieira
Tantas ainda por cair! Vinde colhel-as!
Abanae a macieira e cairão estrellas!A Estrellas
No mar, á noite, reflectimo-nos, a olhar,
E formamos, assim, as Estrellas-do-mar…O Mar
Sou padre. São d’agoa meus Santos-Evangelhos:
Accendei meu altar, relampagos vermelhos!Os Relampagos
Nós somos (o contrario, embora, seja escripto)
Os fogos-tátuos d’esta cova do Infinito…O Infinito
Sou o mar sem borrasca, onde emfim se descança.
Aqui, vem desagoar o rio da Esperança…A Esperança
Morri, irmãos! mas lá ficaram minhas vestes,
No vosso mundo: dei-as dadas aos cyprestes.Os Cyprestes
Para apontar os céus, como dedos funereos,
Plantaram-nos no pó dos mudos cemiterios…Os Cemiterios
Porão, beliches, tudo cheio!… Os céus absortos!
Não cabe em Josaphat esta leva de mortos!Os Mortos
Seculos tombam uns sobre outros, como blocos,
E nós dormindo sempre, eternos dorminhocos!