Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta
Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.Que difícil ser próprio e não ser senão o visível!
Passagens sobre Fruto
331 resultadosTeoria e Prática
Se, por um lado, qualquer teoria positiva deve ser necessariamente fundamentada em observações, é igualmente sensível, por outro, que, para se entregar à observação, o nosso espírito necessita de uma teoria qualquer. Se, ao contemplar os fenómenos, não os ligarmos imediatamente a alguns princípios, não apenas nos será impossível combinar essas observações isoladas e, consequentemente, delas tirar algum fruto, mas seríamos inteiramente incapazes de retê-las; e, na maioria das vezes, os factos permaneceriam despercebidos aos nossos olhos.
Da Mais Alta Janela da Minha Casa
Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a Humanidade.
E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.
Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.
Quem sabe quem os terá?
Quem sabe a que mãos irão?
Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.
Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi
sua.
Passo e fico,
O fruto sempre age, mas não age no sentido da felicidade para aqueles que o arrancam em causa própria.
Existo
Seu amor me fez real, e me deu sentido
da alegria de ser, total, completamente…
Fez de um pobre poeta em sonhos consumido
alguém que tem nas mãos um mundo! e sofre, e sente!Seu amor foi a vida a irromper da semente
de um velho coração cansado e ressequido,
o verde que voltou ao ramo nu, pendente,
a imprevisível flor, o fruto inconcebido…Seu amor foi milagre a cantar pelo chão
como a água, no agreste, a acenar ao viajante
a esperança, o prazer, a vida, a salvação…Passo a existir, quem sabe ? apenas porque amei…
E ela existe talvez, a partir deste instante
porque ela e o seu amor… em versos transformei!
Stabat Mater
(Stabat Mater)
Estava a mãe de pé, já sem o filho
que fora a razão de ter aceite
um quotidiano rasteiro e o prodígio:
entre ambos, não ousava distingui-los.Traspassara-se quando o viu deixar a casa
para se completar longe das mãos
que o receberam e fizeram crescer,
– nela sempre menino, e tão inerme
que de si nunca o desprenderia.Soubera que ele fora domado, escarnecido,
mais bem pago para ser mais proveitoso,
soldado em guerras de outros
em que sempre foi um derrotado;
traído por mulheres de uma beleza
não somente fascínio e um ardil,
mas perdão para quem por elas se jogasse.
Mais que ninguém, ela sofrera-o sem dizê-lo.Devolveram-lho por fim, já só em parte,
para uni-lo na cama onde nascera.Tudo nela ruiu, os seus escombros
são o mais intenso túmulo,
sem ter onde vá sorver a força
para sumir-se no apagamento
de si mesma e de tudo,
até da manhã que a saudou a anunciar-lhe
o fruto que sua flor tinha alcançado.E pede que nenhuma luz venha acordá-la.
O trabalho é mais importante e é independente do capital. O capital é apenas o fruto do trabalho, e não existiria sem ele. O trabalho é superior ao capital e merece a consideração mais elevada.
Os homens semeiam na terra o que colherão na vida espiritual: os frutos da sua coragem ou da sua fraqueza.
Longe do mundo vão, goza o feliz minuto Que arrebataste às horas distraídas. Maior prazer não é roubar um fruto Mas sim ir saboreá-lo às escondidas.
Mesmo o homem de bem prova maus dias enquanto as suas boas acções não produzirem frutos; mas quando amadurecerem as suas boas acções, então provará dias felizes.
Lei é da Natureza
Mudar-se desta sorte o tempo leve:
Suceder à beleza
Da Primavera, o fruto; à calma, a neve;
E tornar outra vez, por certo fio,
Outono, Inverno, Primavera, Estio.
A cólera num lar é como eiva num fruto. A imoralidade num lar é como verme num fruto.
A paciência é amarga, mas seu fruto é doce.
Soneto
Ao meu primeiro filho nascido morto com 7 meses incompletos 2 fevereiro 1911.
Agregado infeliz de sangue e cal,
Fruto rubro de carne agonizante,
Filho da grande força fecundante
De minha brônzea trama neuronial,Que poder embriológico fatal
Destruiu, com a sinergia de um gigante,
Em tua morfogênese de infante
A minha morfogênese ancestral?!Porção de minha plásmica substância,
Em que logar irás passar a infância,
Tragicamente anônimo, a feder?!…Ah! Possas tu dormir feto esquecido,
Panteisticamente dissolvido
Na noumenalidade do NÃO SER!
Post Coitum Animal Triste
Em ti o poema, o amplo tecido da água ou a forma
do segredo. Outrora conheceste a margem abandonada
do desejo, a sua extensão e principias a entregar
os vasos alongados para receberes as mãos das chuvas.Apagaram-se junto dos teus olhos as praias, as árvores
que se ergueram um dia sobre as estradas romanas,
o vestígio dos últimos peregrinos, aves nuas
que já desceram, cansadas, pelo interior do teu peito.Uma voz, no silêncio calmo das águas, esquece
a mentira das primeiras colheitas, onde os nossos gestos
perderam os sorrisos ou o orvalho que os cerca.Serenamente, começaram a fechar-se os sonhos de Deus
no interior de novos frutos e, abandonado, fico
junto do teu corpo, onde principia a sombra deste poema.
Sinceridade Proscrita
A verdade permanece sepultada sob as máximas de uma falsa delicadeza. Chama-se saber viver à arte de viver com baixeza. Não se põe diferença entre conhecer o mundo e enganá-lo; e a cerimónia, que deveria ater-se inteiramente ao exterior, introduz-se nos nossos costumes mesmos.
A ingenuidade deixa-se aos espíritos pequenos, como uma marca da sua imbecilidade. A franqueza é olhada como um vício na educação. Nada de pedir que o coração saiba manter o seu lugar; basta que façamos como os outros. É como nos retratos, aos quais não se exige mais do que parecença. Crê-se ter achado o meio de tornar a vida deliciosa, através da doçura da adulação.
Um homem simples que não tem senão a verdade a dizer é olhado como o perturbador do prazer público. Evitam-no, porque não agrada; evita-se a verdade que anuncia, porque é amarga; evita-se a sinceridade que professa porque não dá frutos senão selvagens; temem-na porque humilha, porque revolta o orgulho que é a mais cara das paixões, porque é um pintor fiel, que faz com que nos vejamos tão disformes como somos.
Não há por que nos espantarmos, se ela é rara: é expulsa, proscrita por toda a parte.
Em Ramos Tufados, Cheios…
Eram ramos tufados, cheios,
Olha, minha Amada, vê!
Deixa que te mostre os frutos
Dentro dos ouriços verdes.Redondos, há muito pendem,
Calmos, fechados em si,
E um ramo a baloiçar
Os embala paciente.Mas de dentro amadurece
E incha o fruto castanho;
Gostava de vir pra o ar
E de poder ver o sol.A casca rebenta, e cai
Alegre pra o chão o fruto;
Tais minhas canções aos montes
Te vão cair no regaço.Tradução de Paulo Quintela
Dois Excertos de Odes
(Fins de duas odes, naturalmente)
I
Vem, Noite antiquíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com as estrelas lentejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.Vem, vagamente,
Vem, levemente,
Vem sozinha, solene, com as mãos caídas
Ao teu lado, vem
E traz os montes longínquos para o pé das árvores próximas,
Funde num campo teu todos os campos que vejo,
Faze da montanha um bloco só do teu corpo,
Apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo,
Todas as estradas que a sobem,
Todas as várias árvores que a fazem verde-escuro ao longe.
Todas as casas brancas e com fumo entre as árvores,
E deixa só uma luz e outra luz e mais outra,
Na distância imprecisa e vagamente perturbadora,
Na distância subitamente impossível de percorrer.Nossa Senhora
Das coisas impossíveis que procuramos em vão,
Dos sonhos que vêm ter conosco ao crepúsculo, à janela,
Dos propósitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas
Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto,
Recomeça… se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.
Dois Ramos
É preciso coragem, meu amor.
para afinal reconhecer que vamos
nos afastar, assim como dois ramos,
que continuam dando a mesma flor…Que importa a flor, no entanto, se não damos
os mesmos sonhos de antes? Se o sabor
do fruto que ainda agora partilhamos
já se vai transformando em amargor?É preciso coragem… Mas um dia
será preciso tê-la… Que a tenhamos!
Não vamos prolongar essa agoniaem que nossos desejos se desgastam…
Nosso destino… é o mesmo de dois ramos:
– quanto mais crescem… tanto mais se afastam…