Passagens sobre InocĂȘncia

134 resultados
Frases sobre inocĂȘncia, poemas sobre inocĂȘncia e outras passagens sobre inocĂȘncia para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

NĂŁo Deixeis um Grande Amor

Aos poucos apercebi-me do modo
desolado incerto quase eventual
com que morava em minha casa

assim ele habitou cidades
desprovidas
ou os portos levantinos a que
se ligava apenas por saber
que nada ali o esperava

assim se reteve nos campos
dos ciganos sem nunca conseguir
ser um deles:
nas suas rixas insanas
nas danças de navalhas
na arte de domar a dor

chegou a ser o melhor
mas era ainda a criança perdida
que protesta inocĂȘncia
dentro do escuro

nĂŁo serĂĄ por muito tempo
assim eu pensava
e pelas falésias jå a solidão
dele vinha

nĂŁo serĂĄ por muito tempo
assim eu pensava
mas ele sorria e uma a uma
as evidencias negava

por isso vos digo
nĂŁo deixeis o vosso grande amor
refém dos mal-entendidos
do mundo

A verdadeira pergunta Ă© inocente e Ă© por isso mais prĂłpria da criança. A resposta perdeu jĂĄ a inocĂȘncia e Ă© assim mais prĂłpria do adulto.

A de Sempre, Toda Ela

Se eu vos disser: «tudo abandonei»
É porque ela nĂŁo Ă© a do meu corpo,
Eu nunca me gabei,
NĂŁo Ă© verdade
E a bruma de fundo em que me movo
NĂŁo sabe nunca se eu passei.

O leque da sua boca, o reflexo dos seus olhos
Sou eu o Ășnico a falar deles,
O Ășnico a ser cingido
Por esse espelho tĂŁo nulo em que o ar circula
[através de mim
E o ar tem um rosto, um rosto amado,
Um rosto amante, o teu rosto,
A ti que nĂŁo tens nome e que os outros ignoram,
O mar diz-te: sobre mim, o céu diz-te: sobre mim,
Os astros adivinham-te, as nuvens imaginam-te
E o sangue espalhado nos melhores momentos,
O sangue da generosidade
Transporta-te com delĂ­cias.

Canto a grande alegria de te cantar,
A grande alegria de te ter ou te nĂŁo ter,
A candura de te esperar, a inocĂȘncia de te
[conhecer,
Ó tu que suprimes o esquecimento, a esperança e
[a ignorĂąncia,
Que suprimes a ausĂȘncia e que me pĂ”es no mundo,

Continue lendo…

A inocĂȘncia Ă© um estado clandestino na ditadura do mundo; tem se dar astuta, tem de recorrer a todas as torpezas para lutar e escapar.

Uva, Pedra, Cavalo, Sol e Pensamento

O rio continua a passar na minha ausĂȘncia.
Eu nĂŁo sei o que o pĂĄssaro pensa da chuva.

A terra tem o gosto agridoce de uma uva.
Tudo em que ponho o olhar tem mĂĄgica inocĂȘncia.

Magra como uma vara de anzol pode ser a mulher.
Gorda como a cara do sol pode ser a laranja.

Ligeiro, o cavalinho. Trem-de-ferro qualquer,
apitando, tudo Ă© bondade que a vida arranja.

Os anos que a pedra vive no seio das ĂĄguas.
Os anos que o coração bate no peito do homem.

Os pés e as pernas unidos na mesma faina.
As mĂĄgoas que se consomem iguais aos ventos.

Uva, pedra, cavalo, sol e pensamento.

A Guerra

Musa, pois cuidas que Ă© sal
o fel de autores perversos,
e o mundo levas a mal,
porque leste quatro versos
de HorĂĄcio e de Juvenal,

Agora os verĂĄs queimar,
jĂĄ que em vĂŁo os fecho e os sumo;
e leve o volĂșvel ar,
de envolta como turvo fumo,
o teu furor de rimar.

Se tu de ferir nĂŁo cessas,
que serve ser bom o intento?
Mais carapuças não teças;
que importa dĂĄ-las ao vento,
se podem achar cabeças?

Tendo as sĂĄtiras por boas,
do Parnaso nos dois cumes
em hora negra revoas;
tu dĂĄs golpes nos costumes,
e cuidam que Ă© nas pessoas.

Deixa esquipar Inglaterra
cem naus de alterosa popa,
deixa regar sangue a terra.
Que te importa que na Europa
haja paz ou haja guerra?

Deixa que os bons e a gentalha
brigar ao Casaca vĂŁo,
e que, enquanto a turba ralha,
vĂĄ recebendo o balcĂŁo
os despojos da batalha.

Que tens tu que ornada histĂłria
diga que peitos ferinos,

Continue lendo…

Como Fizeste, PĂłrcia, Tal Ferida?

Como fizeste, PĂłrcia, tal ferida?
Foi voluntĂĄria, ou foi por inocĂȘncia?
-Mas foi fazer Amor experiĂȘncia
se podia sofrer tirar me a vida.

-E com teu prĂłprio sangue te convida
a nĂŁo pores Ă  vida resistĂȘncia?
-Ando me acostumando Ă  paciĂȘncia,
porque o temor a morte nĂŁo impida.

-Pois porque comes, logo, fogo ardente,
se a ferro te costumas?-Porque ordena
Amor que morra e pene juntamente.

E tens a dor do ferro por pequena?
-Si: que a dor costumada nĂŁo se sente;
e eu nĂŁo quero a morte sem a pena.

A inocĂȘncia Ă© a doçura nas relaçÔes humanas e a rectidĂŁo da intenção

A inocĂȘncia Ă© a doçura nas relaçÔes humanas e a rectidĂŁo da intenção.

NĂŁo Ser

Quem me dera voltar Ă  inocĂȘncia
Das coisas brutas, sĂŁs, inanimadas,
Despir o vĂŁo orgulho, a incoerĂȘncia:
– Mantos rotos de estĂĄtuas mutiladas!

Ah! arrancar Ă s carnes laceradas
Seu mĂ­sero segredo de consciĂȘncia!
Ah! poder ser apenas florescĂȘncia
De astros em puras noites deslumbradas!

Ser nostĂĄlgico choupo ao entardecer,
De ramos graves, plĂĄcidos, absortos
Na mĂĄgica tarefa de viver!

Ser haste, seiva, ramaria inquieta,
Erguer ao sol o coração dos mortos
Na urna de oiro duma flor aberta!…

Eu creio na inocĂȘncia das mulheres, como sinĂłnimo de pureza; mas de simplicidade nĂŁo. O conhecimento precoce dos segredos mais rebuçados da vida, Ă© um segundo instinto com que vieram Ă  luz as mulheres do sĂ©culo XIX.

NĂŁo hĂĄ inocentes; sĂł aqueles que ainda nĂŁo nasceram ou os que jĂĄ estĂŁo mortos podem aspirar Ă  inocĂȘncia.

A GratidĂŁo nĂŁo Ă© Coisa de Pouca Monta

NinguĂ©m poderĂĄ ser grato se nĂŁo desprezar tudo aquilo que excita a atenção do vulgo: se quiseres, de facto, retri­buir um favor terĂĄs que estar disposto a enfrentar o exĂ­lio, a derramar o teu sangue, a resignar-te Ă  indigĂȘncia, a con­sentir mesmo que a tua inocĂȘncia seja posta em causa e se sujeite a infames boatos. Um homem grato nĂŁo Ă© coisa de pouca monta. Habitualmente, a nada se dĂĄ mais valor do que a um benefĂ­cio enquanto o solicitamos, mas a nada se dĂĄ menos valor depois de obtĂȘ-lo. Sabes o que ocasiona em nĂłs o esquecimento dos favores recebidos? É o desejo daqueles que procuramos obter! NĂŁo pensamos no que jĂĄ conseguimos, mas sĂł no que ainda procuramos alcançar. Somos desviados do caminho recto pelas riquezas, as hon­ras, o poder e outras coisas mais que a opiniĂŁo comum considera valiosas mas que em si mesmas nada valem.