Namoro II
Ai se eu disser que as tremuras
Me dão nas pernas, e as loucuras
Fazem esquecer-me dos prantos
Pensar em jurasAi se eu disser que foi feitiço
Que fez na saia dar ventania
Mostrar-me coisas tão belas
Ter fantasia
E sonhar com aquele encontro
Sonhar que não diz que nãoTem um jeito de senhora
E um olhar desmascarado
De céu negro ou céu estrelado, ou Sol
Daquele que a gente sabe.
O seu balanço gingado
Tem os mistérios do mar
E a certeza do caminho certo
que tem a estrela polar.Não sei se faça convite
E se quebre a tradição
Ou se lhe mande uma carta
Como ouvi numa canção
Só sei que o calor aperta
E ainda não estamos no verão.Quanto mais o tempo passa
Mais me afasto da razão
E ela insiste no passeio à tarde
Em tom de provocação
Até que num dia feriado
P’ra curtir a solidão
Fui consumir as tristezas
P’ró baile do Sr. JoãoNão sei se foi por magia
Ou seria maldição
Dei por mim rodopiando
Bem no meio do salão
Acabei no tal convite
Em jeito de confissão
E a resposta foi tão doce
Que a beijei com emoção
Só que a malta não gritou
Como ouvi numa canção
Passagens sobre Loucura
394 resultadosAs coisas mais belas são as que a loucura sopra e que a razão escreve.
Os filhos herdam as loucuras dos pais.
Tentei fugir da mancha mais escura
Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão…Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.
O casamento transforma muitas loucuras curtas em uma longa estupidez.
Cavalo à solta
Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve breve
instante da loucura.Minha ousadia
meu galope
minha rédea
meu potro doido
minha chama
minha réstia
de luz intensa
de voz aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a gente certa.Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.Por isso digo
canção castigo
amêndoa travo corpo alma amante amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo.Meu desafio
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.
Não sinto loucura no desejo de morder estrelas, mas ainda existe a terra. E porque a primeira verdade está na terra e no corpo. Se o brilho das estrelas dói em mim, se é possível essa comunicação distante, é que alguma coisa quase semelhante a uma estrela tremula dentro de mim.
A Voz do Amor
Nessa pupila rútila e molhada,
Refúgio arcano e sacro da Ternura,
A ampla noite do gozo e da loucura
Se desenrola, quente e embalsamada.E quando a ansiosa vista desvairada
Embebo às vezes nessa noite escura,
Dela rompe uma voz, que, entrecortada
De soluços e cânticos, murmura…É a voz do Amor, que, em teu olhar falando,
Num concerto de súplicas e gritos
Conta a história de todos os amores;E vêm por ela, rindo e blasfemando,
Almas serenas, corações aflitos,
Tempestades de lágrimas e flores…
A loucura dos que têm êxito é a de se julgarem hábeis.
O Bom Senso como Suporte da Humanidade
Se não tivesse havido em todos os tempos uma maioria de homens para fazer depender o seu orgulho, o seu dever, a sua virtude da disciplina do seu espírito, da sua «razão», dos amigos do «bom senso», para se sentirem feridos e humilhados pela menor fantasia, o menor excesso da imaginação, a humanidade já teria naufragado há muito tempo.
A loucura, o seu pior perigo, não deixou nunca, com efeito, de planar por cima dela, a loucura prestes a estalar… quer dizer a irrupção da lei do bom prazer em matéria de sentimento de sensações visuais ou auditivas, o direito de gozar com o jorro do espírito e de considerar como um prazer a irrisão humana. Não são a verdade, a certeza que estão nos antípodas do mundo dos insensatos; é a crença obrigatória e geral, é a exclusão do bom prazer no ajuizar. O maior trabalho dos homens foi até agora concordar sobre uma quantidade de coisas, e fazer uma lei desse acordo,… quer essas coisas fossem verdadeiras ou falsas. Foi a disciplina do espírito que preservou a humanidade,… mas os instintos que a combatem são ainda tão poderosos que em suma só se pode falar com pouca confiança no futuro da humanidade.
A loucura é relativa. Quem pode definir o que é verdadeiramente são ou insano?
A ideia de que o mundo é o reino da loucura é uma convicção muito arreigada. O louco, como out-sider, marginal supremo, é útil e portanto necessário. As qualidades do outro fazem parte da lista dos crimes essenciais.
O Amor da Sabedoria Tem Falta de Amor
A sabedoria deve saber que traz em si uma contradição: é louco viver muito sabiamente. Devemos reconhecer que, na loucura que é o amor, há a sabedoria do amor. O amor da sabedoria – ou filosofia – tem falta de amor. O importante, na vida, é o amor. Com todos os perigos que carrega.
Isto não é suficiente. Se o mal de que sofremos e fazemos sofrer é a incompreensão de outrem, a autojustificação, a mentira de si próprio (self-deception), então a via da ética – e é aí que introduzirei a sabedoria – está no esforço de compreensão e não na condenação – no auto-exame que comporta a autocrítica e que se esforça por reconhecer a mentira de si próprio.
A loucura é inseparável do homem; umas vezes toma-lhe a cabeça e deixa-lhe em paz o coração, que nunca se empenha no desvairar a que ela é arrastada; outras vezes há na cabeça a frieza da razão e ao coração desce a loucura para o perturbar com afectos.
Há mulheres de talento: nenhuma tem aquela loucura no talento que se chama génio.
Amargura
Só podes me ofertar o silêncio e a amargura,
– meu pobre amor de ti só espera a indiferença…
Perdoa o meu amor… perdoa-me a loucura
que quem tem, como eu tenho, um coração, não pensa…Há muito pela vida eu seguia à procura
de alguém que viesse encher de luz minha descrença…
Foi então que te vi… e julguei que a ventura
pudesse ainda encontrar nesta jornada imensa…E foi assim que um dia eu fui sentimental…
Acreditei no amor… E, talvez por castigo
fizeste-me sofrer – mas não te quero mal…Quem amou, fui eu só… Eu nunca fui amado!…
Mereço a minha dor, e este sofrer bendigo
na amargura cruel de me julgar culpado!
Nos indivíduos, a loucura é algo raro – mas nos grupos, nos partidos, nos povos, nas épocas, é regra.
O Esmagamento do Eu
O espectáculo (da sociedade de consumo) que é a extinção dos limites do eu e do mundo pelo esmagamento do eu que a presença-ausência do mundo assedia, é igualmente a supressão dos limites do verdadeiro e do falso pelo recalcamento de toda a verdade vivida sob a presença real da falsidade que a organização da aparência assegura. Aquele que sofre passivamente a sua sorte quotidianamente estranha é, pois, levado a uma loucura que reage ilusoriamente a essa sorte, ao recorrer a técnicas mágicas. O reconhecimento e o consumo das mercadorias estão no centro desta pseudo-resposta a uma comunicação sem resposta. A necessidade de imitação que o consumidor sente é precisamente uma necessidade infantil, condicionada por todos os aspectos da sua despossessão fundamental.
Nao há Virtude sem Agitação Desordenada
Os choques e abalos que a nossa alma recebe pelas paixões corporais muito podem sobre ela; porém podem mais ainda as suas próprias, pelas quais está tão fortemente dominada que talvez possamos afirmar que não tem nenhuma outra velocidade e movimento que não os do sopro dos seus ventos, e que, sem a agitação destes, ela permaneceria sem acção, como um navio em pleno mar e que os ventos deixassem sem ajuda. E quem sustentasse isso, seguindo o partido dos peripatéticos, não nos causaria muito dano, pois é sabido que a maior parte das mais belas acções da alma procedem desse impulso das paixões e necessitam dele. A valentia, diz-se, não se pode cumprir sem a assistência da cólera.
Ajax sempre foi valente, mas nunca o foi tanto como na sua loucura (Cícero)
Nem investimos contra os maus e os inimigos com tanto vigor se não estivermos encolerizados; e pretende-se que o advogado inspire a cólera nos juízes para deles obter justiça. As paixões excitaram Temístocles, excitaram Demóstenes e impeliram os filósofos para trabalhos, vigílias e peregrinações; conduzem-nos à honra, à ciência, à saúde – fins úteis. E essa falta de vigor da alma para suportar o sofrimento e os desgostos serve para alimentar na consciência a penitência e o arrependimento,
Conheço a loucura dos séculos, a loucura dos crimes e da lassidão, mas a loucura do bem existe, deve acontecer.