Para responder, desde agora e sumariamente, à questão formulada no título deste opúsculo, nós diremos que: O Espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, ele compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações.
Passagens sobre Moral
498 resultadosReconhece-se o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar as más inclinações.
O Que Liga os Homens na Vida
O que mais estreitamente liga os homens na vida não são forças puras e generosas. Se assim fosse, não se teria queimado nem ofendido tanta gente superior que andou no mundo. O óptimo moral e intelectual da humanidade é um compromisso entre o bom e o mau, entre o limpo e o sujo, entre a Quaresma e o Carnaval. Por isso, quem traz uma chama limpa a alumiá-lo, e teima em segui-la, não pode ser entendido nem tolerado por aqueles que ou não precisam de luz, como as toupeiras, ou se remedeiam com um simples morrão de candeia.
É certo que os calendários civis e religiosos apenas perpetuam heróis e santos. Mas, olhando bem, vê-se que é sempre a mesma história. Queima-se ou crucifica-se primeiro o herói ou o santo, joga-se aos dados a sua túnica, e, quando dele não resta nem a sombra das cinzas, aparece um centurião qualquer a dizer: «Verdadeiramente este homem era filho de Deus».
A melhor moral existe quando você nunca ouve falar na palavra. Quando a moral é muito mencionada, anda péssima.
A moral, ciência que pressupõe o conhecimento das demais ciências, é o supremo grau da sabedoria.
Se o mundo não conhece um longo período de idealismo, de espiritualismo, de virtudes cívicas e morais, não me parece que seja possível ultrapassar as dificuldades do nosso tempo.
Escarrar de um abismo noutro abismo, Mandando ao Céu o fumo de um cigarro, Há mais filosofia neste escarro Do que em toda a moral do cristianismo!
A força de um exército, como a energia em mecânica, é obtida multiplicando-se a massa pela velocidade, a marcha rápida aumenta o moral da tropa, e assim há muitas chances para vitória.
Moralidade e Felicidade
A felicidade é o estado em que se encontra no mundo um ser racional para quem, em toda a sua existência, tudo decorre conforme o seu desejo e a sua vontade; pressupõe, por consequência, o acordo da natureza com todo o conjunto dos fins deste ser, e simultaneamente com o fundamento essencial de determinação da sua vontade. Ora a lei moral, como lei da liberdade, obriga por meio de fundamentos de determinação, que devem ser inteiramente independentes da natureza e do acordo dela com a nossa faculdade de desejar (como motor). Porém, o ser agente racional que actua no mundo não é simultaneamente causa do mundo e da própria natureza. Assim, pois, na lei moral não há o menor fundamento para uma conexão necessária entre a moralidade e a felicidade, com ela proporcionada, num ser que, fazendo parte do mundo, dele depende; este ser, precisamente por isso, não pode ser voluntariamente a causa desta natureza nem, no que à felicidade respeita, fazer com que, pelas suas próprias forças, coincida perfeitamente com os seus próprios princípios práticos.
E, todavia, no problema prático que a razão pura nos prescreve, isto é, na prossecução do soberano bem, tal acordo é postulado como necessário: devemos procurar realizar o soberano bem,
Moral Vazia
O que nós chamamos a moral não passa de um empreendimento desesperado dos nossos semelhantes contra a ordem universal, que é a luta, a carnificina e o jogo cego de forças contrárias.
(…) Cada época tem a sua moral dominante, que não resulta nem da religião nem da filosofia, mas do hábito, única força capaz de reunir os homens num mesmo sentimento, pois tudo o que é sujeito ao raciocínio divide-os; e a humanidade só subsiste com a condição de não reflectir sobre aquilo que é essencial para a sua existência.
(…) A moral é a ciência dos costumes, e com eles muda. Ela difere de país para país e em nenhum lugar permanece a mesma no espaço de dez anos.
No dia seguinte, ao passarem os primeiros transeuntes, ele estava morto. E, assim, morreu o pobre e corajoso Antônio da Silva Marramaque, que, aos dezoito anos, no fundo de um armazém da roça, sonhara as glórias de Casemiro de Abreu e acabara contínuo de secretaria, e assassinado, devido à grandeza do seu caráter e à sua coragem moral. Não fez versos ou os fez maus; mas, ao seu jeito, foi um herói e um poeta… Que Deus o recompense!
O Ideal é a Vida
A nossa vida sem ideais nenhuns, toda quotidiana, quer no presente quer pelo pensamento do futuro. Perdendo a religião, nada reavemos para a substituir; nem arte, porque a arte é, como religião, para muito poucos; nem ciência, que é para menos ainda, nem filosofia, que é para quase nenhuns.
Não me refiro à conducta mas a ideais. Uma sociedade nunca pode ser grande nem pura sem ideais, porque na moral que nasce, na moral para uso quotidiano e de quotidiana origem, caberá uma certa decência, uma honestidade, razoáveis instintos humanitários, mas não uma nobreza de qualquer espécie, não uma grandeza de carácter. E o ponto importante é este. O ideal é a vida; vamos perdendo o ideal, e a nossa vitalidade vai diminuindo tristemente.
O remorso de consciência é o resultado de uma indigestão moral.
O Fundamento da Cultura
O fundamento da cultura, assim como do carácter, é por fim o sentimento moral. Essa é a fonte do poder, que preserva a sua eterna jovialidade, e obtém a sua renda de cada novidade da ciência. A ciência corrige os velhos credos e põe de lado, com cada nova percepção, os nossos catecismos infantis. Mas ela necessita de uma fé comensurável com as órbitas mais largas e as leis universais que descobre. Mesmo assim, ela não surpreende o sentimento moral, pois este é mais antigo e aguardava expectante essas descobertas mais amplas.
A Moral, para o Bem e para o Mal
Os sentimentos morais não são inatos, mas adquiridos, mas tal não significa que não são naturais, pois é natural para o homem, falar, raciocinar, construir cidades, cultivar a terra, apesar destas competências serem faculdades que são adquiridas. Os sentimentos morais, na realidade, não fazem parte da nossa natureza, se entendermos por tal que deviam estar presentes em todos nós, num grau apreciável, realidade que indubitavelmente é um facto muito lamentável, reconhecido até pelos que mais veentemente acreditam na origem transcendente destes sentimentos. No entanto, tal como as outras faculdades referidas, a faculdade moral, não fazendo embora parte da nossa natureza, vai-se desenvolvendo naturalmente; tal como as outras, pode nascer espontaneamente e, apesar de muito frágil, no início, é capaz de atingir, por influência da cultura, um grau elevado de desenvolvimento. Infelizmente, também, mas recorrendo, tanto quanto é necessário, às sanções externas, e aproveitando a influência das primeiras impressões, ela pode ser desenvolvida em qualquer direcção, ou quase, a ponto de não haver ideia, por mais absurda e perigosa que possa ser, que não se consiga impor ao espírito humano, conferindo-lhe, pelo jogo dessas influências, toda a autoridade da consciência.
Há nas pessoas felizes uma moral condescendente, uma espécie de desprendimento satisfeito.
Na medida em que cremos na moral, condenamos a vida: uma antinomia!
Desprezo e Receio
Já notei que a maior parte dos homens se sente açulada e indignada quando, em pleno combate moral, recorremos à ternura e ao afecto. É vê-los feras amansadas e apanhadas de surpresa assim que recorremos à violência ou à dureza. Raça detestável! Tal preceito mantém-se praticamente inalterável no que respeita ao amor.
Realidade estranha e deplorável, pois, em muitos casos, é igualmente aplicável à amizade; realidade pavorosa, desesperante, mas inevitável, necessária à subsistência das nossas sociedades, dos governos mais democráticos aos mais despóticos. Quando não é refreado nem reprimido, o homem aproveita imediatamente para cometer abusos. Despreza quem o receia e maltrata quem o ama; receia quem o despreza e ama quem o maltrata.
Uma ressurreição material parece estranha e mesmo absurda com exceção de propósitos de castigo, e todo castigo que pretende vingar-se antes que corrigir deve estar moralmente errada, e quando o Mundo está num fim, que moral ou finalidade de propósito os avisos de torturas eternas respondem?
O Homem de Carácter
Os homens de carácter são a consciência da sociedade a que pertencem. A medida natural dessa força é a resistência às circunstâncias. Os homens impuros julgam a vida pela versão reflectida nas opiniões, nos acontecimentos e nas pessoas. Não são capazes de prever a acção até que ela se concretize. Todavia, o elemento moral da acção preexistia no autor e a sua qualidade, boa ou má, era de fácil predição. Tudo na natureza é bipolar, ou tem um pólo positivo e um pólo negativo. Há um macho e uma fêmea, um espírito e um facto, um norte e um sul. O espírito é o positivo, o facto é o negativo. A vontade é o norte, a acção é o pólo sul. O carácter pode ser classificado como tendo o seu lugar natural no norte. Distribui as correntes magnéticas do sistema. Os espíritos fracos são atraídos para o pólo sul, ou pólo negativo. Só vêem na acção o lucro, ou o prejuízo que podem encerrar.
Não podem vislumbrar um princípio, a não ser que este se abrigue noutra pessoa. Não desejam ser amáveis mas amados. Os de carácter gostam de ouvir falar dos seus defeitos; aos outros aborrecem as faltas;