Ali, tudo é ordem e perfeição. Luxo, calma, e sensação.
Passagens sobre Ordem
334 resultadosO belo é o esplendor da ordem.
Arte e ordem, os parentes que se recusam a se relacionar.
O desprezo pelas leis é o mais seguro presságio da decadência de um governo, pois que a ordem apenas existe quando se executam.
Nenhum homem, digno de nome humano, pode concordar ou colaborar com outro homem, excepto em coisas absolutamente inúteis, como as ordens religiosas, os ministérios, o canto coral, e as fitas cinematográficas.
[A igualdade serve] para agravar e tornar mais amarga a desigualdade real que nunca pode ser eliminada e que a ordem civil estabelece, tanto para benefício dos que têm de viver em uma condição humilde como dos privilegiados.
Duas coisas ameaçam o mundo: A ordem e a desordem.
A Verdade é Histórica
O viver faz-se sempre a partir de ou sobre certos supostos, que são como o solo em que para viver nos apoiamos ou do qual partimos. E isto em todas as ordens – em ciência como em moral e política, como em arte. Toda a ideia é pensada e todo o quadro é pintado a partir de certas suposições ou convenções tão básicas, tão evidentes para quem pensou a ideia ou pintou o quadro, que nem sequer repara nelas e por isso não as introduz na sua ideia nem no seu quadro, não as achamos ali postas mas precisamente supostas e como deixadas voluntariamente no esquecimento. Por isso, às vezes, não entendemos uma ideia ou um quadro: falta-nos a palavra do enigma, a clave da secreta convenção. E como, repito, cada época – vou ser mais exacto -, cada geração parte de supostos mais ou menos diferentes, quer dizer-se que o sistema das verdades e o dos valores estéticos, morais, políticos, religiosos têm inexoravelmente uma dimensão histórica, são relativos a uma certa cronologia vital humana, valem só para certos homens. A verdade é histórica.
Cabe a cada um de nós não fazer o mesmo que outrem tem de fazer, mas sim o deixar feito o que nenhum outro fez, por muito que tal perturbe a ordem estabelecida. Somos cada um de nós poeta único (…) não aceitando, portanto, que tenhamos outro dever além de o sermos.
Conquista e Governação
Quando os estados que se conquistam têm a tradição de viver segundo as suas leis e em liberdade, para a sua conservação existem três opções: a primeira é a sua destruição; a segunda é ir para lá viver o príncipe conquistador; e a terceira consiste em deixá-los viver de acordo com as suas leis, mas exigindo-lhes um tributo e criando no seu seio uma oligarquia que vos garanta a sua fidelidade. Porque, sendo este novo poder uma criação daquele príncipe, sabem os seus mandatários que não podem sobreviver sem a sua amizade e apoio, tudo havendo de fazer para manter o novo regime. E mais facilmente se conserva uma cidade habituada a viver livre através do consenso dos seus cidadãos do que de qualquer outro modo.
(…) Na verdade, o único modo seguro de conservar uma cidade conquistada é a sua destruição. Quem se torna senhor de uma cidade habituada a viver livre e a não desfaça, pode preparar-se para ser por ela desfeito, porque sempre encontrarão grande receptividade no seio da rebelião a recordação da liberdade e das antigas instituições, as quais nem pela acção do tempo nem pela concessão de benesses se apagarão da sua memória. O que quer que se faça ou se disponha,
Há no mundo uma conjura geral e permanente contra duas coisas, a poesia e a liberdade; as pessoas de gosto encarregam-se de exterminar uma, tal como os agentes da ordem de perseguir a outra.
O Tempo Torna Tudo Irreal
O tempo, propriamente dito, não existe (excepto o presente como limite), e, no entanto, estamos submetidos a ele. É esta a nossa condição. Estamos submetidos ao que não existe. Quer se trate da duração passivamente sofrida – dor física, esperança, desgosto, remorso, medo -, quer do tempo organizado – ordem, método, necessidade -, nos dois casos, aquilo a que estamos submetidos, não existe. Estamos, realmente, presos por correntes irreais. O tempo, irreal, cobre todas as coisas e até nós mesmos, de irrealidade.
A Ambição de Eternidade
Fazer… A memória dos deuses, agora que se nos desfez como forma de um refúgio, de uma justificação, reinventa em nós o sonho do seu poder: criar é afirmar no homem o sonho de divinização. Criar um império, uma obra de arte, um filho, um arranjo de saber, um novo apara-lápis… E à ambição de impor ao mundo uma nova ordem, ao desejo angustiado de nos furtarmos a um domínio universal, de nos afirmarmos únicos, nós juntamos a pequena ambição de sermos eternos.
Como se a nossa vida não fosse irredutível e o objecto que se desprende das nossas mãos, comparticipando da nossa presença, do calor do nosso sangue, comparticipasse também da nossa consciência… Mas a pessoa que somos e sabemos, a presença de nós é em nós que nos morre.
E depois, meu amigo, enquanto temos um instrumento na mão, não sabemos que temos um instrumento na mão… Todo o gesto, enquanto tal, enquanto se executa, limita-se em si mesmo, esquece a sua origem: toda a acção trai a força que a georu, porque ela é em si própria um princípio e um fim.
O caos é impensável, já que a mistura é uma ordem e não há para o espírito do homem, ou no espírito do homem, nada que não seja relação. O que acontece é que chamamos desordem à ordem que nos não agrada, ao conjunto de relações em que não entendemos ou não aceitamos a relação connosco.
A ordem não cria a vida.
A Vida Reparte-se por Ciclos
A vida reparte-se por ciclos, cujas fronteiras são por vezes de uma perturbadora nitidez. O último talvez seja este: o que delimita a fase em que nos resta administrar acauteladamente (em alguns casos, avaramente) uma sabedoria amealhada, ou em que nos preparamos para a desbaratar numa espécie de furiosa imolação.
Parece, no entanto, ilusório que nos caiba escolher. Talvez a opção tenha sido feita desde o princípio, isto é: talvez haja uma ordem íntima que deva ser cumprida através de uma dessas manifestações, mesmo quando a escolhida se nos afigura incoerente.
Felicidade Neurótica
– Não te assustes, continuo a ser a mesma velha Madeline. Ouve o que encontrei hoje na biblioteca, quando estava a ler os jornais. Escuta. – Tirou um pedaço de papel da algibeira dos jeans. – Copiei de um jornal. Palavra por palavra. Journal of Medical Ethics. «Propõe-se que a felicidade» – levantou os olhos do papel e esclareceu: – o itálico na felicidade é deles – «Propõe-se que a felicidade seja classificada como perturbação psiquiátrica e incluída em futuras edições dos manuais de diagnóstico especializados sob a nova designação de importante perturbação afectiva, do tipo agradável. Numa resenha da literatura relevante está demonstrado que a felicidade é estatisticamente anormal, consiste num discreto aglomerado de sintomas. Está associada a uma ordem de anomalias cognitivas e provavelmente reflecte o funcionamento anormal do sistema nervoso central. Persiste uma possível objecção a esta proposta: a de que a felicidade não é avaliada negativamente. No entanto, esta objecção é rejeitada como sendo cientificamente irrelevante».
Sou o Pedro Chagas Freitas e fabrico ideias. Esbofeteiem-me. Sou o Pedro Chagas Freitas e não há um dia só que passe sem inventar algo de novo. Pode ser um texto, uma construção frásica, um uso radical de um sinal de pontuação. Ou então um jogo para crianças, um conceito de programa de televisão, um livro que é tão especial que nem ordem tem. Eu sou o Pedro Chagas Freitas e sou um idiota: eis tudo. Antes um idiota ostracizado do que um génio domesticado.
A desordem é necessária, por isso Diónisos existe, porque é na desordem que vamos sorver a ordem. A ordem constante estagna, apodrece. Então tem que vir a desordem como uma espécie de purga, para voltarmos à ordem.
Qualidades de Sentimento
«Um charco», pensou, «dá-nos muitas vezes, e de forma mais intensa, a impressão de profundidade do que o oceano, pela simples razão de que a vivência dos charcos é muito mais frequente do que a dos oceanos: era, segundo ele, o que acontecia com o sentimento, e pela mesma razão os sentimentos mais banais passavam por ser os mais profundos. De facto, a preferência que se dá ao sentir, mais do que ao sentimento, que é a marca de todas as pessoas sensíveis às emoções, conduz, tal como o desejo de fazer sentir e de ser levado a sentir, comum a todas as instituições postas ao serviço do sentimento, a uma diminuição do nível e da essência do sentimento face à sua manifestação instantânea como estado de ordem pessoal, e finalmente àquela superficialidade, inibição e total insignificância para as quais não faltam exemplos. «É natural que um ponto de vista como este», pensou Ulrich, completando a sua observação, «choque todos aqueles que se sentem bem nos seus sentimentos, como o galo nas suas penas, e que ainda por cima estejam convencidos de que a eternidade recomeça com cada “personalidade”!» Tinha a nítida percepção de estar perante um erro monstruoso, à dimensão de toda a humanidade,