Soneto XXXIIII
Buscando ando ventura e não dou nela,
A tudo só por ela me aventuro,
Mas por mais que acho tudo, em vão procuro
Que só de tudo, em tudo me falta ela.Se para vê-la velo, também vela
E vai de mim fugindo pelo escuro,
Eu pelo escuro a sigo assaz seguro
Como quem a não tem para perdê-la.Mas ai, que digo, como não conheço
A ventura que sem ventura alcanço,
Que mor ventura que não ter ventura.Fora ventura então de pouco preço
E tempo, mas faltando a meu descanso,
Achei ventura em vós, que sempre dura.
Passagens sobre Preço
199 resultadosHá triunfos que só se obtêm pelo preço da alma, mas a alma é mais preciosa que qualquer triunfo.
De que Valem a Experiência e o Conhecimento na Velhice?
«Envelheço aprendendo sempre» – Sólon, na sua velhice, repetia muitas vezes este verso. O sentido que esse verso possui permitir-me-ia dizê-lo também na minha; mas é bem triste o conhecimento que, desde há vinte anos, a experiência me fez adquirir: a ignorância ainda é preferível. A adversidade é, sem dúvida, um grande mestre, mas faz pagar caro as suas lições e muitas vezes o proveito que delas se tira não vale o preço que custaram. Aliás, a oportunidade de nos servirmos desse saber tardio passa antes de o termos adquirido.
A juventude é o tempo próprio para se aprender a sabedoria; a velhice é o tempo próprio para a praticar. A experiência instrui sempre, confesso, mas não é útil senão durante o espaço de tempo que temos à nossa frente. É no momento em que se vai morrer que se deve aprender como se deveria ter vivido?
De que me servem os conhecimentos que tão tarde e tão dolorosamente adquiri sobre o meu destino e sobre as paixões alheias de que ele é o fruto? Não aprendi a conhecer os homens senão para melhor sentir a desgraça em que me mergulharam e esse conhecimento, embora me revelasse todas as suas armadilhas,
Os homens não se vendem de graça, o seu amor-próprio lhes marca o preço, mas a concorrência o rebaixa.
Dificilmente existirá alguma coisa neste mundo que alguém não possa fazer um pouco pior e vender um pouco mais barato. E as pessoas que consideram o preço somente, serão suas merecidas vítimas.
O Êxito e a Felicidade
A raiz do mal reside no facto de se insistir demasiadamente que no êxito da competição está a principal fonte da felicidade. Não nego que o sentimento do triunfo torna a vida mais agradável. Um pintor, por exemplo, que viveu obscuramente na juventude, decerto se sentirá feliz se o seu talento acabar por ser reconhecido. Não nego também que o dinheiro, até um certo limite, é capaz de aumentar a felicidade; para lá desse limite, julgo que não. O que eu afirmo é que o êxito só pode ser um dos vários elementos da felicidade e que é demasiado o preço pelo qual se obtém se a ele se sacrificam todos os outros.
A Minha Família é a Minha Casa
A solidão absoluta é não ter ninguém a quem dizer um simples: “tenho vontade de chorar”. Não precisamos de muito para viver bem – para ser feliz basta uma família e pouco mais.
A família é a casa e a paz. O refúgio onde uma vontade de chorar não é motivo de julgamento, apenas e só uma necessidade súbita de… família. De um equilíbrio para o qual o outro é essencial… assim também se passa com a vontade de sorrir que, em família, se contagia apenas pelo olhar.
Nos dias de hoje vai sendo cada vez mais difícil encontrar gente capaz de ser família. Os egoísmos abundam e cultiva-se, sozinho, o individual. Como se não houvesse espaço para o amor. Dizem que amar é arriscado, que é coisa de loucos…
Todos temos sentimentos mais profundos. Cada um de nós é uma unidade, mas o que somos passa por sermos mais do que um. Parte de unidades maiores. Estamos com quem amamos e quem amamos também está, de alguma forma, connosco. O amor é o que existe entre nós e nos enlaça os sentimentos mais profundos. Onde uma vontade de chorar é um sinal de que há algo em mim que é maior do que eu…
As pessoas hoje conhecem o preço de tudo e o valor de nada.
A liberdade não tem preço, a mera possibilidade de obtê-la já vale a pena.
Coragem é afrontar a opinião pública; avaliá-la no seu justo preço; atirar-lhe à cara com os escândalos e com o ouro; passar com a cabeça alta por diante dos «tartufos»… Matilha de cães que nos rasgam as franjas dos vestidos, mas só isso!…
A amizade não tem preço.
Se você pudesse vender a sua experiência pelo preço que ela lhe custou, ficaria rico.
Todo homem tem seu preço, diz a frase. Não é verdade. Mas para cada homem existe uma isca que ele não consegue deixar de morder.
A Tristeza dos Portugueses
Porque é que os portugueses são tristes? Porque estão perto da verdade. Quem tiver lido alguns livros, deixados por pessoas inteligentes desde o princípio da escrita, sabe que a vida é sempre triste. O homem vive muito sujeito. Está sujeito ao seu tempo, à sua condição e ao seu meio de uma maneira tal que quase nada fica para ele poder fazer como quer. Para se afirmar, como agora se diz, tão mal.
Sobre nós mandam tanto a saúde e o dinheiro que temos, o sítio onde nascemos, o sangue que herdámos, os hábitos que aprendemos, a raça, a idade que temos, o feitio, a disposição, a cara e o corpo com que nascemos, as verdades que achamos; mandam tanto em nós estas coisas que nos dão que ficamos com pouco mais do que a vontade. A vontade e um coração acordado e estúpido, que pede como se tudo pudéssemos. Um coração cego e estúpido, que não vê que não podemos quase nada.
Aí está a razão da nossa tristeza permanente. Cada homem tem o corpo de um homem e o coração de um deus. E na diferença entre aquilo que sentimos e aquilo que acontece, entre o que pede o coração e não pode a vida,
Eu pensei o quanto terrível teria sido se, como tão facilmente poderia ter acontecido, que tivesse morrido sem conhecer esta profunda satisfação, essa outra pessoa que eu acabei de descobrir dentro de mim. Valeu a pena todo o preço, e todas as consequências.
A liberdade tem um preço alto, tão alto quanto o preço da escravidão. A única diferença é que você paga com prazer e com um sorriso, mesmo quando é um sorriso manchado de lágrimas.
A uma Regateira
A minha Isabel
saiu esta tarde
A matar de amores,
A vendar gorazes.Deitada ao pescoço
A beatilha leva,
Pois de desprezar
Somente se preza,Por fresco apregoa
O peixe, meu bem,
E no apregoar fresco
Quanto sal que tem!Gadelhinhas louras,
Que pelas gadelhas
A minha alma anda
Pendurada nelas.Em continhas brancas
Extremós vermelhos.
Porém como ela
Não há tal extremo.Memória de prata
Metida no dedo,
Vá-se embora o ouro,
Que não tem tal preço.Sainha de pano,
Barra de veludo,
Mantilha vermelha,
Sapata em pantufo.Ao passar lhe disse
Pela requebrar:
Senhora Isabel
Quem fora goraz!Fizera-lhe eu logo
Depressa um Soneto,
Porque de poeta
Tenho meus dois dedos.Porém nesse passo
Entrou Bastião,
Pediu-me dinheiro,
Dei a tudo de mão.
É melhor ser bom que mau, mas o preço de ser bom é terrivelmente alto.
A independência tem um preço, sempre o soube, e nunca me recusei a pagá-lo.
Ninguém me Venha Dar Vida
Ninguém me venha dar vida,
que estou morrendo de amor,
que estou feliz de morrer,
que não tenho mal nem dor,
que estou de sonho ferida,
que não me quero curar,
que estou deixando de ser
e não me quero encontrar,
que estou dentro de um navio
que sei que vai naufragar,
já não falo e ainda sorrio,
porque está perto de mim
o dono verde do mar
que busquei desde o começo,
e estava apenas no fim.Corações, por que chorais?
Preparai meu arremesso
para as algas e os corais.Fim ditoso, hora feliz:
guardai meu amor sem preço,
que só quis a quem não quis.