Passagens sobre Respiração

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Frases sobre respiração, poemas sobre respiração e outras passagens sobre respiração para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

O Significado do Amor

Eu pensava que conhecia o significado do amor. O amor é o sangue do sol dentro do sol. A inocência repetida mil vezes na vontade sincera de desejar que o céu compreenda. Levantam-se tempestades frágeis e delicadas na respiração vegetal do amor. Como uma planta a crescer da terra. O amor é a luz do sol a beber a voz doce dessa planta. Algo dentro de qualquer coisa profunda.

O amor é o sentido de todas as palavras impossíveis. Atravessar o interior de uma montanha. Correr pelas horas originais do mundo. O amor é a paz fresca e a combustão de um incêndio dentro, dentro, dentro, dentro, dentro dos dias. Em cada instante de manhã, o céu a deslizar como um rio. A tarde, o sol como uma certeza. O amor é feito de claridade e da seiva das rochas. O amor é feito de mar, de ondas na distância do oceano e de areia eterna. O amor é feito de tantas coisas opostas e verdadeiras. Nascem lugares para o amor e, nesses jardins etéreos, a salvação é uma brisa que cai sobre o rosto suavemente.

Eu acreditava mesmo que o amor é o sangue do sol dentro do sol.

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Sua Beleza

Sua beleza é total
Tem a nítida esquadria de um Mantegna
Porém como um Picasso de repente
Desloca o visual

Seu torso lembra o respirar da vela
Seu corpo é solar e frontal
Sua beleza à força de ser bela
Promete mais do que prazer
Promete um mundo mais inteiro e mais real
Como pátria do ser

Velando

Junto dela, velando… E sonho, e afago
Imagens, sonhos, versos comovido…
Vejo-a dormir… O meu olhar é um lago
Em que um lírio alvorece reflectido…

Vejo-a dormir e sonho… Só de vê-la
Meu olhar se perfuma e em minha vista
Há todo um céu de Amor a estremecê-la
E a devoção ansiosa dum Artista…

– Nuvem poisada, alvente, sobre a neve
Das montanhas do céu, – ó sono leve,
Hálito de jasmim, lírio, luar…

Respiração de flor, doçura, prece…
-Ó rouxinóis, calai! Fonte, adormece!…
Senão o meu Amor pode acordar!…

És Linda

És linda. E nem sabes quantos pedaços de beleza tive de juntar para chegar a esta conclusão. Para te construir, tive de misturar a conspiração das searas com a tristeza do choupo, a inquietação da cotovia com o cheiro lavado do vento do ocidente. E a firmeza repartida dos livros, com a alegria explosiva dos miosótis e a luz escura das violetas. Juntei depois um pouco de ansiedade das estrelas, a paciência das casas à beira da falésia, a espuma da terra, o respirar do sul, as perguntas de gesso que se fazem à lua. Acrescentei-lhe a canção das margens e pequenos pedaços da angústia do olhar. Não esqueci a intimidade do frio nem a dor branca que habita o coração dos muros. Por fim, deitei na tua pele o sono dos alperces, aos teus músculos prometi a violência das cascatas, no teu sexo acordei a memória do universo.
A tua beleza está no meu desejo, nos meus olhos, na minha desigual maneira de te amar. És linda, repito. Mas tenta não encarar o que te digo como um elogio.

O Amor entre o Trigo

Cheguei ao acampamento dos Hernández antes do meio-dia, fresco e alegre. A minha cavalgada solitária pelos caminhos desertos, o repouso do sono, tudo isso refulgia na minha taciturna juventude.
A debulha do trigo, da aveia, da cevada, fazia-se ainda com éguas. Nada no mundo é mais alegre que ver rodopiar as éguas, trotando à volta do calcadouro do cereal, sob o grito espicaçante dos cavaleiros. Brilhava um sol esplêndido e o ar era um diamante silvestre que fazia brilhar as montanhas. A debulha é uma festa de ouro. A palha amarela acumula-se em montanhas douradas. Tudo é actividade e bulício, sacos que correm e se enchem, mulheres que cozinham, cavalos que tomam o freio nos dentes, cães que ladram, crianças que a cada momento é preciso livrar, como se fossem frutos da palha, das patas dos cavalos.

Oe Hernández eram uma tribo singular. Os homens, despenteados e por barbear, em mangas de camisa e com revólver à cinta, andavam quase sempre besuntados de óleo, de poeiras, de lama, ou molhados até aos ossos pela chuva. Pais, filhos, sobrinhos, primos, eram todos da mesma catadura. Estavam horas inteiras ocupados debaixo de um motor, em cima de um tecto,

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Se é necessária uma salutar atenção à salvaguarda da Criação, da pureza do ar, da água e dos alimentos, tanto mais devemos salvaguardar a pureza daquilo que temos de mais precioso: os nossos corações e as nossas relações. Esta «ecologia humana» ajudar-nos-á a respirar o ar puro que provém das coisas belas, do amor, da santidade.

Na noite de Pentecostes, a «respiração» do Cristo Ressuscitado enche de vida os pulmões da Igreja; e, com efeito, as bocas dos discípulos, «cheios o Espírito Santo» (Atos dos Apóstolos 2: 1-11), abrem-se para proclamar a todos as grandes obrar de Deus.

Ver Correr a Esperança

De bruços sobre o lavatório, abro a torneira, tapo o ralo, fico alguns momentos a ver correr a esperança, que vai enchendo aos poucos a bacia. Depois fecho a torneira e, retirando a tampa, vejo-a escoar-se em gorgolejos que cada vez são mais humanos e mais fundos. É a respiração do ralo, que só então dou conta de que está dentro de mim, por uma dessas distorções a que é costume eu ser atreito e que me impede ainda de me ver no próprio espelho, que, apesar de se encontrar à minha frente, não consigo deslocar do avesso dos meus olhos.

Os meus sentidos rangem, solidários com os canos, eles que eu gostaria de poder assimilar ao mar, a um céu azul, desanuviado, e que jamais me dão do espírito visões onde não se encastoem nuvens e rebentem tempestades.

Repito a operação. Mergulho às vezes as mãos na minha esperança, mas retiro-as ao cabo de algum tempo, antes que se transformem em raízes. Destapo uma vez mais o ralo. Assim corre a amizade – penso, olhando o redemoinho -, assim correm os afectos, que, depois de encherem a bacia onde a custo nos lavamos sem os fazermos transbordar,

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Comparar-te a um Dia de Verão?

Comparar-te a um dia de verão?
Há mais ternura em ti, ainda assim:
um maio em flor às mãos do furacão,
o foral do verão que chega ao fim.

Por vezes brilha ardendo o olhar do céu;
outras, desfaz-se a compleição doirada,
perde beleza a beleza; e o que perdeu
vai no acaso, na natureza, em nada.

Mas juro-te que o teu humano verão
será eterno; sempre crescerás
indiferente ao tempo na canção;

e, na canção sem morte, viverás:
Porque o mundo, que vê e que respira,
te verá respirar na minha lira.

Tradução de Carlos de Oliveira

Um Amor

Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.

Canção Póstuma

Fiz uma canção para dar-te;
porém tu já estavas morrendo.
A Morte é um poderoso vento.
E é um suspiro tão tímido, a Arte…

É um suspiro tímido e breve
como o da respiração diária.
Choro de pomba. E a Morte é uma águia
cujo grito ninguém descreve.

Vim cantar-te a canção do mundo,
mas estás de ouvidos fechados
para os meus lábios inexatos,
— atento a um canto mais profundo.

E estou como alguém que chegasse
ao centro do mar, comparando
aquele universo de pranto
com a lágrima da sua face.

E agora fecho grandes portas
sobre a canção que chegou tarde.
E sofro sem saber de que Arte
se ocupam as pessoas mortas.

Por isso é tão desesperada
a pequena, humana cantiga.
Talvez dure mais do que a vida.
Mas à Morte não diz mais nada.

Às vezes eu me coloco numa situação de ver um pouco antes de ver mesmo. Eu pressinto o instante que se segue e cadencialmente minha respiração acompanha o ritmo do tempo. Eu que sinto antes de sentir. A harmonia é pressentir a próxima frase, o próximo som, a próxima visão.

O Medo de Viver

Como contacto praticamente permanente com a lógica surgiu-me um sentimento que nunca antes eu experimentara: o medo de viver, o medo de respirar. Com urgência preciso lutar porque esse medo me amarra mais do que o medo da morte, é um crime contra mim mesmo. Estou com saudade de meu anterior clima de aventura e minha estimulante inquietação. Acho que ainda não caí na monotonia de viver.

Ama. Ama por inteiro. Ama sem nada pelo meio. Ama, ama, ama, ama. Ama. Porque é só por aquilo que te faz perder a respiração que vale a pena respirar.

Mudar para Melhor

Acredito piamente que enquanto tivermos o privilégio de encher o peito de ar e respirar, de pisar o chão quente ou frio de cada estação, de ver as mil cores que temos à nossa frente, de ouvir as mais belas composições que a natureza tem para nos oferecer e de cheirar cada uma das maravilhosas fragrâncias que existem em nosso redor, acredito que enquanto isso nos for possível, enquanto nos for possível sentir desta maneira e com esta intensidade, é nossa obrigação mudar para melhor, abandonar o que trazemos vestido há anos ou desde sempre, revestirmo-nos de uma nova pele e escalar, escalar, escalar até nos aproximarmos do nosso céu, daquele manto estrelado e infinito que é o amor por nós mesmos, a plenitude, lugar onde habita, entre outras coisas, a nossa confiança.

Atreve-te a Julgar

Atreve-te a julgar. Julga os outros julgando-te a ti mesmo. A natureza das coisas é a tua natureza. Respira-te, despe-te, faz amor com as tuas convicções, não te limites a sorrir quando não sabes o que dizer. Os teus dentes estão lavados, as tuas mãos são amáveis, mas falta-te decisão nos passos e firmeza nos gestos. Procura-te. Tenta encontrar-te antes que te agarre a voracidade do tempo. Faz as coisas com paixão. Uma paixão irrequieta, que não te dê descanso e te faça doer a respiração. Aspira o ar, bebe-o com força, é teu, nem um cêntimo pagarás por ele.

O Medo do Sucesso

Há muitas pessoas com um enorme potencial e só não o materializam porque têm medo de deixar de ser quem são se atingirem determinado patamar. Ora isto é o maior sinal de que, e desculpa se estou a falar de ti, por muito que penses saber quem és, a verdade é que não fazes ideia do que pensas ser. Ninguém que saiba ser vive com medo de deixar de sê-lo à medida que vai conquistando novos mundos. Ninguém que saiba ser deixa de ser o que verdadeiramente é, ainda que a terra desabe ou o paraíso se torne parte dos seus dias. Quem é, é, ponto final, e não desenvolveres os teus dons com medo de abandonares quem pensas ser, é como condenares-te à morte pela asfixia da frustração, é como se metade de ti soubesse o caminho e a outra metade te puxasse para trás, é como estares tão perto do que és e tão longe de vires a sê-lo. O desgaste será um saco de plástico à volta do teu pescoço, cada vez mais apertado e tu mais ofegante até ao dia em que deixas de acreditar e pereces. É isso que queres? Outro dos motivos para o medo do sucesso é a possibilidade de perder pessoas,

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