Textos sobre Ânsia

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Textos de ânsia escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Vida Raramente depende da Inciativa dos Homens

Poucas pessoas saberão, a meio da vida, como chegaram a ser o que são, aos seus prazeres, à sua visão do mundo, à sua mulher, ao seu carácter, à sua profissão e aos seus êxitos; mas sentem que a partir daí as coisas já não irão mudar muito. Poderia mesmo afirmar-se que foram enganadas, porque não se consegue descobrir em lugar nenhum a razão suficiente para que tudo tenha acontecido como aconteceu, quando teria sido perfeitamente possível ter acontecido de outra forma. O que acontece, aliás, raramente depende da iniciativa dos homens, mas quase sempre das mais variadas circunstâncias, dos caprichos, da vida e da morte de outras pessoas, e, de certo modo, limita-se a vir ter connosco naquele preciso momento. Na juventude, a vida está ainda à nossa frente como uma manhã inesgotável, plena de possibilidades e de vazio; mas logo ao meio-dia algo se anuncia que reclama ser a nossa própria vida, mas que é tão surpreendente como uma pessoa com quem nos correspondemos durante vinte anos sem a conhecer, e que um belo dia, de repente, temos diante de nós e constatamos que é completamente diferente do que havíamos imaginado.
Mas o mais estranho é que a maior parte das pessoas nem dêem por isso;

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Quando Falo com Sinceridade não sei com que Sinceridade Falo

Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou váriamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpétuamente me ponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.

Há que Pôr Pedra sobre Pedra

Nunca pensei em ser governo, nunca o quis mesmo, mas interessei-me sempre muito pelos negócios públicos, pelos negócios do País. E aí tem um exemplo, anterior à minha entrada no Governo, que lhe pode dar uma ideia do ritmo da minha acção, da tal marcha vagarosa de que me acusam…
(…) É que me fui habilitando, lentamente, sem precipitações, quase sem dar por isso, liberto de qualquer ambição de ordem pessoal. E assim, quando a minha intervenção na máquina do Estado pôde ser útil, ela foi aproveitada, talvez, como não seria se eu tivesse improvisado uma cultura. Pois com a marcha do País o mesmo acontece. Há que pôr pedra sobre pedra, mas desinteressadamente, sem pensar na glória própria e sem pensar até, excessivamente, na abóbada, na finalidade. A ânsia de chegar ao fim, de fazer muitas coisas ao mesmo tempo leva, às vezes, ao fim, mas ao fim de tudo…

A Mulher por quem Esperara tantos Anos

Alguma coisa dentro dele voltou a si. Foi como se, de repente, estivessem efectivamente ali os dois. E, reacendendo a luz, encostou os lábios aos dela e sentiu, enfim, o calor que deles se emitia, e o sabor da sua boca, e o seu cheiro, e teve consciência de que aquela que se deitava na cama consigo não era apenas uma mulher bela, mas uma mulher, a mulher por quem esperara tantos anos.

Tiraram ambos o que lhes restava de roupa, lançando-a ao chão, e tocaram-se suavemente. Havia uma admiração entre eles, como se se descobrissem, e todavia era também tal qual se conhecessem de há muito, as superfícies mais sadias como as primeiras rugosidades dos seus corpos.

Tacteavam-se devagar, atentos às luzes e às sombras de cada recanto que esquadrinhavam, e ao fim de alguns momentos beijavam-se de novo, ele abraçando-a na sua totalidade, açambarcando-a, e ela sorrindo por entre o vento da noite, a chuva e os terramotos sorrindo com ela, e a humidade salgada dos seus peitos, e o mar que se atirava furioso contra aquela terra, e o primeiro suor do seu pescoço.

A partir daí, o mundo desapareceu. E havia medo e alegria,

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O Prazer Puro do Amor para uma Rapariga Honesta

O que, subconscientemente, na rapariga honesta torna agradável o namoro, é nitidamente distrinçável. Um acto agradável é agradável não só no acto mas na antecipação dele; e, ausentes certos elementos psicológicos não orientadores desse acto, em geral, na antecipação ainda não imediata, porque na antecipação para daí a pouco a ânsia de chegar a ele, amorna (ou, perturba) um tanto o […] da esperança. — Ora o «flirt», o namoro, não é senão, analisada sem escrúpulo a sua essência íntima, uma antecipação da possibilidade de uma cópula. Repare-se que não é a antecipação de uma cópula, o que, por mais directo, é mais perturbante. O que se chama o prazer puro do amor (no que é namoro ou «flirt») não é senão um prazer muito grande porque isento (e nesse sentido puro) do elemento perturbante do directo desejo, ou imediata esperança, do coito.

Sou um Verdadeiro Solitário

O meu sentido ardente de justiça social e de dever social estiveram sempre em estranho desacordo com uma marcada carência de necessidade directa de ligação com os homens e com as comunidades humanas. Sou um verdadeiro solitário («Einspänner»), que nunca pertenceu inteiramente e de todo o coração ao Estado, à Pátria, ao círculo dos amigos ou até mesmo à família mais chegada, mas antes pelo contrário experimentou sempre, em relação a todas essas ligações, um sentimento indomável de estranheza e de ânsia de isolamento, um sentimento que com a idade mais se intensifica. Apercebemo-nos nitidamente, mas sem o lamentarmos, que nos é limitada a convivência em sociedade com outros seres humanos. Um homem desta natureza perde, de certo modo, uma parte da sua maneira de ser inocente e despreocupada mas ganha em se sentir largamente independente das opiniões, dos hábitos e juízos dos homens, e não cai na tentação de estabelecer o seu equilíbrio numa base tão pouco sólida.

Procurei a Verdade Ardentemente

A nossa ânsia de verdade é grande, e por certo o que quiséramos fora, não esta doutrina do Limiar, senão a casa e o lar que há nele.
De aí a arte, feita para entretimento dos outros e nossa ocupação, dos que somos ocupáveis desse modo. Negada a verdade, não temos com que entreter-nos senão a mentira. Com ela nos entretenhamos, dando-a porém como tal, que não como verdade; se uma hipótese metafísica nos ocorre, façamos com ela, não a mentira de um sistema (onde possa ser verdade) mas a verdade de um poema ou de uma novela – verdade em saber que é mentira, e assim não mentir. (…) e assim construí para mim esta regra de vida.
Procurei a verdade ardentemente, ora com uma atenção (…)

A Facilidade é Aborrecida em Tudo

O estimarem-se as coisas que não têm valor, é o mesmo que fazê-las estimáveis: o que se busca com ânsia, não é o que se dá, mas o que se nega; o que se permite aborrece, o que se recusa, atrai: o amor não tem seta mais aguda, que aquela que se armou de proibição; no tomar, parece que há mais gentileza, que no aceitar; a dificuldade incita: muitas coisas não têm outro merecimento, que o serem dificultosas; a resistência é o que move a vontade; tudo o que se concede, é sem sabor; a impugnação faz a coisa considerável, porque lhe dá um ar de empresa, e de vitória: os mais altos montes são os que se admiram, só porque custam a subir; a facilidade é aborrecida em tudo; o lustre do argumento vem da contradição.

O Amor Infinito

Da mulher o que nos comove e enleva é a parte impoluta que ela tem do céu; é a magia que a fada exercita obedecendo a interno impulso, não sabido dela, não sabido de nós. Ali há mensagem de outras regiões; aqui, no peito arquejante, nos olhos amarados de gozozas lágrimas, há um espirar para o alto, um ir-se o coração avoando desde os olhos, desde o sorriso dela para soberanas e imorredouras alegrias. Nós é que não sabemos nem podemos ver senão o pouquinho desse infinito que nos entre-luz nas graças do primeiro amor, do segundo amor, de quantos estremecimentos de súbita embriaguez nos fazem crer que despimos o invólucro de barro e pairamos alados sobre a região das lágrimas.

É Deus que não quer ou somos nós que não podemos prorrogar a duração ao sonho? Se Deus, que mal faria à sua divina grandeza que o pequenino guzano o adorasse sempre? Porque vai tão rápida aquela estação em que o homem é bom porque ama, e é caritativo e dadivoso porque tudo sobeja à sua felicidade? Quando poderam aliar-se um amor puro com a impureza das intenções? Quais olhos de homem afectivo e como santificado por seu amor recusaram chorar sobre desgraças estranhas?

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Alarga os Teus Horizontes

Por que é que combateis? Dir-se-á, ao ver-vos,
Que o Universo acaba aonde chegam
Os muros da cidade, e nem há vida
Além da órbita onde as vossas giram,
E além do Fórum já não há mais mundo!

Tal é o vosso ardor! tão cegos tendes
Os olhos de mirar a própria sombra,
Que dir-se-á, vendo a força, as energias
Da vossa vida toda, acumuladas

Sobre um só ponto, e a ânsia, o ardente vórtice,
Com que girais em torno de vós mesmos,
Que limitais a terra à vossa sombra…
Ou que a sombra vos torna a terra toda!
Dir-se-á que o oceano imenso e fundo e eterno,
Que Deus há dado aos homens, por que banhem
O corpo todo, e nadem à vontade,
E vaguem a sabor, com todo o rumo,
Com todo o norte e vento, vão e percam-se
De vista, no horizonte sem limites…
Dir-se-á que o mar da vida é gota d’água
Escassa, que nas mãos vos há caído,
De avara nuvem que fugiu, largando-a…
Tamanho é o ódio com que a uns e a outros
A disputais,

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Bens Ilusórios

Por nosso mal lá chega a idade, em que não queremos mais fortunas, que o viver; conhecemos a ilusão delas, e se as buscamos, é como por costume, mas sem ânsia, e sem desassossego; o desejo de as alcançar, é como um resto de calor, que apenas se faz sentir. Não reflectimos sobre o pouco tempo, que devemos gozar um bem, senão depois de o ter: só então consideramos o muito que custou a alcançar, e o pouco que o havemos possuir.
Em cada país há um modo com que as cousas se imaginam; o que é fortuna em uma parte, é desgraça em outra, o que aqui se busca com empenho, ali se despreza totalmente. Os objectos que entretêm a vaidade, e estimação dos homens, são como ídolos, que só se veneram em lugar determinado, e fora daquele tal espaço, a adoração se troca em vitupério; o mesmo mármore de que em Atenas se faria uma Minerva, transportado a outro lugar, apenas servirá de base a uma coluna; assim é a vaidade, por mais que seja universal nos homens, os motivos dela não são universais.

Liberdade é Pouco

Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome. — Sou pois um brinquedo a quem dão corda e que terminada esta não encontrará vida própria, mais profunda. Procurar tranquilamente admitir que talvez só a encontre se for buscá-la nas fontes pequenas. Ou senão morrerei de sede. Talvez não tenha sido feita para as águas puras e largas, mas para as pequenas e de fácil acesso. E talvez meu desejo de outra fonte, essa ânsia que me dá ao rosto um ar de quem caça para se alimentar, talvez essa ânsia seja uma ideia – e nada mais. Porém – os raros instantes que às vezes consigo de suficiência, de vida cega, de alegria tão intensa e tão serena como o canto de um órgão – esses instantes não provam que sou capaz de satisfazer minha busca e que esta é sede de todo o meu ser e não apenas uma ideia? Além do mais, a ideia é a verdade! grito-me. São raros os instantes.

O Jornal é o Fole Incansável que Assopra a Vaidade Humana

Pelo jornal, e pela reportagem que será a sua função e a sua força, tu desenvolverás, no teu tempo e na tua terra, todos os males da Vaidade! (…) Como a reportagem hoje se exerce, menos sobre os que influem nos negócios do Mundo, ou nas direcções do pensamento , do que, como diz a Bíblia, sobre toda a «sorte e condições de gente vã», desde os jóqueis até aos assassinos, a sua indiscriminada publicidade concorre pouco para a documentação da história, e muito, prodigiosamente, escandalosamente, para a propagação das vaidades! O jornal é com efeito o fole incansável que assopra a vaidade humana, lhe irrita e lhe espalha a chama. De todos os tempos é ela, a vaidade do homem! Já sobre ela gemeu o gemebundo Salomão, e por ela se perdeu Alcibíades, talvez o maior dos Gregos. Incontestavelmente, porém, meu Bento, nunca a vaidade foi, como no nosso danado século XIX, o motor ofegante do pensamento e da conduta. Nestes estados de civilização, ruidosos e ocos, tudo deriva da vaidade, tudo tende à vaidade. E a forma nova da vaidade para o civilizado consiste em ter o seu rico nome impresso no jornal, a sua rica pessoa comentada no jornal!

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O Segredo de Salvar-me Pelo Amor

Quem há aí que possa o cálix
De meus lábios apartar?
Quem, nesta vida de penas,
Poderá mudar as cenas
Que ninguém pôde mudar ?

Quem possui na alma o segredo
De salvar-me pelo amor?
Quem me dará gota de água
Nesta angustiosa frágua
De um deserto abrasador?

Se alguém existe na terra
Que tanto possa, és tu só!
Tu só, mulher, que eu adoro,
Quando a Deus piedade imploro,
E a ti peço amor e dó.

Se soubesses que tristeza
Enluta meu coração,
Terias nobre vaidade
Em me dar felicidade,
Que eu busquei no mundo em vão.

Busquei-a em tudo na terra,
Tudo na terra mentiu!
Essa estrela carinhosa
Que luz à infância ditosa
Para mim nunca luziu.

Infeliz desde criança
Nem me foi risonha a fé;
Quando a terra nos maltrata,
Caprichosa, acerba e ingrata,
Céu e esperança nada é.

Pois a ventura busquei-a
No vivo anseio do amor,
Era ardente a minha alma;
Conquistei mais de uma palma
À custa de muita dor.

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O Inferno de Ser Eu

Ficarei o Inferno de ser Eu, a Limitação Absoluta, Expulsão-Ser do Universo longínquo! Ficarei nem Deus, nem homem, nem mundo, mero vácuo-pessoa, infinito de Nada consciente, pavor sem nome, exilado do próprio mistério, da própria Vida. Habitarei eternamente o deserto morto de mim, erro abstracto da criação que me deixou atrás. Arderá em mim eternamente, inutilmente, a ânsia (estéril) do regresso a ser.
Não poderei sentir porque não terei matéria com que sinta, não poderei respirar alegria, ou ódio, ou horror, porque não tenho nem a faculdade com que o sinta, consciência abstracta no inferno do não conter nada, não-Conteúdo Absoluto, [Sufocação] absoluta e eterna! Oco de Deus, sem universo, (…).

Na Paz Não Há Verdadeiro Progresso, o Egoísmo Impera

A ciência e a arte progridem sempre num primeiro período imediato a uma guerra. A guerra renova-as, rejuvenesce-as, fomenta, fortalece, as ideias e imprime-lhes certo impulso. Numa larga paz, pelo contrário, sucumbe também a ciência. Indiscutivelmente o culto da ciência requer valor e até espírito de sacrifício. Mas quantos sábios resistem à praga da paz? A falsa honra, o egoísmo e a ânsia de prazeres superficiais, bestiais, fazem também mossa no seu espírito. Procure o senhor acabar com uma paixão como a inveja, por exemplo; é ordinário e vulgar, mas com tudo isso penetra até nas nobílissimas almas dos sábios. Também o sábio acaba por querer ter a sua parte no brilho e esplendores gerais. Que significa, ante o triunfo da riqueza, o triunfo de uma descoberta científica, a menos que seja tão estrondosa como a descoberta de um novo planeta? Parece-lhe que em tais circunstâncias haverá ainda muitos escravos do trabalho para o bem geral?

Longe disso, procura-se a glória e cai-se no charlatanismo, na procura do efeito, e antes de mais nada no utilitarismo… visto que também se quer, ao mesmo tempo, ser rico. Na arte acontece o mesmo que na ciência: idêntica ânsia do efeito,

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Ser Português, Ainda

Para ser português, ainda, vive-se entre letras de poemas e esperanças, cantigas e promessas, de passados esquecidos e futuros desejados, sem presente, sem pensamento, sem Portugal. Para ser português, ainda, aprende-se a existir no gume da tristeza, como um equilibrista num andaime de navalhas levantadas, numa obra que se vai construindo sob uma arquitectura de demolição. Tínhamos direito a um Portugal inteiro, com povo e com a terra, mas o povo enlouqueceu e a terra foi arrasada e tudo o que era pátria, doce e atrevida, se afasta à medida que olhamos para ela, tal é a ânsia de apagamento e de perdição. Restam-nos sons e riscos. Portugal encolheu-se. Escondeu-se nos poetas e cantores. Recolheu-se nas vozes fundas de onde nasceu. Portugal abrigou-se em portugueses e portuguesas nos quais uma ideia de Portugal nunca se perdeu.

Para se ser português, ainda, é preciso estreitar os olhos e molhar a garganta com vinho tinto para poder gritar que isto assim não é Portugal, não é país, não é nada. Torna-se cada vez mais difícil que o povo e a terra e a ideia se possam alguma vez reunir.
É preciso defender violentamente as instituições: a Universidade, o Parlamento,

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Ninguém Goza um Bem que é Fonte de Preocupações

Aquele que melhor goza da riqueza é o que menos necessita da riqueza. Quem necessita de riqueza está em ânsias por ela; ora ninguém goza um bem que é fonte de preocupações. Procura sempre acrescentar-lhe qualquer coisa, e enquanto pensa em aumentá-la, esquece-se de tirar dela partido.

O Louvor do Jornal

Nas nossas democracias a ânsia da maioria dos mortais é alcançar em sete linhas o louvor do jornal. Para se conquistarem essas sete linhas benditas, os homens praticam todas as acções – mesmo as boas.
(…) Para aparecerem no jornal, há assassinos que assassinam.
(…) O jornal exerce todas as funções do defunto Satanás, de quem herdou a ubiquidade; e é não só o pai da mentira, mas o pai da discórdia.

O Sucesso para um Grande Amor

Estou contente porque a minha querida não tem ainda o afecto exclusivo e único que há-de sentir um dia por um homem, apesar de todas as suas teorias que há-de ver voar, voar para tão longe ainda!… E no entanto, elas são tão verdadeiras! Ainda assim, minha querida Júlia, uma das coisas melhores da nossa vida de tão prosaico século, é o amor, o grande e discutido amor, o nosso encanto e o nosso mistério; as nossas pétalas de rosa e a nossa coroa de espinhos. O amor único, doce e sentimental da nossa alma de portugueses, o amor de que fala Júlio Dantas, «uma ternura casta, uma ternura sã» de que «o peito que o sente é um sacrário estrela­do», como diz Junqueiro; o amor que é a razão única da vida que se vive e da alma que se tem; a paixão delicada que dá beijos ao luar e alma a tudo, desde o olhar ao sorriso, — é ainda uma coisa nobre, bela e digna! Digna de si, do seu sentir, do seu grande coração, ao mesmo tempo violento e calmo. Esse amor que «em sendo triste, canta, e em sendo alegre, chora», esse amor há-de senti-lo um dia,

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