Passagens sobre Vida

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Frases sobre vida, poemas sobre vida e outras passagens sobre vida para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Existem pais estranhos, dos quais a vida inteira não parece ocupada senão em preparar razões para os filhos se consolarem pela morte deles.

Sei bem que a própria palavra é uma instituição dos outros, mas a substância da vida é a assimilação, isto é, a conversão do que é outro em nosso. E quanto mais nosso tornarmos o que é dos outros, mais vivemos. Para tornarmos mais nosso o que é dos outros, é preciso que ele, inicialmente, seja o menos possível dos outros já, para que mais facilmente seja nosso.

A Infinita

Vês estas mãos? Mediram
a terra, separaram
os minerais e os cereais,
fizeram a paz e a guerra,
derrubaram as distâncias
de todos os mares e rios
e, no entanto,
quando te percorrem
a ti, pequena,
grão de trigo, calhandra,
não conseguem abarcar-te,
fatigam-se ao agarrar
as pombas gémeas
que repousam ou voam no teu peito,
percorrem as distâncias das tuas pernas,
enrolam-se na luz da tua cintura.
Para mim tu és tesouro mais rico
de imensidade do que o mar e seus cachos
e és branca e azul e extensa como
a terra nas vindimas.
Nesse território,
desde os pés à fronte,
andando, andando, andando,
passarei a vida.

Como eu queria tomar vergonha nessa minha cara e te mandar embora da minha vida, mas quanto mais eu penso em fazer isso, mais eu te desejo.

Fale do seu amor com um sentimento polido, único. Falar de quem ama é dizer, pelo coração, que é feliz e quão esplendorosa é a vida!

Eu Ela e a Escrita

Eu ela e a escrita existimos desde o princípio. A escrita forma-se em mim, passa por ela e volta à minha pele num jogo sensual e íntimo. É um ser maleável aos gestos que executamos, vive e morre com os nossos impulsos. Quando se ausenta deixa sinais. Faz-nos confidências da sua vida errante, elabora sentimentos que não esperávamos que tivesse quando junta ao nosso, o seu instinto criativo. Assim, utilizo agora palavras que nunca pensei vir a escrever. Aceito-as porque as sei da espécie da personagem que habita connosco, conivente com os erros que cometemos.

Quando adolescente, passava o tempo a ler o dicionário, apercebendo-me da corrosão de algumas palavras, do seu poder destrutivo. Noutras havia sombra e um peso monstruoso. E as que ao tempo foram luminosas, irradiavam um brilho que se colou aos meus dedos. Eu gastava os dias a limpar-me dessa luz até não haver em mim resíduos de leitura. Descobria o esquecimento, onde o poema veio a ser abismo, outra vida onde o sorriso da morte teve muita importância. Amei a imperfeição do ser humano. Revisitei a infância e aquilo que em nós é real. Não soube prescindir da beleza.

Para Além do Hoje

Cada vez mais se vive o momento. Fugimos do passado e temos medo do futuro, o que implica que somos forçados a viver um presente demasiado pequeno.

Os tempos de descanso devem ser ocasião de trabalho interior. Mas, vai sendo cada vez mais raro encontrar gente com memória, assim com também é raro encontrar pessoas com discernimento suficiente para se comprometerem em projetos a longo prazo.

Navega-se à vista… sem riscos, sem sucessos nem fracassos… sem sentido. Vamos dando as respostas mínimas ao mundo e aos outros, em vez de sermos protagonistas dos nossos sonhos e heróis apesar das nossas derrotas.
O passado e o futuro não são mentira. São partes da verdade. Sou o que fui e o que serei. Uma identidade que vive no tempo, uma coerência que se constrói através diferentes espaços e tempos, amando o que há de eterno em cada momento. Elevando o espírito acima da realidade concreta do mundo.

Uma existência autêntica – uma vida com valor – constrói-se com uma estrutura sólida, equilibrada e aberta a horizontes mais longínquos em termos temporais. Um presente maior, com mais passado e mais futuro. Sermos quem somos, de olhos abertos.

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Tudo quanto Sonhei se Foi Perdido

O que sonhei e antes de vivido
Era perfeito e lúcido e divino,
Tudo quanto sonhei se foi perdido
Nas ondas caprichosas do destino.

Que os fados em mim mesmo depuseram
Razões de ser e de não ser, contrárias,
Nas emoções que, dentro em mim, cresceram
Tumultuosas, carinhosas, várias.

Naqueles seres que fui dentro de um ser,
Que viveram de mais para eu viver
A minha vida luminosa e calma,

Se desdobraram gestos de menino
E rudes arremedos de assassino.
Foram almas de mais numa só alma.

Imitadores

Os homens não descendem dos macacos, mas desenvolvem todos os esforços para o fazer crer. O pecado original aproximou-nos dos animais e toda a alma é, de uma maneira ou de outra, uma crestomia zoológica. O que Dante diz das ovelhas – «e o que uma faz primeiro as outras imitam» – poder-se-ia aplicar a quase todos nós.
Desde que Adão resolveu imitar Eva e mordeu o fruto, somos, a despeito da nossa ilusão em contrário, uma sucessão infinita de cópias. Um único cunho – em regra, chamado génio – basta para imprimir milhares e milhares daquelas moedas vulgares que circulam pela Terra. E o génio nem sempre se liberta da servidão universal da imitação. Toda a vida é um mosaico de plágios.
A maioria imita por preguiça, para se poupar o trabalho de procurar e inventar, ou por prudência, que aconselha os caminhos percorridos e as experiências coroadas de êxito. Compreende-se que a humildade, embora rara, leve naturalmente quem a possui a imitar aqueles que reconhece superiores, mas a própria soberba, que deveria afastar da repetição, torna-nos macacos. Se viver é distinguir-se, o orgulhoso deveria providenciar para não se parecer com ninguém. Mas a inveja, sob a sonante designação da emulação,

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Soneto De Quarta-Feira De Cinzas

Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada.

Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada

Porque te vi nascer de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura.

Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.

A caridade é o amor é o sol que Nosso Senhor fez raiar claro e fecundo; alegrando, nesta vida a existência dolorida dos que sofrem neste mundo

A Culpa é uma Doença

A culpa é uma doença que te arrasta e se alastra aos outros. De um momento para o outro, tu próprio, por habituação, culpasse por tudo e por nada, por situações em que podias ter feito melhor e por outras em que nada havia a fazer. Muitos de nós residem no condomínio da culpa. É essa a sua zona de conforto, pois foi a ela que se acostumaram e não conhecem nada para lá dos limites dessa emoção. Depois é a altura de eles ensinarem aos outros que somos todos culpados à vez, passam o testemunho do pecado aos conhecidos, familiares, amigos e filhos e, pronto, cá andamos todos num ciclo penoso de geração em geração.
Há solução? Claro! Há sempre solução para tudo.
É preponderante viver com a convicção de que apenas somos culpados de alguma coisa se agirmos com intenção de magoar, caso contrário somos apenas responsáveis. Não, não é a mesma coisa. A culpa sufoca-nos, a responsabilidade empurra-nos para a ação e promove a mudança.
De que forma, então, posso eu parar este ciclo vicioso?
– Não permitindo que te considerem culpado seja do que for e se insistirem em fazê-lo expulsa essas pessoas da tua vida.

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Vozes da Noite

Vozes na Noite! Quem fala
Com tanto ardor, tanto afã?
Falou o Grilo primeiro,
Logo depois foi a Rã.

Pobre loucura dos homens
Quando julgam entendê-las…
Só eles pasmam os olhos
Neste encanto das estrelas…

Lá no silêncio dos campos
Ou no mais ermo da serra,
Na voz das rãs dala a àgua,
Na voz dos grilos a Terra.

Só eles cantam a vida
Com amor e singeleza,
Por ser descuidada, alegre;
Por ser simples, com beleza.

Pudesse agora dizer-te,
Sem ser por palavras vãs,
O que diz a voz dos grilos,
O que diz a voz das rãs.

A Identidade é o Fundamental

Sempre pensei que a identidade é o fundamental. (…) Sem identidade não se é. E a gente tem que ser, isso é que é importante. Mas a identidade obriga depois à dignidade. Sem identidade não há dignidade, sem dignidade não há identidade, sem estas duas não há liberdade. A liberdade impõe, logo de começo, o respeito pelo próximo. Isto pode explicar um pouco os limites da própria vida. Quer dizer, é preferível morrer a perverter a dignidade.

A insensatez da juventude. Medo da juventude, medo da insensatez, do surgir sem sentido de uma vida inumana.

Por saúde, quero dizer a possibilidade de levar uma vida completa, adulta, viva, em que eu esteja em estado de respirar em comunhão com aquilo de que gosto.