Passagens sobre Anos

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Frases sobre anos, poemas sobre anos e outras passagens sobre anos para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Cântico ao Amor

Somos na obra do Mundo
um corpo em carne e desejo
que alimenta de alquimia
o tumulto do vento
que o tempo do teu corpo espalha
ao passar.

És mar,
és rainha
és o sol da tarde confidente
és acácia perfumada
companheira coroada
voz de inquietação
és insónia de seda
nas paredes do meu corpo.
Sulcas a lembrança
batalhas a meu lado
vives comigo às escondidas
mesmo no dia
do meu suicídio.

Recordas-me a tarde
nos Champs Elysées
mas também em Roma, Veneza ou Madrid
minha companheira coroada
minha acácia perfumada
trazes a tarde incendiada trazes
a tarde no teu olhar
lembras a praia
onde nas ondas mergulhámos,
vem contigo a madrugada
beijada de carícias,
meus olhos não se cansam
são fruto do teu reino
oh sempre bela
oh sempre rainha,
tua palavra determinante
tuas mãos determinadas
tua alma vibrante
tua boca de eternidade
minha acácia perfumada
minha coluna rainha
falas comigo baixinho
dás-me tua vontade em surdina.

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Dezasseis Anos, Talvez

Dezasseis anos, talvez.
Vejo-a, no café, cada manhã,
A folhear, atenta, um compêndio de inglês,
Com um perfume a Escola e a maçã.

Não me canso de a olhar. Às vezes, olha
(Um velho!), num desvio de atenção,
E logo volta a folha,
Enquanto molha
o bolo no «galão».

Eu saio, com pesar, bebida a «bica».
Ela é a minha manhã,
Tão natural, tão clara… que ali fica.

– Que saudades da Escola! Que fome de maçã!

O meu amigo Gabriel García Marquéz escreveu livros fabulosos mas só se fala do seu Cem Anos de Solidão. Ou se tem a sorte de escrever o livro de sucesso no fim da vida ou se for no princípio nada há a fazer.

O amor não resolve nada. O amor é uma coisa pessoal, e alimenta-se do respeito mútuo. Mas isto não transcende para o colectivo. Já andamos há dois mil anos a dizer isso de nos amarmos uns aos outros. E serviu de alguma coisa? Poderíamos mudar isso por respeitarmo-nos uns aos outros, para ver se assim tem maior eficácia. Porque o amor não é suficiente.

Sessenta anos atrás, eu sabia tudo. Hoje sei que nada sei. A educação é a descoberta progressiva da nossa ignorância.

Os Anos Quarenta

Amo-te mais quando olho quando
para a torneira do gás quando estou nu à noite quando
e começo a mexer em pânico os ossos da mão direita
há domingos há a infância em que se parou numas escadas altas
ouvia-se a guerra ia-se para a cama por causa do ciclone
e quando o vento vem e decepa e quando
as árvores da rua é a mãe que recorta
uns papéis
brancos para colar nos vidros
ou quando (da capo) esse homem
nu à noite quando olha

e vejo vê-se
o indicador direito
manchado de nicotina

depois uma vez desfila
a vitória! surpreendo-os na sala
que me dão dinheiro e corro a comprar barros
na feira e quando quando coisas assim
partia logo e isso era a tristeza

volto a pensar: que queria eu na infância
o sol? outro nome sobre o meu tão frágil?

amo-te mais à noite portanto
quando dobro as calças e começo
quando esse gesto útil quando
bate numas pernas e vê-se
de trinta e cinco anos

As Descrições dos Romances

Jean-Paul Sartre: De um modo geral, aliás, já não sei muito bem porque se escrevem romances. Queria falar do que pensei ser a literatura e além disso do que abandonei.
Simone de Beauvoir: Fale; é muito interessante
Jean-Paul Sartre: Ao princípio, pensava que a literatura era o romance. Dissemo-lo.
Simone de Beauvoir: Sim, uma narrativa, e ao mesmo tempo via-se o mundo através. Isto dá qualquer coisa que nenhum ensaio sociológico, nenhuma estatística, pode dar.
Jean-Paul Sartre: Dá o individual, dá o pessoal, dá o particular. Um romance dará esta sala, por exemplo, a cor dessa parede, desses cortinados, da janela, e só ele o pode dar. E foi do que eu gostei, os objectos serem nomeados e muito próximos no seu carácter individual. Eu sabia que todos os sítios descritos existiam ou tinham existido, que por conseguinte era mesmo a verdade.
Simone de Beauvoir: Embora você não gostasse muito das descrições literárias. Nos seus romances há descrições, de vez em quando, mas sempre muito ligadas à acção, à maneira como as pessoas as vêem.
Jean-Paul Sartre: E breves.
Simone de Beauvoir: Sim. Uma pequena metáfora, três palavrinhas para indicar qualquer coisa, não verdadeiramente uma descrição.

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A Vida Raramente depende da Inciativa dos Homens

Poucas pessoas saberão, a meio da vida, como chegaram a ser o que são, aos seus prazeres, à sua visão do mundo, à sua mulher, ao seu carácter, à sua profissão e aos seus êxitos; mas sentem que a partir daí as coisas já não irão mudar muito. Poderia mesmo afirmar-se que foram enganadas, porque não se consegue descobrir em lugar nenhum a razão suficiente para que tudo tenha acontecido como aconteceu, quando teria sido perfeitamente possível ter acontecido de outra forma. O que acontece, aliás, raramente depende da iniciativa dos homens, mas quase sempre das mais variadas circunstâncias, dos caprichos, da vida e da morte de outras pessoas, e, de certo modo, limita-se a vir ter connosco naquele preciso momento. Na juventude, a vida está ainda à nossa frente como uma manhã inesgotável, plena de possibilidades e de vazio; mas logo ao meio-dia algo se anuncia que reclama ser a nossa própria vida, mas que é tão surpreendente como uma pessoa com quem nos correspondemos durante vinte anos sem a conhecer, e que um belo dia, de repente, temos diante de nós e constatamos que é completamente diferente do que havíamos imaginado.
Mas o mais estranho é que a maior parte das pessoas nem dêem por isso;

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Serenata do Adolescente

Que doentia claridade
a que me invade e me obsidia,
durante a noite e à luz da tarde,
à luz da tarde, à luz do dia!
Que doentia aquela grade
de insone e ténue claridade,
sob a avançada gelosia!

Passo na rua e nada vejo
senão a luz, a luz e a grade.
Ó lamparina do desejo,
porque ardes tu, até tão tarde?
E às vezes surge, entre a cortina,
aquela sombra vespertina
que me retém nesta ansiedade.

Se tens trint’anos? ou cinquenta?
Quis lá saber a tua idade!
Sei que em meus olhos se impacienta
fome da luz daquela grade!
Sei que sou novo, e que me odeio
porque me tarda — ante o teu seio —
queimar tão pobre mocidade!

Se penso mais que um momento

Se penso mais que um momento
Na vida que eis a passar,
Sou para o meu pensamento
Um cadáver a esperar.

Dentro em breve (poucos anos
É quanto vive quem vive),
Eu, anseios e enganos,
Eu, quanto tive ou não tive,

Deixarei de ser visível
Na terra onde dá o Sol,
E, ou desfeito e insensível,
Ou ébrio de outro arrebol,

Terei perdido, suponho,
O contacto quente e humano
Com a terra, com o sonho,
Com mês a mês e ano a ano.

Por mais que o Sol doire a face
Dos dias, o espaço mudo
Lambra-nos que isso é disfarce
E que é a noite que é tudo.

A interrupção do treino intelectual nos anos decisivos do desenvolvimento, deixa fácilmente, atrás de si, uma lacuna que dificilmente poderá ser depois preenchida.

Meu pai trabalhou na mesma empresa durante doze anos. Eles o demitiram e o substituíram por uma maquininha deste tamanho, que faz tudo o que o meu pai fazia, só que muito melhor. O deprimente é que minha mãe também comprou uma igual.

Medida e Moderação

A mocidade é romântica, sempre dominada pelo sentimento; a velhice é clássica nos seus gostos, mais amiga da ordem e da restrição que da paixão e da liberdade; a idade madura paira entre os dois extremos, e com a vontade disciplinada, o espírito claro e os desejos coordenados, pacientemente constrói. A regra do conhecimento, disse Descartes, é pensar com clareza; só o que é claramente compreendido é verdade; só assim os desejos se fundem no carácter e na vontade.
A grande qualidade dos anos maduros está na moderação; e o grande defeito, na mediocridade. Nada mais fácil do que fugir ao esforço para cair na rotina, passando da vida vertical para a horizontal. Este perigo ameaça a maior parte dos homens; a sesta durante a tarde é um símbolo e um começo. Mas moderação de nenhum modo implica mediocridade; pode significar força e profundidade de espírito. A acção resoluta combina-se com a moderação no desejar e no falar. O próprio Nietzsche, tão imoderado, dizia que poucos conhecem a força e a significação de duas coisas muito altas – medida e moderação.

Estes meus contemporâneos lembram-me certos arbustos que nascem no côncavo de uma rocha, onde só uma rasa de terra é o possível pasto de qualquer avidez. Vivem de vagar, cautelosamente, não vá uma raiz mais imprudente consumir numa hora o que há-de ser comido em oitenta anos.

A Felício Dos Santos

Felício amigo, se eu disser que os anos
Passam correndo ou passam vagarosos,
Segundo são alegres ou penosos,
Tecidos de afeições ou desenganos,

“Filosofia é esta de rançosos!”
Dirás. Mas não há outra entre os humanos.
Não se contam sorrisos pelos danos,
Nem das tristezas desabrocham gozos.

Banal, confesso. O precioso e o raro
É, seja o céu nublado ou seja claro,
Tragam os tempos amargura ou gosto,

Não desdizer do mesmo velho amigo,
Ser com os teus o que eles são contigo,
Ter um só coração, ter um só rosto.

Acreditei que Podia Dar-te um Céu para Brincares

Filho. Gostava que houvesse uma aragem qualquer que me explicasse esse teu sorriso e outra que te explicasse, sem te magoar, o meu silêncio. Gostava de aprender o trejeito dos teus lábios, a maneira dos teus olhos, e to lembrar quando tivesses a minha idade. Fui um dia a tua inocência. E dela ficou-me a grande inocência de acreditar.
Acreditei que podia dar-te um céu para brincares e que a vida seria o que nós quiséssemos. Assim. Bastaria querermos, esforçarmo-nos muito, trabalharmos, e teríamos então o que desejássemos. Não digo coisas majestosas, roupas bonitas ou charretes, mas comida, comida gostosa e bem temperada, e um cavalo de cartão novo, se por acaso esquecesses o teu no quintal numa noite de chuva. Acreditei que a felicidade dos teus olhos a sorrir podia voltar aos olhos da tua mãe, aos meus e perdurar intocada nos teus. Acreditei em tantas coisas. Sabes, aproximo-me da vila e o que me espera é morrer um pouco mais. Preferia que não o soubesses, mas infelizmente nem isso posso esconder-te, porque um dia, quando te contarem a história da tua vida, dir-te-ão que numa noite de estrelas, o teu pai foi à vila e levou uma sova;

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É raro ver um artista de 30 ou 40 anos realmente contribuir com alguma coisa impressionante.

Ninguém Morre Antes da Hora

Ninguém morre antes da hora. O que deixais de tempo não era mais vosso do que o tempo que se passou antes do vosso nascimento; e tampouco vos importa, Com efeito, considerai como a eternidade do tempo passado nada é para nós (Lucrécio). Termine a vossa vida quando terminar, ela aí está inteira. A utilidade do viver não está no espaço de tempo, está no uso. Uma pessoa viveu longo tempo e no entanto pouco viveu; atentai para isso enquanto estais aqui. Terdes vivido o bastante depende da vossa vontade, não do número de anos. Pensáveis nunca chegar aonde estáveis indo incessantemente? E no entanto não há caminho que não tenha o seu fim. E, se a companhia vos pode consolar, não vai o mundo no mesmo passo em que ides? Todas as coisas seguir-vos-ão na morte (Lucrécio). Tudo não dança a vossa dança? Há coisa que não envelheça convosco? Mil homens, mil animais e mil outras criaturas morrem nesse mesmo instante em que morreis: Pois nunca a noite sucedeu ao dia, nem a aurora à noite, sem ouvir, mesclados aos vagidos da criança, os gritos de dor que acompanham a morte e os negros funerais (Lucrécio).