Não é divertido ser artista. Beethoven, Van Gogh, todos eles: se tivessem psiquiatras nós não teríamos esses gênios.
Passagens sobre Artista
347 resultadosOs grandes artistas não têm pátria.
Onde começará a minha liberdade de pessoa e acabará o meu dever de artista?
A Realidade Histórica é Equívoca e Inesgotável
O historiador pertence ao devir que descreve. Está situado após os acontecimentos, mas na mesma evolução. A ciência histórica é uma forma de consciência que uma comunidade toma de si mesma, um elemento da vida colectiva, como o conhecimento de si um aspecto da consciência pessoal, um dos factores do destino individual. Não é ela função simultaneamente da situação actual, que por definição muda com o tempo, e da vontade que anima o sábio, incapaz de se destacar de si mesmo e do seu objecto?
Mas, por outro lado, ao contrário, o historiador busca penetrar a consciência de outrem. É, em relação ao ser histórico, o outro. Psicólogo, estratega ou filósofo, observa sempre do exterior. Não pode nem pensar o seu herói, como este se pensa a si mesmo, nem ver a batalha como o general a viu ou viveu, nem compreender uma doutrina do mesmo modo que o criador.
Finalmente, quer se trate de interpretar um acto ou uma obra, devemos reconstuí-los conceptualmente. Ora nós temos sempre de escolher entre múltiplos sistemas, pois a ideia é ao mesmo tempo imanente e transcendente à vida: todos os monumentos existem por eles mesmos num universo espiritual, a lógica jurídica e económica é interna à realidade social e superior à consciência individual.
O objetivo profundo do artista é dar mais do que aquilo que tem.
E Há Poetas que São Artistas
E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas! …
Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, corno quem constrói um
muro
E ver se está bem, e tirar se não está! …
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.
Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem
respira,
E olho para as flores e sorrio…
Não sei se elas me compreendem
Nem sei eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao solo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos
E não termos sonhos no nosso sono.
Como artista, tenho que crer que não há ideias irrefutáveis. A Inteligência sempre se contradiz. O homem de espírito é um eterno devir, a negação das ideias irremovíveis. Se eu julgasse as minhas ideias nítidas e categóricas, faria testamento delas, e, depois, deitar-me-ia entre círios, para morrer.
Se eu me sentisse ainda mais estúpido do que já sou, eu pensaria que teria atingido o auge da minha carreira; no entanto eu sei o quanto ainda me falta para alcançar a perfeição; e eu vejo cada vez mais claramente que vivo entre artistas de primeira qualidade e sei o que falta a cada um deles.
A alegoria chega quando descrever a realidade já não nos serve. Os escritores e artistas trabalham nas trevas e, como cegos, tacteiam na escuridão.
Os grandes artistas não são os copistas do mundo, são os seus rivais.
Arte e Sensibilidade
1) Toda a arte se baseia na sensibilidade, e essencialmente na sensibilidade.
2) A sensibilidade é pessoal e intransmissível.
3) Para se transmitir a outrem o que sentimos, e é isso que na arte buscamos fazer, temos que decompor a sensação, rejeitando nela o que é puramente pessoal, aproveitando nela o que, sem deixar de ser individual, é todavia susceptível de generalidade, portanto, compreensível, não direi já pela inteligência, mas ao menos pela sensibilidade dos outros.
4) Este trabalho intelectual tem dois tempos: a) a intelectualização directa e instintiva da sensibilidade, pela qual ela se converte em transmissível (é isto que vulgarmente se chama “inspiração”, quer dizer, o encontrar por instinto as frases e os ritmos que reduzam a sensação à frase intelectual (prim. versão: tirem da sensação o que não pode ser sensível aos outros e ao mesmo tempo, para compensar, reforçam o que lhes pode ser sensível); b) a reflexão crítica sobre essa intelectualização, que sujeita o produto artístico elaborado pela “inspiração” a um processo inteiramente objectivo — construção, ou ordem lógica, ou simplesmente conceito de escola ou corrente.
5) Não há arte intelectual, a não ser, é claro, a arte de raciocinar. Simplesmente,
Originalidade Verdadeira e Originalidade Falseada
Em Arte, é vivo tudo o que é original. É original tudo o que provém da parte mais virgem, mais verdadeira e mais íntima duma personalidade artística. A primeira condição duma obra viva é pois ter uma personalidade e obedecer-lhe. Ora como o que personaliza um artista é, ao menos superficialmente, o que o diferencia dos demais, (artistas ou não) certa sinonímia nasceu entre o adjectivo original e muitos outros, ao menos superficialmente aparentados; por exemplo: o adjectivo excêntrico, estranho, extravagante, bizarro… Eis como é falsa toda a originalidade calculada e astuciosa.
Eis como também pertence à literatura morta aquela em que um autor pretende ser original sem personalidade própria. A excentricidade, a extravagância e a bizarria podem ser poderosas – mas só quando naturais a um dado temperamento artístico. Sobre outras qualidades, o produto desses temperamentos terá o encanto do raro e do imprevisto. Afectadas, semelhantes qualidades não passarão dum truque literário.
A Guerra como Revolta da Técnica
Todos os esforços para estetizar a política convergem para um ponto. Esse ponto é a guerra. A guerra e somente a guerra permite dar um objectivo aos grandes movimentos de massa, preservando as relações de produção existentes. Eis como o fenómeno pode ser formulado do ponto de vista político. Do ponto de vista técnico, a sua formulação é a seguinte: somente a guerra permite mobilizar na sua totalidade os meios técnicos do presente, preservando as actuais relações de produção. É óbvio que a apoteose fascista da guerra não recorre a esse argumento. Mas seria instrutivo lançar os olhos sobre a maneira como ela é formulada. No seu manifesto sobre a guerra colonial da Etiópia, diz Marinetti: «Há vinte e sete anos, nós futuristas contestamos a afirmação de que a guerra é antiestética (…) Por isso, dizemos: (…) a guerra é bela, porque graças às máscaras de gás, aos megafones assustadores, aos lança-chamas e aos tanques, funda a supremacia do homem sobre a máquina subjugada. A guerra é bela, porque inaugura a metalização onírica do corpo humano. A guerra é bela, porque enriquece um prado florido com as orquídeas de fogo das metralhadoras. A guerra é bela, porque conjuga numa sinfonia os tiros de fuzil,
Não acredito em total liberdade para o artista. Deixado consigo mesmo, livre para fazer qualquer coisa que ele gosta, o artista acaba não fazendo nada. Se há uma coisa que é perigosa para um artista, é precisamente esta questão de total liberdade, à espera de inspiração e do resto.
Um verdadeiro artista está-se completamente nas tintas para o público. O público não existe para ele.
Toda a arte que revele o artista mostra um artista que não tem nada que revelar, um não-artista portanto.
Na minha opinião, os verdadeiros pioneiros são os artistas que nas suas obras tornam manifesto um novo conteúdo, as características determinantes da vida no nosso tempo.
Um artista é uma das duas coisas: ou ele é um alto sacerdote, ou então um saltimbanco mais ou menos esperto.
O artista de agora, se quiser persistir, tem de ser um homem de acção. — Mas que acção? Ajudar a construir um mundo que o nega? Ajudar a destruir um mundo onde ele próprio já não vive? A acção dum artista é fazer a sua obra.
África
Na partilha das sáfaras conquistas
Desta Líbia de mouros rancorosos,
O Deserto foi dado aos Poderosos
E o Oásis, florido e mínimo, aos Artistas.E os felizes, quais são? Os mil sofistas
Da Ventura, a pedir, de olhos gulosos,
Terra e mais terra? Ou o que limita os gozos
E em sete palmos acomoda as vistas?Certo, não sereis vós, ó Donatários
Do alvo Deserto, que velais, em guerra,
A áurea carga dos vossos dromedários.Mas, tu, ó Poeta, que, por onde fores,
Teus sete palmos hás de achar na terra
Abrindo em trigo, rebentado em flores!