Passagens sobre AusĂȘncia

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Frases sobre ausĂȘncia, poemas sobre ausĂȘncia e outras passagens sobre ausĂȘncia para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Para o Meu Coração…

Para o meu coração basta o teu peito,
para a tua liberdade as minhas asas.
Da minha boca chegarå até ao céu
o que dormia sobre a tua alma.

És em ti a ilusão de cada dia.
Como o orvalho tu chegas Ă s corolas.
Minas o horizonte com a tua ausĂȘncia.
Eternamente em fuga como a onda.

Eu disse que no vento ias cantando
como os pinheiros e como os mastros.
Como eles tu és alta e taciturna.
E ficas logo triste, como uma viagem.

Acolhedora como um velho caminho.
Povoam-te ecos e vozes nostĂĄlgicas.
Eu acordei e Ă s vezes emigram e fogem
pĂĄssaros que dormiam na tua alma.

Singularidade(s)

Quem sou eu? A minha singularidade dissolve-se quando a examino e, por fim, fico convencido de que a minha singularidade vem de uma ausĂȘncia de singularidade. Tenho mesmo em mim algo de mimĂ©tico que me impele a ser como os outros. Em ItĂĄlia sinto-me italiano e gostaria que os italianos me sentissem como participante na sua italianidade. Outro dia, ao falar a um auditĂłrio da Champanha senti-me champanhizado. Ah sim, gostaria de ser como eles. Adoro ser integrado e, contudo, nĂŁo sou inteiramente de uns e dos outros. Poderia ser de todo o lado, mas nem por isso me sinto de alguma parte, estou enraizado assim.
Não é o exercício de um talento singular nem a posse de uma admiråvel verdade que me distinguem. Se me distingo é pelo uso não inibido ou cristalizado de uma måquina cerebral comum e pela minha preocupação permanente em obedecer às regras primeiras desta måquina cognitiva: ligar todo o conhecimento separado, contextualizå-lo, situar todas as verdades parciais no conjunto de que fazem parte.

A Indiferença ou a Paixão pelos Outros

O que Ă© mais proveitoso — perguntava eu — representar o mundo como pequeno ou como grande? Vejamos como eu resolvia o assunto: os homens eminentes, os capitĂŁes famosos, os estadistas competentes, em suma, todos os conquistadores e todos os chefes que se elevam pela violĂȘncia acima dos outros homens, devem ser feitos de tal maneira que o Mundo lhes deve parecer como um tabuleiro de damas. Se assim nĂŁo fosse, eles nĂŁo teriam a rudeza e a impassibilidade necessĂĄrias para subordinarem audaciosamente aos seus imprevisĂ­veis planos a felicidade e os sofrimentos dos indivĂ­duos isolados, sem se importarem nada com isso. Em contrapartida, uma tĂŁo limitada concepção pode levar os homens a nĂŁo realizarem coisa alguma, porque todo aquele que considera a humanidade como uma coisa sem importĂąncia acabarĂĄ por a achar insignificante e por soçobrar na indiferença e na passividade. Desdenhoso de tudo, preferirĂĄ a inĂ©rcia Ă  acção sobre os espĂ­ritos, sem contar que a sua insensibilidade, a sua ausĂȘncia de simpatia e a sua letargia chocarĂŁo toda a gente, ofendendo constantemente um mundo imbuĂ­do do seu prĂłprio valor. Assim se lhe fecharĂŁo todas as vias de um sucesso imprevisto. SerĂĄ mais razoĂĄvel — perguntava eu, entĂŁo — ver na humanidade qualquer coisa de grande,

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Alheamento

Meu corpo estiraçado, lùnguido, ao logo do leito.

O cigarro vago azulando os meus dedos.

O rĂĄdio… a mĂșsica…

A tua presença que esvoaça
em torno do cigarro, do ar, da mĂșsica…

AusĂȘncia!, minha doce fuga!

Estranha coisa esta, a poesia,
que vai entornando mĂĄgoa nas horas
como um orvalho de lĂĄgrimas, escorrendo dos vidros
duma janela,

numa tarde vaga, vaga…

A ausĂȘncia estĂĄ para o amor como o vento estĂĄ para o fogo: apaga o pequeno, abrasa o grande.

A MĂĄscara do Esquecimento e do EquĂ­voco

Sob a mĂĄscara do esquecimento e do equĂ­voco, invocando como justificação a ausĂȘncia de mĂĄs intençÔes, os homens expressam sentimentos e paixĂ”es cuja realidade seria bem melhor, tanto para eles prĂłprios como para os outros, que confessassem a partir do momento em que nĂŁo estĂŁo Ă  altura de os dominar.

A liberdade nĂŁo Ă© uma mera ausĂȘncia de aprisionamento, tal como se diz que a paz nĂŁo Ă© uma mera ausĂȘncia de guerra.

Carta Ă  Minha Filha

Lembras-te de dizer que a vida era uma fila?
Eras pequena e o cabelo mais claro,
mas os olhos iguais. Na metĂĄfora dada
pela infĂąncia, perguntavas do espanto
da morte e do nascer, e de quem se seguia
e porque se seguia, ou da total ausĂȘncia
de razĂŁo nessa cadeia em sonho de novelo.

Hoje, nesta noite tĂŁo quente rompendo-se
de junho, o teu cabelo claro mais escuro,
queria contar-te que a vida é também isso:
uma fila no espaço, uma fila no tempo
e que o teu tempo ao meu se seguirĂĄ.

Num estilo que gostava, esse de um homem
que um dia lembrou Goya numa carta a seus
filhos, queria dizer-te que a vida é também
isto: uma espingarda Ă s vezes carregada
(como dizia uma mulher sozinha, mas grande
de jardim). Mostrar-te leite-creme, deixar-te
testamentos, falar-te de tigelas – Ă© sempre
olhar-te amor. Mas é também desordenar-te à
vida, entrincheirar-te, e a mim, em fila descontĂ­nua
de mentiras, em carinho de verso.

E o que queria dizer-te Ă© dos nexos da vida,
de quem a habita para além do ar.

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Pequenos Poemas Mentais

Mental: nada, ou quase nada sentimental.

I

Quem nĂŁo sai de sua casa,
nĂŁo atravessa montes nem vales,
nĂŁo vĂȘ eiras
nem mulheres de infusa,
nem homens de mangual em riste, suados,
quem vive como a aranha no seu redondel
cria mil olhos para nada.
Mil olhos!
ImplacĂĄveis.
E hoje diz: odeio.
Ontem diria: amo.
Mas odeia, odeia com indĂŽmitos Ăłdios.
E se se aplaca, como acha o tempo pobre!
E a liberdade inĂștil,
inĂștil e vĂŁ,
riqueza de miserĂĄveis.

II

Como sempres, hĂĄ-de-chegar, desde os tempos!
Vozes, cumprimentos, ofegantes entradas.
Mas que vos reunirĂĄ, pensamentos?
Chegais a existir, pensamentos?
É provável, mas desconfiados e inválidos,
Rosnando estĂșpidos, com cĂŁes.

Ó inĂșteis, aquietai-vos!
Voltai como os cĂŁes das quintas
ao ponto da partida, decepcionados.
E enrolai-vos tristonhos, rabugentos, desinteressados.

III

Esse gesto…
Esse desĂąnimo e essa vaidade…
A vaidade ferida comove-me,
comove-me o ser ferido!

A vaidade nĂŁo Ă© generosa, Ă© egoĂ­sta,
Mas chega a ser bela,

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A fĂ© Ă© uma das forças pelas quais os homens vivem, e a sua ausĂȘncia total significa colapso!

Tudo, aliĂĄs, Ă© a ponta de um mistĂ©rio, inclusive os fatos. Ou a ausĂȘncia deles. Duvida? Quando nada acontece hĂĄ um milagre que nĂŁo estamos vendo.

Se a morte Ă© a ausĂȘncia da vida a vida deveria ser a ausĂȘncia da morte. Logo, por que pensamos na morte ?

Mantém uma Certa Distùncia dos teus Superiores

NinguĂ©m deve poder imaginar que, de acordo com os teus superiores, participaste na elaboração de novas leis, sobretudo se forem impopulares. Mostra-te o menos possĂ­vel na companhia do verdadeiro detentor do poder, mas conta-lhe Ă  discrição rumores e anedotas, desde que nĂŁo tragam consequĂȘncias. Sobretudo, nĂŁo te gabes diante de ninguĂ©m de teres conquistado a sua amizade.
Se a tua influĂȘncia sobre os poderosos for notada, serĂĄs apontado como responsĂĄvel pelas suas mĂĄs acçÔes. Procuca, pois, que o teu senhor escute atentamente os teus conselhos, tenha em conta as tuas observaçÔes, mas sĂł provoque grandes reviravoltas polĂ­ticas na tua ausĂȘncia.

As ĂĄrvores parecem indefesas, mas a sua ausĂȘncia Ă© o nosso castigo, o seu desaparecimento Ă© o pior dos venenos.

Lågrimas Tristes Tomarão Vingança

Se somente hora alguma em vĂłs piedade
De tĂŁo longo tormento se sentira,
Amor sofrera, mal que eu me partira
De vossos olhos, minha saudade.

Apartei-me de vĂłs, mas a vontade,
Que por o natural na alma vos tira,
Me faz crer que esta ausĂȘncia Ă© de mentira;
Porém venho a provar que é de verdade.

Ir-me-ei, Senhora; e neste apartamento
Lågrimas tristes tomarão vingança
Nos olhos de quem fostes mantimento.

Desta arte darei vida a meu tormento,
Que, enfim, cå me acharå minha lembrança
Sepultado no vosso esquecimento.