Eu digo sempre que das três virtudes teologais chamadas, eu sou fraco na fé e fraco na qualidade, só me resta a esperança. Eu sou o homem da esperança.
Passagens sobre Esperança
917 resultadosNão Te Leves Tão a Sério
Em todas as palestras que dou, reservo alguns minutos para este tema e, se possível, logo no início da conversa. Faço-o porque quero que a soma de todas as pessoas que me ouvem possam, rapidamente, ser um grupo. O objetivo é aproximá-las da minha energia e desconstruir padrões. Muitas vezes, em certos indivíduos, denoto uma forte resistência ao abraço de um desconhecido, ao vibrar com uma música que pede saltos e explosões de alegria e ao riso.
E porque é que isto acontece? Porque estão a levar os padrões que gerem as suas vidas demasiado a sério.– «Eu não toco assim numa pessoa que não conheço»; «Ai que vergonha, pôr-me aqui aos saltos»; «Alguma vez na vida, vou achar graça ao que ele disse? Convencido».
Estes exemplos são de gente real. De gente que se acha superior, mais educada e mais engraçada. Mas serão? Ou será esta gente de uma extrema insegurança? E estes exemplos de alguém que se sente ameaçado, com medo que lhe caia a máscara e extremamente vulnerável?Aprendi que o palco, o microfone e as centenas de olhos na minha direção já me dão um status mais do que suficiente para criar a ilusão de que sou mais do que o meu público.
Regras Gerais da Arte da Guerra
Estou consciente de vos ter falado de muitas coisas que por vós mesmos haveis podido aprender e ponderar. Não obstante, fi-lo, como ainda hoje vos disse, para melhor vos poder mostrar, através delas, os aspectos formais desta matéria,e, ainda, para satisfazer aqueles – se fosse esse o caso – que não tivessem tido, como vós, a oportunidade de sobre elas tomar conhecimento. Parece-me que, agora, já só me resta falar-vos de algumas regras gerais, com as quais deveis estar perfeitamente identificados. São as seguintes:
– Tudo o que é útil ao inimigo é prejudicial para ti, e, tudo o que te é útil prejudica o inimigo.
– Aquele que, na guerra, for mais vigilante a observar as intenções do inimigo e mais empenho puser na preparação do seu exército, menos perigos correrá e mais poderá aspirar à vitória.
– Nunca leves os teus soldados para o campo de batalha sem, previamente, estares seguro do seu ânimo e sem teres a certeza de que não têm medo e estão disciplinados e convictos de que vão vencer.
– É preferível vencer o inimigo pela fome do que pelas armas. A vitória pelas armas depende muito mais da fortuna do que da virtude.
As Infelizes Necessidades do Homem Civilizado
Um autor célebre, calculando os bens e os males da vida humana, e comparando as duas somas, achou que a última ultrapassa muito a primeira, e que tomando o conjunto, a vida era para o homem um péssimo presente. Não fiquei surpreendido com a conclusão; ele tirou todos os seus raciocínios da constituição do homem civilizado. Se subisse até ao homem natural, pode-se julgar que encontraria resultados muito diferentes; porque perceberia que o homem só tem os males que se criou para si mesmo, o que à natureza se faria justiça. Não foi fácil chegarmos a ser tão desgraçados. Quando, de um lado, consideramos o imenso trabalho dos homens, tantas ciências profundas, tantas artes inventadas, tantas forças empregadas, abismos entulhados, montanhas arrasadas, rochedos quebrados, rios tornados navegáveis, terras arroteadas, lagos cavados, pantanais dissecados, construções enormes elevadas sobre a terra, o mar coberto de navios e marinheiros, e quando, olhando do outro lado, procuramos, meditando um pouco as verdadeiras vantagens que resultaram de tudo isso para a felicidade da espécie humana, só nos podemos impressionar com a espantosa desproporção que reina entre essas coisas, e deplorar a cegueira do homem, que, para nutrir o seu orgulho louco, não sei que vã admiração de si mesmo,
Perdoa-Me Visão Dos Meus Amores
Perdoa-me visão dos meus amores,
Se a ti ergui meus olhos suspirando!…
Se eu pensava num beijo desmaiando
Gozar contigo a estação das flores!De minhas faces os mortais palores,
Minha febre noturna delirando,
Meus ais, meus tristes ais vão revelando
Que peno e morro de amorosas dores…Morro, morro por ti! na minha aurora
A dor do coração, a dor mais forte,
A dor de um desengano me devora…Sem que última esperança me conforte,
Eu – que outrora vivia! – eu sinto agora
Morte no coração, nos olhos morte!
A Nossa Vez
É o frio que nos tolhe ao domingo
no Inverno, quando mais rareia
a esperança. São certas fixações
da consciência, coisas que andam
pela casa à procura de um lugare entram clandestinas no poema.
São os envelopes da companhia
da água, a faca suja de manteiga
na toalha, esse trilho que deixamos
atrás de nós e se decifra sem esforço
nem proveito. É a esperae a demora. São as ruas sossegadas
à hora do telejornal e os talheres
da vizinhança a retinir. É a deriva
nocturna da memória: é o medo
de termos perdido sem querera nossa vez.
Erra a Minha Alma, em Contemplar-vos Tanto
S’erra minh’alma, em contemplar-vos tanto,
E estes meus olhos tristes, em vos ver,
S’erra meu amor grande, em não querer
Crer que outra cousa há ai de mor espanto,S’erra meu espírito, em levantar seu canto
Em vós, e em vosso nome só escrever,
S’erra minha vida, em assim viver
Por vós continuamente em dor, e pranto,S’erra minha esperança, em se enganar
Já tantas vezes, e assim enganada
Tornar-se a seus enganos conhecidos,S’erra meu bom desejo, em confiar
Que algu’hora serão meus males cridos,
Vós em meus erros só sereis culpada.
Na luta feroz pela existência, queremos contar com alguma coisa duradoura. E enchemos a mente com bobagens e fatos, na esperança insensata de guardarmos o nosso lugar.’
A Moralidade dos Homens Exaustos
Parte do conservantismo da idade madura decorre da inteligência, que afinal percebe a complexidade das instituições e as imperfeições do desejo; e parte vem do enfraquecimento das energias, o que explica a imaculada moralidade dos homens exaustos. A princípio com incredulidade, depois com desepero, vamos percebendo que o nosso reservatório de energia já não se enche com a facilidade antiga; ou, como disse Schopenhauer, começamos a consumir o capital em vez da renda do capital. Essa descoberta anuvia por alguns anos o homem maduro e indu-lo a deblaterar contra a brevidade da vida e a impossibilidade de realização de grandes obras. Está ele já no alto da colina, de onde vê, lá no fundo, o fim inevitável – a morte. Até aquele momento não admitia a morte, só pensando nela como um tema académico, de desinteresse para os cofres. Subitamente tudo muda e começa a vê-la de perto, e por mais que se esforce para não descer a colina, há que descê-la. Os seus olhos voltam-se para o passado, para os dias em que tudo era ascensão descuidosa; e compraz-se na companhia dos moços e crianças porque deles haure, passageira e incompletamente embora, um pouco do divino esquecimento da morte.
Ocasos
Morrem no Azul saudades infinitas
Mistérios e segredos inefáveis…
Ah! Vagas ilusões imponderáveis,
Esperanças acerbas e benditas.Ânsias das horas místicas e aflitas,
De horas amargas das intermináveis
Cogitações e agruras insondáveis
De febres tredas, trágicas, malditas.Cogitações de horas de assombro e espanto
Quando das almas num relevo santo
Fulgem de outrora os sonhos apagados.E os bracos brancos e tentaculosos
Da Morte, frios, álgidos, nervosos,
Abrem-se pare mim torporizados.
Ó Meus Irmãos Contrários
Ó meus irmãos contrários que guardais nas vossas
[pupilas
A noite infusa e o seu horror
Onde vos deixei eu
Com vossas pesadas mãos no azeite preguiçoso
Dos vossos actos antigos
Com tão pouca esperança que’a morte tem razão
Ó meus irmãos perdidos
Eu vou para a vida tenho aparência de homem
Para provar que o mundo é feito à minha medidaE não estou só
Mil imagens de mim multiplicam a luz
Mil olhares semelhantes igualam a carne
É a ave é a criança é a rocha é a planície
Que se misturam a nós
O ouro desata a rir ao ver-se fora do abismo
A água o fogo despem-se por uma única estação
Já não há eclipse na fronte do universo.Tradução de António Ramos Rosa
Mais vale esperança boa que hipótese má.
Velho Tema I
Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
Quando Se Vir Com Água O Fogo Arder
Quando se vir com água o fogo arder,
e misturar co dia a noite escura,
e a terra se vir naquela altura
em que se vem os Céus prevalecer;o Amor por razão mandado ser,
e a todos ser igual nossa ventura,
com tal mudança, vossa formosura
então a poderei deixar de ver.Porém não sendo vista esta mudança
no mundo (como claro está não ver-se),
não se espere de mim deixar de ver-vos.Que basta estar em vós minha esperança,
o ganho de minha alma, e o perder-se,
para não deixar nunca de querer-vos.
Goza-se mais pela esperança, do que nunca se gozará na realidade. A imaginação, que reveste sempre de atractivos o que deseja, falece na posse. Nada existe belo senão aquilo que não o é.
A vida é uma enorme lotaria; os prémios são poucos, os malogrados inúmeros, e com os suspiros de uma geração é que se amassam as esperanças de outra.
Silêncio
Assim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.Tradução de Luis Pignatelli
Ah, a Esta Alma Que Não Arde AH, a esta alma que não arde. Não envolve, porque ama, A esperança, ainda que vã, O esquecimento que vive Entre o orvalho da tarde. E o orvalho da manhã
Regras Básicas de Avaliação do Amante
Para avaliar o amor da vossa amante, lembrai-vos:
1º – De que, quanto mais prazer físico entrou na base do vosso amor, no que noutros tempos determinou a intimidade, tanto mais ele está sujeito à infidelidade. Isto aplica-se sobretudo aos amores cuja cristalização foi favorecida pelo fogo da juventude, aos dezasseis anos.
2º – De que o amor de duas pessoas que amam não é quase nunca o mesmo. O amor-paixão tem as suas fases durante as quais, e sucessivamente, um dos dois ama mais que o outro. Muitas vezes a simples galanteria ou o amor de vaidade responde ao amor-paixão, e é sobretudo a mulher que ama com exaltação. Qualquer que seja o amor sentido por um dos dois amantes, a partir do momento em que sente cíumes, exige do outro que preencha as condições do amor-paixão; a vaidade simula nele todas as necessidades de um coração terno.
Finalmente, nada aborrece tanto o amor-gosto como a existência do amor-paixão no outro ou outra.
Muitas vezes um homem de espírito, ao fazer a corte a uma mulher, não consegue senão fazê-la pensar no amor e enternecer-lhe a alma. Ela recebe bem este homem que lhe dá um tal prazer.
Ergue, Criança, A Fronte Condorina
Ergue, criança, a fronte condorina
Que é tua fronte, oh!, genial criança,
É como a estrela-d’alva da esperança,
Do talento sagrado que a ilumina!Ergue-a, pois, e que, à auréola purpurina
Do Sol da Ciência, o rútilo tesouro
Do Estudo – o Grande Mestre – que te ensina,
Chova sobre ela suas gemas d’ouro!E hoje que colhes um laurel bendito,
Aceita a saudação que num contrito
Fervor, eleva, qual penhor sinceroUm peito amigo a outro peito amigo,
A um gênio que desponta e que eu bendigo,
A um coração de irmão que tanto quero!