Eu amei contra a razão, contra a promessa, contra a paz, contra a esperança, contra a felicidade, contra todo o desencorajamento que existe.
Passagens sobre Esperança
917 resultadosToda a infelicidade dos homens provém da esperança.
Moral Convencional e Moral Verdadeira
A respeitabilidade, a regularidade, a rotina – toda a disciplina de ferro forjada na moderna sociedade industrial – atrofiaram o impulso artĂstico e aprisionaram o amor de forma tal que nĂŁo mais pode ser generoso, livre e criador, tendo de ser ou furtivo ou pedante. Aplicou-se controle Ă s coisas que mais deveriam ser livres, enquanto a inveja, a crueldade e o Ăłdio se espraiam Ă vontade com as bençãos de quase toda a bisparia. O nosso equipamento instintivo consiste em duas partes – uma que tende a beneficiar a nossa prĂłpria vida e a dos nossos descendentes, e outra que tende a atrapalhar a vida dos supostos rivais. Na primeira incluem-se a alegria de viver, o amor e a arte, que psicologicamente Ă© uma consequĂŞncia do amor. A segunda inclui competição, patriotismo e guerra. A moral convencional tudo faz para suprimir a primeira e incentivar a segunda. A moral verdadeira faria exactamente o contrário.
As nossas relações com os que amamos podem ser perfeitamente confiadas ao instinto; são as nossas relações com aqueles que detestamos que deveriam ser postas sob o controle da razão. No mundo moderno, aqueles que de facto detestamos são grupos distantes, especialmente nações estrangeiras. Concebemo-las no abstracto e engodamo-nos para crer que os nossos actos (na verdade manifestações de ódio) são cometidos por amor à justiça ou outro motivo elevado.
Que Vistes Meus Olhos
ALHEIO
Que vistes meus olhos
Neste bem, que vistes
Que vos vejo tristes?VOLTAS
As vossas lembranças
NĂŁo vos dĂŁo tormentos,
Nem levam os ventos
Vossas esperanças.
Não sei que mudanças
VĂłs de novo vistes,
Que vos vejo tristes.
Que dor ou que medos
Causam vossa dor?
Lágrimas d’amor
Descobrem segredos.
Eu vos via ledos;
VĂłs nĂŁo sei que vistes,
Que vos vejo tristes.
Uma polĂtica de Estado, onde alguns indivĂduos tĂŞm milhões de rendimento enquanto outros morrem de fome, poderá subsistir quando a religiĂŁo deixa de lá estar com as suas esperanças noutro mundo, para explicar o sacrifĂcio?
A Hipocrisia do Ser
Para que servem esses pĂncaros elevados da filosofia, em cima dos quais nenhum ser humano se pode colocar, e essas regras que excedem a nossa prática e as nossas forças? Vejo frequentes vezes proporem-nos modelos de vida que nem quem os propõe nem os seus auditores tĂŞm alguma esperança de seguir ou, o que Ă© pior, desejo de o fazer. Da mesma folha de papel onde acabou de escrever uma sentença de condenação de um adultĂ©rio, o juiz rasga um pedaço para enviar um bilhetinho amoroso Ă mulher de um colega. Aquela com quem acabais de ilicitamente dar uma cambalhota, pouco depois e na vossa prĂłpria presença, bradará contra uma similar transgressĂŁo de uma sua amiga com mais severidade que o faria PĂłrcia.
E há quem condene homens Ă morte por crimes que nem sequer considera transgressões. Quando jovem, vi um gentil-homem apresentar ao povo, com uma mĂŁo, versos de notável beleza e licenciosidade, e com outra, a mais belicosa reforma teolĂłgica de que o mundo, de há muito Ă quela parte, teve notĂcia.
Assim vĂŁo os homens. Deixa-se que as leis e os preceitos sigam o seu caminho: nĂłs tomamos outro, nĂŁo sĂł por desregramento de costumes, mas tambĂ©m frequentemente por termos opiniões e juĂzos que lhes sĂŁo contrários.
Sempre o Futuro, Sempre! e o Presente
Sempre o futuro, sempre! e o presente
Nunca! Que seja esta hora em que se existe
De incerteza e de dor sempre a mais triste,
E sĂł farte o desejo um bem ausente!Ai! que importa o futuro, se inclemente
Essa hora, em que a esperança nos consiste,
Chega… Ă© presente… e sĂł á dor assiste?…
Assim, qual Ă© a esperança que nĂŁo mente?Desventura ou delirio?… O que procuro,
Se me foge, Ă© miragem enganosa,
Se me espera, peor, espectro impuro…Assim a vida passa vagarosa:
O presente, a aspirar sempre ao futuro:
O futuro, uma sombra mentirosa.
Todas as grandes coisas são simples. E muitas podem ser expressas numa só palavra: liberdade; justiça; honra; dever; piedade; esperança.
O Ă“dio Limita o IndivĂduo
A inveja e o Ăłdio, mesmo se acompanhados pela inteligĂŞncia, limitam o indivĂduo Ă superfĂcie daquilo que constitui o objecto da sua atenção. Mas, se a inteligĂŞncia se irmana com a benevolĂŞncia e com o amor, consegue penetrar em tudo o que nos homens e no mundo há de profundo. E pode mesmo acalentar a esperança de atingir o que possa haver de mais elevado.
A prosperidade não existe sem muitos medos e dissabores; e a adversidade sem muitos confortos e esperanças.
Para encontrar a esperança é necessário ir além do desespero. Quando chegamos ao fim da noite, encontramos a aurora.
O mal Ă© que minha esperança ou Ă© inexistente ou forte demais – esperança forte demais Ă© infantil.
A guerra, a princĂpio, Ă© a esperança de que a gente vai se dar bem; em seguida, Ă© a expectativa de que o outro vai se ferrar; depois, a satisfação de ver que o outro nĂŁo se deu bem; e finalmente, a surpresa de ver que todo mundo se ferrou.
O Amor é o Caminho que nos Leva à Esperança
O amor Ă© o caminho que nos leva Ă esperança. E esta nĂŁo Ă© uma espĂ©cie de consolação, enquanto se esperam dias melhores. Nem Ă© sobretudo expectativa do que virá. Esperar nĂŁo significa projetar-se num futuro hipotĂ©tico, mas saber colher o invisĂvel no visĂvel, o inaudĂvel no audĂvel, e por aĂ fora. Descobrir uma dimensĂŁo outra dentro e alĂ©m desta realidade concreta que nos Ă© dada como presente. Todos os nossos sentidos sĂŁo implicados para acolher, com espanto e sobressalto, a promessa que vem, nĂŁo apenas num tempo indefinido futuro, mas já hoje, a cada momento. A esperança mantĂ©m-nos vivos. NĂŁo nos permite viver macerados pelo desânimo, absorvidos pela desilusĂŁo, derrubados pelas forças da morte. Compreender que a esperança floresce no instante Ă© experimentar o perfume do eterno.
Lágrimas de Cera
Passou; viu a porta aberta.
Entrou; queria rezar.
A vela ardia no altar.
A igreja estava deserta.Ajoelhou-se defronte
Para fazer a oração;
Curvou a pálida fronte
E pĂ´s os olhos no chĂŁo.Vinha trĂŞmula e sentida.
Cometera um erro. A Cruz
É a âncora da vida,
A esperança, a força, a luz.Que rezou? Não sei. Benzeu-se
Rapidamente. Ajustou
O véu de rendas. Ergueu-se
E Ă pia se encaminhou.Da vela benta que ardera,
Como tranqĂĽilo fanal,
Umas lágrimas de cera
CaĂam no castiçal.Ela porĂ©m nĂŁo vertia
Uma lágrima sequer.
Tinha a fé, — a chama a arder, —
Chorar Ă© que nĂŁo podia.
Os Sobreviventes
Quando todos imaginavam a vida sem sentido
chegaram de manhĂŁ os sobreviventes,
e levantaram suas moradas, estiveram no rio,
procuravam o rebanho disperso, preparavam
o alimento, cantavam, derramavam
o suor nos campos, faziam fogo Ă noite
rememoravam o corpo de suas mulheres,
despachavam os barcos, pela manhĂŁ.
As chuvas eram sempre bem-vindas,
as chuvas levantavam o pĂł da terra
e enchiam de confiança a face da vida.
As mulheres viam nascer dentro de si
um novo rebento, os seus ventres cresciam.
Nenhum sinal de confiança quando as mulheres
apareciam de ventre crescido.
Os dias eram os mesmos, a esperança
e a desesperança eram as mesmas.
Não há esperança sem medo, assim como não há medo sem esperança.
Trabalho distrai a vaidade, engana a falta de poder e traz a esperança de um bom evento.
Luto pela Bondade
Quero viver num mundo sem excomungados. NĂŁo excomungarei ninguĂ©m. NĂŁo diria, amanhĂŁ, a esse sacerdote: «VocĂŞ nĂŁo pode baptizar ninguĂ©m porque Ă© anticomunista.» NĂŁo diria ao outro: «NĂŁo publicarei o seu poema, o seu trabalho, porque vocĂŞ Ă© anticomunista.» Quero viver num mundo em que os seres sejam simplesmente humanos, sem mais tĂtulos alĂ©m desse, sem trazerem na cabeça uma regra-, uma palavra rĂgida, um rĂłtulo. Quero que se possa entrar em todas as igrejas, em todas as tipografias. Quero que nĂŁo esperem ninguĂ©m, nunca mais, Ă porta do municĂpio para o deter e expulsar. Quero que todos entrem e saiam sorridentes da Câmara Municipal. NĂŁo quero que ninguĂ©m fuja em gĂ´ndola, que ninguĂ©m seja perseguido de motocicleta. Quero que a grande maioria, a Ăşnica maioria, todos, possam falar, ler, ouvir, florescer. Nunca compreendi a luta senĂŁo como um meio de acabar com ela. Nunca aceitei o rigor senĂŁo como meio para deixar de existir o rigor. Tomei um caminho porque creio que esse caminho nos leva, a todos, a essa amabilidade duradoura. Luto pela bondade ubĂqua, extensa, inexaurĂvel. De tantos encontros entre a minha poesia e a polĂcia, de todos esses episĂłdios e de outros que nĂŁo contarei porque repetidos,
Mesmo que as esperanças que criaste sejam frustradas, a esperança tem que ser mantida.