Conquista e Governação
Quando os estados que se conquistam têm a tradição de viver segundo as suas leis e em liberdade, para a sua conservação existem três opções: a primeira é a sua destruição; a segunda é ir para lá viver o príncipe conquistador; e a terceira consiste em deixá-los viver de acordo com as suas leis, mas exigindo-lhes um tributo e criando no seu seio uma oligarquia que vos garanta a sua fidelidade. Porque, sendo este novo poder uma criação daquele príncipe, sabem os seus mandatários que não podem sobreviver sem a sua amizade e apoio, tudo havendo de fazer para manter o novo regime. E mais facilmente se conserva uma cidade habituada a viver livre através do consenso dos seus cidadãos do que de qualquer outro modo.
(…) Na verdade, o único modo seguro de conservar uma cidade conquistada é a sua destruição. Quem se torna senhor de uma cidade habituada a viver livre e a não desfaça, pode preparar-se para ser por ela desfeito, porque sempre encontrarão grande receptividade no seio da rebelião a recordação da liberdade e das antigas instituições, as quais nem pela acção do tempo nem pela concessão de benesses se apagarão da sua memória. O que quer que se faça ou se disponha,
Passagens sobre Fidelidade
68 resultadosDizer amizade é dizer entendimiento, confiança rapida e larga memória; é dizer, fidelidade.
Os objectos são os amigos que nem o tempo, nem a beleza, nem a fidelidade conseguem alterar.
O nome de amigo é comum, mas a sua fidelidade é rara.
Muitas pessoas têm uma ideia errada daquilo que constitui a verdadeira felicidade. Esta não é atingida através da auto-gratificação mas sim através da fidelidade a um propósito digno.
O Preço da Imagem
Não nos contentamos com a vida que temos em nós. Queremos viver na ideia dos outros, de uma vida imaginária. Esforçamo-nos por parecer tais quais somos. Fazemos por conservar aquele ser imaginário, que não é outro senão o verdadeiro. Se tivermos generosidade, fidelidade, apressamo-nos a não o dar a conhecer, para ligarmos as suas virtudes a esse ser. Somos valentes para adquirir a reputação de que não somos poltrões. É um sinal da capacidade do nosso ser o de não estar satisfeito com uma coisa sem a outra, o de não renunciar nem a uma nem a outra. O homem que não vivesse para conservar a sua virtude seria infame.
A fidelidade aos amigos era antes resultado do costume que da consistência dos afetos.
Ao Lado do Ofício de Mandar Deve Andar o de Sugerir
Ninguém pode mandar só, se houver de mandar como convém. Ao lado do ofício de mandar, deve andar sempre o ofício de sugerir, ou como companheiro, ou como instrumento inseparável. A obrigação e exercício deste segundo e tão importante ofício, é o que significa a mesma palavra sugerir; que vem a ser, lembrar, advertir, inspirar, aconselhar, conferir, persuadir, despertar, instar. Os talentos que para o mesmo ofício se requerem, são maiores e mais relevantes: grande entendimento, grande compreensão, grande juízo, grande conselho, grande zelo, grande fidelidade, grande vigilância, grande cuidado, grande valor. As disposições e os meios com que se exercita, ainda são de mais altas e mais interiores prerrogativas: suma comunicação, suma confiança, íntima amizade, íntima familiaridade, íntimo amor; e não só perfeita união, senão ainda unidade. De sorte que os dous sujeitos em que concorrerem estes dous ofícios, de tal maneira hão-de ser dous, que verdadeiramente sejam um: de tal maneira hão-de ser diversos, que verdadeiramente sejam o mesmo. Há-se de multiplicar neles o número, mas não se há-de dividir a unidade.
Muitas pessoas têm a ideia errada do que constitui a felicidade verdadeira. Ela não é alcançada através da auto-satisfação, mas através da fidelidade a um propósito digno.
A Realidade Histórica é Equívoca e Inesgotável
O historiador pertence ao devir que descreve. Está situado após os acontecimentos, mas na mesma evolução. A ciência histórica é uma forma de consciência que uma comunidade toma de si mesma, um elemento da vida colectiva, como o conhecimento de si um aspecto da consciência pessoal, um dos factores do destino individual. Não é ela função simultaneamente da situação actual, que por definição muda com o tempo, e da vontade que anima o sábio, incapaz de se destacar de si mesmo e do seu objecto?
Mas, por outro lado, ao contrário, o historiador busca penetrar a consciência de outrem. É, em relação ao ser histórico, o outro. Psicólogo, estratega ou filósofo, observa sempre do exterior. Não pode nem pensar o seu herói, como este se pensa a si mesmo, nem ver a batalha como o general a viu ou viveu, nem compreender uma doutrina do mesmo modo que o criador.
Finalmente, quer se trate de interpretar um acto ou uma obra, devemos reconstuí-los conceptualmente. Ora nós temos sempre de escolher entre múltiplos sistemas, pois a ideia é ao mesmo tempo imanente e transcendente à vida: todos os monumentos existem por eles mesmos num universo espiritual, a lógica jurídica e económica é interna à realidade social e superior à consciência individual.
Tango do Viúvo
Tive dificuldades na minha vida privada. A doce Josie Bliss foi-se convencendo e apaixonando até adoecer de ciúmes. Se não fosse isso, talvez tivesse continuado indefinidamente ao lado dela. Enterneciam-me os seus pés nus, as brancas flores que lhe brilhavam na cabeleira negra. Mas o seu temperamento levava-a até paroxismos selvagens. Tinha ciúmes e aversão às cartas que me chegavam de longe; escondia-me os telegramas sem os abrir, olhava com rancor o ar que eu respirava.
Por vezes acordava-me uma luz, um fantasma que se movia por detrás da rede do mosquiteiro. Era ela, vestida de branco, brandindo o seu longo e afiado punhal indígena. Era ela, rondando-me a cama horas inteiras sem se decidir a matar-me. «Quando morreres, acabarão os meus receios», dizia-me. No dia seguinte realizava misteriosos ritos para garantir a minha fidelidade.
Acabaria por me matar. Por sorte, recebi uma mensagem oficial participando-me que fora transferido para Ceilão. Preparei a minha viagem em segredo e um dia, abandonando a minha roupa e os meus livros, saí de casa como de costume e entrei no barco que me levaria para longe.
Deixava Josie Bliss, espécie de pantera birmanesa, na maior dor. Mal o barco começou a mover-se sobre as ondas do golfo de Bengala,
A fidelidade, na maior parte dos homens, não é mais que a invenção do amor-próprio para atrair a confiança. É uma maneira de nos elevarmos acima dos outros e de nos tornarmos depositários das coisas mais importantes.
Posse II
Ele —
Seduzir o cotidiano pelo corpo.
Penetrá-lo deste brilho longo,
compacto,
onde o cansaço não é tédio
mas úmido intervalo.A paisagem não sustenta
mais os olhos; estrelas
despojaram-se dos monólogos,
a flor voltou a si, não mais
dizer exausto, a primavera guardou
sua intimidade no discurso
das árvores, e o amor,
esgarçado de imagens,
procurou outro equilíbrio
além da frase, de um silêncio
a outro.Nem sempre a paz levou-nos
a suas tácitas paragens:
a liberdade aspirou um ser estranho,
em que de novo nos olhássemos.No corpo prosseguimos
onde o amor parava.
E inventamos. Sem palavras
tornamos nossa a carne da manhã,
a exaurir o tempo, sem fidelidade
alguma, no dia imprevisível,
além do nosso invento.
Não há Casamento com Luxúria
No casamento a revitalização da luxúria só pode ser conseguida enfraquecendo e destruindo os seus laços. Quero dizer, amantes. É por isso que a luxúria se torna um pecado, pois está destinada a morrer, e se ainda se acende isso só acontece por causa das mulheres fora do casamento. É assim que chegamos à ideia original de pecado quando a luxúria é a inimiga do amor. A cópula entre marido e mulher não é pecaminosa porque é feita sem luxúria. Todos os casos extraconjugais são luxuriosos e por isso pecaminosos. Assim, todas as tentativas de reavivar a luxúria no casamento são más, incluindo o afastamento.
Porque reacender a luxúria por um curto período ameaça um casamento, sujeitando a esposa à tentação de adultério na separação. O casamento foi criado para destruir a paixão embora a princípio atraia com paixão. Calcar a paixão com a paixão.
O casamento seduz com a legitimidade e com a disponibilidade da luxúria. Ao fazermos o juramento de fidelidade, não suspeitamos que estamos também a renunciar à luxúria. O casamento foi criado para distrair as pessoas da luxúria com a ajuda da luxúria. Por isso, para bem de um casamento forte, tem se aguentar o seu desaparecimento.
O preço da fidelidade é a eterna vigilância.
Se há uma coisa que destrua a personalidade, essa coisa é a fidelidade às promessas; talvez também o gosto pela verdade.
Ó musas, com o vosso alto engenho, ajudai-me;
ó memória, que escreveste o que vi,
que se prove aqui a tua fidelidade.
O Que se Pode Prometer
Pode-se prometer acções, mas não sentimentos, pois estes são involuntários. Quem promete a alguém amá-lo sempre, ou odiá-lo sempre, ou ser-lhe sempre fiel, promete algo que não está em seu poder; mas o que pode perfeitamente prometer são aquelas acções que, na verdade, são geralmente as consequências do amor, do ódio, da fidelidade, mas que também podem emanar de outras razões, pois a uma acção conduzem diversos caminhos e motivos. A promessa de amar sempre alguém significa, portanto: enquanto eu te amar, manifestar-te-ei as acções do amor; se eu já não te amar, pois, não obstante, receberás para sempre de mim as mesmas acções, ainda que por outros motivos. De modo que a aparência de que o amor estaria inalterado e continuaria sendo o mesmo permanece na cabeça das outras pessoas. Promete-se, por conseguinte, a persistência da aparência do amor, quando, sem ilusão, se promete a alguém amor perpétuo.
Muitas pessoas têm uma ideia errada sobre o que constitui a verdadeira felicidade. Ela não é alcançada por meio de gratificação pessoal, mas através da fidelidade a um objetivo que valha a pena.
A Fidelidade
As pessoas realmente frívolas são as que só amam uma vez na vida. O que elas chamam lealdade ou fidelidade, chamo eu letargia do hábito ou falta de imaginação. A fidelidade representa na vida emocional o mesmo que a coerência na vida do intelecto, apenas uma confissão de impotência. A fidelidade! Tenho de a analisar um destes dias. Está intimamente associada à paixão da propriedade. Há muitas coisas que atiraríamos fora se não receássemos que outros as apanhassem.