Sonhos Prometedores
Tenho mais pena dos que sonham o provável, o legĂtimo e o prĂłximo, do que dos que devaneiam sobre o longĂnquo e o estranho. Os que sonham grandemente, ou sĂŁo doidos e acreditam no que sonham e sĂŁo felizes, ou sĂŁo devaneadores simples, para quem o devaneio Ă© uma mĂşsica da alma, que os embala sem lhes dizer nada. Mas o que sonha o possĂvel tem a possibilidade real da verdadeira desilusĂŁo. NĂŁo me pode pesar muito o ter deixado de ser imperador romano, mas pode doer-me o nunca ter sequer falado Ă costureira que, cerca da nove horas, volta sempre a esquina da direita. O sonho que nos promete o impossĂvel já nisso nos priva dele, mas o sonho que nos promete o possĂvel intromete-se com a prĂłpria vida e delega nela a sua solução. Um vive exclusivo e independente; o outro submisso das contingĂŞncias do que acontece.