Soneto Ć  Rendeira

O linho é uma oração remota, nesse
fluir fabril de fio para a flor.
Move-se o coração da moça, e esquece
o tempo prisioneiro, em derredor

da sombra esguia que Ć  almofada tece.
Move-se, em seu afã modelador
de paz, o mito imemorial da prece
que do limbo da morte inventa o amor.

Movem-se dentro dela o sol e o vento.
Move-se o mar, e os pórticos se movem
das Ć”guas em perpĆ©tuo movimento…

Move-se a gĆŖnese em seu corpo jovem.
E, enquanto o olhar medita, os dedos tecem
gestos de amor que os lÔbios não conhecem.