Desejos morrem diante das perdas e contrariedades, sonhos criam raízes nas dificuldades.
Recentes
A lamber ninguém engorda.
A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar…
Grandes homens! Quereis ter razão amanhã? Morrei hoje!
Não há nada bom ou nada mau, mas o pensamento o faz assim.
O avarento gostaria que o sol fosse de ouro para poder amoedá-lo.
Não sabe mandar, quem não sabe obedecer.
O homem, antes de tudo, é poeta, por mais gordo ou adaptado à rotundidade planetária; e depois é pedagogo, aferidor de pesos e medidas, engenheiro, deputado e outras deformidades sociais.
Amar é querer estar perto, se longe; e mais perto, se perto.
As aspirações de cada época são limitadas: daí a ilusão do progresso.
Todo velho é um moço que se recusa a envelhecer.
– Vamos descobrir um tesouro naquela casa? – Mas não há nenhuma casa… – Então vamos construí-la !
Buscar e aprender, na realidade, não são mais do que recordar.
Uma coisa não é justa porque é lei, mas deve ser lei porque é justa.
Só se mata bem o que se ama.
E assim prosseguimos, botes contra a corrente, impelidos incessantemente para o passado.
Ao dizer algo de condensado sobre a realidade, aproximamo-nos já do sonho, ou antes, da poesia.
Coração ofendido não ama.
Cantiga de Amigo
Nem um poema nem um verso nem um canto
tudo raso de ausência tudo liso de espanto
e nem Camões Virgílio Shelley Dante
– o meu amigo está longe
e a distância é bastante.Nem um som nem um grito nem um ai
tudo calado todos sem mãe nem pai
Ah não Camões Virgílio Shelley Dante!– o meu amigo está longe
e a tristeza é bastante.Nada a não ser este silêncio tenso
que faz do amor sozinho o amor imenso.
Calai Camões Virgílio Shelley Dante:
o meu amigo está longe
e a saudade é bastante!
Dormindo
De qual de vós desceu para o exílio do mundo
A alma desta mulher, astros do céu profundo?
Dorme talvez agora… Alvíssimas, serenas,
Cruzam-se numa prece as suas mãos pequenas.
Para a respiração suavíssima lhe ouvir,
A noite se debruça… E, a oscilar e a fulgir,
Brande o gládio de luz, que a escuridão recorta,
Um arcanjo, de pé, guardando a sua porta.
Versos! podeis voar em torno desse leito,
E pairar sobre o alvor virginal de seu peito,
Aves, tontas de luz, sobre um fresco pomar…
Dorme… Rimas febris, podeis febris voar…
Como ela, num livor de névoas misteriosas,
Dorme o céu, campo azul semeado de rosas;
E dois anjos do céu, alvos e pequeninos,
Vêm dormir nos dois céus dos seus olhos divinos…
Dorme… Estrelas, velai, inundando-a de luz!
Caravana, que Deus pelo espaço conduz!
Todo o vosso dano nesta pequena alcova
Sobre ela, como um nimbo esplêndido, se mova:
E, a sorrir e a sonhar, sua leve cabeça
Como a da Virgem Mie repouse e resplandeça!