Passagens sobre Pais

498 resultados
Frases sobre pais, poemas sobre pais e outras passagens sobre pais para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Perdi meu pai…

Perdi meu pai, minha mãe. Estou só,
ninguém me escuta,
senão quando querem dar
os restos que ninguém quer.

Pobre de pobre, só tenho
os restos que ninguém quer.

O Tempo Vale Muito Mais do que o Dinheiro

Perder tempo não é como gastar dinheiro. Se o tempo fosse dinheiro, o dinheiro seria tempo.
Não é. O tempo vale muito mais do que o dinheiro. Quando morremos, acaba-se o tempo que tivemos. Quando morremos, o que mais subsiste e insiste é a quantidade de coisas que continuam a existir, apesar de nós.
O nosso tempo de vida é a nossa única fortuna. Temos o tempo que temos. Depois de ter acabado o nosso tempo, não conseguimos comprar mais. Quando morreu o meu pai, foi-se com ele todo o tempo que ele tinha para passar connosco. As coisas dele ficaram para trás. Sobreviveram. Eram objectos. Alguns tinham valor por fazer lembrar o tempo que passaram com ele – a régua de arquitecto naval, os relógios – quando ele tinha tempo.
As pessoas dizem «time is money» para apressar quem trabalha. A única maneira de comprar tempo é de precisar de menos dinheiro para viver, para poder passar menos tempo a ganhá-lo. E ficar com mais tempo para trabalhar no que dá mais gosto e para ter o luxo indispensável de poder perder tempo, a fazer ninharias e a ser-se indolente.
A ideologia dominante de aproveitar bem o tempo impede-nos de perder esses tempos.

Continue lendo…

A Culpa é Sempre Nossa

Sempre admirei aqueles que nos fazem sentir culpados do que dantes nos julgáramos inocentes. A culpa é uma riqueza, à qual se vai acrescentando. O resultado oscila entre a lista telefónica e as Obras Completas mas pesa sempre.
Os grandes mestres são os nossos pais e os nossos filhos – ambos mostram de onde veio a inspiração para o pecado original. Ora se é culpado por ter nascido e interrompido, ora se é culpado por ter dado a nascer e não se ter interrompido tanto quanto precisariam os nascidos.A culpa não é uma coisa que se tenha, como um pescoço. É uma coisa que se transmite, como uma gripe. Tanto faz ser-se inocente ou culpado «à partida», que tem aspas porque não existe. Os malvados constipam-se tanto como os bonzinhos. Mas ambos são vulneráveis à ideia que até fizeram por isso e merecem pagar.Até com as lâmpadas de casa de banho acontece. Não há domínio de banalidade que a culpa não contamine. Tenho passado, nos últimos anos, várias semanas, dispersas no tempo, sem luz na casa de banho. Uso pilhas e a luz da lua, quando é oferecida.Depois aparece o electricista que é afoito e resolve tudo num segundo.

Continue lendo…

Ignoto Deo

Desisti de saber qual é o Teu nome,
Se tens ou não tens nome que Te demos,
Ou que rosto é que toma, se algum tome,
Teu sopro tão além de quanto vemos.

Desisti de Te amar, por mais que a fome
Do Teu amor nos seja o mais que temos,
E empenhei-me em domar, nem que os não dome,
Meus, por Ti, passionais e vãos extremos.

Chamar-Te amante ou pai… grotesco engano
Que por demais tresanda a gosto humano!
Grotesco engano o dar-te forma! E enfim,

Desisti de Te achar no quer que seja,
De Te dar nome, rosto, culto, ou igreja…
– Tu é que não desistirás de mim!

Família, tu és a morada de todos os vícios da sociedade; tu és a casa de repouso das mulheres que amam as suas asas, a prisão do pai de família e o inferno das crianças.

Câmara Escura

A meu pai

3

A biografia. Revejo-a em tecidos
fibrosos, retraindo-se. É já visível
a anquilose o vento austero
disperso pelos gestos, mais lentos

e difíceis. A migração das aves
inicia-se. Junto à costa
atlântica, falava-me do tempo, a viração
nefasta, o nevoeiro

poroso, sobre os ossos. Era o período
de estado: rajadas cubitais, golpes
de vento, as migrações da dor, articulares…
As metáforas clínicas. Procura,

apesar disso, algum sossego. Invoca ainda
o elemento natal, o livro prematuro
do inverno. E a dureza da neve,
os domínios do gelo, imprevisíveis.

Com as chuvas de abril, a migração
atinge órgãos vitais. A violência
perdida pelos móveis, nas janelas
translúcidas, no rumo vagaroso

da voz. Vigia os gestos, os indícios de
pânico, a previsível eclosão
da crise. Deformações, desvio dos
dedos no lado cubital, arthritis

– o peso das noções.
Endurecem os sons, as linhas vistas
até ao declínio, o vento imóvel
semeado nos campos. Todo o regresso

persiste na matéria: os vários
motores de frio,

Continue lendo…

O século 30 vencerá! Ressuscita-me para que ninguém mais tenha que sacrificar-se por uma casa, um buraco. Ressuscita-me para que o Pai seja ao menos o Universo e a Mãe, no mínimo a Terra.

Baladas Românticas – Negra…

Possas chorar, arrependida,
Vendo a saudade que aqui vai!
Vê que inda, negro, da ferida
Aos borbotões o sangue cai…
Que a nossa história, assim relida,
O nosso amor, lembrado assim,
Possam fazer-te, comovida,
Inda uma vez pensar em mim!

Minh’alma pobre e desvalida,
Órfã de mãe, órfã de pai,
Na escuridão vaga perdida,
De queda em queda e de ai em ai!
E ando a buscar-te. E a minha lida
Não tem descanso, não tem fim:
Quanto mais longe andas fugida,
Mais te vejo eu perto de mim!

Louco! e que lúgubre a descida
Para a loucura que me atrai!
– Terríveis páginas da vida,
Escuras páginas, – cantai!
Vim, ermitão, da minha ermida,
Morto, do meu sepulcro vim,
Erguer a lápida caída
Sobre a esperança que houve em mim!

Revivo a mágoa já vivida
E as velhas lágrimas… a fim
De que chorando, arrependida,
Possas lembrar-te inda de mim!

Estou muito à vontade, e gosto disso. Nunca pensei que viesse a ser um tipo orientado para a família, nunca pensei que fizesse parte da minha maquilhagem. Mas alguém disse que quando ficamos mais velhos tornamo-nos na pessoa que sempre deveríamos ter sido, e eu acho que é isso que me está a acontecer. Estou mesmo surpreendido com quem eu sou, porque estou realmente parecido com o meu pai!

Os filhos são educados como se fossem ficar toda a vida filhos, sem nunca se pensar que eles se tornarão em pais.