A expulsão do paraíso, no seu principal aspecto, é eterna. É verdade também que essa expulsão é definitiva e a vida no mundo, inevitável; mas, apesar disso, a eternidade do processo torna possível não só que continuemos continuamente no paraíso, como também que, na realidade, estejamos lá de forma duradoura, não importa se aqui temos ou não conhecimento disso.
Passagens sobre Principais
186 resultadosConsistência Irreal
A principal diferença entre as pessoas reais e as figuras inventadas pelos escritores é a que resulta do facto de estes fazerem todos os esforços para darem às figuras coerência e unidade interior, ao passo que as pessoas vivas podem ir, na incoerência, até ao extremo, dado que o físico lhes mantém a consistência.
A Sabedoria das Facções
Muita gente tem uma nova sabedoria, também chamada uma opinião apaixonada, de que, para um príncipe governar o seu Estado, ou para uma alta personalidade conduzir os seus processos, a principal parte da habilidade consiste em obter a concordância das facções. Quando, pelo contrário, a principal sabedoria está em ordenar as coisas que são de interesse geral, e acerca das quais os homens das diversas facções nunca concordam, ou em resolvê-las mediante consulta privativa a cada pessoa. Não digo, porém, que a consideração das facções seja para desprezar. Os homens fracos devem aderir, mas os grandes homens, que têm valor por si próprios, farão melhor em manterem-se indiferentes ou neutrais perante as facções; todavia, até mesmo para os principiantes, o melhor caminho que lhes é dado é o de aderirem tão moderadamente quanto possível a uma facção para serem tolerados pela outra.
A facção menos numerosa e mais fraca é a mais firme na sua condição. Quando uma facção se extingue, o remanescente subdivide-se, o que é bom para a outra. Observa-se geralmente que muitos homens, uma vez bem colocados, passam para a facção contrária daquela em que haviam entrado. O traidor à sua facção geralmente progride com tal acto,
As Leis da Consciência Nascem do Hábito
As leis da consciência, que dizemos nascerem naturalmente, nascem do hábito; toda a pessoa, venerando intimamente as ideias e costumes aprovados e aceites ao seu redor, não pode desligar-se deles sem remorso nem se aplicar neles sem aplauso.
(…) Mas o principal efeito do seu poder é apoderar-se de nós e prender-nos nas suas garras de tal forma que mal nos conseguimos libertar do seu jugo e voltar a nós para reflectirmos e raciocinarmos sobre as suas ordens. Na verdade, porque o ingerimos com o leite do nosso nascimento, e porque a face do mundo se apresenta nesse estado ao nosso primeiro olhar, parece que nascemos para seguir esse procedimento. E as ideias comuns que vemos ser respeitadas ao nosso redor e infundidas na nossa alma pela semente dos nossos pais parecem ser as gerais e naturais.
Disso advém que o que está fora dos gonzos do costume, julgamo-lo fora dos gonzos da razão – Deus sabe quão desarrazoadamente, quase sempre.
Uma Boa Conversa
Há homens que, nas suas conversas, mais desejam dominar pela habilidade de sustentar todos os argumentos do que pelo juízo, discernindo o que é verdadeiro do que o não é; como se houvesse mérito em saber o que pode ser dito e não o que deveria ser pensado. Alguns têm certos lugares comuns e temas particulares em que brilham, mas falta-lhes variedade; espécie de pobreza que é geralmente aborrecida e, quando descoberta, ridícula. A parte mais honrosa da conversa consiste em propor novo assunto, e, a seguir, consiste em moderá-lo para que se transite para outro, como quem dirige o baile. É bom no decurso ou nas alterações da conversa, variar e mesclar com tópicos gerais o assunto principal; com discussões e narrativas; com referência a opiniões as respostas e perguntas; com o jocoso e o sério; porque é insensato cansar, ou, como agora se diz, esgotar o assunto na conversa.
Existem dois principais pecados humanos a partir dos quais derivam todos os outros: impaciência e indiferença. Por causa da impaciência fomos expulsos do Paraíso, por causa da indiferença não podemos voltar.
O característico principal do homem que nasceu para mandar é que sabe mandar em si mesmo.
Eu ainda preciso de mais descanso saudável para trabalhar no meu máximo. Minha saúde é meu capital principal e eu tenho e quero administrá-la inteligentemente.
O Prazer da Conversação
O tipo de bem-estar proporcionado por uma conversação animada não consiste propriamente no assunto da conversação; nem as idéias nem os conhecimentos que ali podem ser desenvolvidos são o seu principal interesse. Importa uma certa maneira de agir uns sobre os outros, de ter um prazer recíproco e rápido, de falar tão logo se pense, de comprazer-se imediatamente consigo mesmo, de ser aplaudido sem esforço, de manifestar o seu espírito em todas as nuances pela entoação, pelo gesto, pelo olhar, enfim, de produzir à vontade como que uma espécie de electricidade que solta faíscas, aliviando uns do próprio excesso da sua vivacidade e despertando outros de uma apatia dolorosa. (…) Bacon disse que “a conversação não era um caminho que conduzia à casa, mas uma vereda por onde se passeava prazerosamente ao acaso”.
Nunca Confiar Demais
Nenhum homem acredita piamente em nenhum outro homem. Pode-se acreditar piamente numa ideia, mas não num homem. No mais alto grau de confiança que ele pode despertar, haverá sempre o aroma da dúvida – uma sensação meio instintiva e meio lógica de que, no fim das contas, o vigarista deve ter um ás escondido na manga. Esta dúvida, como parece óbvio, é sempre mais do que justificada, porque ainda não nasceu o homem merecedor de confiança ilimitada – a sua traição, no máximo, espera apenas por uma tentação suficiente. O problema do mundo não é o de que os homens sejam muito suspeitos neste sentido, mas o de que tendem a ser confiantes demais – e de que ainda confiam demais em outros homens, mesmo depois de amargas experiências. Acredito que as mulheres sejam sabiamente menos sentimentais, tanto nisto como em outras coisas. Nenhuma mulher casada põe a mão no fogo por seu marido, nem age com se confiasse nele. A sua principal certeza assemelha-se à de um batedor de carteiras: a de que o guarda que o apanhou poderá ser subornado.
Queremos Homens Completos ou Meros Cidadãos?
A educação actual e as actuais conveniências sociais premeiam o cidadão e imolam o homem. Nas condições modernas, os seres humanos vêm a ser identificados com as suas capacidades socialmente valiosas. A existência do resto da personalidade ou é ignorada ou, se admitida, é admitida somente para ser deplorada, reprimida ou, se a repressão falhar, sub-repticiamente rebuscada. Sobre todas as tendências humanas que não conduzem à boa cidadania, a moralidade e a tradição social pronunciam uma sentença de banimento. Três quartas partes do Homem são proscritas. O proscrito vive revoltado e comete vinganças estranhas. Quando os homens são criados para serem cidadãos e nada mais, tornam-se, primeiro, em homens imperfeitos e depois em homens indesejáveis.
A insistência nas qualidades socialmente valiosas da personalidade, com exclusão de todas as outras, derrota finalmente os seus próprios fins. O actual desassossego, descontentamento e incerteza de propósitos testemunham a veracidade disto. Tentámos fazer homens bons cidadãos de estados industriais altamente organizados: só conseguimos produzir uma colheita de especialistas, cujo descontentamento em não serem autorizados a ser homens completos faz deles cidadãos extremamente maus. Há toda a razão para supor que o mundo se tornará ainda mais completamente tecnicizado, ainda mais complicadamente arregimentado do que é presentemente;
O Amor é a Nossa Essência Primordial
Teria a vida algum encanto sem o amor? Acredito que o amor é o mistério invisível que nos envolve. Tal como escreveu o grande poeta indiano Rabindranath Tagore: «O amor não é um mero impulso. Deve conter a verdade, que é a lei.» Nem todos nós somos capazes de o exprimir por palavras tão eloquentes mas a intensidade do nosso desejo de amar e de sermos amados é uma característica exclusivamente humana.
Na sua forma mais elevada, o amor transforma a nossa natureza. Gera ternura e afeto. Substitui a raiva pela compaixão. Quando as pessoas procuram o meu conselho, o amor e os relacionamentos são o principal tema das questões que me colocam. Repare bem: a paixão talvez seja a experiência mais profunda que qualquer um de nós poderá viver – mas também a mais enigmática. Porque será o amor tão doloroso quando nos proporciona tamanho êxtase? O que o tornará tão extremo ao ponto de se transformar em ódio e ciúme quando nos sentimos traídos?
No nosso dia a dia confrontamo-nos com toda a espécie de pequenos imprevistos mas, no que diz respeito ao amor, a nossa própria vida parece estar em jogo. Os nossos relacionamentos amorosos e os laços de família são as forças mais poderosas que influenciam a nossa vida.
O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram.
Não perguntes; a acção é a coisa principal.
Tenho vivido moderadamente, comendo pouca comida animal, sendo esta não tanto como ingrediente mas sim como condimento para os vegetais, que constituem a minha principal dieta.
Todos os animais, com exceção do homem, sabem que o principal objetivo da vida é usufruí-la.
Concentração de Poder
A maioria das pessoas não faz ideia da enorme capacidade que conseguimos invocar imediatamente quando concentramos todos os nossos recursos em dominar uma única área das nossas vidas. A concentração controlada é como um raio laser capaz de cortar qualquer coisa que pareça estar a ser um impedimento para si. Quando nos concentramos consistentemente em melhorar uma determinada área, desenvolvemos distinções únicas sobre como tornar essa área melhor. Um motivo por que tão poucos de nós alcançam o que realmente desejam é que nunca direcionamos a nossa concentração; nunca concentramos a nossa energia. A maioria das pessoas improvisa ao longo da vida, sem nunca decidir dominar uma área específica. Na verdade, acredito que a maioria das pessoas falha na vida simplesmente porque se especializa em coisas menores. Acredito que uma das principais lições da vida é aprender a entender o que nos leva a fazer o que fazemos.
O mais influente – Que um homem resista à totalidade da sua época, que a faça deter à porta e a obrigue a prestar contas, eis o que exerce forçosamente influência! Que ele o queira, importa pouco; que ele o possa, eis o ponto principal.
A Ideia de Moral Universal
Muito antes de o homem estar maduro para ser confrontado com uma atitude moral universal, o medo dos perigos da vida levaram-no a atribuir a vários seres imaginários, não palpáveis fisicamente, o poder de libertar as forças naturais que temia ou talvez desejasse. E ele acreditava que esses seres, que dominavam toda a sua imaginação, eram feitos fisicamente à sua imagem, mas eram dotados de poderes sobre-humanos. Estes foram os precursores primitivos da ideia de Deus. Nascidos inicialmente dos medos que enchiam a vida diária dos homens, a crença na existência de tais seres, e nos seus poderes extraordinários, teve uma influência tão forte nos homens e na sua conduta que é difícil de imaginar por nós. Por isso, não surpreende que aqueles que se empenharam em estabelecer a ideia de moral, abarcando igualmente todos os homens, o tenham feito associando-a intimamente à religião. E o facto de estas pretensões morais serem as mesmas para todos os homens pode ter tido muito a ver com o desenvolvimento da cultura religiosa da espécie humana desde o politeísmo até ao monoteísmo.
A ideia de moral universal deve, assim, a sua potência psicológica original àquela ligação com a religião. No entanto, noutro sentido,
A Poesia não se Inventou para Cantar o Amor
A poesia não se inventou para cantar o amor — que de resto não existia ainda quando os primeiros homens cantaram. Ela nasceu com a necessidade de celebrar magnificamente os deuses, e de conservar na memória, pela sedução do ritmo, as leis da tribo. A adoração ou captação da divindade e a estabilidade social, eram então os dois altos e únicos cuidados humanos: — e a poesia tendeu sempre, e tenderá constantemente a resumir, nos conceitos mais puros, mais belos e mais concisos, as ideias que estão interessando e conduzindo os homens. Se a grande preocupação do nosso tempo fosse o amor — ainda admitiríamos que se arquivasse, por meio das artes da imprensa, cada suspiro de cada Francesca. Mas o amor é um sentimento extremamente raro entre as raças velhas e enfraquecidas. Os Romeus, as Julietas (para citar só este casal clássico) já não se repetem nem são quase possíveis nas nossas democracias, saturadas de cultura, torturadas pela ansia do bem-estar, cépticas, portanto egoístas, e movidas pelo vapor e pela electricidade. Mesmo nos crimes de amor, em que parece reviver, com a sua força primitiva e dominante, a paixão das raças novas, se descobrem logo factores lamentavelmente alheios ao amor,