Passagens sobre Psicologia

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Moral para Psicólogos

Não cultivar uma psicologia de bisbilhoteiro! Nunca observar só por observar! Isso provoca uma óptica falsa, uma perspectiva vesga, algo que resulta forçado e que exagera as coisas. O ter experiências, quando é um querer-ter-experiências, — não resulta bem. Na experiência não é lícito olhar para si mesmo, todo o olhar se converte então num «mau-olhado». Um psicólogo nato guarda-se, por instinto, de ver por ver; o mesmo se pode dizer do pintor nato. Este não trabalha jamais «segundo a natureza», encomenda ao seu instinto, à sua câmara escura o crivar e exprimir o «caso», a «natureza», o «vivido»… Até à sua consciência chega só o universal, a conclusão, o resultado: não conhece esse arbitrário abstrair do caso individual. — Que é que resulta quando se procede de outro modo? Quando se cultiva, por exemplo, uma psicologia de bisbilhoteiro, à maneira dos romanciers parisienses, grandes e pequenos? Essa gente anda, por assim dizê-lo, à espreita da realidade, essa gente leva para casa cada noite um punhado de curiosidades… Porém veja-se o que acaba por sair daí — um montão de borrões, um mosaico no melhor dos casos, e de qualquer forma algo que é o resultado da soma de várias coisas,

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Como Nasce o Amor?

Nem eu nem vós sabemos como nasce o amor. Em fisiologia, que é a ciência do homem físico, não se sabe. A psicologia também não diz nada a este respeito. Os romances, que são os mais amplos expositores da matéria, não avançam cousa nenhuma ao que está dito desde Labão e Rachel até á neta do arcediago e o filho de Ricarda.
Dizer que o amor é a sensualidade, além de grosseira definição, é falsidade desmentida pela experiência. Há um amor que não rasteja nunca no raso estrado das propensões orgânicas.
Dizer que o amor é uma operação puramente espiritual é um devaneio de visionários, que trazem sempre as mulheres pelas estrelas, ao mesmo tempo que elas, gravitando materialmente para o centro do globo, comem e bebem á maneira dos mortais, e até das divindades do cantor de Aquiles.
Eu conheço homens, sem faísca de espírito, que se abrazam tocados pelo amor como o fósforo em presença do ar. Eis aqui um fenómeno eminentemente importante. Ele, só, sustenta em tese que o amor não tem nada com o corpo nem com o espirito. Eu creio que é um fluido. É pena, porém, que eu não saiba o que é fluido para me dar aqui uns ares pedantescos,

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Aprender a Ser Feliz

É impossível exigir a estabilidade plena da energia psíquica, pois ela organiza-se, desorganiza-se (caos) e reorganiza-se continuamente. Não existem pessoas que sejam sempre calmas, alegres e serenas. Nem mesmo existem pessoas ansiosas, irritadas e incoerentes permanentemente. Ninguém é emocionalmente estático, a não ser que esteja morto. Devemos reagir e comportar-nos segundo determinado padrão para não sermos instáveis, mas este padrão reflectirá sempre uma emoção flutuante.

A pessoa mais tranquila perderá a paciência. A pessoa mais ansiosa terá momentos de calma. Só os computadores são rigorosamente estáveis. Por isso, eles são lógicos, programáveis e, portanto, de baixa complexidade. Nós, pelo contrário, somos tão complexos que a nossa disposição, humor e interesses mudam com frequência. Devemos estar preparados para enfrentar os problemas internos e externos. Devemos ter consciência de que os problemas nunca vão desaparecer nesta sinuosa e bela existência. Podemos evitar alguns, outros porém são imprevisíveis.

Mas os problemas existem para serem resolvidos e não para nos controlarem. Infelizmente, muitos são controlados por eles. A melhor maneira de ter dignidade diante das dificuldades e dos sofrimentos existenciais é extrair lições deles. Caso contrário, o sofrimento é inútil. Ser feliz, do ponto de vista da psicologia, não é ter uma vida perfeita,

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A Solidão não Constitui Alimento, apenas Jejum

Se não temos aptidão para fazer amigos, remodelemo-nos até consegui-la. A solidão só vale como remédio, como jejum – não constitui alimento; o carácter, como Goethe o viu com tanta clareza, só se forma no tumulto da vida. Se nos tornamos excessivamente introspectivos, estamos na senda da perdição, ainda que o nosso negócio seja a psicologia; olhar com persistência excessiva para dentro de nós mesmos é provocar o desastre do jogador de ténis que conscientemente mede a distância, os ângulos e a força dos golpes, ou como o pianista que pensa nos dedos. Os amigos são necessários, não só porque nos ouvem, como porque se riem para nós; através dos amigos conseguimos um pouco de objectividade, um pouco de modéstia, um pouco de cortesia; com eles também aprendemos as regras da vida, tornando-nos melhores jogadores dos jogos que a compõem.
Se queres ser amado, sê modesto; se queres ser admirado, sê orgulhoso; se queres as duas coisas, usa externamente a modéstia e internamente o orgulho. Mas o próprio orgulho pode ser modesto, raramente se deixando ver, e nunca se deixando ouvir.
Não revelar muita agudeza: os epigramas tornam-se odiosos quando farpeiam fundo a carne; e adoptar como lema o De vivis nil nisi bonum.

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Um Calculador de Improbabilidades

O poeta é
um calculador de improbabilidades limita
a informação quantitativa fornecendo
reforçada informação estésica.
É uma máquina eta-erótica em que as discrepâncias
são a fulgurância da máquina.
A crueldade elegante da máquina resulta da
competição pirotécnica da circulação íntima
e fulgurante do seu maquinismo erótico.
A psicologia do maquinal sabe que basta
que se crie um pólo positivo para que o pólo
negativo surja
ou vice-versa
e as evoluções telecinéticas pela força
das catástrofes desenvolvem suas faculdades
latentes ou absorvem-nas como a esponja absorve
as águas variáveis dos humores
que transforma em polaridade.
O maquinal eta-erótico está em astrogação
curso hipnótico dos polímeros.
Digo com precisão fenomenológica: o maquinal
circula em sua hiperesfera da maneira mais
excêntrica.
Digo e garanto:
o maquinal absolutamente absorve suas águas
variáveis e isso é o seu amplexo.
O maquinal eta-erótico é tu-eu.
O maquinal tu-eu
cuja tarefa árdua não é
definir a verdade está no meio da profusão
dos objectos
e considera o consumo a verdade deslocada
deslocação de grande tonelagem
laboriosa alfaiataria de eros
constante moribunda
e esse opróbrio dispersivo e vexável
indifere a vida esponjosa.

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A Intensidade Sempre Diferente que Caracteriza a Vida

Não posso conceber o homem independente da sua intensidade. Basta ler um tratado de psicologia para sentir quanto as nossas ideias gerais mais penetrantes se deturpam quando queremos empregá-las para compreender os nossos actos. O seu valor desaparece à medida que avançamos na nossa procura, e é então fatal o choque com o incompreensível, com o absurdo, quer dizer com o ponto extremo do particular. A chave deste absurdo não será a intensidade sempre diferente que caracteriza a vida?
Ela é afectada pela nossa vida voluntária, consciente, e pela nossa vida mais oculta, feita de sonhos e de sensações secretas que se desenvolvem em absoluta liberdade. Quer um homem sonhe ser rei ou amante feliz, isso não altera em nada os seus gestos quotidianos; mas se um amor, a cólera, uma paixão ou um choque o desamparam, como gestos de outrem poderão repercutir-se nele com força ou fraqueza, conforme ele estiver exaltado ou deprimido!

A Tirania Individual e a Tirania Colectiva

As divergências de opinião não resultam, como por vezes supomos, das desigualdades de instrução daqueles que as manifestam. Elas notam-se, com efeito, em indivíduos dotados de inteligência e de instrução equivalentes. Disso se convencerá quem percorrer as respostas aos grandes inquéritos colectivos destinados a elucidar certas questões bem definidas.
Entre os inúmeros exemplos fornecidos pela leitura das suas actas, mencionarei apenas um, muito típico, publicado nos Anais de Psicologia do sr. Binet. Querendo informar-se quanto aos efeitos da redução do programa de história da filosofia nos liceus, enviou um questionário a todos os professores incumbidos desse ensino. As respostas foram nitidamente contraditórias, pois uns declaravam desastroso o que os outros julgavam excelente. «Não se compreende», conclui o Sr. Binet com melancolia, «que uma reforma que consterna um professor, pareça excelente a um dos seus colegas. Que lição para eles sobre a relatividade das opiniões humanas, mesmo entre pessoas competentes!».
Contradições da mesma espécie invariavelmente se manifestaram em todos os assuntos e em todos os tempos. Para chegar à acção, o homem teve, entretanto, de escolher entre essas opiniões contrárias. Como operar tal escolha, sendo a razão muito fraca para a determinar?
Somente dois métodos foram descobertos até hoje: aceitar a opinião da maioria ou a de um único,

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O Poder da Indústria Cultural

O poder magnético que sobre os homens exercem as ideologias, embora já se lhes tenham tornado decrépitas, explica-se, para lá da psicologia, pelo derrube objectivamente determinado da evidência lógica como tal. Chegou-se ao ponto em que a mentira soa como verdade, e a verdade como mentira. Cada expressão, cada notícia e cada pensamento estão preformados pelos centros da indústria cultural. O que não traz o vestígio familiar de tal preformação é, de antemão, indigno de crédito, e tanto mais quanto as instituições da opinião pública acompanham o que delas sai com mil dados factuais e com todas as provas de que a manipulação total pode dispor. A verdade que intenta opor-se não tem apenas o carácter de inverosímil, mas é, além disso, demasiado pobre para entrar em concorrência com o altamente concentrado aparelho da difusão.

O Ser entre o Interior e o Exterior

Era um tipo estranho. Digo bem «um tipo». Olho um homem, uma mulher, e nem sempre me é possível tentar sequer abordar-lhe a pessoa por dentro. Porque há indivíduos que irresistivelmente reduzimos a «objectos». São os indivíduos «característicos» com tiques, com uma aparência de traços nítidos. Compreendo a tentação da caricatura: a um olhar sem mistério, os homens são a caricatura do homem. Por isso o romance tem ignorado a outra zona. Ah, escrever um romance que se gerasse nesse ar rarefeito de nós próprios, no alarme da nossa própria pessoa, na zona incrível do sobressalto! Atingir não bem o que se é «por dentro», a «psicologia», o modo íntimo de se ser, mas a outra parte, a que está antes dessa, a pessoa viva, a pessoa absoluta. Um romance que ainda não há… Porque há só ainda romances de coisas – coisas vistas por fora ou coisas vistas por dentro. Um romance que se fixasse nessa iluminação viva de nós, nessa dimensão ofuscante do halo de nós…

A psicologia é uma ciência pela qual tive sempre a maior das desconfianças porque sempre me pareceu uma detestável e condenável intervenção na vida alheia, uma quebra do que existe de mais sagrado, a intimidade espiritual de cada um.

O Desespero de Ser Português

Deus, dá-me força para delinear, para perceber a síntese total da psicologia e da história psicológica da nação portuguesa! Todos os dias os jornais me trazem notícias de factos que são humilhantes, para nós, Portugueses. Ninguém pode conceber como eu sofro com eles. Ninguém pode imaginar o profundo desespero, a enorme dor que perante isto se apodera de mim. Oh, como eu sonho com aquele Marquês de Távora que poderia vir redimir a nação — um salvador, um verdadeiro homem, grande e dominador que nos endireitaria. Mas nenhum sofrimento pode igualar aquele que me leva a perceber que isto não é mais do que um sonho.

Eu nunca sou feliz, nem nos meus momentos egoístas nem nos meus momentos não egoístas. A minha consolação é ler Antero de Quental. Finalmente, em mim, o espírito de Lutero. Oh, como eu compreendo o profundo sofrimento que era o seu.
Devo escrever o meu livro. Tremo de pensar qual possa ser a verdade. Ainda que seja má tenho que escrevê-lo. Queira Deus que a verdade não seja má!
Gostaria de ter escrito isto num melhor estilo, mas a minha capacidade para escrever desapareceu.

A Importância de Dostoievski na Literatura

Os dois grandes monumentos do romance que o século passado (XIX) nos legou, ou seja aqueles em que poderemos reconhecer-nos, foram os erguidos por Tolstoi e por Dostoievski. Mas se a lição do primeiro foi facilmente assimilada, a do segundo levou tempo – e tanto, que só hoje acabámos de entendê-la bem. Significa isto que Tolstoi, com incidências menores de moralização, continua um Balzac, é bem do século XIX. E foi por se pretender à força ligar a esse século também um Dostoievski que ele só tarde se nos revelou, para dominar ainda hoje, diga-se o que se disser, todo o romance europeu. Para usar uma expressão que já usei, não com inteira originalidade, e a que a crítica me ligou, direi que Tolstoi continua o romance-espectáculo e que Dostoievski inaugura o romance-problema.

Dir-se-ia, e com razão, que todo o romance é problema e espectáculo, já que o espectáculo resiste num romance de Kafka ou Dostoievski, e o problema implicita-se numa qualquer narrativa, nem que seja o Amadis de Gaula. Mas é tão visível a deslocação do acento na obra de Dostoievski, que ela foi defendida, para existir, pelo que lhe é inessencial (como por um Brunetière e recentemente um Ernst Fischer,

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Dificuldade de Prever o Comportamento de qualquer Pessoa, o Nosso Inclusivamente

Sendo variável o nosso “eu”, que é dependente das circunstâncias, um homem jamais deve supor que conhece outro. Pode somente afirmar que, não variando as circunstâncias, o procedimento do indivíduo observado não mudará. O chefe de escritório que já redige há vinte anos relatórios honestos, continuará sem dúvida a redigi-los com a mesma honestidade, mas cumpre não o afirmar em demasia. Se surgirem novas circunstâncias, se uma paixão forte lhe invadir a mente, se um perigo lhe ameaçar o lar, o insignificante burocrata poderá tornar-se um celerado ou um herói.
As grandes oscilações da personalidade observam-se quase exclusivamente na esfera dos sentimentos. Na da inteligência, elas são muito fracas. Um imbecil permanecerá sempre imbecil.
As possíveis variações da personalidade, que impedem de conhecermos a fundo os nossos semelhantes, também obstam a que cada qual se conheça a si próprio. O adágio “Nosce te ipsum” dos antigos filósofos constitui um conselho irrealizável. O “eu” exteriorizado representa habitualmente uma personalidade de empréstimo, mentirosa. Assim é, não só porque atribuímos a nós mesmos muitas qualidades e não reconhecemos absolutamente os nossos defeitos, como também porque o nosso “eu” contém uma pequena porção de elementos conscientes, conhecíveis em rigor, e, em grande parte,

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As Oscilações da Personalidade

Pretender que a nossa personalidade seja móvel e susceptível de grandes mudanças é, por vezes, noção um pouco contrária às idéias tradicionais atinentes à estabilidade do “eu”. A sua unidade foi durante muito tempo um dogma indiscutível. Factos numerosos vieram provar quanto esta ideia era fictícia.
O nosso “eu” é um total. Compõe-se da adição de inumeráveis “eu” celulares. Cada célula concorre para a unidade de um exército. A homogeneidade dos milhares de indivíduos que o compõem resulta somente de uma comunidade de acção que numerosas coisas podem destruir.
É inútil objectar que a personalidade dos seres parece, em geral, bastante estável. Se ela nunca varia, com efeito, é porque o meio social permanece mais ou menos constante. Se subitamente esse meio se modifica, como em tempo de revolução, a personalidade de um mesmo indivíduo poderá transformar-se por completo. Foi assim que se viram, durante o Terror, bons burgueses reputados pela sua brandura tornarem-se fanáticos sanguinários. Passada a tormenta e, por conseguinte, representando o antigo meio e o seu império, eles readquiriram sua personalidade pacifica. Desenvolvi, há muito tempo, essa teoria e mostrei que a vida dos personagens da Revolução era incompreensível sem ela.
De que elementos se compõe o “eu”,

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Aprofundar os sentimentos, aprofundar o homem, é como aprofundar as raízes de uma árvore: para lá de certo limite perdemo-nos em filamentos. É aí que trabalha o charlatão da «psicologia».