Passagens sobre Sonhos

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Frases sobre sonhos, poemas sobre sonhos e outras passagens sobre sonhos para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Portugal

Maior do que nĂłs, simples mortais, este gigante
foi da glĂłria dum povo o semideus radiante.
Cavaleiro e pastor, lavrador e soldado,
seu torrĂŁo dilatou, inĂłspito montado,
numa pĂĄtria… E que pĂĄtria! A mais formosa e linda
que ondas do mar e luz do luar viram ainda!
Campos claros de milho moço e trigo loiro;
hortas a rir; vergéis noivando em frutos de oiro;
trilos de rouxinĂłis; revoadas de andorinhas;
nos vinhedos, pombais: nos montes, ermidinhas;
gados nédios; colinas brancas olorosas;
cheiro de sol, cheiro de mel, cheiro de rosas;
selvas fundas, nevados pĂ­ncaros, outeiros
de olivais; por nogais, frautas de pegureiros;
rios, noras gemendo, azenhas nas levadas;
eiras de sonho, grutas de génios e de fadas:
riso, abundĂąncia, amor, concĂłrdia, Juventude:
e entre a harmonia virgiliana um povo rude,
um povo montanhĂȘs e herĂłico Ă  beira-mar,
sob a graça de Deus a cantar e a lavrar!
PĂĄtria feita lavrando e batalhando: aldeias
conchegadinhas sempre ao torreĂŁo de ameias.
Cada vila um castelo. As cidades defesas
por muralhas, bastiÔes, barbacãs, fortalezas;
e, a dar fé, a dar vigor,

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A Esperança

A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.

Muita gente infeliz assim nĂŁo pensa;
No entanto o mundo Ă© uma ilusĂŁo completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?

Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a crença de fanal bendito,
Salve-te a glĂłria no futuro – avança!

E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da morte a me bradar: descansa!

Pensando Nela

Neste instante em que escrevo, estou pensando nela,
longe de mim, no entanto, em que estarĂĄ pensando ?
– quem sabe se a sonhar, debruçada Ă  janela
recorda nosso amor, a sorrir, vez em quando…

Ou terå tal como eu, esse ar de alguém que vela
um sonho que estivesse em nosso olhar flutuando ?
Ou quem sabe se dorme, e adormecida e bela
o luar lhe vai beijar os lĂĄbios, suave e brando…

Invejaria o luar… É tarde, estou sozinho,
ela dorme talvez, e nĂŁo sabe que ao lado
do seu leito, a minha alma ronda de mansinho…

Nem vĂȘ meu pensamento entrar pela janela
e ir na ponta dos pés murmurar ajoelhado
este verso de amor que fiz, pensando nela!

Nimbos

Nimbos de bronze que empanais escuros
O santuĂĄrio azul da Natureza,
Quando vos vejo, negros palinuros
Da tempestade negra e da tristeza,

Abismados na bruma enegrecida,
Julgo ver nos reflexos de minh’alma
As mesmas nuvens deslizando em calma,
Os nimbos das procelas desta vida;

Mas quando o céu é límpido, sem bruma
Que a transparĂȘncia tolde, sem nenhuma
Nuvem sequer, entĂŁo, num mar de esp’rança,

Que o céu reflete, a vida é qual risonho
Batel, e a alma Ă© a FlĂąmula do sonho,
Que o guia e o leva ao porto da bonança.

Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outros amores. E outras pessoas. E outras coisas…

O Esplendor

E o esplendor dos mapas, caminho abstracto para a imaginação concreta,
Letras e riscos irregulares abrindo para a maravilha.

O que de sonho jaz nas encadernaçÔes vetustas,
Nas assinaturas complicadas (ou tĂŁo simples e esguias) dos velhos livros.

(Tinta remota e desbotada aqui presente para além da morte,
O que de negado à nossa vida quotidiana vem nas ilustraçÔes,
O que certas gravuras de anĂșncios sem querer anunciam.

Tudo quanto sugere, ou exprime o que nĂŁo exprime,
Tudo o que diz o que nĂŁo diz,
E a alma sonha, diferente e distraĂ­da.

Ó enigma visível do tempo, o nada vivo em que estamos!

Realize seu sonho. VocĂȘ mesmo vai ter de fazer isso… eu nĂŁo posso acordar vocĂȘ, vocĂȘ Ă© quem pode se acordar.

Se falares sobre isso, Ă© um sonho, se o visualizares, Ă© possĂ­vel, mas se o calendarizares, Ă© real.

A Inutilidade de Guerras e RevoluçÔes

As guerras e as revoluçÔes – hĂĄ sempre uma ou outra em curso – chegam, na leitura dos seus efeitos, a causar nĂŁo horror mas tĂ©dio. NĂŁo Ă© a crueldade de todos aqueles mortos e feridos, o sacrifĂ­cio de todos os que morrem batendo-se, ou sĂŁo mortos sem que se batam, que pesa duramente na alma: Ă© a estupidez que sacrifica vidas e haveres a qualquer coisa inevitavelmente inĂștil.
Todos os ideais e todas as ambiçÔes sĂŁo um desvairo de comadres homens. NĂŁo hĂĄ impĂ©rio que valha que por ele se parta uma boneca de criança. NĂŁo hĂĄ ideal que mereça o sacrifĂ­cio de um comboio de lata. Que impĂ©rio Ă© Ăștil ou que ideal profĂ­cuo?
Tudo Ă© humanidade, e a humanidade Ă© sempre a mesma – variĂĄvel mas inaperfeiçoĂĄvel, oscilante mas improgressiva. Perante o curso inimplorĂĄvel das coisas, a vida que tivemos sem saber como e perderemos sem saber quando, o jogo de mil xadrezes que Ă© a vida em comum e luta, o tĂ©dio de contemplar sem utilidade o que se nĂŁo realiza nunca – que pode fazer o sĂĄbio senĂŁo pedir o repouso, o nĂŁo ter que pensar em viver, pois basta ter que viver,

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Cada sonho que vocĂȘ deixa pra trĂĄs, Ă© um pedaço do seu futuro que deixa de existir.

Quatro Sonetos De Meditação – I

Mas o instante passou. A carne nova
Sente a primeira fibra enrijecer
E o seu sonho infinito de morrer
Passa a caber no berço de uma cova.

Outra carne virĂĄ. A primavera
É carne, o amor Ă© seiva eterna e forte
Quando o ser que viveu unir-se Ă  morte
No mundo uma criança nascerå.

ImportarĂĄ jamais por quĂȘ? Adiante
O poema Ă© translĂșcido, e distante
A palavra que vem do pensamento

Sem saudade. NĂŁo ter contentamento.
Ser simples como o grĂŁo de poesia
E Ă­ntimo como a melancolia.

Se avanças com fĂ© na direcção dos teus sonhos e procuras viver a vida que imaginas, encontrarĂĄs o ĂȘxito a qualquer momento.

CrepĂșsculo

Alada, corta o espaço uma estrela cadente.
As folhas fremem. Sopra o vento. A sombra avança.
Paira no ar um languor de mística esperança
e de docĂșra triste, inexprimivelmente.

À surdina da luz irrompe, de repente,
o coro vesperal das cigarras. E mansa,
E marmórea, no céu, curvo e claro, balança,
entre nuvens de opala, a concha do crescente.

Na alma, como na terra, a noite nasce. É quando,
da recĂŽndita paz das horas esquecidas,
vĂŁo, ao luar da saudade, os sonhos acordando…

E, na torre do peito, em plĂĄcidas batidas,
melancolicamente o coração chorando,
plange o réquiem de amor das ilusÔes perdidas.

Testamento do Poeta

Todo esse vosso esforço é vão, amigos:
NĂŁo sou dos que se aceita… a nĂŁo ser mortos.
Demais, jĂĄ desisti de quaisquer portos;
Não peço a vossa esmola de mendigos.

O mesmo vos direi, sonhos antigos
De amor! olhos nos meus outrora absortos!
Corpos jĂĄ hoje inchados, velhos, tortos,
Que fostes o melhor dos meus pascigos!

E o mesmo digo a tudo e a todos, – hoje
Que tudo e todos vejo reduzidos,
E ao meu prĂłprio Deus nego, e o ar me foge.

Para reaver, porém, todo o Universo,
E amar! e crer! e achar meus mil sentidos!….
Basta-me o gesto de contar um verso.

Quando me vi tendo de viver comigo apenas E com o mundo VocĂȘ me veio como um sonho bom E me assustei

Ode MarĂ­tima

Sozinho, no cais deserto, a esta manhĂŁ de VerĂŁo,
Olho pro lado da barra, olho pro Indefinido,
Olho e contenta-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
Vem muito longe, nĂ­tido, clĂĄssico Ă  sua maneira.
Deixa no ar distante atrĂĄs de si a orla vĂŁ do seu fumo.
Vem entrando, e a manhĂŁ entra com ele, e no rio,
Aqui, acolĂĄ, acorda a vida marĂ­tima,
Erguem-se velas, avançam rebocadores,
Surgem barcos pequenos de trĂĄs dos navios que estĂŁo no porto.
HĂĄ uma vaga brisa.
Mas a minh’alma estĂĄ com o que vejo menos,
Com o paquete que entra,
Porque ele estĂĄ com a DistĂąncia, com a ManhĂŁ,
Com o sentido marĂ­timo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma nåusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.

Olho de longe o paquete, com uma grande independĂȘncia de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente,

Os paquetes que entram de manhĂŁ na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.

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Dois Amantes, o Mundo

dois amantes, o mundo
cada um no seu reino, beijam-se nas praias
quando as ondas batem as areias

o mar Ă© o meu navio,
hoje naufrago feliz

sabes quem sou, as dunas
que se levantam com o vento sĂŁo
os sonhos do amor que dormita
em sossego nas praias

a terra és tu o mar sou eu