Textos sobre Bem

885 resultados
Textos de bem escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

O Amor não Rende Juros

137
É verdade «que um baixo amor os fortes enfraquece»
mas também o grande amor torna ridículos os grandes,
pois o amor é, em energia material sobre o mundo, um roubo — apesar de, em sensações, ser magnífico. 0 amor será útil internamente,
mas externamente não carrega um tijolo.
Disso nunca tive dúvidas.

138
A vida, é certo, não será um sítio excepcional para as paixões.
Nos países humanos, o amor mistura-se muito
com palavras equívocas.
0 fogo que existe numa lareira, por exemplo,
é um fogo servil, cultural, educado.
Uma coisa vermelha, mas mansa,
que nos obedece.
Só é natureza, o fogo na lareira,
quando, vingando-se, provoca um incêndio.
E o amor assim funciona. Mas é preferível o contrário.

139
É desarranjo de estratégias e planos,
surpresa ritmada, uma ilegalidade exaltante que não prejudica
os vizinhos.
Mas atenção, de novo: o amor não faz bem aos países,
não desenvolve as suas indústrias, nem a economia.
Disso nunca tive dúvidas. E por isso é preferível não.

140
No entanto, qual é o país que pode impedir que o amor
entre?

Continue lendo…

Filosofia Simplificada

É uma objecção pobre contra um filósofo dizer que é ininteligível. Ininteligibilidade é um conceito relativo, e aquilo que o Caio ou Ticiano frequentemente louvado não entende nem por isso é ininteligível. E mesmo a filosofia tem, de facto, algo que segundo a sua natureza sempre permanecerá ininteligível à grande multidão. Mas é algo inteiramente outro se a ininteligibilidade está na coisa mesma. – Ocorre frequentemente que cabeças que, com grande exercício e habilidade, mas sem possuirem propriamente inventividade para tarefas mecânicas, se dispõem, por exemplo, a inventar uma máquina de tornear garrafas – fabricam perfeitamente uma, mas o mecanismo é tão difícil e artificioso ou as engrenagens rangem tanto, que se prefere voltar a tornear garrafas com as mãos, à moda antiga. O mesmo pode perfeitamente passar-se na filosofia. O sofrimento com a ignorância sobre os objectos primeiros, sobre os maiores, para todos os homens que sentem, que não são embotados ou estreitamente auto-suficientes, é grande e pode aumentar até se tornar insuportável. Mas se o martírio de um sistema antinatural é maior do que aquele fardo da ignorância, prefere-se no entanto continuar a suportar este. Pode-se bem admitir que também a tarefa da filosofia, se é em geral resolúvel,

Continue lendo…

Entendimento Influenciado pela Vontade

Na ciência de julgar, alguma vez é desculpável o erro do entendimento, o da vontade nunca; como se o entender mal não fosse crime, erro sim; ou como se houvesse uma grande diferença entre o erro, e o crime: o entendimento pode errar, porém só a vontade pode delinquir. Assim se desculpam comummente os julgadores, mas é porque não vêem, que o que dizem que procedeu do entendimento, se bem se ponderar, procedeu unicamente da vontade. É um parto suposto, cuja origem, não é aquela que se dá. Querem os sábios enobrecer o erro, com o fazer vir do entendimento, e com lhe encobrir o vício que trouxe da vontade; mas quem é que deixa de ver, que o nosso entendimento quási sempre se sujeita ao que nós queremos; e que o seu maior empenho, é servir à nossa inclinação; por isso raras vezes se opõe, e o mais em que se ocupa, é em conformar-se de tal sorte ao nosso gosto, que ainda a nós mesmos fique parecendo, que foi resolução do entendimento aquilo que não foi senão acto da vontade.
O entendimento é a parte que temos em nós mais lisonjeira; daqui vem que nem sempre segue a razão,

Continue lendo…

Uma Vida Simples e Modesta

Não depender senão de si mesmo é, em nossa opinião, um grande bem, mas daí não se segue que devamos sempre contentar-nos com pouco. Simplesmente, quando nos falte a abundância, devemos poder contentar-nos com pouco, persuadidos de que gozam melhor a riqueza os que têm menor número de cuidados, e de que tudo quanto seja natural se obtém facilmente, enquanto o que não o é só se consegue a custo. As iguarias mais simples proporcionam tanto prazer quanto a mesa mais ricamente servida, sempre que esteja ausente o sofrimento causado pela necessidade, e o pão e a água ocasionam o mais vivo prazer quando são saboreados após longa privação.
O hábito de uma vida simples e modesta é, pois, uma boa maneira de cuidar da saúde e, ademais, torna o homem corajoso para suportar as tarefas que deve necessariamente cumprir na vida. Permite-lhe ainda apreciar melhor uma vida opulenta, quando se lhe enseje, e fortalece-o contra os reveses da fortuna. Por conseguinte, quando dizemos que o prazer é o soberano bem, não falamos dos prazeres dos devassos, nem dos gozos sensuais, como o pretendem alguns ignorantes que nos combatem e nos desfiguram o pensamento. Falamos da ausência de sofrimento físico e da ausência de perturbação moral.

Continue lendo…

A Vida é uma Montanha Russa

A vida não é uma linha reta em que alguém conquistado ou algo adquirido é uma segurança para todo o sempre; a vida é uma montanha russa e, de vez em quando, sim, é preciso ficares de pernas para o ar. Tudo passa, tu ficas. Sou tão assertivo relativamente a este tema porque sei que é a dependência que gera o apego, ou seja, se as pessoas forem independentes é impossível serem apegadas. É o ego que as vincula à ideia de que não são suficientemente boas para dependerem de si mesmas e é contra esta terrível armadilha que é preciso lutar.

Uma mãe que dependa do bem–estar do filho e que viva para ele é uma mulher que não encontrará forças para lhe esticar o braço quando ele cair e precisar de uma verdadeira mãe, pois serão sempre dois a sofrer da mesma epidemia, da mesma dor, da mesma frustração ou desilusão; um homem que use e abuse da estabilidade profissional e financeira que conquistou e que dependa disso para, pensa ele, ser o que é, é alguém que mais tarde ou mais cedo, e num daqueles loopings da vida em que o que era já não é,

Continue lendo…

A Inépcia é Pior que a Falsidade

Toda a gente pode falar com verdade; mas falar com ordem, com prudência e capazmente, poucos o podem. Por isso, a falsidade que vem da ignorância não me ofende; a inépcia, sim. Quebrei várias negociações que me eram úteis, por causa da estupidez que punham nas discussões aqueles com quem negociava. Nem uma vez por ano me irrito com as faltas dos meus subordinados; mas, no que respeita à idiotice e teimosia das suas alegações, às desculpas e defesas asininas e brutas, andamos todos os dias às turras. Não entendem nem o que se lhes diz nem a razão das coisas e respondem na mesma; é de desesperar.
Só outra cabeça é capaz de impressionar fortemente a minha e acomodo-me melhor com os erros dos meus do que com a sua leviandade, impertinência e estupidez. Que façam menos, contanto que façam bem alguma coisa; vive-se na esperança de lhes excitar a vontade, mas de estúpidos não há que esperar nem que lucrar coisa que valha.

Dar o que Temos é Pouco

Quem apenas dá o que tem dá sempre pouco. Cada um de nós é muito mais do que aquilo que possui. Assim, mais do que dar o que temos, devemos dar o que somos.

Quem dá o que é irradia o bem da sua existência, semeia-se enquanto bondade… faz-se mais e melhor.

Há quem tenha tudo e não seja nada. Julgando que o seu valor está no que possui, exibe os seus bens como se fossem condecorações… desprezando não só o que é, mas, e ainda mais importante, o que poderia ser.

Quanto às coisas materiais, será melhor merecer o que não se tem do que ter o que não se merece… tal como é preferível ser credor do que devedor.

Nunca é bom depender do que não depende de nós.
Hoje confundem-se desejos com necessidades. Na verdade, não são sequer comparáveis, na medida em que os desejos buscam uma satisfação inalcançável. Pois assim que se sacia um desejo, logo outro, maior, toma o seu lugar. São vontades estranhas à nossa paz e capazes de alimentar contra nós uma guerra sem fim. É importante que atendamos às nossas verdadeiras carências, mas com o cuidado de afastar daí todos os desejos que querem passar por elas.

Continue lendo…

A Moralidade Pública Degradada

As crianças ficam todas contentes quando encontram na praia alguns calhaus coloridos; nós preferimos enormes colunas variegadas, importadas das areias do Egipto ou dos desertos do Norte de África para a construção de algum pórtico ou de um salão de banquetes com capacidade para uma multidão. Olhamos com admiração paredes recobertas de placas de mármore, embora cientes do material que lá está por baixo. Iludimos os nossos próprios olhos: quando recobrimos os tectos a ouro o que fazemos senão deleitar-nos com uma mentira ? Sabemos bem que por baixo desse ouro se oculta reles madeira! Mas não são só as paredes ou os tectos que se recobrem de uma ligeira camada: também a felicidade destes aparentes grandes da nossa sociedade é uma felicidade «dourada»! Observa atentamente, e verás a corrupção que se esconde sob essa leve capa de dignidade. Desde que o dinheiro (que tanto atrai a atenção de inúmeros magistrados e juízes e tantos mesmo promove a magistrados e juízes!…), desde que o dinheiro, digo, começou a merecer honras, a honra autêntica começou a perder terreno; alternadamente vendedores ou objectos postos à venda, habitua-mo-nos a perguntar pela quantidade, e não pela qualidade das coisas. Somos boas pessoas por interesse,

Continue lendo…

Sabedoria Prática Inexistente

A maioria dos luxos e muitos dos chamados confortos da vida não só são dispensáveis como constituem até obstáculos à elevação da humanidade. No que diz respeito a luxos e confortos, os mais sábios sempre viveram de modo mais simples e despojado que os pobres. Os antigos filósofos chineses, indianos, persas e gregos eram uma classe que se notabilizava pela extrama pobreza de bens exteriores, em contraste com a sua riqueza interior. Embora não saibamos muito a seu respeito, é de admirar que saibamos tanto quanto sabemos. O mesmo acontece com reformadores e benfeitores mais recentes, da nacionalidade deles. Ninguém pode ser um observador imparcial e sábio da raça humana, a não ser da posição vantajosa a que chamaríamos pobreza voluntária.
O fruto de uma vida de luxo é também luxo, seja em agricultura, comércio, literatura ou arte. Hoje em dia há professores de filosofia, mas não há filósofos. Contudo é admirável ensinar filosofia porque um dia foi admirável vivê-la. Ser um filósofo não é apenas ter pensamentos subtis, nem sequer fundar uma escola, mas amar a sabedoria a ponto de viver, segundo os seus ditames, uma vida de simplicidade, independência, magnanimidade e confiança. É solucionar alguns problemas da vida não só na teoria mas também na prática.

Continue lendo…

Felicidade e Alegria

Não creio que se possa definir o homem como um animal cuja característica ou cujo último fim seja o de viver feliz, embora considere que nele seja essencial o viver alegre. O que é próprio do homem na sua forma mais alta é superar o conceito de felicidade, tornar-se como que indiferente a ser ou não ser feliz e ver até o que pode vir do obstáculo exactamente como melhor meio para que possa desferir voo. Creio que a mais perfeita das combinações seria a do homem que, visto por todos, inclusive por si próprio, como infeliz, conseguisse fazer de sua infelicidade um motivo daquela alegria que se não quebra, daquela alegria serena que o leva a interessar-se por tudo quanto existe, a amar todos os homens apesar do que possa combater, e é mais difícil amar no combate que na paz, e sobretudo conservar perante o que vem de Deus a atitude de obediência ou melhor, de disponibilidade, de quem finalmente entendeu as estruturas da vida.
Os felizes passam na vida como viajantes de trem que levassem toda a viagem dormindo; só gozam o trajecto os que se mantêm bem despertos para entender as duas coisas fundamentais do mundo: a implacabilidade,

Continue lendo…

Mais Vale ser Estimado que Amado

Rochefoucauld observou de maneira pertinente que é difícil, ao mesmo tempo, ter em alta estima e amar muito a mesma pessoa. Teríamos, então, de escolher entre querer ganhar o amor ou a estima dos homens. O seu amor é sempre interesseiro, embora de maneiras bem diversas. Além do mais, a condição que nos permite conquistá-lo nem sempre é apropriada para nos orgulharmos. Antes de mais nada, uma pessoa é tanto mais amada quanto mais moderar as suas expectativas em relação ao espírito e ao coração dos outros; e tudo isso a sério, sem fingimento, e não apenas devido à indulgência enraizada no desprezo. Recordemos aqui o dito verdadeiro de Helvécio: «O grau de espírito necessário para nos agradar é uma medida bastante exacta do grau de espírito que possuímos». E assim chegamos à conclusão iniciada pelas premissas. Por outro lado, quando se trata da estima dos homens, dá-se o contrário: esta só lhes é arrancada contra a vontade; por isso, na maioria das vezes é ocultada. Desse modo, ela proporciona-nos uma satisfação interior bem maior, pois está relacionada ao nosso valor, o que não vale imediatamente para o amor dos homens, já que este é subjectivo, enquanto a estima é objectiva.

Continue lendo…

Vaidade e Vanglória

Era uma linda invenção de Esopo a do moscardo que, sentado no eixo da roda, dizia: «Quanta poeira faço levantar!» Assim há muitas pessoas vãs que quando um negócio marcha por si ou vai sendo movido por agentes mais importantes, desde que estejam relacionados com ele por um só pormenor, imaginam que são eles quem conduz tudo: os que têm que ser facciosos, porque toda a vaidade assenta em comparações. Têm de ser necessariamente violentos, para fazerem valer as suas jactâncias. Não podem guardar segredo, e por isso não são úteis para ninguém, mas confirmam o provérbio francês: Beaucoup de bruit, peu de fruit.
Este defeito não é, porém, sem utilidade para os negócios políticos: onde houver uma opinião ou uma fama a propagar, seja de virtude seja de grandeza, esses homens são óptimos trombeteiros.
(…) A vaidade ajuda a perpetuar a memória dos homens, e a virtude nunca foi considerada pela natureza humana como digna de receber mais do que um prémio de segunda mão. A glõria de Cícero, de Séneca, de Plínio o Moço, não teria durado tanto tempo se eles não fossem de algum modo vaidosos; a vaidade é como o verniz, que não só faz brilhar,

Continue lendo…

Somos os Comandantes das Nossas Vidas

Se alguém te disser que aquilo que queres não interessa para nada, desinteressa-te dessa pessoa.

Somos os comandantes das nossas vidas.

Somos nós, portanto, que escolhemos com quem queremos caminhar, e ai de alguém que acredite que pode entrar à força na nossa vida sem a devida autorização. Na minha não entram, disso podes ter a certeza. E se todos pensássemos assim, se todos agíssemos em conformidade com esta breve alusão ao nosso poder pessoal, viveríamos todos num autêntico mar de rosas. Mas não. Este princípio básico é o terror de muita gente. A maioria talvez. Malta que acredita que tem de aguentar o suplício de viver ou conviver com quem lhe quer mal ou lhe é indiferente. É uma desgraça. É o reinado do medo. Do medo de ficar sozinho, de nunca mais sentir nada por ninguém, de tudo o que possam dizer ou pensar se agirem como desejam, da reação do outro, de magoá-lo, enfim, o medo de tudo. Ora bem, esta onda de passividade e permissividade gera a extinção da confiança, fomenta o canibalismo do amor-próprio e inverte todo e qualquer tipo de educação apropriada. Como é que algum filho, por exemplo, pode desenvolver-se em amor se tudo o que vê em casa são duas pessoas que mal se olham ou que se atacam,

Continue lendo…

Ninguém se Admira com a sua Fraqueza

O que mais me admira ver é como ninguém se admira com a sua fraqueza. Age-se de maneira séria e cada um segue a sua condição, não porque é bom segui-la, mas porque é moda; mas como se cada um soubesse de maneira certa onde é que está a razão e a justiça. Encontramo-nos enganados constantemente; e, por uma humildade divertida, julgamos que é por nossa culpa e não da arte que nos gabamos sempre de ter. Mas é bom que haja tantas pessoas assim no Mundo, que não sejam pirrónicas, para glória do pirronismo, para mostrar que o homem é bem capaz das mais extravagantes opiniões, visto que é capaz de crer que não está nesta fraqueza natural e inevitável, e crer que está, pelo contrário, na sabedoria natural.
Nada fortifica mais o pirronismo do que o facto de haver quem não seja nada pirrónico: se todos o fossem, eles não teriam razão.

Sem Medo nem Esperança

Li no nosso Hecatão que pôr termo aos desejos é proveitoso como remédio aos nossos temores. Diz ele: «deixarás de ter medo quando deixares de ter esperança». Perguntarás tu como é possível conciliar duas coisas tão diversas. Mas é assim mesmo, amigo Lucílio: embora pareçam dissociadas, elas estão interligadas. Assim como uma mesma cadeia acorrenta o guarda e o prisioneiro, assim aquelas, embora parecendo dissemelhantes, caminham lado a lado: à esperança segue-se sempre o medo. Nem é de admirar que assim seja: ambos caracterizam um espírito hesitante, preocupado na expectativa do futuro.
A causa principal de ambos é que não nos ligamos ao momento presente antes dirigimos o nosso pensamento para um momento distante e assim é que a capacidade de prever, o melhor bem da condição humana, se vem a transformar num mal. As feras fogem aos perigos que vêem mas assim que fugiram recobram a segurança. Nós tanto nos torturamos com o futuro como com o passado. Muitos dos nossos bens acabam por ser nocivos: a memória reactualiza a tortura do medo, a previsão antecipa-a; apenas com o presente ninguém pode ser infeliz!

A Justa Medida no Convívio

Não é necessário esforçar-se demasiado pela abundância quando se tem apenas a intenção de agradar, o valor e a raridade são bem mais consideráveis, a abundân­cia cansa, a menos que seja extremamente diversificada. Pode até mesmo ocorrer, pelo demasiado número de belas coisas, que não se goste tanto, e mesmo que se estime menos aqueles que as fazem ou que as dizem; pois a abundância atrai a inveja que arruína sempre a amizade. Essa abundância faz também com que não se admire mais aquilo que se achava, de início, tão surpreendente, pois fica-se acostumado, e aquilo não parece mais tão difícil.
Em todos os exercícios como a dança, o manejo das armas, voltear ou montar a cavalo, conhecem-se os exce­lentes mestres do ofício por um não sei quê de livre e desenvolto que agrada sempre, mas que não pode ser muito adquirido sem uma grande prática; não basta ainda ter-se exercitado assim por longo tempo, a menos que tenham sido tomados os melhores caminhos. As graças amam a justeza em tudo o que acabo de dizer; mas de um modo tão ingénuo, que dá a pensar que é um presente da natureza. Isto mostra-se também verdadeiro nos exer­cícios do espírito e na conversação,

Continue lendo…

Ninguém Goza um Bem que é Fonte de Preocupações

Aquele que melhor goza da riqueza é o que menos necessita da riqueza. Quem necessita de riqueza está em ânsias por ela; ora ninguém goza um bem que é fonte de preocupações. Procura sempre acrescentar-lhe qualquer coisa, e enquanto pensa em aumentá-la, esquece-se de tirar dela partido.

A Perspectiva da Verdade e da Moral

Quando se é demasiado jovem, não se julga bem; demasiado velho, o mesmo. Se não se pensa nisso o suficiente, se se pensa demais, teimamos, e encasquetamo-nos. Se se considera a própria obra logo depois de se ter feito, está-se ainda muito preso a ela, se muito tempo depois, não se entra mais nela. Assim os quadros vistos de longe demais e de perto demais; e há apenas um ponto indivisível que é o verdadeiro lugar: os outros estão demasiado perto, demasiado longe, demasiado alto, demasiado baixo. A perspectiva marca-o na arte da pintura.