Textos sobre Confissão

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Textos de confissão escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Melhor Defesa

Como me sinto fraco, vulnerável e aberto por todos os lados ao espanto, quando me vejo diante de pessoas que não falam por falar e que estão sempre dispostas a confirmar pela acção o que dizem por palavras!… Mas existirão mesmo pessoas assim? Não me consideraram mesmo a mim como um homem firme?
A máscara é tudo. Tenho de confessar, no entanto, que os temo – e haverá algo de mais aviltante do que o medo? O homem mais forte por natureza torna-se um poltrão, se as suas ideias forem flutuantes – e o sangue-frio, a primeira das nossas defesas, deriva apenas do facto de uma alma já endurecida pela experiência não poder ser colhida de surpresa. Bem sei que esta minha determinação é ambiciosa, mas ir inisitindo nela apesar de tudo é já meio caminho andado.

Sobre a Descoberta

Ninguém nos pode privar da alegria do primeiro momento de consciência, ou seja, da descoberta. Mas, se reclamamos as respectivas honras, a alegria corre grave risco de se desfazer. Porque na maior parte dos casos não somos os primeiros.
O que é a descoberta? E quem pode dizer que descobriu isto ou aquilo? Que grande loucura é afinal alardear prioridades nesta matéria. Porque não querer confessar abertamente o plágio é arrogância e inconsciência.
Há dois sentimentos que são os mais difíceis de ultrapassar: o que resulta de descobrir uma coisa que já foi descoberta e o que decorre de se não ver descoberto aquilo que se devia ter descoberto.

A Confiança é o Elo entre a Sociedade e a Amizade

Ainda que a sinceridade e a confiança estejam relacionadas, são, no entanto, diferentes: a sinceridade consiste em abrir o coração e em mostrarmo-nos tal como somos por amor da verdade. Odeia o disfarce e quer reparar as suas faltas, mesmo que para isso seja preciso diminui-las pelo valor da confissão. Quanto à confiança, esta não nos concede o mesmo grau de liberdade, as suas regras são mais rigorosas, requer mais prudência e moderação. Ora, nem sempre estamos livres para obedecer a estes requisitos. Não somos só nós, no que a ela diz respeito, que estamos envolvidos, porque os nossos interesses misturam-se quase sempre com os dos outros. Requer uma enorme justeza para não levar os nossos amigos a entregarem-se, pelo facto de nós nos termos entregado, como para lhes oferecer um presente, com a única intenção de aumentar o preço do que nós damos.
Fica-se sempre satisfeito com o facto de os outros depositarem confiança em nós porque é um tributo que oferecemos ao nosso mérito, é um depósito que fazemos à nossa confiança, são, enfim, fianças que lhes dão algum direito sobre nós, isto é, aceitamos uma certa dependência à qual nos sujeitamos voluntariamente. Não, não é minha intenção destruir com as minhas palavras a confiança,

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A Companhia do Amor

O que eu sinto não seria para si uma coisa nova de que necessitasse uma clara afirmação; é o mesmo que eu sentia quando passeávamos ambos nas areias da Costa Nova. Ou antes, não é o mesmo sentimento: é outro mais belo, mais completo; porque tendo, apesar de tudo, ficado comigo, desde que nos separámos, e tendo sido o doce e fiel companheiro da minha vida desde então – esse sentimento penetrou-me de um modo mais absoluto e mais absorvente, exaltou-se e idealizou-se, e de tal sorte me invadiu todo que eu cheguei a não ter pensamento, ideia, esperança, plano, a que não estivesse misturada a sua imagem. E na Costa Nova ainda não era assim. Dizer porque é que eu, apesar de tudo, insistia em pensar em si, não sei. O facto de não serem dependentes da vontade os movimentos do coração não é uma suficiente explicação: porque eu podia resistir à importunidade desta ideia, e em lugar disso abandonava-me a ela como à minha única alegria. Devo portanto concluir que havia um pressentimento latente, uma vaga quase certeza, uma fé secreta de que a afinidade que existe entre as nossas naturezas se viria um dia a manifestar apesar de tudo,

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Maus Tratos

Por várias vezes nos chegaram aos ouvidos as notícias de maus tratos. Resolvemo-nos, um dia, a tirar o caso a limpo e a fazer observar por médicos de confiança aqueles que se queixavam desses maus tratos. Devo dizer-lhe que se chegou à conclusão de que os presos mentiam, para tirar efeitos políticos, na maioria dos casos, mas quero dizer-lhe, também, realmente, que algumas vezes falavam verdade. É claro que eram tomadas sempre, em casos desses, imediatas providências, e foi essa a razão de se terem dado algumas alterações nos quadros da Polícia. Atribuir a responsabilidade, portanto, ao Governo desses maus tratos é prova de ignorância ou de má-fé.
(…) No entanto, chegou-se à conclusão de que os presos maltratados eram sempre, ou quase sempre, temíveis bombistas que se recusavam a confessar, apesar de todas as habilidades da Polícia, onde tinham escondidas as suas armas criminosas e mortais. Só depois de empregar esses meios violentos é que eles se decidiam a dizer a verdade. E eu pergunto a mim próprio, continuando a reprimir tais abusos, se a vida de algumas crianças e de algumas pessoas indefesas não vale bem, não justifica largamente, meia dúzia de safanões a tempo nessas criaturas sinistras…

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A Minha Felicidade Resume-se a Isto

Um dos poucos divertimentos intelectuais que ainda restam ao que ainda resta de intelectual na humanidade é a leitura de romances policiais. Entre o número áureo e reduzido das horas felizes que a Vida deixa que eu passe, conto por do melhor ano aquelas em que a leitura de Conan Doyle ou de Arthur Morrison me pega na consciência ao colo.
Um volume de um destes autores, um cigarro de 45 ao pacote, a ideia de uma chávena de café — trindade cujo ser-uma é o conjugar a felicidade para mim — resume-se nisto a minha felicidade. Seria pouco para muitos, a verdade é que não pode aspirar a muito mais uma criatura com sentimentos intelectuais e estéticos no meio europeu actual.
Talvez seja para os senhores como que causa de pasmo, não o eu ter estes por meus autores predilectos —e de quarto de cama, mas o eu confessar que nesta conta pessoal assim os tenho.

Luto por uma Novidade de Espírito

Procuro me manter isolada contra a agonia de viver dos outros, e essa agonia que lhes parece um jogo de vida e morte mascara uma outra realidade, tão extraordinária essa verdade que os outros cairiam de espanto diante dela, como num escândalo. Enquanto isso, ora estudam, ora trabalham, ora amam, ora crescem, ora se afanam, ora se alegram, ora se entristecem. A vida com letra maiúscula nada pode me dar porque vou confessar que também eu devo ter entrado por um beco sem saída como os outros. Porque noto em mim, não um bocado de fatos, e sim procuro quase tragicamente ser. É uma questão de sobrevivência assim como a de comer carne humana quando não há alimento. Luto não contra os que compram e vendem apartamentos e carros e procuram se casar e ter filhos mas luto com extrema ansiedade por uma novidade de espírito. Cada vez que me sinto quase um pouco iluminada vejo que estou tendo uma novidade de espírito.
Minha vida é um reflexo deformado assim como se deforma num lago ondulante e instável o reflexo de um rosto. Imprecisão trémula. Como o que acontece com a água quando se mergulha a mão na água.

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O Serviço Militar Obrigatório

Deixem-me começar com uma confissão de fé política: o Estado é feito para o homem, não o homem para o Estado. Isto é igualmente verdade em ciência. Estas são convicções antigas pronunciadas por aqueles para quem o homem em si é o valor humano mais alto. Não teria de repeti-las se não fosse o facto de estarem constantemente em perigo de serem esquecidas, especialmente nos dias que correm, de standardização e de estereotipia. Creio que a missão mais importante do Estado é a de proteger o indivíduo e tornar possível o desenvolvimento de uma personalidade criativa.
O Estado deve ser nosso servo; não devemos ser escravos do Estado. O Estado viola este princípio quando nos força ao serviço militar obrigatório, especialmente porque o objectivo e efeito de tal servidão é matar pessoas de outras terras ou restringir-lhes a liberdade. De facto, somente devemos fazer sacrifícios em nome do Estado se servirem o livre desenvolvimento do homem (…)
O nacionalismo, actualmente elevado a alturas excessivas, está, em minha opinião, intimamente associado à instituição do serviço militar obrigatório ou, utilizando um eufemismo, à milícia. Qualquer Estado que exija o serviço militar aos seus cidadãos é compelido a cultivar neles o espírito do nacionalismo,

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A Realidade em Coro

A realidade sempre me atraiu como um íman, torturando-me e hipnotizando-me, e eu queria capturá-la no papel. Comecei então a apropriar-me imediatamente deste género de vozes humanas e confissões, de evidências de testemunhas e documentos. Isto é como eu vejo e ouço o mundo – como um coro de vozes individuais e uma colagem de detalhes quotidianos. Desta forma, todo o meu potencial mental e emocional é realizado em pleno. Desta forma eu posso ser, simultaneamente, uma escritora, uma jornalista, uma socióloga, uma psicóloga e uma pregadora.

O Solitário

O solitário leva uma sociedade inteira dentro de si: o solitário é multidão. E daqui deriva a sua sociedade. Ninguém tem uma personalidade tão acusada como aquele que junta em si mais generalidade, aquele que leva no seu interior mais dos outros. O génio, foi dito e convém repeti-lo frequentemente, é uma multidão. É a multidão individualizada, e é um povo feito pessoa. Aquele que tem mais de próprio é, no fundo, aquele que tem mais de todos, é aquele em quem melhor se une e concentra o que é dos outros.
(…) O que de melhor ocorre aos homens é o que lhes ocorre quando estão sozinhos, aquilo que não se atrevem a confessar, não já ao próximo mas nem sequer, muitas vezes, a si mesmos, aquilo de que fogem, aquilo que encerram em si quando estão em puro pensamento e antes de que possa florescer em palavras. E o solitário costuma atrever-se a expressá-lo, a deixar que isso floresça, e assim acaba por dizer o que todos pensam quando estão sozinhos, sem que ninguém se atreva a publicá-lo. O solitário pensa tudo em voz alta, e surpreende os outros dizendo-lhes o que eles pensam em voz baixa,

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Amar ou Ser Amado?

Que é o que mais deseja e mais estima o amor: ver-se conhecido ou ver-se pago? É certo que o amor não pode ser pago, sem ser primeiro conhecido; mas pode ser conhecido, sem ser pago. E considerando divididos estes dois termos, não há dúvida que mais estima o amor e melhor lhe está ver-se conhecido que pago. Porque o que o amor mais pretende, é obrigar; o conhecimento obriga, a paga desempenha. Logo muito melhor lhe está ao amor ver-se conhecido que pago; porque o conhecimento aperta as obrigações, a paga e o desempenho desata-as. O conhecimento é satisfação do amor próprio; a paga é satisfação do amor alheio. Na satisfação do que o amor recebe, pode ser o afecto interessado; na satisfação do que comunica, não pode ser senão liberal. Logo, mais deve estimar o amor ter segura no conhecimento a satisfação da sua liberalidade, que ver duvidosa na paga a fidalguia do seu desinteresse. O mais seguro crédito de quem ama, é a confissão da dívida no amado; mas como há-de confessar a dívida, quem a não conhece? Mais lhe importa logo ao amor o conhecimento que a paga; porque a sua maior riqueza é ter sempre individado a quem ama.

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Cada Português que se Preza

É escusado. Cada português que se preza é uma muralha de suficiência contra a qual se quebram todas as vagas da inquietação. Conhece tudo, previu tudo, tem soluções para tudo. E quando alguém se apresenta carregado de dúvidas, tolhido de perplexidades, vira-lhe as costas ou tapa os ouvidos. Um mínimo de atenção ao interlocutor seria já uma prova de fraqueza, uma confissão de falibilidade. Quanto mais apertado o seu horizonte intelectual, mais porfia na vulgaridade das certezas que proclama. Não à maneira humilde e cabeçuda dos que se limitam a transmitir sem análise um saber ancestral, mas como um presumido doutor, impante de mediocridade.

A Verdadeira Religião

Nunca me esquecerei do dia em que, dizendo-lhe «Mas, senhor padre Manuel, a verdade, a verdade, acima de tudo», ele, a tremer, sussurou-me ao ouvido – e isso apesar de estarmos sozinhos no meio do campo: – «A verdade? A verdade, Lázaro, é porventura uma coisa terrível, uma coisa intolerável, uma coisa mortal; as pessoas simples não conseguiriam viver com ela.»
«E porque é que ma deixa vislumbrar agora aqui, como confissão?», perguntei-lhe. E ele respondeu: «Porque se não atormentar-me-ia tanto, tanto, que eu acabaria por gritá-lo no meio da praça, e isso nunca, nunca, nunca. Eu estou cá para fazer viver as almas dos meus paroquianos, para os fazer felizes, para fazer com que se sonhem imortais e não para os matar.
O que aqui faz falta é que eles vivam sãmente, que vivam em unanimidade de sentido, e com a verdade, com a minha verdade, não viveriam. Que vivam. E é isto que a Igreja faz, fazer com que vivam. Religião verdadeira? Todas as religiões são verdadeiras enquanto fazem viver espiritualmente os povos que as professam, enquanto os consolam de terem tido de nascer para morrer, e para cada povo a religião mais verdadeira é a sua,

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A Fidelidade

As pessoas realmente frívolas são as que só amam uma vez na vida. O que elas chamam lealdade ou fidelidade, chamo eu letargia do hábito ou falta de imaginação. A fidelidade representa na vida emocional o mesmo que a coerência na vida do intelecto, apenas uma confissão de impotência. A fidelidade! Tenho de a analisar um destes dias. Está intimamente associada à paixão da propriedade. Há muitas coisas que atiraríamos fora se não receássemos que outros as apanhassem.

O Artista e a sua Obra

O artista tem pois essa experiência com a sua obra: ele não produziu uma essência igual a ele mesmo. Sem dúvida, da sua obra retorna para ele uma consciência, pois uma multidão admirativa honra a obra como o espírito que é a essência deles. Essa admiração, porém, ao lhe restituir a sua consciência de si apenas como admiração é antes uma confissão feita ao artista de que ela não é igual a ele. Uma vez que o seu Si retorna para ele como júbilo em geral, ali ele não encontra nem a dor da sua formação e da sua produção, nem o esforço do seu trabalho. Os outros podem de facto julgar a obra ou trazer-lhe oferendas, conceber, de algum modo, que ela seja a sua consciência; se eles se colocam com o seu saber acima dela, o artista, pelo contrário, sabe o quanto a sua operação vale mais do que a compreensão e o discurso deles; se eles se colocam abaixo dela e nela reconhecem a essência deles que os domina, ele conhece-a, pelo contrário, como o seu senhor.

Onde Está a Sinceridade ?

Entre as recordações que cada um de nós guarda, algumas há que só contamos aos amigos. Há ainda outras que nem sequer aos amigos confessamos, que só a nós próprios dizemos e, mesmo assim, no máximo segredo. Finalmente, há coisas que o homem nem sequer se permite confessar a si mesmo. Ao longo da existência, toda a pessoa honesta acumulou não poucas destas recordações. Diria mesmo que a quantidade é tanto maior quanto mais honesto o homem. Eu, em todo o caso, não foi há muito que me decidi a recordar algumas das minhas antigas aventuras; até agora evitava fazê-lo, aliás com um certo desassossego. Porém agora, quando as evoco e desejo mesmo anotá-las, agora vou tirar a prova: será possível sermos francos e sinceros, pelo menos com nós próprios, e dizermo-nos toda a verdade?
Observo, a propósito, que Heine afirma não poderem existir autobiografias exactas e que o homem mente sempre quando fala de si próprio. Em sua opinião, Rousseau enganou-nos à certa nas suas Confessions, e até deliberadamente, por vaidade. Tenho a certeza de que Heine tem razão: compreendo muitíssimo bem que nos possamos acusar de crimes abomináveis apenas por vaidade e também compreendo o que pode ser esse sentimento.

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Temos de Ser Mais Humanos

Abram os olhos. Somos umas bestas. No mau sentido. Somos primitivos. Somos primários. Por nossa causa corre um oceano de sangue todos os dias. Não é auscultando todos os nossos instintos ou encorajando a nossa natureza biológica a manifestar-se que conseguiremos afastar-nos da crueza da nossa condição. É lendo Platão. E construindo pontes suspensas. É tendo insónias. É desenvolvendo paranóias, conceitos filosóficos, poemas, desequilíbrios neuroquímicos insanáveis, frisos de portas, birras de amor, grafismos, sistemas políticos, receitas de bacalhau, pormenores.

É engraçado como cada época se foi considerando «de charneira» ao longo da história. A pretensão de se ser definitivo, a arrogância de ser «o último», a vaidade de se ser futuro é, há milénios, a mesmíssima cantiga.
Temos de ser mais humanos. Reconhecer que somos as bestas que somos e arrependermo-nos disso. Temos de nos reduzir à nossa miserável insensibilidade, à pobreza dos nossos meios de entendimento e explicação, à brutalidade imperdoável dos nossos actos. O nosso pé foge-nos para o chinelo porque ainda não se acostumou a prender-se aos troncos das árvores, quanto mais habituar-se a usar sapato.

A única atitude verdadeiramente civilizada é a fraqueza, a curiosidade, o desespero, a experiência, o amor desinteressado,

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Opiniões Discordantes

. É preciso repetir de vez em quando a nossa pro­fissão de fé e exprimir em voz alta aquilo que valori­zamos e aquilo que condenamos. Os nossos adversá­rios também não deixam de o fazer.
. Os adversários acreditam que nos refutam ao repetir as suas opiniões sem dar atenção à nossa. . Os que contradizem e entram em disputa de­viam pensar de vez em quando que nem todas as linguagens são entendíveis por toda a gente.
. Quando alguém afirma que conseguiu contra­dizer-me não pensa que se limitou a contrapor uma visão das coisas à minha, e que, portanto, com isso nada conseguiu de facto. Um terceiro tem o direito de lhe fazer o mesmo, e assim por diante, até ao in­finito.
. Em Nova Iorque há noventa confissões cristãs diferentes e cada uma delas tem a sua maneira pró­pria de adorar a Deus e ao Senhor Jesus, sem por isso se confundirem umas com as outras. Devíamos levar a cabo qualquer coisa de semelhante na inves­tigação relativa à Natureza – e, aliás, em toda a in­vestigação. Pois, que significado tem toda a gente falar de liberalidade e cada um pretender limitar os outros segundo a sua própria maneira de pensar e de se exprimir?

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Porque Escreves Descuidadamente?

Quem escreve descuidadamente faz, antes de mais, a confissão de que não dá grande valor aos seus pensamentos. Porque o entusiasmo que inspira a persistente resistência necessária para descobrir a forma mais clara, mais eficaz e mais atraente de expressar os nossos pensamentos é gerada simplesmente pela convicção do seu peso e da sua verdade – tal como só utilizamos escrínios de prata ou de ouro para as coisas sagradas ou obras de arte de valor incalculável.
Poucos escrevem da mesma forma que um arquitecto constrói, traçando antecipadamente um plano e pensando-o até aos mais ínfimos pormenores. A maioria escreve como joga dominó: as frases ligam-se entre si como as peças de dominó, uma a uma, em parte deliberadamente, em parte por acaso.

As Chamadas Verdades Essenciais do Homem

As chamadas verdades essenciais do homem lembram-me às vezes números de um grande programa que os tambores anunciam pelas ruas fora que vai ser deslumbrante e cumprido à risca, e que os pobres actores, à noite, realizam sabe Deus como, a passar em claro cenas inteiras. A afirmar e a prometer, nenhum bicho leva a palma ao colega antropóide. Mas é vê-lo em plena representação, ou depois dela, no camarim, nu e lavado. Que miséria! A justiça imanente que pregou e demonstrou, acrescenta-lhe, por segurança, o ergástulo e o carrasco; ao pecado, junta-lhe a confissão; à predestinação, o livre arbítrio; à morte, a ressurreição. Lembra-me sempre a velha história dos castelos de heroísmo e fidelidade, com a portinha da traição disfarçada nas muralhas…