Passagens sobre Desejos

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Frases sobre desejos, poemas sobre desejos e outras passagens sobre desejos para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Trazer a Paixão de Volta

Se te encontras numa relação, e parto do princípio que se lá estás é porque ainda a queres, a única via para trazeres a paixão de volta ao seio do vosso quotidiano passa por rompê-lo. Sim, acabar com os hábitos, com as rotinas doentias e enfadonhas e com tudo aquilo que está, deem conta ou não, a acabar convosco e a consumir-vos lentamente. Daqui a pouco, se é que já não se encontram nesse estado, já nem podem olhar um para o outro, ouvir-se, cheirar-se e muito menos tocar-se e, por incrível que pareça, nada disto significa que o amor tenha desaparecido. O que se escafedeu foi mesmo a paixão, a ponte que passa por cima de todas as diferenças, conflitos e afins. Uma noite de sexo ou uma conchinha ao dormir, por exemplo, conseguem salvar a turbulência de uma semana inteira. É a magia dos sentidos.

Portanto, e retomando a nossa conversa, se queres despertar novamente o fogo entre ti e a pessoa com quem estás, não esperes mais pelo trágico e anunciado fim nem por uma eventual iniciativa que o outro possa tomar, agarra tu nas rédeas da tua vida e convida a pessoa para um jantar ou um outro programa qualquer num lugar diferente,

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Soneto V

Eu cantarei de amor tão novamente,
Se me ouve aquela de quem sempre canto,
Que de mim dor e magoa, e dela espanto
Terá a mais fera, inculta e dura gente.

E ela que assi tão crua e indinamente
Dura aos meus choros é, surda ao meu canto,
Algüa parte crerá (se não for tanto
Como eu desejo) do que esta alma sente.

Mas como esperarei achar piedade
De mim nem em mim mesmo, se ela nega
(Não peço brandos já) duros ouvidos?

Se nega um volver de olhos com que cega
A luz e dá só escuro claridade,
Como serão meus danos nunca cridos?

Quanto requintadamente humano foi o desejo de felicidade permanente, e quanto estreita se tornou a imaginação humana a tentar alcançá-la.

Personagem

Teu nome é quase indiferente
e nem teu rosto já me inquieta.
A arte de amar é exactamente
a de se ser poeta.

Para pensar em ti, me basta
o próprio amor que por ti sinto:
és a ideia, serena e casta,
nutrida do enigma do instinto.

O lugar da tua presença
é um deserto, entre variedades:
mas nesse deserto é que pensa
o olhar de todas as saudades.

Meus sonhos viajam rumos tristes
e, no seu profundo universo,
tu, sem forma e sem nome, existes,
silêncio, obscuro, disperso.

Teu corpo, e teu rosto, e teu nome,
teu coração, tua existência,
tudo – o espaço evita e consome:
e eu só conheço a tua ausência.

Eu só conheço o que não vejo.
E, nesse abismo do meu sonho,
alheia a todo outro desejo,
me decomponho e recomponho.

O Intelecto Como Auxiliar da Felicidade

A filosofia tem de admitir que não é nela, mas sim na vida, que o homem deve encontrar as suas maiores satisfações; não na biblioteca ou na cela monástica, mas na satisfação dos seus instintos mais antigos. A felicidade é inconsciente; só nos bafeja quando somos naturais; se nos detemos a analisá-la, desaparece, porque não é natural determo-nos a analisar uma coisa. Se o intelecto contribui para a felicidade não o faz como fonte primária, mas sim como meio de coordenação, como instrumento harmonizador dos desejos. Neste sentido o intelecto pode ser um precioso auxiliar; e de contrário de nada valeria realizarmos todos os nossos fins, porque os desejos cancelar-se-iam uns aos outros, dando como resultado uma triste futilidade.

Abster-se e Suportar

Limitar os nossos desejos, refrear a nossa cobiça, domar a nossa cólera, tendo sempre em mente que só podemos alcançar uma parte infinitamente pequena das coisas desejáveis, enquanto males múltiplos nos vão ferindo; em suma: abster-se e suportar (Epticteto), é uma regra que, caso não seja observada, nem riqueza nem poder podem impedir que nos sintamos miseráveis. A esse propósito, diz Horácio, nas Epístolas:

Em todos os teus actos, lê e pergunta aos doutos
Procurando assim conduzir serenamente a tua vida;
Que não sejas atormentado pela cobiça sempre insaciável,
Nem pelo temor e pela esperança de bens de pouca utilidade.

Testemunho Incontestado

1

Camões, mas que Camões?
Que mundo em transição se fixa nesta língua
Que margem se afirma
na língua que se inventa?
Que poeta transita
no mundo que se fixa?
Que poema se afixa
na mente que se alarga
à escala do Globo Universal
e amarga?
Que contrários se afrontam
nos ossos que nos tentam?
Camões, mas que Camões é este
que nos marca?

2

homem ou texto
olho vazado ou letra
miséria ou redondilha
bruxo velho ou brochura
sabedoria ou ilha
pesadelo ou visão
aventureiro ou máquina
tensa gasta ou tensão
um cego amor ou mundo
novidade ou idade
horizonte ou imagem
Camões ou re-Camões
Fortuna ou coisa amada
mudança ou só desejo
?

3

o lírico nas lonas

o épico e o hípico
que só a pé andou

corre o mundo em degredo
liberta-se em prisões

só um olho lhe basta
para a visão dos tempos
que novos se dispersam

e em não contradição se contradiz

4

dissipo a vida
se
dissipo a morte

aprendo a vida
se
aprendo a morte

sustento a vida
se
sustenho a morte

re contenho a vida

se retenho a morte

Eu Nunca Guardei Rebanhos

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.

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Uma vontade de sono no corpo, um desejo de não pensar na alma, e por cima de tudo uma transparência lúcida do entendimento retrospectivo…

Narciso

Dentro de mim me quis eu ver. Tremia,
Dobrado em dois sobre o meu próprio poço…
Ah, que terrível face e que arcabouço
Este meu corpo lânguido escondia!

Ó boca tumular, cerrada e fria,
Cujo silêncio esfíngico bem ouço!
Ó lindos olhos sôfregos, de moço,
Numa fronte a suar melancolia!

Assim me desejei nestas imagens.
Meus poemas requintados e selvagens,
O meu Desejo os sulca de vermelho:

Que eu vivo à espera dessa noite estranha,
Noite de amor em que me goze e tenha,
…Lá no fundo do poço em que me espelho!

Trabalho e Descanso na Justa Medida

A mente não se deve manter sempre na mesma intenção ou tensão, antes deve dar-se também à diversão. Sócrates não se envergonhava de brincar com as crianças, Catão aliviava com vinho o seu ânimo fatigado dos cuidados públicos e Cipião dançava com aquele corpo triunfante e militar (…) O nosso espírito deve relaxar: ficará melhor e mais apto após um descanso. Tal como não devemos forçar um terreno agrícola fértil com uma produtividade ininterrupta que depressa o esgotaria, também o esforço constante esvaziará o nosso vigor mental, enquanto um curto período de repouso restaurará o nosso poder. O esforço continuado leva a um tipo de torpor mental e letargia. Nem os desejos dos homens devem encaminhar-se tão depressa nesta direcção se o desporto e o jogo os envolvem numa espécie de prazer natural; embora uma repetida prática destrua toda a gravidade e força do nosso espírito. Afinal, o sono também é essencial para nos restaurar, mas se o prolongássemos constantemente, dia e noite, seria a morte.

O Sonho

Amor querido, por nada menos que tu
Teria eu interrompido este sonho feliz:
Era um tema
Para a razão, demasiado forte para fantasia.
Portanto, sabiamente, me acordaste; porém
O meu sonho não terminou, continuou contigo.
És tão verdadeira que bastam os pensamentos de ti
Para tornar sonhos realidade, fábulas em história.
Vem a meus braços, pois se pensaste ser melhor
Que não sonhasse todo o meu sonho, concretizemos o resto.

Como o relâmpago, ou a luz da vela,
Teus olhos, e não o teu ruído, me acordaram;
Porém pensei que eras
(Tu que amas a verdade) um Anjo — à primeira vista.
Mas quando vi que vias o meu coração
E os meus pensamentos, para além da arte do anjo,
Como sabias do meu sonho, como sabias quando
O excesso de gozo me acordaria, e então vieste,
Devo confessar que no mínimo, seria
Ultrajante, pensar-te outra coisa que não tu.

Vindo e ficando mostrou-me que tu és tu.
Mas o levantares-te faz-me duvidar, e temo agora
Que tu já não sejas tu.
E fraco o amor quando o medo é tão forte como ele;

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A imperfeição em si mesma não existe; existe ela, tão somente, para provocar o desejo de se ter alguma perfeição.

Floripes

Fazes lembrar as mouras dos castelos,
As errantes visões abandonadas
Que pelo alto das torres encantadas
Suspiravam de trêmulos anelos.

Traços ligeiros, tímidos, singelos
Acordam-te nas formas delicadas
Saudades mortas de regiões sagradas,
Carinhos, beijos, lágrimas, desvelos.

Um requinte de graça e fantasia
Dá-te segredos de melancolia,
Da Lua todo o lânguido abandono…

Desejos vagos, olvidadas queixas
Vão morrer no calor dessas madeixas,
Nas virgens florescências do teu sono.

Moças na Praia

Nem sombra de mangas penugem
sol talvez a asa de uma andorinha

(a ferir guitarra). Brilhando

no meio dos peixes as pernas folhas
que a noite aconchegou. A distância

(ao vivo) entre a humidade e o

desejo inapreensível. Os seios
(o alvo) rumor de bebidas no parque

à espera do conhecimento hora e corpo

(os corpos) a crescerem maduros
contra a morte.