Prosema I
Com a devida vĂ©nia me reparto junto do tampo de mármore meu secretário tĂŁo certo. Desde quando deixara eu de ouvir esta palavra? Logrei substituĂ-la numa manhĂŁ Ăłptima mas nĂŁo esta em que a mola salta reprimida sabe-se lá donde, algures na hipĂłfise.
Na confraria dos reclusos outras quimeras se aventam como Sol, MĂŁe, Amada, atĂ© que o tempo nosso inimigo se distancie e nos abandone por instantes. Na laje já sobre a qual o papel branco me obedece sem que o habitem outros sinais, pequeninos veios avolumam-se em áreas mais densas, configurando pássaros de porcelana chinesa. Afundo-me neste fundo para descobrir-lhes um sentido, branco, amarelo, de novo branco, cada centĂmetro um fuso de seres minĂşsculos, buscando reorganizar-se, perder-se, reagrupar-se.
De anacoreta nada tenho, sĂł de multidões entre Cacilhas, Piedade e o Barreiro. E Campo de Ourique, que digo! A minha mĂŁo move-se, o pensamento pára, descubro as uvas pendentes como se fora VerĂŁo e o Sol ferisse como se o olhara de frente. Nem o ruĂdo dos pássaros habituais junto Ă janela nos veio dar os bons dias, o funcionário impreterĂvel virá Ă hora impreterĂvel. Muito longe fora de portas um galo ou a sua ausĂŞncia. Tenho uma toalha, um guarda-fato, uma cama. Apalpo os objectos configuro-os Ă s mĂŁos acostumadas, sento-me. Lobrigo desejos; nas veias corre sangue sem mácula devolvido Ă força que o agita. Chamo a mim a reserva inesgotável de Alegrias, a raiva dos oprimidos, a bondade de um homem simples com quem, Ă s portas de Arraiolos, me embebedara num dia de sol e serra.(