(Deus)… nunca perturba a alegria dos seus filhos se não for para lhes preparar uma mais certa e maior.
Passagens sobre Deus
2120 resultadosMarília de Dirceu
(excerto)
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
que viva de guardar alheio gado,
de tosco trato, de expressões grosseiro,
dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite
e mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela, graças à minha estrela!Eu vi o meu semblante numa fonte:
dos anos inda não está cortado;
os pastores que habitam este monte
respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha,
que inveja até me tem o próprio Alceste:
ao som dela concerto a voz celeste,
nem canto letra que não seja minha.
Graças, Marília bela,
graças à minha estrela!Mas tendo tantos dotes da ventura,
só apreço lhes dou, gentil pastora,
depois que o teu afeto me segura
que queres do que tenho ser senhora.
E bom, minha Marília, é bom ser dono
de um rebanho, que cubra monte e prado;
porém, gentil pastora, o teu agrado
vale mais que um rebanho e mais que um trono.
A coragem de quem possui a elevada convicção de ser filho de Deus não é a de enfrentar um adversário para não ser derrotado, e sim a de oferecer a face direita a quem lhe bateu na esquerda.
A Luta do Antigo e do Novo
É sempre igual a luta do que é antigo, do que já existe e procura subsistir, contra o desenvolvimento, a formação e a transformação. Toda a ordem acaba por dar origem à pedanteria e para nos libertarmos dela destrói-se a ordem. Depois, demora sempre algum tempo até que se ganhe consciência de que é preciso voltar a estabelecer uma ordem. O clássico face ao romântico, a obrigação corporativa face à liberdade profissional, o latifúndio face à pulverização da propriedade fundiária: o conflito é sempre o mesmo e há-de sempre dar origem a um novo conflito. Deste modo, a maior prova de entendimento por parte do governante seria regular essa luta de tal maneira que, sem prejuízo de cada uma das partes, conseguisse manter-se equidistante.
É, no entanto, uma possibilidade que não foi dada aos homens, e Deus não parecer querer que assim aconteça.
A França!
Vou sobre o Oceano (o luar de lindo enleva!)
Por este mar de Gloria, em plena paz.
Terras da Patria somem-se na treva,
Agoas de Portugal ficam, atraz…Onde vou eu? Meu fado onde me leva?
Antonio, onde vaes tu, doido rapaz?
Não sei. Mas o vapor, quando se eleva,
Lembra o meu coração, na ancia em que jaz…Ó Luzitania que te vaes á vela!
Adeus! que eu parto (rezarei por ella…)
Na minha Nau Catharineta, adeus!Paquete, meu paquete, anda ligeiro!
Sobe depressa á gavea, marinheiro,
E grita, França! pelo amor de Deus!…
Não devemos nos antecipar nem atrasar. Tudo que fazemos é comparável à semeadura. Quando vivemos em conformidade com Deus, torna-se possível agirmos adequadamente nos momentos certos.
Benditos os que nunca lêem jornais, porque verão a Natureza e, através dela, Deus.
Não acredito em Deus porque nunca o vi Se ele quisesse que eu acreditasse nele, Sem dúvida que viria falar comigo E entraria pela minha porta adentro Dizendo-me, Aqui estou!
Deus é um conceito pelo qual medimos nossa dor.
Observa as árvores derrubadas: elas acabam secando. Todas as coisas (inclusive a doença) que não pertencem a Deus (existência verdadeira) são derrubadas quando a pessoa volta a mente para Deus. Uma árvore recém-derrubada parecerá viva por algum tempo, mas já está morta e acabará secando após algumas horas. O mesmo ocorre com a doença, quando a pessoa volve sua mente para Deus.
Se Deus existe, quem é? Se não existe, quem somos?
Estranha forma de vida
Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes onde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.
Deus é o invísivel evidente.
Cantar à Maneira de Solao
Pensando-vos estou, filha,
vossa mãi me está lembrando;
enchem-se-me os olhos d’ágoa,
nela vos estou lavando.
Nascestes, filha, antre mágoa,
para bem inda vos seja,
que no vosso nascimento
vos houve a furtuna enveja.
Morto era o contentamento,
nenhüa alegria ouvistes:
vossa mãi era finada,
nós outras éramos tristes.
Nada em dor, em dor criada,
não sei onde isto há-d’ir ter;
vejo-vos, filha, fermosa
c’os olhos verdes crecer.
Não era esta graça vossa
para nacer em desterro,
mal haja a desaventura
que pôs mais nisto que o erro!Tinha aqui sua sepultura
vossa mãi, e a mágoa nós;
não éreis vós, filha, não,
para morrerem por vós.
Não houve em fados razão,
nem se consente rogar;
de vosso pai hei mor dó,
que de si s’há-de queixar.Eu vos ouvi a vós só
primeiro que outrem ninguém,
não fôreis vós se eu não fora,
não sei se fiz mal, se bem.Mas não pode ser, senhora,
para mal nenhum nacerdes,
com este riso gracioso
que tendes sobr’olhos verdes.
Somos uma Turba e Ninguém
Somos uma turba e ninguém: um ninguém que vive, porque é sangue e carne, e existe porque é esqueleto ou pedra; e uma turba da espectros que nos acompanha desde a Origem, e é a nossa mesma pessoa multiplicada em mil tendências incoerentes, forças contraditórias, em vários sentidos ignotos… E lá vamos, a tactear as trevas, ladeando, avançando, recuando, como pobres jumentos aflitos e às escuras, sob as esporas que o espicaçam para a frente e as rédeas que o puxam para trás.
Pobres jumentos aflitos e às escuras! Escouceiam, orneiam, levantam a garupa. De que serve? As patas ferem o ar e aquela voz de soluços, que faz rir, não chega ao céu.
(…) Deus, criando as almas, condenou-as à suprema solidão. Algumas iludem a pena. Imaginam conviver com as árvores e os penedos. Falam às árvores e aos penedos, queixando-se dos seus desgostos. (…) Somos uma turba e ninguém. Somos Deus e o Demónio, o Céu e a Terra e outras letras grandes e Ninguém.
Trocou Finita Vida por Divina, Infinita e Clara Fama
− Não passes, caminhante! − Quem me chama?
− Uma memória nova e nunca ouvida,
De um que trocou finita e humana vida
Por divina, infinita e clara fama.− Quem é que tão gentil louvor derrama?
− Quem derramar seu sangue não duvida
Por seguir a bandeira esclarecida
De um capitão de Cristo, que mais ama.− Ditoso fim, ditoso sacrifício,
Que a Deus se fez e ao mundo juntamente!
Apregoando direi tão alta sorte.− Mais poderás contar a toda a gente
Que sempre deu na vida claro indício
De vir a merecer tão santa morte.
O que você tem a temer? Nada. Quem você precisa temer? Ninguém. Por quê? Porque aqueles que se unem a Deus obtêm três grandes privilégios: onipotência sem poder, embriaguez sem vinho e vida sem morte.
Deus é Luz infinita. Só a mente radiosa, ampla e generosa consegue ser uma ‘lente’ através da qual passa a Luz infinita de Deus.
Se Deus quisesse que o amor fosse eterno, teria feito que se mantivessem as condições do desejo.
Santa mãe de Deus, vós, que haveis concebido sem pecado, concedei-me a graça de pecar sem conceber.