NĂŁo se pode colher rosas sem temer os espinhos, nem desfrutar uma bela esposa sem o risco dos cornos.
Passagens sobre Espinhos
87 resultadosBaladas Românticas – Verde…
Como era verde este caminho!
Que calmo o céu! que verde o mar!
E, entre festões, de ninho em ninho,
A Primavera a gorjear!…
Inda me exalta, como um vinho,
Esta fatal recordação!
Secou a flor, ficou o espinho…
Como me pesa a solidão!Órfão de amor e de carinho,
Órfão da luz do teu olhar,
– Verde tambĂ©m, verde-marinho,
Que eu nunca mais hei de olvidar!
Sob a camisa, alva de linho,
Te palpitava o coração…
Ai! coração! peno e definho,
Longe de ti, na solidĂŁo!Oh! tu, mais branca do que o arminho,
Mais pálida do que o luar!
– Da sepultura me avizinho,
Sempre que volto a este lugar…
E digo a cada passarinho:
“NĂŁo cantes mais! que essa canção
Vem me lembrar que estou sozinho,
No exĂlio desta solidĂŁo!”No teu jardim, que desalinho!
Que falta faz a tua mĂŁo!
Como inda Ă© verde este caminho…
Mas como o afeia a solidĂŁo!
Falar de amor, e por dentro ter sentimento odioso, é como andar sob flores suaves, mas, escondido entre as pétalas ter espinhos agudos.
O homem de espĂrito nobre rega as flores para outros e para si reserva os espinhos.
A Vida
“A Vida”
I
“…Mudarás, todos mudam, e os espinhos
com surpresa verás por todo lado,
– sĂŁo assim nesta vida os seus caminhos
desde que o homem no mundo tem andado…NĂŁo hás de ser o eterno namorado
com as mãos e os lábios cheios de carinho,
– hoje, juntos os dois… tudo encantado!
– amanhĂŁ, tudo triste… os dois sozinhos!…E sentindo o teu braço entĂŁo vazio,
abatido verás que não resistes
à inclemência do tempo úmido e frio!Rolarás por escarpas e barrancos:
sobre o epitáfio dos teus olhos tristes
trazendo a campa dos cabelos brancos!”
Alma que Foste Minha
Alma que foste minha,
desprendida de meu corpo e de meu espĂrito,
leque de palma sem raĂzes, sem tormentas,
que género esta noite te distingue,
que metro te organiza, por que dogmas,
que signos te orientam — rumo a quê?— Mestre, qual é o sexo das almas?
Desmarcada e sem cordas
alma que foste minha
sem cravos e sem espinhos
que trigo milenar te mata a fome
divina
que pirâmide encerra tua essência
nudĂssima
que corpo te defende de ti mesma
do espaço
que idade, quantas eras, contra o tempo
alma anárquica
desmarcada e sem cravos
sem precisĂŁo de estar
ou de ficar
— Que te vale Bizâncio?
ou de mudar
ou de fazer, ou de ostentar
— Que te vale este verso?
apoética, absurda
como chamar-te alma, de quĂŞ, quando,
para quĂŞ, alma de morto, para onde?
Musa Consolatrix
Que a mão do tempo e o hálito dos homens
Murchem a flor das ilusões da vida,
Musa consoladora,
É no teu seio amigo e sossegado
Que o poeta respira o suave sono.Não há, não há contigo,
Nem dor aguda, nem sombrios ermos;
Da tua voz os namorados cantos
Enchem, povoam tudo
De Ăntima paz, de vida e de conforto.Ante esta voz que as dores adormece,
E muda o agudo espinho em flor cheirosa,
Que vales tu, desilusĂŁo dos homens?
Tu que podes, Ăł tempo?
A alma triste do poeta sobrenada
Ă€ enchente das angĂşstias;
E, afrontando o rugido da tormenta,
Passa cantando, alcĂone divina.Musa consoladora,
Quando da minha fronte de mancebo
A Ăşltima ilusĂŁo cair, bem como
Folha amarela e seca
Que ao chão atira a viração do outono,
Ah! no teu seio amigo
Acolhe-me, — e terá minha alma aflita,
Em vez de algumas ilusões que teve,
A paz, o Ăşltimo bem, Ăşltimo e puro!
Neblina
Um dedo a bordo aponta
a neblina sentada, sustentada
sobre o topo do monte.O céu está todo azul, com excepção
daqueles trapos brancos, como roupa
de alguém que passou por uma planta
com espinhos e não se acautelou.É uma espécie de água altaneira,
evadida do rio,
que ora entremostra ora esconde
fragadas, pinhal, terra
arroteada.Sim, concedo,
Ă© muito sugestivo.Mas, cansado de pairar
nestes transes de lirismo
que me escaldam sem me purificar,
prefiro a água propriamente dita:
água com peso,
esta boa água, sólida, palpável,
que, poupando-me a pele,
me humedece as entranhas
(para nĂŁo falar dos olhos,
mas isso Ă© outra histĂłria)– e Ă flor da qual se repete
a neblina do monte.Ou nĂŁo fosse o rio um espelho
antes de rio.
Quem caminha descalço não deve semear espinhos.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos, ao longe, o vento vai falando de mim.
A Verdadeira Virtude
NĂŁo se pode pensar em virtude sem se pensar num estado e num impulso contrários aos de virtude e num persistente esforço da vontade. Para me desenhar um homem virtuoso tenho que dar relevo principal ao que nele Ă© voluntário; tenho de, talvez em esquema exagerado, lhe pĂ´r acima de tudo o que Ă© modelar e conter. Pela origem e pelo significado nĂŁo posso deixar de a ligar Ă s fortes resoluções e Ă coragem civil. E um contĂnuo querer e uma contĂnua vigilância, uma batalha perpĂ©tua dada aos elementos que, entendendo, classifiquei como maus; requer as nĂtidas visões e as almas destemidas.
Por isso não me prende o menino virtuoso; a bondade só é nele o estado natural; antes o quero bravio e combativo e com sua ponta de maldade; assim me dá a certeza de que o terei mais tarde, quando a vontade se afirmar e a reflexão distinguir os caminhos, com material a destruir na luta heróica e a energia suficiente para nela se empenhar. O que não chora, nem parte, nem esbraveja, nem resiste aos conselhos há-de formar depois nas massas submissas; muitas vezes me há-de parecer que a sua virtude consiste numa falta de habilidade para urdir o mal,
Sou Eu!
Ă€ minha ilustre camarada Laura haves
Pelos campos em fora, pelos combros,
Pelos montes que embalam a manhĂŁ,
Largo os meus rubros sonhos de pagĂŁ,
Enquanto as aves poisam nos meus ombros…Em vĂŁo me sepultaram entre escombros
De catedrais duma escultura vĂŁ!
Olha-me o loiro sol tonto de assombros,
as nuvens, a chorar, chamam-me irmĂŁ!Ecos longĂnquos de ondas… de universos..
Ecos dum Mundo… dum distante AlĂ©m,
Donde eu trouxe a magia dos meus versos!Sou eu! Sou eu! A que nas mĂŁos ansiosas
Prendeu da vida, assim como ninguém,
Os maus espinhos sem tocar nas rosas!
A Rosa
Tu, flor de Vénus,
Corada Rosa,
Leda, fragrante,
Pura, mimosa,Tu, que envergonhas
As outras flores,
Tens menos graça
Que os meus amores.Tanto ao diurno
Sol coruscante
Cede a nocturna
Lua inconstante,Quanto a MarĂlia
TĂ© na pureza
Tu, que és o mimo
Da Natureza.O buliçoso,
Cândido Amor
PĂ´s-lhe nas faces
Mais viva cor;Tu tens agudos
Cruéis espinhos,
Ela suaves
Brandos carinhos;Tu nĂŁo percebes
Ternos desejos,
Em vĂŁo FavĂłnio
Te dá mil beijos.MarĂlia bela
Sente, respira,
Meus doces versos
Ouve, e suspira.A mĂŁe das flores,
A Primavera,
Fica vaidosa
Quando te gera;PorĂ©m MarĂlia
No mago riso
Traz as delĂcias
Do ParaĂso.Amor que diga
Qual Ă© mais bela,
Qual Ă© mais pura,
Se tu, ou ela;Que diga VĂ©nus…
Ela aĂ vem…
Ai! Enganei-me,
Que Ă© o meu bem.
É por vezes um espinho oculto e insuportável, que temos cravado na carne, que nos torna difĂceis e duros para com toda a gente.
Damos, muitas vezes, nomes diferentes Ă s coisas: O que para mim sĂŁo espinhos, vĂłs chamais-lhe rosas.
Rosa sem Espinhos
Para todos tens carinhos,
A ninguém mostras rigor!
Que rosa és tu sem espinhos?
Ai, que nĂŁo te entendo, flor!Se a borboleta vaidosa
A desdém te vai beijar,
O mais que lhe fazes, rosa,
É sorrir e é corar.E quando a sonsa da abelha,
TĂŁo modesta em seu zumbir,
Te diz: «Ó rosa vermelha,
» Bem me podes acudir:» Deixa do cálix divino
» Uma gota sĂł libar…
» Deixa, é néctar peregrino,
» Mel que eu nĂŁo sei fabricar …»Tu de lástima rendida,
De maldita compaixĂŁo,
Tu Ă sĂşplica atrevida
Sabes tu dizer que não?Tanta lástima e carinhos,
Tanto dĂł, nenhum rigor!
És rosa e não tens espinhos!
Ai !, que nĂŁo te entendo, flor.
Eterna Dor
Alma de meu amor, lĂrio celeste,
Sonho feito de um beijo e de um carinho,
Criatura gentil, pomba de arminho,
Arrulhando nas folhas de um cipreste.Ă“ minha mĂŁe! Por que no mundo agreste,
Rola formosa, abandonaste o ninho?
Se as roseiras do Céu não têm espinhos,
Quero ir contigo, Ăł lĂrio meu celeste!Ah! se soubesses como sofro, e tanto!
Leva-me Ă terra onde nĂŁo corre o pranto,
Leva-me, santa, onde a ventura existe…Aqui na vida – que tamanha mágoa! –
O prĂłprio olhar de Deus encheu-se d’água…
Ă“ minha mĂŁe, como este mundo Ă© triste!
GratidĂŁo
A minha gratidão te dá meus versos:
Meus versos, da lisonja nĂŁo tocados,
Satélites de Amor, Amor seguindo
Co’as asas que lhes pĂ´s benigna Fama,
Qual nĂveo bando de inocentes pombas,
Os lares vĂŁo saudar, propĂcios lares,
Que em doce recepção me contiveram
Incertos passos da IndigĂŞncia errante;
Dos olhos vĂŁo ser lidos, que apiedara
A catástrofe acerba de meus dias,
Dos infortĂşnios meus o quadro triste;
VĂŁo pousar-te nas mĂŁos, nas mĂŁos que foram
TĂŁo dadivosas para o vate opresso,
Que o peso dos grilhões me aligeiraram,
Que sobre espinhos me esparziram flores,
Enquanto nĂŁo recentes, vĂŁos amigos,
Inúteis corações, volúvel turba
(A versos mais atenta que a suspiros)
No Letes mergulhou memĂłrias minhas.
Amigos da Ventura e nĂŁo de Elmano,
Aónio serviçal de vós me vinga;
Ao nome da Virtude o VĂcio core.NĂŁo sei se vens de herĂłis, se vens de grandes;
NĂŁo sei, meu benfeitor, se teus maiores
Foram cobertos, decorados foram
De purpúreos dosséis, de márcios loiros;
Sei que frequentas da Amizade o templo,
Que és grande,
Devo Ă Paisagem as Poucas Alegrias que Tive no Mundo
Devo Ă paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os homens sĂł me deram tristezas. Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca me entenderam. AtĂ© os mais prĂłximos, os mais amigos, me cravaram na hora prĂłpria um espinho envenenado no coração. A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa. É claro que nunca um panorama me interessou como gargarejo. É mesmo um favor que peço ao destino: que me poupe Ă degradação das habituais paneladas de prosa, a descrever de cor caminhos e florestas. As dobras, e as cores do chĂŁo onde firmo os pĂ©s, foram sempre no meu espĂrito coisas sagradas e Ăntimas como o amor. Falar duma encosta coberta de neve sem ter a alma branca tambĂ©m, retratar uma folha sem tremer como ela, olhar um abismo sem fundura nos olhos, Ă© para mim o mesmo que gostar sem lĂngua, ou cantar sem voz. Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espĂrito um sentido tĂŁo acabado do perfeito e do eterno. Bem sei que há gente que encontra o mesmo universo no jogo dum mĂşsculo ou na linha dum perfil.
O Sucesso para um Grande Amor
Estou contente porque a minha querida nĂŁo tem ainda o afecto exclusivo e Ăşnico que há-de sentir um dia por um homem, apesar de todas as suas teorias que há-de ver voar, voar para tĂŁo longe ainda!… E no entanto, elas sĂŁo tĂŁo verdadeiras! Ainda assim, minha querida JĂşlia, uma das coisas melhores da nossa vida de tĂŁo prosaico sĂ©culo, Ă© o amor, o grande e discutido amor, o nosso encanto e o nosso mistĂ©rio; as nossas pĂ©talas de rosa e a nossa coroa de espinhos. O amor Ăşnico, doce e sentimental da nossa alma de portugueses, o amor de que fala JĂşlio Dantas, «uma ternura casta, uma ternura sã» de que «o peito que o sente Ă© um sacrário estrelaÂdo», como diz Junqueiro; o amor que Ă© a razĂŁo Ăşnica da vida que se vive e da alma que se tem; a paixĂŁo delicada que dá beijos ao luar e alma a tudo, desde o olhar ao sorriso, — Ă© ainda uma coisa nobre, bela e digna! Digna de si, do seu sentir, do seu grande coração, ao mesmo tempo violento e calmo. Esse amor que «em sendo triste, canta, e em sendo alegre, chora», esse amor há-de senti-lo um dia,