Passagens sobre Espinhos

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Frases sobre espinhos, poemas sobre espinhos e outras passagens sobre espinhos para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Baladas Românticas – Verde…

Como era verde este caminho!
Que calmo o céu! que verde o mar!
E, entre festões, de ninho em ninho,
A Primavera a gorjear!…
Inda me exalta, como um vinho,
Esta fatal recordação!
Secou a flor, ficou o espinho…
Como me pesa a solidĂŁo!

Órfão de amor e de carinho,
Órfão da luz do teu olhar,
– Verde tambĂ©m, verde-marinho,
Que eu nunca mais hei de olvidar!
Sob a camisa, alva de linho,
Te palpitava o coração…
Ai! coração! peno e definho,
Longe de ti, na solidĂŁo!

Oh! tu, mais branca do que o arminho,
Mais pálida do que o luar!
– Da sepultura me avizinho,
Sempre que volto a este lugar…
E digo a cada passarinho:
“NĂŁo cantes mais! que essa canção
Vem me lembrar que estou sozinho,
No exĂ­lio desta solidĂŁo!”

No teu jardim, que desalinho!
Que falta faz a tua mĂŁo!
Como inda Ă© verde este caminho…
Mas como o afeia a solidĂŁo!

Falar de amor, e por dentro ter sentimento odioso, é como andar sob flores suaves, mas, escondido entre as pétalas ter espinhos agudos.

A Vida

“A Vida”
I
“…Mudarás, todos mudam, e os espinhos
com surpresa verás por todo lado,
– sĂŁo assim nesta vida os seus caminhos
desde que o homem no mundo tem andado…

Não hás de ser o eterno namorado
com as mãos e os lábios cheios de carinho,
– hoje, juntos os dois… tudo encantado!
– amanhĂŁ, tudo triste… os dois sozinhos!…

E sentindo o teu braço então vazio,
abatido verás que não resistes
Ă  inclemĂŞncia do tempo Ăşmido e frio!

Rolarás por escarpas e barrancos:
sobre o epitáfio dos teus olhos tristes
trazendo a campa dos cabelos brancos!”

Alma que Foste Minha

Alma que foste minha,
desprendida de meu corpo e de meu espĂ­rito,
leque de palma sem raĂ­zes, sem tormentas,
que género esta noite te distingue,
que metro te organiza, por que dogmas,
que signos te orientam — rumo a quê?

— Mestre, qual é o sexo das almas?

Desmarcada e sem cordas
alma que foste minha
sem cravos e sem espinhos
que trigo milenar te mata a fome
divina
que pirâmide encerra tua essência
nudĂ­ssima
que corpo te defende de ti mesma
do espaço
que idade, quantas eras, contra o tempo
alma anárquica
desmarcada e sem cravos
sem precisĂŁo de estar
ou de ficar
— Que te vale Bizâncio?
ou de mudar
ou de fazer, ou de ostentar
— Que te vale este verso?
apoética, absurda
como chamar-te alma, de quĂŞ, quando,
para quĂŞ, alma de morto, para onde?

Musa Consolatrix

Que a mão do tempo e o hálito dos homens
Murchem a flor das ilusões da vida,
Musa consoladora,
É no teu seio amigo e sossegado
Que o poeta respira o suave sono.

Não há, não há contigo,
Nem dor aguda, nem sombrios ermos;
Da tua voz os namorados cantos
Enchem, povoam tudo
De Ă­ntima paz, de vida e de conforto.

Ante esta voz que as dores adormece,
E muda o agudo espinho em flor cheirosa,
Que vales tu, desilusĂŁo dos homens?
Tu que podes, Ăł tempo?
A alma triste do poeta sobrenada
Ă€ enchente das angĂşstias;
E, afrontando o rugido da tormenta,
Passa cantando, alcĂ­one divina.

Musa consoladora,
Quando da minha fronte de mancebo
A Ăşltima ilusĂŁo cair, bem como
Folha amarela e seca
Que ao chão atira a viração do outono,
Ah! no teu seio amigo
Acolhe-me, — e terá minha alma aflita,
Em vez de algumas ilusões que teve,
A paz, o Ăşltimo bem, Ăşltimo e puro!

Neblina

Um dedo a bordo aponta
a neblina sentada, sustentada
sobre o topo do monte.

O céu está todo azul, com excepção
daqueles trapos brancos, como roupa
de alguém que passou por uma planta
com espinhos e nĂŁo se acautelou.

É uma espécie de água altaneira,
evadida do rio,
que ora entremostra ora esconde
fragadas, pinhal, terra
arroteada.

Sim, concedo,
Ă© muito sugestivo.

Mas, cansado de pairar
nestes transes de lirismo
que me escaldam sem me purificar,
prefiro a água propriamente dita:
água com peso,
esta boa água, sólida, palpável,
que, poupando-me a pele,
me humedece as entranhas
(para nĂŁo falar dos olhos,
mas isso Ă© outra histĂłria)

– e Ă  flor da qual se repete
a neblina do monte.

Ou nĂŁo fosse o rio um espelho
antes de rio.

A Verdadeira Virtude

Não se pode pensar em virtude sem se pensar num estado e num impulso contrários aos de virtude e num persistente esforço da vontade. Para me desenhar um homem virtuoso tenho que dar relevo principal ao que nele é voluntário; tenho de, talvez em esquema exagerado, lhe pôr acima de tudo o que é modelar e conter. Pela origem e pelo significado não posso deixar de a ligar às fortes resoluções e à coragem civil. E um contínuo querer e uma contínua vigilância, uma batalha perpétua dada aos elementos que, entendendo, classifiquei como maus; requer as nítidas visões e as almas destemidas.
Por isso não me prende o menino virtuoso; a bondade só é nele o estado natural; antes o quero bravio e combativo e com sua ponta de maldade; assim me dá a certeza de que o terei mais tarde, quando a vontade se afirmar e a reflexão distinguir os caminhos, com material a destruir na luta heróica e a energia suficiente para nela se empenhar. O que não chora, nem parte, nem esbraveja, nem resiste aos conselhos há-de formar depois nas massas submissas; muitas vezes me há-de parecer que a sua virtude consiste numa falta de habilidade para urdir o mal,

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Sou Eu!

Ă€ minha ilustre camarada Laura haves

Pelos campos em fora, pelos combros,
Pelos montes que embalam a manhĂŁ,
Largo os meus rubros sonhos de pagĂŁ,
Enquanto as aves poisam nos meus ombros…

Em vĂŁo me sepultaram entre escombros
De catedrais duma escultura vĂŁ!
Olha-me o loiro sol tonto de assombros,
as nuvens, a chorar, chamam-me irmĂŁ!

Ecos longĂ­nquos de ondas… de universos..
Ecos dum Mundo… dum distante AlĂ©m,
Donde eu trouxe a magia dos meus versos!

Sou eu! Sou eu! A que nas mĂŁos ansiosas
Prendeu da vida, assim como ninguém,
Os maus espinhos sem tocar nas rosas!

A Rosa

Tu, flor de Vénus,
Corada Rosa,
Leda, fragrante,
Pura, mimosa,

Tu, que envergonhas
As outras flores,
Tens menos graça
Que os meus amores.

Tanto ao diurno
Sol coruscante
Cede a nocturna
Lua inconstante,

Quanto a MarĂ­lia
TĂ© na pureza
Tu, que és o mimo
Da Natureza.

O buliçoso,
Cândido Amor
PĂ´s-lhe nas faces
Mais viva cor;

Tu tens agudos
Cruéis espinhos,
Ela suaves
Brandos carinhos;

Tu nĂŁo percebes
Ternos desejos,
Em vĂŁo FavĂłnio
Te dá mil beijos.

MarĂ­lia bela
Sente, respira,
Meus doces versos
Ouve, e suspira.

A mĂŁe das flores,
A Primavera,
Fica vaidosa
Quando te gera;

Porém Marília
No mago riso
Traz as delĂ­cias
Do ParaĂ­so.

Amor que diga
Qual Ă© mais bela,
Qual Ă© mais pura,
Se tu, ou ela;

Que diga VĂ©nus…
Ela aĂ­ vem…
Ai! Enganei-me,
Que Ă© o meu bem.

É por vezes um espinho oculto e insuportável, que temos cravado na carne, que nos torna difíceis e duros para com toda a gente.

Rosa sem Espinhos

Para todos tens carinhos,
A ninguém mostras rigor!
Que rosa és tu sem espinhos?
Ai, que nĂŁo te entendo, flor!

Se a borboleta vaidosa
A desdém te vai beijar,
O mais que lhe fazes, rosa,
É sorrir e é corar.

E quando a sonsa da abelha,
TĂŁo modesta em seu zumbir,
Te diz: «Ó rosa vermelha,
» Bem me podes acudir:

» Deixa do cálix divino
» Uma gota sĂł libar…
» Deixa, é néctar peregrino,
» Mel que eu nĂŁo sei fabricar …»

Tu de lástima rendida,
De maldita compaixĂŁo,
Tu Ă  sĂşplica atrevida
Sabes tu dizer que nĂŁo?

Tanta lástima e carinhos,
Tanto dĂł, nenhum rigor!
És rosa e não tens espinhos!
Ai !, que nĂŁo te entendo, flor.

Eterna Dor

Alma de meu amor, lĂ­rio celeste,
Sonho feito de um beijo e de um carinho,
Criatura gentil, pomba de arminho,
Arrulhando nas folhas de um cipreste.

Ă“ minha mĂŁe! Por que no mundo agreste,
Rola formosa, abandonaste o ninho?
Se as roseiras do Céu não têm espinhos,
Quero ir contigo, Ăł lĂ­rio meu celeste!

Ah! se soubesses como sofro, e tanto!
Leva-me Ă  terra onde nĂŁo corre o pranto,
Leva-me, santa, onde a ventura existe…

Aqui na vida – que tamanha mágoa! –
O prĂłprio olhar de Deus encheu-se d’água…
Ă“ minha mĂŁe, como este mundo Ă© triste!

GratidĂŁo

A minha gratidão te dá meus versos:
Meus versos, da lisonja nĂŁo tocados,
Satélites de Amor, Amor seguindo
Co’as asas que lhes pĂ´s benigna Fama,
Qual nĂ­veo bando de inocentes pombas,
Os lares vĂŁo saudar, propĂ­cios lares,
Que em doce recepção me contiveram
Incertos passos da IndigĂŞncia errante;
Dos olhos vĂŁo ser lidos, que apiedara
A catástrofe acerba de meus dias,
Dos infortĂşnios meus o quadro triste;
VĂŁo pousar-te nas mĂŁos, nas mĂŁos que foram
TĂŁo dadivosas para o vate opresso,
Que o peso dos grilhões me aligeiraram,
Que sobre espinhos me esparziram flores,
Enquanto nĂŁo recentes, vĂŁos amigos,
Inúteis corações, volúvel turba
(A versos mais atenta que a suspiros)
No Letes mergulhou memĂłrias minhas.
Amigos da Ventura e nĂŁo de Elmano,
Aónio serviçal de vós me vinga;
Ao nome da Virtude o VĂ­cio core.

NĂŁo sei se vens de herĂłis, se vens de grandes;
NĂŁo sei, meu benfeitor, se teus maiores
Foram cobertos, decorados foram
De purpúreos dosséis, de márcios loiros;
Sei que frequentas da Amizade o templo,
Que és grande,

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Devo Ă  Paisagem as Poucas Alegrias que Tive no Mundo

Devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os homens só me deram tristezas. Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca me entenderam. Até os mais próximos, os mais amigos, me cravaram na hora própria um espinho envenenado no coração. A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa. É claro que nunca um panorama me interessou como gargarejo. É mesmo um favor que peço ao destino: que me poupe à degradação das habituais paneladas de prosa, a descrever de cor caminhos e florestas. As dobras, e as cores do chão onde firmo os pés, foram sempre no meu espírito coisas sagradas e íntimas como o amor. Falar duma encosta coberta de neve sem ter a alma branca também, retratar uma folha sem tremer como ela, olhar um abismo sem fundura nos olhos, é para mim o mesmo que gostar sem língua, ou cantar sem voz. Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno. Bem sei que há gente que encontra o mesmo universo no jogo dum músculo ou na linha dum perfil.

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O Sucesso para um Grande Amor

Estou contente porque a minha querida nĂŁo tem ainda o afecto exclusivo e Ăşnico que há-de sentir um dia por um homem, apesar de todas as suas teorias que há-de ver voar, voar para tĂŁo longe ainda!… E no entanto, elas sĂŁo tĂŁo verdadeiras! Ainda assim, minha querida JĂşlia, uma das coisas melhores da nossa vida de tĂŁo prosaico sĂ©culo, Ă© o amor, o grande e discutido amor, o nosso encanto e o nosso mistĂ©rio; as nossas pĂ©talas de rosa e a nossa coroa de espinhos. O amor Ăşnico, doce e sentimental da nossa alma de portugueses, o amor de que fala JĂşlio Dantas, «uma ternura casta, uma ternura sã» de que «o peito que o sente Ă© um sacrário estrela­do», como diz Junqueiro; o amor que Ă© a razĂŁo Ăşnica da vida que se vive e da alma que se tem; a paixĂŁo delicada que dá beijos ao luar e alma a tudo, desde o olhar ao sorriso, — Ă© ainda uma coisa nobre, bela e digna! Digna de si, do seu sentir, do seu grande coração, ao mesmo tempo violento e calmo. Esse amor que «em sendo triste, canta, e em sendo alegre, chora», esse amor há-de senti-lo um dia,

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