A Celebridade é um Plebeísmo
Às vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por eles toda a tristeza da celebridade.
A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve ferir uma alma delicada. É um plebeísmo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que se torna célebre fica sem vida íntima: tornam-se de vidro as paredes da sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo o seu traje; e aquelas suas mínimas acções – ridiculamente humanas às vezes – que ele quereria invisíveis, coa-as a lente da celebridade para espectaculosas pequenezes, com cuja evidência a sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muito grosseiro para se poder ser célebre à vontade.
Depois, além dum plebeísmo, a celebridade é uma contradição. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as desvaloriza e as enfraquece. Um homem de génio desconhecido pode gozar a volúpia suave do contraste entre a sua obscuridade e o seu génio; e pode, pensando que seria célebre se quisesse, medir o seu valor com a sua melhor medida, que é ele próprio.
Passagens sobre Fraqueza
258 resultadosAs Minhas Fraquezas
Há uma certa fraqueza, uma falha em mim que é suficientemente clara e distinta mas difícil de descrever: é uma mistura de timidez, reserva, verbosidade, tibieza; pretendo com isto caracterizar qualquer coisa de específico, um grupo de fraquezas que sob um certo aspecto constituem uma única fraqueza claramente definida (o que não tem nada a ver com esses vícios graves que são a mentira, a vaidade, etc.). Esta fraqueza impede-me de enlouquecer, eu cultivo-a; com medo da loucura, sacrifico toda a ascensão que eu poderia fazer e perderei de certeza o negócio, porque não é possível fazerem-se negócios nesta esfera. A menos que a sonolência não se misture e com o seu trabalho diurno e nocturno não quebre todos os obstáculos e não prepare o caminho. Mas nesse caso serei apanhado pela loucura — porque para se fazer uma ascensão é preciso querer-se e eu não queria.
No amor a ingratidão é filha primogénita da abnegação e da fraqueza.
A vingança procede sempre da fraqueza da alma, que não é capaz de suportar as injúrias.
Os homens semeiam na terra o que colherão na vida espiritual: os frutos da sua coragem ou da sua fraqueza.
Somos Uma Surpresa Para Nós Próprios
Como serão em privado as pessoas que conhecemos? Quanta surpresa se o soubéssemos. Porque nós, instintivamente, tendemos a julgá-las idênticas dentro e fora de si. Mas o que somos por fora é o que aceitamos que o seja e é o que os outros estabeleceram. Tal fanfarrão na praça pública pode ser um chilro piegas quando lá não está ou um medricas quando a coisa é a sério (Não dizia Aristóteles que os grandes atletas eram maus soldados?). Ou inversamente. O que aceita para si a imagem exterior de um mole, de um tíbio, de um encolhido de comportamento – no interior de si, e quando for caso disso, pode ser um obstinado de dente rilhado. Há um estilo de se ser que se adopta por convenção generalizada, orientação de uma época, obrigação protocolar no modo de nos manifestarmos.
(…) As regras de comportamento em grandezas chegam só à porta da rua ou ao menos da do quarto ou seguramente à da casa de banho. E daí para dentro, vale tudo, ou seja a regra somos nós. E é então que sabemos quem somos ou quem é aquele que consentimos que seja ou em que medida respeitamos em nós o que respeitamos nos outros.
É preciso ser-se bom e mau. E quem for bom apenas por fraqueza, é sempre eminentemente mau.
A Verdadeira Amizade
Na verdadeira amizade, em que sou experimentado, dou-me mais ao meu amigo que o puxo para mim. Não só prefiro fazer-lhe bem a que ele mo faça mas ainda que ele o faça a si próprio a que mo faça; faz-me ele, então, o maior bem possível quando a si o faz. E se a sua ausência lhe for quer prazenteira quer útil, torna-se-me ela bem mais agradável que a sua presença; e de resto não é propriamente ausência se há meios de comunicarmos um com o outro. Tirei outrora partido e proveito do nosso afastamento. Em nos separando, melhor e mais amplamente entrávamos em posse da vida: ele vivia, fruía e via para mim, e eu para ele, mais plenamente que se ele estivesse presente. Uma parte de cada um de nós permanecia desocupada quando estávamos juntos: fundíamo-nos num só. A separação espacial tornava mais rica a união das nossas vontades. A insaciável fome da presença física denuncia uma certa fraqueza na fruição mútua das almas.
Aquilo que representamos, ou seja, a nossa existência na opinião dos outros, é, em consequência de uma fraqueza especial da nossa natureza, geralmente bastante apreciado; embora a mais leve reflexão já nos possa ensinar que, em si mesma, tal coisa não é essencial para a nossa felicidade.
Compreensão Sábia e Activa
A primeira condição para libertar os outros é libertar-se a si próprio; quem apareça manchado de superstição ou de fanatismo ou incapaz de separar e distinguir ou dominado pelos sentimentos e impulsos, não o tomarei eu como guia do povo; antes de tudo uma clara inteligência, eternamente crítica, senhora do mundo e destruidora das esfinges; banirá do seu campo a histeria e a retórica; e substituirá a musa trágica por Platão e os geómetras.
Hei-de vê-lo depois de despido de egoísmo, atente somente aos motivos gerais; o seu bem será sempre o bem alheio; terá como inferior o que se deleita na alegria pessoal e não põe sobre tudo o serviço dos outros; à sua felicidade nada falta senão a felicidade de todos; esquecido de si, batalhará, enquanto lhe restar um alento, para destruir a ignorância e a miséria que impedem os seus irmãos de percorrer a ampla estrada em que ele marcha.
Nenhuma vontade de domínio; mandar é do mundo das aparências, tornar melhor de um sólido universo de verdades; se tiver algum poder somente o veja como um indício de que estão ainda muito baixos os homens que lho dão; incite-o o sentir-se superior a mais nobre e rude esforço para que se esbatam e percam as diferenças;
Credulidade é a fraqueza do homem mas é a força da criança.
Quem nunca perde de vista o inimigo está defendido da necessidade de descobrir fragilidades e fraquezas que se manifestam no seu próprio campo.
Quem pede com fortaleza, no ar sente fraqueza.
Momentos de fraqueza na vida qualquer um os poderá ter, e, se hoje passamos sem eles, tenhamo-los por certos amanhã.
Quanto maior é na cabeça o esvaecimento, vem a ser mais no coração a fraqueza.
Sejamos Alegres
Denuncio nossa fraqueza, denuncio o horror alucinante de morrer — e respondo a toda essa infâmia com — exatamente isto que vai agora ficar escrito — e respondo a toda essa infâmia com a alegria. Puríssima e levíssima alegria. A minha única salvação é a alegria. Uma alegria atonal dentro do it essencial. Não faz sentido? Pois tem que fazer. Porque é cruel demais saber que a vida é única e que não temos como garantia senão a fé em trevas — porque é cruel demais, então respondo com a pureza de uma alegria indomável. Recuso-me a ficar triste. Sejamos alegres. Quem não tiver medo de ficar alegre e experimentar uma só vez sequer a alegria doida e profunda terá o melhor de nossa verdade. Eu estou — apesar de tudo oh apesar de tudo — estou sendo alegre neste instante-já que passa se eu não fixá-lo com palavras. Estou sendo alegre neste mesmo instante porque me recuso a ser vencida: então eu amo. Como resposta. Amor impessoal, amor it, é alegria: mesmo o amor que não dá certo, mesmo o amor que termina. E a minha própria morte e a dos que amamos tem que ser alegre, não sei ainda como,
De muitos homens se diz que não conhecem a própria fraqueza. De alguns poderia dizer-se ainda que menos conhecem as próprias forças, precisamente como os proprietários de certos terrenos que desconhecem existirem neles filões de ouro.
Havia na Manchúria um batalhão do exército chinês formado somente por adeptos de certa seita religiosa. Eles usavam preso ao abdômen um talismã e possuíam a seguinte fé inabalável: ‘As balas não atingem; mesmo que me atinjam, não morrerei; mesmo que eu morra, ressuscitarei’. Esses soldados investiam destemidamente contra os inimigos, causando-lhes sérios danos. Nem as rajadas de metralhadoras conseguiam detê-los. Mesmo recebendo duas ou três balas no corpo, eles não esmoreciam; quando caíam, levantavam-se e avançavam de novo. Por isso, quando se enfrentava esse batalhão, era inevitável acabar em luta corpo-a-corpo, com baionetas. Consta que, ao final da luta, examinando-se os corpos de alguns desses soldados, que jaziam mortos, podia-se constatar em cada um deles dezenas de perfurações à bala, o que significava que, apesar desses ferimentos, eles continuaram avançando e finalmente foram mortos a baionetadas. Como é grande o poder da fé! Aquele que se apavora porque teve hemoptise algumas vezes, deve envergonhar-se diante do exemplo desses soldados chineses. Aquele que não consegue reerguer-se porque fracassou algumas vezes na vida deve envergonhar-se de sua fraqueza. Fracassar e cair não é vergonha; vergonhoso é perder a coragem para se reerguer. Quando se faz limpeza no poço, este parece secar temporariamente,
Senhora I
No calmo colo pouso meus segredos
Senhora que sabeis minhas fraquezas.
convoco só convosco o que antecedo
na lira ensimesmada da incerteza.Não sei se o vero verso do degredo
vem albergado ou presa de represa
das frias águas íntimas do medo
lavando o frágil lado da tristeza.A depressiva face não mostrada
esplende em vosso espelho que me abriga
lambendo o sal dos olhos da geada.Águas que são do orvalho da fadiga
de recorrentes gotas espalhadas
regando as vossas mãos de amada e amiga
A descoberta da verdade é impedida de forma mais eficiente não pela aparência falsa das coisas que iludem e induzem ao erro, nem directamente pela fraqueza dos poderes de raciocínio, mas pela opinião preconcebida e pelo preconceito.