O Cerne da Escrita e da Leitura
NĂŁo se Ă© escritor por se ter preferido dizer certas coisas, mas por se ter preferido dizĂȘ-las duma certa maneira. E o estilo faz, evidentemente, o valor da prosa. Mas deve passar despercebido. Uma vez que as palavras sĂŁo transparentes e que o olhar as atravessa, seria absurdo meter entre elas vidros despolidos. Aqui, a beleza Ă© apenas uma força doce e insensĂvel.
Num quadro, brilha antes de mais nada; num livro, esconde-se, age por persuasĂŁo como o encanto duma voz ou dum rosto, nĂŁo obriga, faz curvar sem que se dĂȘ por isso e pensa-se ceder aos argumentos quando afinal se Ă© solicitado por um encanto imperceptĂvel. A cerimĂłnia da missa nĂŁo Ă© a fĂ©, ela dispĂ”e a isso; a harmonia das palavras, a sua beleza, o equilĂbrio das frases, dispĂ”em as paixĂ”es do leitor sem que ele dĂȘ por isso, ordenam-nas como a missa, como a mĂșsica, como uma dança; se acaba por as considerar em si mesmas, perde o sentido, apenas restam oscilaçÔes aborrecidas.