Século XXI
Falam de tudo como se a razão
lhes ensinasse desesperadamente
a mentir, a lançar
sem remorso nem asco um novo isco
à espera que alguém morda
e acredite nessa liturgia
cujos deuses são fáceis de adorar
e obedecem às leis do mercado.Falam desse ludíbrio a que chamam
o futuro
como se ele existisse
e as suas palavras ecoam
em flatulentas frases
sempre a favor do vento que as agita
ao ritmo dos sorrisos ou das entrevistas
em que tudo se vende
por um preço acessível: emoções
& sexo & fama & outros prometidos
paraísos terrestres em horário nobre
– matéria reciclável
alimentando o altar do esquecimento.O poder não existe, como sabes
demasiado bem – apenas uma
inútil recidiva biológica
de hormonas apressadas que procuram
ser fiéis aos comércio
dos sonhos sempre iguais, reproduzindo
sedutoras metástases do nada
nos códigos de barras ou nos cromossomas
de quem já pouco espera dos seus genes.
Passagens sobre Mercado
46 resultadosHá uma vertente ideológica que facilitou a crise: foi o neo-liberalismo, responsável pela economia virtual, pela globalização desregulada e sem ética, pela idolatria dos mercados usurários – que vivem dos paraísos fiscais, que deviam ser ilegalizados – e que hoje mandam nos Estados. Mas à ideologia neo-liberal vai acontecer o mesmo que ao comunismo.
A Distração e a Categorização da Vida
Mas tu, meu amgo, onde estás? Sobre a tua sorte, quanta coisa fascinante e absurda imaginámos! No entanto, tudo isso que imaginámos, vê tu, quantas vezes o não foi tanto como resposta para as nossas interrogações, como um motivo para nos distrairmos mais ainda… Porque a distracção é a parte mais rebelde e a mais insidiosa da nossa condição. Ela infilta-se-nos não apenas no nosso consentimento, nas tréguas que nos damos, mas até mesmo no que é uma conquista da nossa rara grandeza.
A arte, o heroísmo, a própria evidência da vertigem, do milagre, os sonhos da redenção e da nobreza, tudo o que é da nossa profunda unidade, um nada o reabsorve em solidez, em moeda de compra-e-venda para a transaccionarmos com os outros no mercado da vaidade, do passatempo, na grande feira da vida. Há uma distância infinita entre a aparição da verdade, a imediata evidência de seja o que for, e até mesmo o seu reconhecimento: quando olhamos a evidência pela segunda vez, já ela está alinhada, classificada, endurecida entre as coisas que nos cercam. Eis porque nós ignoramos ou esquecemos depressa a face do que há de estranho nos factos mais banais: no da vida,
Literatura Real e Literatura Aparente
Em todas as épocas, existem duas literaturas que caminham lado a lado e com muitas diferenças entre si: uma real e outra apenas aparente. A primeira cresce até se tornar uma leitura permanente. Exercida por pessoas que vivem para a ciência ou para a poesia, ela segue o seu caminho com seriedade e tranquilidade, produzindo na Europa pouco menos de uma dúzia de obras por século, que, no entanto, permanecem. A outra, exercida por pessoas que vivem da ciência ou da poesia, anda a galope, com rumor e alarido por parte dos interessados, trazendo anualmente milhares de obras ao mercado. Após poucos anos, porém, as pessoas perguntam: Onde estão essas obras? Onde está a sua glória tão prematura e ruidosa? Por isso, pode-se também chamar esta última de literatura que passa, e aquela, de literatura que fica.
A volatilidade dos mercados é a maior aliada do verdadeiro investidor.
A Minha Cidade Preferida
É o Porto. Tem umas características muito particulares, muito suas. Ou melhor, tinha. Estão agora a fazer força para tirá-las, ao contrário do que se faz lá fora. Mesmo às cidades que foram arrasadas pela guerra, como Varsóvia, na Polónia, que foi refeita tal qual era antes. O mesmo aconteceu em Berlim. Aqui destroem o que está feito para construir uma porcaria qualquer incaracterística, que não representa coisa nenhuma. Por exemplo, o que querem fazer no mercado do Bolhão é uma vergonha – querem meter lá um supermercado, ou outra borra qualquer, que tira todo o carácter à cidade e a modifica. Assim, as cidades confundem-se todas: a gente chega a uma cidade e já não sabe onde está. É tudo igual em toda a parte.
A graça é dada por Deus, mas o conhecimento nasce no mercado.
O único modo que já se descobriu de ter muitas pessoas cooperando entre si voluntariamente é através do livre mercado. É por isso que é tão essencial preservar a liberdade individual.
Encaminhamo-nos para uma Grave Crise
A situação económica tem-se agravado e tenderá a agravar-se. Tendo causas estruturais, as dificuldades da economia não podem ser vencidas por medidas através das quais o governo procura fazer face aos mais agudos problemas de conjuntura. O afrouxamento do ritmo de desenvolvimento, a baixa da produção agrícola, os défices sempre crescentes, do comércio externo, a inflacção, a acentuação do atraso relativo da economia portuguesa em relação às economias dos outros países europeus, mostram a incapacidade do regime para promover o aproveitamento dos recursos nacionais, o fracasso da «reconversão agrícola» e a asfixia da economia portuguesa pela dominação monopolista, pelas limitações do mercado interno provocadas pela política de exploração e miséria das massas e pela subjugação ao imperialismo estrangeiro. (…) O processo de integração europeia, dado o atraso da economia portuguesa, agravará a situação.
Os monopólios dominantes e o seu governo procuram sair das contradições e dificuldades, assegurar altos lucros, apressar a acumulação, conseguir uma capacidade competitiva no mercado internacional: 1) intensificando ainda mais a exploração da classe operária e das massas trabalhadoras; 2) aumentando os impostos; 3) dando curso à subida dos preços; 4) apressando a centralização e a concentração; 5) pondo de forma crescente os recursos do Estado ao serviço dos monopólios;
Não há absolutamente ninguém que faça um sacrifício sem esperar uma compensação. É tudo uma questão de mercado.
A actividade extrema, tanto na escola como na faculdade, na igreja ou no mercado, é um sinal de escassa vitalidade.
Convicções Temporais
Quando os homens tomarem consciência de que o tempo deitou por terra muitas convicções pelas quais lutaram, talvez então acreditem, mais ainda do que acreditam nos verdadeiros fundamentos da sua conduta, que a melhor maneira de alcançar o bem último desejado é a livre troca de ideias – que o melhor teste da verdade reside na força que o pensamento tem para se fazer aceitar na competição do mercado, e que a verdade é a única base em que se podem seguramente concretizar os desejos.
O Valor do que Se Ama
O homem que ama apaixonadamente, não cura de saber o valor que os outros dão à mulher que ama. (…) Se o amor, por qualquer condescendência, declina, o amante, cego ontem, abre hoje um olho, e duvida se ela efectivamente é aquillo que lhe parecia ontem. Na dúvida, pergunta aos outros: «Que vos parece aquela mulher?» Se a delicadeza, ou boa fé responde: «é uma excelente mulher», a cristalização continua. Se a má fé, ou a grosseria responde: «não presta», o amador indeciso odeia a indiscreta resposta, e persiste na dúvida, que é sempre de pior partido para a mulher, sujeita á alta e baixa do mercado.
A glória assemelha-se ao mercado: por vezes, quando nos demoramos, os preços baixam.
Em Portugal toda a gente queria acabar com a guerra. E acabou-se. Como agora toda a gente quer que o neo-liberalismo e os mercados a mandar nos Estados desapareçam. Porque a crise do euro não é só financeira e económica é também social, política, ética e ambiental. O neo-liberalismo, a ideologia que provocou a crise, contra as pessoas e em favor do dinheiro, está moribunda e não vai poder perdurar muito.
Se me é permitido aplicar o termo especulação à atividade que consiste em prever a psicologia do mercado e o termo empreendimento à que consiste em prever a renda provável dos bens durante toda sua existência, de modo algum se pode dizer que a especulação sempre prevaleça sobre o investimento.
A Nostalgia da Europa
Na Idade Média, a unidade europeia repousava na religião comum. Nos Tempos Modernos, ela cedeu o lugar à cultura (à criação cultural) que se tornou na realização dos valores supremos pelos quais os Europeus se reconhecem, se definem, se identificam. Ora, hoje, a cultura cede, por sua vez, o lugar.
Mas, a quê e a quem? Qual é o domínio onde se realizaram valores supremos susceptíveis de unir a Europa? As conquistas técnicas? O mercado? A política com o ideal de democracia, com o princípio da tolerância? Mas, essa tolerância, que já não protege nenhuma criação rica nem nenhum pensamento forte, não se tornará oca e inútil? Ou então, será que podemos entender a demissão da cultura como uma espécie de libertação à qual nos devemos abandonar com euforia? Não sei. A única coisa que julgo saber é que a cultura já cedeu o seu lugar. Assim, a imagem da identidade europeia afasta-se do passado. Europeu: aquele que tem a nostalgia da Europa.
A Civilização e o Horror ao Vácuo
A expansão imperialista das grandes potências é um facto de crescimento, o transbordar naturalíssimo de um excesso de vidas e de uma sobra de riquezas em que a conquista dos povos se torna simples variante da conquista de mercados. As lutas armadas que daí resultam, perdido o encanto antigo, transformam-se, paradoxalmente, na feição ruidosa e acidental da energia pacífica e formidável das indústrias. Nada dos velhos atributos românticos do passado ou da preocupação retrógrada do heroísmo. As próprias vitórias perderam o significado antigo. São até dispensáveis. (…) Estão fora dos lances de génio dos generais felizes e do fortuito dos combates. Vagas humanas desencadeadas pelas forças acumuladas de longas culturas e do próprio génio de raça, podem golpeá-las à vontade os adversários que as combatem e batem debatendo-se, e que se afogam. Não param. Não podem parar. Impele-as o fatalismo da própria força. Diante da fragilidade dos países fracos, ou das raças incompetentes, elas recordam, na história, aquele horror ao vácuo, com que os velhos naturalistas explicavam os movimentos irresistíveis da matéria. Revelam quase um fenômeno físico. Por isso mesmo nesta expansão irreprimível, não é do direito, nem da Moral com as mais imponentes maiúsculas, nem de alguma das maravilhas metafísicas de outrora que lhes despontam obstáculos.
Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa.
A Guerra como Revolta da Técnica
Todos os esforços para estetizar a política convergem para um ponto. Esse ponto é a guerra. A guerra e somente a guerra permite dar um objectivo aos grandes movimentos de massa, preservando as relações de produção existentes. Eis como o fenómeno pode ser formulado do ponto de vista político. Do ponto de vista técnico, a sua formulação é a seguinte: somente a guerra permite mobilizar na sua totalidade os meios técnicos do presente, preservando as actuais relações de produção. É óbvio que a apoteose fascista da guerra não recorre a esse argumento. Mas seria instrutivo lançar os olhos sobre a maneira como ela é formulada. No seu manifesto sobre a guerra colonial da Etiópia, diz Marinetti: «Há vinte e sete anos, nós futuristas contestamos a afirmação de que a guerra é antiestética (…) Por isso, dizemos: (…) a guerra é bela, porque graças às máscaras de gás, aos megafones assustadores, aos lança-chamas e aos tanques, funda a supremacia do homem sobre a máquina subjugada. A guerra é bela, porque inaugura a metalização onírica do corpo humano. A guerra é bela, porque enriquece um prado florido com as orquídeas de fogo das metralhadoras. A guerra é bela, porque conjuga numa sinfonia os tiros de fuzil,