O Terror como Base da Religião
É verdade que tanto o medo como a esperança entram na religião, porque estas duas paixões, em alturas diferentes, agitam a mente humana e cada uma delas forma uma espécie de divindade que lhe é adequada. Mas, quando um homem se sente bem, ele está inclinado para os negócios, para o convívio ou para qualquer espécie de divertimento, e dedica-se naturalmente a essas actividades e não pensa em religião. Quando está melancólico e abatido, tudo o que para fazer é meditar sobre os terrores do mundo invisível, e mergulhar mais profundamente ainda na aflição. Pode realmente acontecer que, após ter assim gravado profundamente as opiniões religiosas no seu pensamento e imaginação, ocorra uma alteração da saúde ou das circunstâncias que restaure o seu bom humor e, ocasionando boas perspectivas de futuro, o faça cair no extremo oposto da alegria e triunfo. Mas, ainda assim deve reconhecer-se que, como o terror é o princípio primordial da religião, é essa a paixão que predomina nela e que só admite pequenos intervalos de prazer.
Passagens sobre Pensamentos
1652 resultadosQuando em Meu Desvelado Pensamento
Quando em meu desvelado pensamento
O teu formoso gesto se afigura,
Não sei que afecto sinto, ou que ternura,
Que a toda esta alma dá contentamento.Ali fico num largo esquecimento,
Contemplando na minha conjectura
De teu sereno rosto a graça pura,
De teus olhos o doce movimento.Porém logo a inconstante fantasia
Me acorda o entendimento arrebatado,
E desfaz todo o bem que me fingia,Sendo tal este gosto imaginado,
Que de Amor outra glória eu não queria
Mais que trazer-te sempre em meu cuidado.
Mais Beijos
Devagar…
outro beijo… ou ainda…
O teu olhar, misterioso e lento,
veio desgrenhar
a cálida tempestade
que me desvaira o pensamento!Mais beijos!…
Deixa que eu, endoidecida,
incendeie a tua boca
e domine a tua vida!Sim, amor..
deixa que se alongue mais
este momento breve!…
— que o meu desejo subindo
solte a rubra asa
e nos leve!
A Felicidade é uma Interrupção de Futilidade
É nas decisões fúteis, das quais nem a vida nem o estado de espírito depende, que reside a felicidade.
São estes os dias felizes, que Beckett invoca e amaldiçoa, por terem passado, na peça que tem o mesmo nome. Somos sobressaltados por ninharias, que conseguem fazer-se passar por importantes, como escolher entre uma camisa do verde do mar ou do azul do céu.
As decisões fúteis, quando a cabeça é desocupada daquilo que a preocupa, para se ocupar de uma ninharia, como decidir entre o ruivo ou o rascasso ou entre a pêra -pérola e a carapinheira, são o indício seguro da felicidade. Se a escolha primária é entre continuar a viver e deixar de viver e as escolhas secundárias são afluentes da primeira, devemos dar graças.
São uma sorte temporária e alegre a oportunidade e a ocupação mental que nos permitem pensar mais naquilo que nos interessa, sem interessar, do que naquilo que nos deveria interessar, caso estivéssemos tão aflitos que não conseguíssemos pensar noutra coisa senão sobreviver.
Quanto mais tempo perdermos nas escolhas e nas questões de que não dependem as nossas vidas ou as nossas almas – naquelas que não interessam, a bem ver,
Pensamentos não Acabados
Tal como não só a idade viril, mas também a juventude e a infância têm um valor em si e não devem de modo algum ser consideradas somentes como passagens e pontes, assim também os pensamentos não acabados têm o seu valor. Não se deve por isso, atormentar um poeta com uma subtil interpretação e divertir-se com a incerteza do seu horizonte, como se o caminho para vários pensamentos ainda estivesse aberto. Está-se no limiar; espera-se como no desenterramento de um tesouro: é como se devesse estar iminente um feliz achado de pensamento profundo. O poeta antecipa qualquer coisa do prazer que o pensador tem, ao encontrar uma ideia fundamental, e, com isso, torna-nos cobiçosos, de modo que nós tentamos apanhá-la; esta, porém, passa, esvoaçando, sobre a nossa cabeça e mostra as mais belas asas de borboleta… e, contudo, escapa-nos.
O cofre do banco contém apenas dinheiro. Frustar-se-á quem pensar que nele encontrará riqueza.
Os nossos pensamentos são as sombras dos nossos sentimentos, são sempre mais obscuros, mais vazios, mais simples do que estes.
Ó Rosas Desmaiadas
Ó rosas desmaiadas,
Rosas de Maio, rosas de toucar,
Ó rosas do rei negro, aveludadas,
Abrindo à flava luz das madrugadas
As corolas em gérmen, corações a arfar…
No tremular de cores da asa vaporosa,
Borboleta que passa, vem beijar a rosa,
E aos murmúrios da brisa que corre anelante,
A subtil feiticeira deixa a sua amante
A chorar, a chorar, suavíssimos perfumes
– Pensamentos d’amor a traduzir ciúmes…
Borboleta que passa diz adeus à rosa,
No tremular de cores da asa vaporosa…
E aos murmúrios da brisa que desliza meiga,
Lá vai adormecer nas frescuras da veiga…
Deixando a rosa a soluçar, a soluçar,
Com pena de não ter asas para voar… voar!
Diversas flores, de diversas cores
Qual é de vós, dizei, os meus amores!
Quando não há, entre os homens, liberdade de pensamento, não há liberdade.
Para eliminar a desarmonia do lar é preciso que o marido, a mulher, os pais, os filhos, a sogra, a nora, etc. se coloquem um no lugar do outro. O marido deve pensar: ‘Colocando-me no lugar de minha mulher, percebo quão desastrado tenho sido como marido. Perdoe-me, querida’. A mulher deve pensar: ‘ Colocando-me no lugar de meu marido, percebo o quanto tenho sido incompetente como esposa. Perdão, querido’. Deste modo, cada um deve abrir o coração e pedir perdão. O ser humano não perde a dignidade só porque pediu perdão. Se alguém se sente diminuído quando pede perdão é porque não conhece a Verdade. Pedir perdão significa anular o ‘falso eu’ e fazer renascer o ‘Eu verdadeiro’ (filho de Deus). Nesse momento, a pessoa se torna verdadeiramente forte.
É preciso que a imaginação seja demasiada para que o pensamento tenha a bastante.
Morangos
No começo do amor, quando as cidades
nos eram desconhecidas, de que nos serviria
a certeza da morte se podíamos correr
de ponta a ponta a veia eléctrica da noite
e acabar na praia a comer morangos
ao amanhecer? Diziam-nos que tínhamosa vida inteira pela frente. Mas, amigos,
como pudemos pensar que seria assim
para sempre? Ou que a música e o desejo
nos conduziriam de estação em estação
até ao pleno futuro que julgávamosmerecer? Afinal, o futuro era isto.
Não estamos mais sábios, não temos
melhores razões. Na viagem necessária
para o escuro, o amor é um passageiro
ocasional e difícil. E a partir de certa altura
todas as cidades se parecem.
Quanto mais próximas lhe ficavam as coisas, mais o seu pensamento se afastava delas.
Pensa para falar, mas não fales para pensar.
O pensamento é estéril, o sentimento inútil; só do esforço e da vontade alguma coisa obscuramente fica.
Paro.. Agora todo mundo vai pensar como nosso país vai ficar rico e como agente vai faturar um milhão sem precisar matar ninguém.
O coração, se pudesse pensar, pararia.
O Esforço pelo Conhecimento da Verdade
Devemos escolher como finalidade independente do nosso esforço o conhecimento da verdade ou, exprimindo-nos mais modestamente, a compreensão do mundo inteligível por meio do pensamento lógico? Ou devemos subordinar esse esforço pelo conhecimento racional de qualquer espécie a outros objectivos, por exemplo, a objectivos práticos? O simples pensamento não pode resolver esta questão. A decisão tem, pelo contrário, uma influência decisiva na nossa maneira de pensar e julgar, partindo-se do princípio de que tem o carácter de convicção inabalável. Permitam-me que confesse: para mim, o esforço pelo conhecimento é um daqueles objectivos independentes, sem os quais uma afirmação consciente da vida me parece impossível ao homem de pensamento.
Uma das características do esforço pelo conhecimento é que ele tende a abranger tanto a multiplicidade da experiência como a simplicidade e redução das hipóteses fundamentais. O acordo final desses objectivos é, devido ao estádio primitivo da investigação, uma questão de fé. Sem essa fé, a convicção do valor independente do conhecimento não seria para mim forte e inabalável.
Esta atitude, por assim dizer, religiosa do cientista perante a verdade não deixa de ter influência sobre a sua personalidade. Pois, além daquilo que resulta da experiência e além das leis do pensamento,
Há regras para pensar bem independentes de qualquer experiência, ou seja, aplicáveis a toda a experiência possível.
Sou brasileira naturalizada, quando, por questão de meses, poderia ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor.