Passagens sobre Saudades

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A Um Livro

No silĂŞncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cipreste,
Sombra roubada ao livro que ando a ler,
A esse livro de mágoas que me deste.

Estranho livro que escreveste,
Artista da saudade e do sofrer!
Estranho livro aquele em que puseste
Tudo o que eu sinto, sem poder dizer!

Leio-o, e folheio, assim, toda a minh’alma!
O livro que me deste Ă© meu, e salma
As orações que choro e rio e canto!…

Poeta igual a mim, ai quem me dera
Dizer o que tu dizes!… Quem soubera
Velar a minha Dor desse teu manto!…

Escreve!

NĂŁo sei o que supor
Do teu silĂŞncio. Escreve!
Quem Ă© amado deve
Ser grato ao menos, flor!

Se eu fosse tĂŁo feliz
Que te falasse um dia,
De viva voz diria
Mais do que a carta diz.

Mas olha, tal qual Ă©,
NĂŁo rias desse escrito,
Que pouco ou muito Ă© dito
Tudo de boa-fé.

Há nesse teu olhar
A doce luz da Lua,
Mas luz que se insinua
A ponto de abrasar…

Pareça nele, sim,
Que há só doçura, embora,
Há fogo que devora…
Que me devora a mim!

Que mata, mas que dá
Uma suave morte;
Mata da mesma sorte
Que uma árvore que há;

Que ao pé se lhe ficou
Acaso alguém dormindo
Adormeceu sorrindo…
Porém não acordou!

Esse teu seio entĂŁo…
Que encantadora curva!
Como de o ver se turva
A vista e a razĂŁo!

Como até mesmo o ar
Suspende a gente logo,
Pregando olhos de fogo
Em tĂŁo formoso par!

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Para mim, ser-me-ia impossĂ­vel viver fora de Lisboa. Falta-me a lĂ­ngua, falta-me este meu povo, feio, pequenino, com mau gosto, malcriado, nĂŁo sei quĂŞ, mas do qual tenho umas saudades loucas quando estou no meio de gente limpa.

Quem parte treme, quem regressa teme. Tem-se medo de se ter sido vencido pelo Tempo, medo de que a ausência tenha devorado as lembranças. A saudade é um morcego cego que falhou fruto e mordeu a noite.

Ăšltimo Soneto

Que rosas fugitivas foste ali!
Requeriam-te os tapetes, e vieste…
– Se me dĂłi hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.

Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apareceste!
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi…

Pensei que fosse o meu o teu cansaço –
Que seria entre nós um longo abraço
O tĂ©dio que, tĂŁo esbelta, te curvava…

E fugiste… Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava?…

LĂ­ngua Portuguesa

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela
Amo-se assim, desconhecida e obscura
Tuba de algo clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, Ăł rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gĂŞnio sem ventura e o amor sem brilho!

Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar pra trás.

De Saudades vou Morrendo

De Saudades vou morrendo
E na morte vou pensando:
Meu amĂ´r, por que partiste,
Sem me dizer até quando?
Na minha boca tĂŁo linda,
Ă“ alegrias cantae!
Mas, quem se lembra d’um louco?
– Enchei-vos d’agua, meus olhos,
Enchei-vos d’agua, chorae!

As Saudades que Sinto de Ti

Meu Bebé, meu Bebezinho querido:

Sem saber quando te entregarei esta carta, estou escrevendo em casa, hoje, domingo, depois de acabar de arrumar as coisas para a mudança de amanhã de manhã. Estou outra vez mal da garganta; está um dia de chuva; estou longe de ti — e é isto tudo o que tenho para me entreter hoje, com a perspectiva da maçada da mudança amanhã, com chuva talvez e comigo doente, para uma casa onde não está absolutamente ninguém. Naturalmente (a não ser que esteja já inteiramente bom e arranje as coisas de qualquer modo, o que faço é ir pedir guarida cá na Baixa ao Marianno Sant’Anna, que, além de ma dar de bom grado, me trata da garganta com competência, como fez no dia 19 deste mês quando eu tive a outra angina.

Não imaginas as saudades de ti que sinto nestas ocasiões de doença, de abatimento e de tristeza. O outro dia, quando falei contigo a propósito de eu estar doente, pareceu-me (e creio que com razão) que o assunto te aborrecia, que pouco te importavas com isso. Eu compreendo bem que, estando tu de saúde, pouco te rales com o que os outros sofrem,

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Lembre-vos quão sem Mudança

Lembre-vos quão sem mudança,
Senhora, Ă© meu querer,
perdida toda esperança;
e de mim vossa lembrança
nunca se pode perder.
Lembre-vos quĂŁo sem por quĂŞ
desconhecido me vejo;
e, com tudo, minha fé
sempre com vossa mercĂŞ,
com mais crecido desejo.

Lembre-vos que se passaram
muitos tempos, muitos dias,
todos meus bens se acabaram,
com tudo, nunca mudaram;
querer-vos, minhas porfias.
Lembre-vos quanta rezĂŁo
tive pera esquecer-vos,
e sempre meu coração,
quanto menos galardĂŁo,
tanto mais firme em querer-vos.

Lembre-vos que, sem mudar
o querer desta vontade,
me haveis sempre de lembrar,
té de todo me acabar,
vĂłs e vossa saudade.
Lembre-vos como pagais
o tempo que me deveis,
olhai quĂŁo mal me tratais:
Sam o que vos quero mais,
o que menos vĂłs quereis.

Lembre-vos tempo passado,
nĂŁo porque de lembrar seja,
mas vereis quĂŁo magoado
devo de ser c’o cuidado
do que minha alma deseja.
Lembre-vos minha firmeza,
de vĂłs tĂŁo desconhecida,
lembre-vos vossa crueza,
junta com minha tristeza,

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Saudade

Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
E o coração me rasga atroz, imensa,
Eu a bendigo da descrença, em meio,
Porque eu hoje só vivo da descrença.

Ă€ noute qaundo em funda soledade
Minh’alma se recolhe tristemente,
P’ra iluminar-me a alma descontente,
Se acende o cĂ­rio triste da Saudade.

E assim afeito às mágoas e ao tormento,
E Ă  dor e ao sofrimento eterno afeito,
Para dar vida Ă  dor e ao sofrimento,

Da saudade na campa enegrecida
Guardo a lembrança que me sangra o peito,
Mas que no entanto me alimenta a vida.

Soneto Com Estrambote Enviesado

Alfaiate de mim costuro a roupa
que cabe ao figurino que me coube.

SĂł meu verso protege essa amargura
desfiada de dia ao sol veloz,
para Ă  noite tecer nova textura,
novelo de silêncio ao rés da voz.

Enxoval construĂ­do nessa usura
solitária de andaimes, num retrós
de linha vertical, que se pendura
na pĂŞnsil teia atada, fio em foz

desse rio agulha que me costura
ao rendilhado de águas tropicais,
que sabe de saudades no meu cais.

Viageiro de uma sanha que me traz
sempre de volta ao tear do meu destino
na seda depressiva me assassino.

XXXI

Longe de ti, se escuto, porventura,
Teu nome, que uma boca indiferente
Entre outros nomes de mulher murmura,
Sobe-me o pranto aos olhos, de repente…

Tal aquele, que, mĂ­sero, a tortura
Sofre de amargo exĂ­lio, e tristemente
A linguagem natal, maviosa e pura,
Ouve falada por estranha gente…

Porque teu nome Ă© para mim o nome
De uma pátria distante e idolatrada,
Cuja saudade ardente me consome:

E ouvi-lo Ă© ver a eterna primavera
E a eterna luz da terra abençoada,
Onde, entre flores, teu amor me espera.

Um Beijo

Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior…GlĂłria e tormento,
contigo Ă  luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!
Morreste, e o meu desejo nĂŁo te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.
Beijo extremo, meu prĂŞmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu nĂŁo morri contigo?
Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpĂ©tua saudade de um minuto….

Dois Meninos

Meu menino canta, canta
Uma canção que é ele só que entende
E que o faz sorrir.

Meu menino tem nos olhos os mistérios
Dum mundo que ele vĂŞ e que eu nĂŁo vejo
Mas de que tenho saudades infinitas.

As cinco pedrinhas sĂŁo mundos na mĂŁo.
Formigas que passam,
Se brinca no chĂŁo,
SĂŁo seres irreais…

Meu menino d’olhos verdes como as águas
NĂŁo sabe falar,
Mas sabe fazer arabescos de sons
Que tĂŞm poesia.

Meu menino ama os cĂŁes,
Os gatos, as aves e os galos,
(SĂŁo Francisco de Assis
Em menino pequeno)
E fica horas sem fim,
Enlevado, a olhá-los.

E ao vĂŞ-lo brincar, no chĂŁo sentadinho,
Eu tenho saudades, saudades, saudades
Dum outro menino…

Timor

Andam lá sem descançar
Nas montanhas a lutar
Iluminam todo o mar
De Timor

Nas montanhas sem dormir
Uma luz a resistir
Arde sem se apagar
Em Timor

Andorinha de asa negra
Se o teu voo lá passar
Faz chegar um grande abraço
Dá saudades a Timor

Eles nĂŁo podem escrever
Porque vĂŁo a combater
VĂŁo de manhĂŁ defender
A Timor

As crianças a chorar
NĂŁo as posso consolar
Que eu nunca cheguei a ver
A Timor

Andorinha de asa negra
Vem ouvir o meu cantar
Ai que dor rasga o meu peito
Sem notĂ­cias de Timor

Nunca mais hei-de voltar
Já não posso lá voltar
Ă€ idade de lembrar
A Timor

CrepĂşsculo

Teus olhos, borboletas de oiro, ardentes
Batendo as asas leves, irisadas,
Poisam nos meus, suaves e cansadas
Como em dois lĂ­rios roxos e dolentes…

E os lĂ­rios fecham… Meu Amor, nĂŁo sentes?
Minha boca tem rosas desmaiadas,
E as minhas pobres mĂŁos sĂŁo maceradas
Como vagas saudades de doentes…

O SilĂŞncio abre as mĂŁos… entorna rosas…
Andam no ar carĂ­cias vaporosas
Como pálidas sedas, arrastando…

E a tua boca rubra ao pé da minha
É na suavidade da tardinha
Um coração ardente palpitando…