Textos sobre Autoridade

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Textos de autoridade escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Não Há Verdadeiro Sentido de um Texto

Não há verdadeiro sentido de um texto. Não há autoridade do autor. Quisesse dizer o que quisesse, escreveu o que escreveu. Uma vez publicado, um texto é como um aparelho de que cada um se pode servir à sua maneira e segundo os seus meios: não é certo que o construtor o use melhor do que outro qualquer.

Proibir Demasiado Prejudica a Lei

Penso que um excesso de decretos e de interditos prejudica a autoridade da lei. Podemos observá-lo: onde existem poucas proibições, estas são obedecidas; onde a cada passo se tropeça em coisas proibidas, sente-se rapidamente a tentação de as infringir. Além disso, não é preciso ser-se anarquista para se ver que as leis e os decretos, do ponto de vista da sua origem, não gozam de qualquer carácter sagrado ou invulnerável. Por vezes são pobres de conteúdo, insuficientes, ofensivas do nosso sentido de justiça, ou nisso se tornam com o tempo, e então, dada a inércia geral dos dirigentes, não resta outro meio de corrigir essas leis caducas senão infringi-las de boa vontade! Para mais, é prudente, quando se pretende manter o respeito por leis e decretos, não promulgar senão aqueles cuja observação ou infracção possam ser facilmente controladas.

Um Verdadeiro Amigo

Um verdadeiro amigo é uma coisa tão vantajosa, mesmo para os maiores senhores, para dizer bem deles e os defender mesmo na sua ausência, que devem fazer tudo para os ter. Mas que escolham bem; pois, se fizerem todos os seus esforços por estúpidos, isso ser-lhes-á inútil, por muito bem que digam deles; e mesmo não dirão bem se se sentirem mais fracos, pois não terão autoridade; e assim dirão também mal por companhia.

A Incomodidade da Grandeza

Já que não a podemos alcançar, vinguemo-nos falando mal dela. No entanto, não é inteiramente falar mal de alguma coisa encontrar-lhe defeitos; estes encontram-se em todas as coisas, por belas e desejáveis que sejam. Em geral, ela possui esta vantagem evidente de se rebaixar quando lhe apraz, e de mais ou menos ter a opção entre uma situação e a outra; pois não se cai de todas as alturas; são mais numerosas aquelas das quais se pode descer sem cair. Bem me parece que a valorizamos demais, e valorizamos demais também a decisão dos que vimos ou ouvimos dizer que a menosprezaram ou que renunciaram a ela por sua própria intenção. A sua essência não é tão evidentemente cómoda que não a possamos rejeitar sem milagre. Acho muito difícil o esforço de suportar os males; mas em contentar-se com uma medida mediana de fortuna e em fugir da grandeza acho pouca dificuldade. É uma virtude, parece-me, a que eu, que não passo de um patinho, chegaria sem muito esforço. Que devem fazer aqueles que ainda levassem em consideração a glória que acompanha tal rejeição, na qual pode caber mais ambição do que no próprio desejo e gozo da grandeza, porquanto a ambição nunca se conduz mais à vontade do que por um caminho desgarrado e inusitado?

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Não Alardear a Boa Sorte

Mais ofende ostentar a dignidade que a pessoa. Fazer-se de grande homem é odioso: bastaria ser invejado. Quanto mais se busca estima menos se a consegue. Ela depende do respeito alheio, e, assim, não pode ser tomada, mas merecida e aguardada. Os grandes cargos demandam autoridade ajustada ao seu exercício, sem o que não podem ser dignamente exercidos. Conserve a que merece para cumprir com o substancial das suas obrigações: não a esgote, ajude-a sim; e todos os que se fazem de aquinhoados no cargo dão indício de que não o mereciam, e que a dignidade a tudo se sobrepõe. Quem quiser ter merecimentos, que seja antes pela eminência dos seus dotes que pelo seu adventício, pois até um rei há-de ser mais venerado pela sua pessoa que pela extrínseca soberania.

O Governo Mundial

Pode evitar-se a guerra por algum tempo por meio de paliativos, expedientes ou uma diplomacia subtil, mas tudo isso é precário, e enquanto durar o nosso sistema político actual, pode ser considerado como quase certo que grandes conflitos hão-de surgir de vez em quando. Isso acontecerá inevitavelmente enquanto houver diferentes Esados soberanos, cada um com as suas forças armadas e juiz supremo dos seus próprios direitos em qualquer disputa. Há somente um meio de o mundo poder libertar-se da guerra, é a criação de uma autoridade mundial única, que possua o monopólio de todas as armas mais perigosas.

Para que um governo mundial pudesse evitar graves conflitos, seria indispensável possuir um mínimo de poderes. Em primeiro lugar precisava de ter o monopólio de todas as principais armas de guerra e as forças armadas necessárias para o seu emprego. Devia também tomar as precauções indispensáveis, quaisquer que fossem, para assegurar, em todas as circunstâncias, a lealdade dessas forças ao governo central.

O governo mundial tinha de formular, portanto, certas regras relativas ao emprego das suas forças armadas. A mais importante determinaria que, em qualquer conflito entre dois Estados. cada um tinha de se submeter às decisões da autoridade mundial.

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A Autoridade

Autoridade: sem ela o homem não pode existir e, contudo, é coisa que traz consigo tanto de erro como de verdade. Perpetua no individual o que devia ser individualmente transitório, nega e desactualiza o que devia ser retido, e sobretudo constitui uma das causas da estagnação da humanidade. Em nosso entender cada um deve permanecer no caminho que encetou e não se deixar submeter, limitar ou seduzir pela autoridade, pela concordância geral ou pela moda.

Glória Efémera ou Eterna

Via de regra, a glória será tanto mais tardia quanto mais for durável, pois tudo aquilo que é excelente amadurece de maneira lenta. A glória que se tornará póstera assemelha-se a um carvalho que cresce bem lentamente a partir da sua semente; a glória fácil, efémera, assemelha-se às plantas anuais, que crescem rapidamente, e a glória falsa parece-se com erva daninha, que nasce num piscar de olhos e que nos apressamos em arrancar. Esse desenrolar das coisas relaciona-se com o facto de que, quanto mais alguém pertence à posteridade, ou seja, à humanidade geral e inteira, tanto mais estranho será à sua época, pois o que ele produz não é especialmente dedicado a ela como tal, mas só na medida em que a mesma é uma parte da humanidade; logo, as suas obras não são tingidas com a cor local do seu tempo; todavia, em consequência disso, pode acontecer que tal indivíduo passe facilmente como um estranho pela sua época.
Esta prefere apreciar aqueles que tratam os assuntos do seu dia-a-dia ou que servem ao humor do momento, portanto, os factos que pertencem integralmente a ela, que com ela vivem e com ela morrem. Por isso, a história da arte e da literatura ensina geralmente que as mais elevadas realizações do espírito humano,

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A Diferença entre Ficção e Crença

Não há nada mais livre do que a imaginação humana; embora não possa ultrapassar o stock primitivo de ideias fornecidas pelos sentidos externos e internos, ela tem poder ilimitado para misturar, combinar, separar e dividir estas ideias em todas as variedades da ficção e da fantasia imaginativa e novelesca. Ela pode inventar uma série de eventos com toda a aparência de realidade, pode atribuir-lhes um tempo e um lugar particulares, concebê-los como existentes e des­crevê-los com todos os pormenores que correspondem a um facto histórico, no qual ela acredita com a máxima certeza. Em que consiste, pois, a diferença entre tal ficção e a crença?
Ela não se localiza sim­plesmente numa ideia particular anexada a uma concepção que obtém o nosso assentimento, e que não se encontra em nenhuma ficção conhecida. Pois, como o espírito tem autoridade sobre todas as suas ideias, poderia voluntariamente anexar esta ideia particular a uma ficção e, por conseguinte, seria capaz de acreditar no que lhe agradasse, embora se opondo a tudo que encontramos na experiência diária. Po­demos, quando pensamos, juntar a cabeça de um homem ao corpo de um cavalo, mas não está em nosso poder acreditar que semelhante animal tenha alguma vez existido.

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Ser Português, Ainda

Para ser português, ainda, vive-se entre letras de poemas e esperanças, cantigas e promessas, de passados esquecidos e futuros desejados, sem presente, sem pensamento, sem Portugal. Para ser português, ainda, aprende-se a existir no gume da tristeza, como um equilibrista num andaime de navalhas levantadas, numa obra que se vai construindo sob uma arquitectura de demolição. Tínhamos direito a um Portugal inteiro, com povo e com a terra, mas o povo enlouqueceu e a terra foi arrasada e tudo o que era pátria, doce e atrevida, se afasta à medida que olhamos para ela, tal é a ânsia de apagamento e de perdição. Restam-nos sons e riscos. Portugal encolheu-se. Escondeu-se nos poetas e cantores. Recolheu-se nas vozes fundas de onde nasceu. Portugal abrigou-se em portugueses e portuguesas nos quais uma ideia de Portugal nunca se perdeu.

Para se ser português, ainda, é preciso estreitar os olhos e molhar a garganta com vinho tinto para poder gritar que isto assim não é Portugal, não é país, não é nada. Torna-se cada vez mais difícil que o povo e a terra e a ideia se possam alguma vez reunir.
É preciso defender violentamente as instituições: a Universidade, o Parlamento,

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Conta só Contigo

Encontrarmo-nos diante das coisas liberta o espírito. Encontrarmo-nos diante dos homens, de dependermos deles, avilta, e tal acontece, quer esta dependência tenha a forma da submissão, quer a da autoridade.
Porquê estes homens entre mim e a natureza?
Nunca ter de contar com um pensamento desconhecido… (porque, nesse caso, somos abandonados ao acaso).
Remédio: fora dos laços fraternos, tratar os homens como um espectáculo e nunca procurar a amizade. Viver no meio dos homens como no vagão de Saint-Etienne a Puy… Sobretudo nunca permitir-se desejar a amizade. Tudo se paga. Conta só contigo.

As Influências no Estado de Espírito

Agora estou disposto a fazer tudo, agora a nada fazer; o que me é um prazer neste momento em alguma outra vez me será um esforço. Acontecem em mim mil agitações desarrazoadas e acidentais. Ou o humor melancólico me domina, ou o colérico; e, com a sua autoridade pessoal, neste momento a tristeza predomina em mim, neste momento a alegria. Quando pego em livros, terei captado em determinada passagem qualidades excelentes e que terão tocado a minha alma; quando uma outra vez volto a deparar com ela, por mais que a vire e revire, por mais que a dobre e apalpe, é para mim uma massa desconhecida e informe.
Mesmo nos meus escritos nem sempre reencontro o sentido do meu pensamento anterior: não sei o que quis dizer, e amiúde me esfalfo corrigindo e dando-lhe um novo sentido, por haver perdido o primeiro, que valia mais. Não faço mais que ir e vir: o meu julgamento nem sempre caminha para a frente; ele flutua, vagueia, Como um barquinho frágil surpreendido no vasto mar por uma tempestade violenta (Catulo).
Muitas vezes (como habitualmente me advém fazer), tendo tomado para defender, por exercício e por diversão, uma opinião contrária à minha,

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Fragmento do Homem

Que tempo é o nosso? Há quem diga que é um tempo a que falta amor. Convenhamos que é, pelo menos, um tempo em que tudo o que era nobre foi degradado, convertido em mercadoria. A obsessão do lucro foi transformando o homem num objecto com preço marcado. Estrangeiro a si próprio, surdo ao apelo do sangue, asfixiando a alma por todos os meios ao seu alcance, o que vem à tona é o mais abominável dos simulacros. Toda a arte moderna nos dá conta dessa catástrofe: o desencontro do homem com o homem. A sua grandeza reside nessa denúncia; a sua dignidade, em não pactuar com a mentira; a sua coragem, em arrancar máscaras e máscaras.
E poderia ser de outro modo? Num tempo em que todo o pensamento dogmático é mais do que suspeito, em que todas as morais se esbarrondam por alheias à «sabedoria» do corpo, em que o privilégio de uns poucos é utilizado implacavelmente para transformar o indivíduo em «cadáver adiado que procria», como poderia a arte deixar de reflectir uma tal situação, se cada palavra, cada ritmo, cada cor, onde espírito e sangue ardem no mesmo fogo, estão arraigados no próprio cerne da vida?

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O Inconsciente

Nas discussões sobre o inconsciente nas quais, contra todas as autoridades estabelecidas e reconhecidas, jamais cedo uma polegada de terreno, existe mais do que um problema de palavras. Que um mecanismo semelhante ao instinto dos animais nos faça muitas vezes falar e agir e em seguida pensar, isto é conhecido e nem se discute. Mas trata-se de saber se o que sai assim das minhas entranhas, sem que eu o tenha composto, nem deliberado, é uma espécie de oráculo, isto é, um pensamento vindo das profundezas; ou se devo antes considerá-lo como um movimento da natureza que não tem mais sentido do que o movimento da folhagem do vento.

A Fatalidade do Não

A palavra de que eu gosto mais é não. Chega sempre um momento na nossa vida em que é necessário dizer não. O não é a única coisa efectivamente transformadora, que nega o status quo. Aquilo que é tende sempre a instalar-se, a beneficiar injustamente de um estatuto de autoridade. É o momento em que é necessário dizer não. A fatalidade do não – ou a nossa própria fatalidade – é que não há nenhum não que não se converta em sim. Ele é absorvido e temos que viver mais um tempo com o sim.

. Paulo (1991)’

Virtudes dos Jovens e dos Velhos

Os jovens são mais aptos para inventar do que para julgar, para executar do que para aconselhar, para os novos projectos do que os negócios estabilizados. Porque a experiência da idade, nas coisas que quadram os velhos, dirige-os, mas engana-os nas coisas que aparecem de novo. Os erros dos jovens causam a ruína dos negócios; mas os erros dos velhos limitam-se ao que deveria ser feito de novo, ou mais cedo.
Os jovens, na condução e na economia dos negócios, têm ampla visão das coisas que não podem dominar, agitam mais do que apaziguam, voam rapidamente para os fins sem consideração dos meios e dos graus; conduzem os poucos princípios, que por acaso acolheram, até ao absurdo; não receiam inovar, o que traz desconhecidos inconvenientes, usam de princípio os remédios extremos, e, o que duplica todos os erros, não querem reconhecer-se nem retratar-se, como o cavalo mal ensinado que não quer parar nem retroceder.
Os homens de idade objectam muito, consultam muito, aventuram-se pouco, arrependem-se depressa, raras vezes conduzem os negócios ao grau de plenitude, porque se contentam com a mediocridade no êxito.
Certamente, é proveitoso combinar o emprego de novos e velhos: será vantajoso para o presente,

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Amigos com Carácter

A vida caminha precipitadamente. Perseguimos alguns esquemas flutuantes ou somos perseguidos por algum medo ou autoridade atrás de nós. Mas, se, de repente, encontramos um amigo, paramos; o nosso calor e a nossa pressa tornam-se ridículos. Ora a pausa, ora o domínio são necessários e também a força para encher o momento dos eflúvios do coração. O momento é tudo, em todas as relações nobres.
Uma pessoa divina é a profecia do espírito; um amigo é a esperança do coração. A nossa ventura espera pela concretização destas duas em uma.
Os séculos estão a dilatar essa força moral. Toda a força é a sombra ou o símbolo daquela. A poesia é alegre e forte quando extrai nessa fonte a sua inspiração. Os homens só inscrevem os seus nomes no mundo quando estão cheios deste. A história tem sido ignóbil; as nossas nações têm sido a gentalha; nunca vimos um homem: essa forma divina que ainda não conhecemos, mas apenas o sonho e a profecia de tal; não conhecemos os modos majestosos que lhe são peculiares e que acalmam e exaltam o observador.

Um dia veremos que a energia mais particular é a mais pública, que a qualidade afina com a quantidade e a grandeza de carácter actua na sombra e socorre aos que nunca a viram.

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Tudo Deve Ser Contado pelo Menos uma Vez

Tudo o que nos acontece, tudo o que falamos ou nos é narrado, tudo quanto vemos com os nossos próprios olhos ou sai da nossa língua ou entra pelos nossos ouvidos, tudo aquilo a que assistimos (e por que, portanto, somos de certo modo responsáveis), há-de ter um destinatário fora de nós, e esse destinatário vai sendo seleccionado por nós em função do que acontece ou nos dizem ou então dizemos nós. Cada coisa deverá ser contada a alguém – nem sempre a mesma pessoa, não necessariamente -, e cada coisa vai-se colocando de parte como quem folheia e aparta e vai destinando prendas futuras numa tarde de compras.
Tudo deve ser contado pelo menos uma vez, ainda que, como havia determinado Rylands com a sua autoridade literária, deva ser contado segundo os tempos. Ou, o que vem a dar no mesmo, no momento justo e às vezes nunca mais se não se soube reconhecer ou se deixou passar deliberadamente esse momento preciso. Esse momento apresenta-se às vezes (a maioria das vezes) de maneira imediata, inequívoca e compulsiva, mas muitas outras vezes apresenta-se apenas confusamente e ao fim de lustros ou décadas, como acontece com os grandes segredos. Mas nenhum segredo pode ou deve ser guardado para sempre do conhecimento de toda a gente,

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