Textos sobre Próximos

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Textos de próximos escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Sonhos Prometedores

Tenho mais pena dos que sonham o provável, o legítimo e o próximo, do que dos que devaneiam sobre o longínquo e o estranho. Os que sonham grandemente, ou são doidos e acreditam no que sonham e são felizes, ou são devaneadores simples, para quem o devaneio é uma música da alma, que os embala sem lhes dizer nada. Mas o que sonha o possível tem a possibilidade real da verdadeira desilusão. Não me pode pesar muito o ter deixado de ser imperador romano, mas pode doer-me o nunca ter sequer falado à costureira que, cerca da nove horas, volta sempre a esquina da direita. O sonho que nos promete o impossível já nisso nos priva dele, mas o sonho que nos promete o possível intromete-se com a própria vida e delega nela a sua solução. Um vive exclusivo e independente; o outro submisso das contingências do que acontece.

A Necessidade do Próximo

Nós só sentimos agrado para com os semelhantes – ou seja pelas imagens de nós próprios – quando sentimos comprazimento connosco. E quanto mais estamos contentes connosco, mais detestamos o que nos é estranho: a aversão pelo que nos é estranho está na proporção da estima que temos por nós. É em consequência dessa aversão que nós destruímos tudo o que é estranho, ao qual assim mostramos o nosso distanciamento.
Mas o menosprezo por nós próprios pode levar-nos a uma compaixão geral para com a humanidade e pode ser utilizado, intencionalmente, para uma aproximação com os demais.
Temos necessidade do próximo para nos esquecermos de nós mesmos: o que leva à sociabilidade com muita gente.
Somos dados a supor que também os outros têm desgosto com o que são; quando isto se verifica, então receberemos uma grande alegria: afinal, estamos na mesma situação.
E, talqualmente nos vemos forçados a suportar-nos, apesar do desgosto que temos com aquilo que somos, assim nos habituamos a suportar os nossos semelhantes.
Assim, nós deixamos de desprezar os outros; a aversão para com eles diminui, e dá-se a reaproximação.
Eis porque, em virtude da doutrina do pecado e da condenação universal,

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A Mais Feliz Das Criaturas

Quem foi generosamente dotado pela natureza (aqui a expressão cabe no seu sentido intrínseco) não necessita de mais nada do exterior além do tempo livre para poder usufruir a sua riqueza interior. Se isso lhe bastar, essa pessoa será realmente a mais feliz das criaturas. Assim como é certo que o eu está infinitamente mais próximo de nós que o não-eu, tudo o que é externo é e permance não-eu. Somente o interior, a consciência e o seu estado constituem o eu, e é nele, exclusivamente, que residem o nosso bem-estar e o nosso mal-estar.

Fazer os Sonhos Levantarem Voo

Alguns sonhos são belos, outros poéticos; uns realizáveis, outros difíceis de serem concretizados; uns envolvem uma pessoa, outros, a sociedade; uns possuem rotas claras, outros, curvas imprevisíveis; uns são rapidamente produzidos, outros precisam de anos de maturação.

Há muitos tipos de sonhos. Sonho de se apaixonar por alguém, de gerar filhos ou conquistar amigos. Sonho de tirar um curso, ter uma empresa, ter sucesso financeiro para si e para ajudar os outros. Sonho de ter saúde física e psíquica, de ter paz interior e de viver intensamente cada momento da vida.
Sonho de ser um cientista, um médico, um educador, um empresário, um empreendedor, um profissional que faça a diferença. Sonho de viajar pelo mundo, de pintar quadros, escrever um livro, ser útil ao próximo. Sonho de aprender a tocar um instrumento, praticar desportos, bater recordes.

Muitos enterram os seus sonhos nos escombros dos seus problemas. Alguns soldados nunca mais foram motivados para a vida depois de verem os seus colegas morrerem em combate.
Alguns oradores nunca mais recuperaram a sua segurança depois de terem um ataque de pânico em público. Alguns desportistas não conseguiram repetir a sua performance depois de fazerem uma cirurgia correctiva ou serem apanhados no controlo antidoping.

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O Preço da Riqueza

Não invejemos a certa espécie de gente as suas grandes riquezas: eles as têm à custa de um ónus que não nos daria bom cómodo. Estragaram o seu repouso, a sua saúde, a sua felicidade e a sua consciência, para as conseguir: isso é caro demais, e não há nada a ganhar por esse preço.
Quando se é novo, muitas vezes é-se pobre: ou ainda não se fez aquisições, ou as heranças ainda não vieram. A gente torna-se rico e velho ao mesmo tempo; tão raro é poderem os homens reunir todas as vantagens!
E se isso acontece a alguns, não há que invejá-los: eles têm a perder com a morte o bastante para serem lamentados. É preciso trinta anos para pensar na fortuna; aos cinquenta está feita; contrói-se na velhice e morre-se quando ainda se está às voltas com pintores e vidraceiros. Qual o fruto de uma grande fortuna, se não gozar a vaidade, indústria, trabalho e esforço dos que vieram antes de nós, e trabalharmos nós mesmos, plantando, construindo, adquirindo, para a posteridade?
Em todas as condições, o pobre está mais próximo do homem de bem, e o opulento não está longe da ladroeira. A capacidade e a habilidade não levam a grandes riquezas.

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Existem Três Tipos de Escritores

Pode-se dizer que existem três tipos de autores. Em primeiro lugar, temos aqueles que escrevem sem pensar. Escrevem a partir da memória, das reminiscências, ou mesmo directamente dos livros dos outros. Esta classe é a mais numerosa. Em segundo lugar, há aqueles que pensam enquanto escrevem. Pensam para escrever. Muito vulgares. Em terceiro lugar, temos aqueles que pensaram antes de começar a escrever. Escrevem simplesmente porque pensaram. Muito raros.

Mesmo entre o pequeno número de escritores que pensam seriamente antes de começar a escrever, há extremamente poucos que pensam acerca do tema propriamente dito: os restantes pensam simplesmente em livros, naquilo que os outros disseram acerca do assunto. Necessitam, quer isso dizer, do estímulo próximo e poderoso das ideias produzidas por outras pessoas para conseguirem pensar. Essas ideias são, pois, o seu tema imediato, de modo que ficam constantemente sob a sua influência e, consequentemente, nunca alcançam a verdadeira originalidade. A minoria acima referida, por outro lado, é estimulada a pensar pelo tema em si, de modo que os seus pensamentos são dirigidos imediatamente para ele. Só entre esses se descobrem os escritores que perduram e se tornam imortais.
Só vale a pena ler a obra daquele que escreve directamente a partir da sua própria cabeça.

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Personalidade Limitada

Há pessoas muito competentes no seu ofício mas que nunca se adaptam a certos obstáculos menores, como a nomes que desconhecem e saem do habitual. Também nunca sabem usar uma chave de fendas e não são capazes de conhecer uma marca de carros pelas jantes, por exemplo. Cada indivíduo tem um espaço muito limitado de operação e o seu cérebro trabalha num pequeno circuito de observações; a sua evolução é restrita ao que o rodeia e aos factos exteriores mais próximos. A educação sem grandes exigências de comportamento social e intelectual, leva-os a formar uma personalidade mesquinha, às vezes ressentida e admiradora de extremos, como da liderança dum chefe.

A Comunidade Europeia Vai Ser um Logro

As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir.

Nunca Falar de Si Mesmo

Nunca falar de si mesmo. Quem fala de si ou se há-de gabar, o que é vaidade, ou se há-de vituperar, o que é pouquidade, e sendo culpado de falta de cordura quem fala, a pena é de quem ouve. Se isso é de se evitar entre próximos, muito mais em postos sublimes, onde se fala em público, e passa por nescidade tudo o que se pareça com ela. A mesma falta de cordura está em falar dos presentes, pelo perigo de dar em um dos dois escolhos: lisonja ou vitupério.

Amor ou Posse?

O nosso «amor pelo próximo» não será o desejo imperioso de uma nova propriedade? E não sucede o mesmo com o nosso amor pela ciênica, pela verdade? E, mais geralmente, com todos os desejos de novidade? Cansamo-nos pouco a pouco do antigo, do que possuímos com certeza, temos ainda necessidade de estender as mãos; mesmo a mais bela paisagem, quando vivemos diante dela mais de três meses, deixa de nos poder agradar, qualquer margem distante nos atrai mais: geralmente uma posse reduz-se com o uso. O prazer que tiramos a nós próprios procura manter-se, transformando sempre qualquer nova coisa em nós próprios; é precisamente a isso que se chama possuir.
Cansar-se de uma posse é cansar-se de si próprio. (Pode-se também sofrer com o excesso; à necessidade de deitar fora, pode assim atribuir-se o nome lisonjeiro de «amor). Quando vemos sofrer uma pessoa aproveitamos de bom grado essa ocasião que se oferece de nos apoderarmos dela; é o que faz o homem caridoso, o indivíduo complacente; chama também «amor» a este desejo de uma nova posse que despertou na sua alma e tem prazer nisso como diante do apelo de uma nova conquista. Mas é o amor de sexo para sexo que se revela mais nitidamente como um desejo de posse: aquele que ama quer ser possuidor exclusivo da pessoa que deseja,

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O Significado do Amor

O significado do amor é este: que pelo menos na presença de uma pessoa possamos mostrar-nos completamente a nu. Sabemos que ela ama, pelo que não interpretará mal. Sabemos que ela ama, portanto o medo desaparece. Pode revelar-se tudo. Podem abrir-se todas as portas, pode convidar-se essa pessoa a entrar. Pode começar-se a participar no ser do outro.
O amor é participação, por isso, pelo menos com os seres amados, não seja falso. Não estou a dizer para ser verdadeiro na praça pública, porque isso criaria problemas desnecessários neste preciso momento. Mas comece com o amante, depois com a família, depois com pessoas que estejam mais afastadas de si. A pouco e pouco, aprenderá que ser verdadeiro é tão belo que estará disposto a perder tudo por causa disso. Depois na praça pública – depois a verdade passa simplesmente a ser a sua maneira de viver. O alfabeto do amor, da verdade, deve ser aprendido com aqueles que nos são mais próximos porque esses compreenderão.

A Necessidade do Desarmamento

A realização do plano de desarmamento tem sido prejudicada principalmente por ninguém se dar verdadeiramente conta da enorme dificuldade do problema em geral. A maior parte dos objectivos só são atingidos a passos lentos. Basta pensar na substituição da Monarquia absoluta pela Democracia! É um objectivo que convém atingir depressa.
Com efeito, enquanto não for excluída a possibilidade de guerra, as nações não prescindirão de se prepararem militarmente o melhor possível, para poderem enfrentar vitoriosamente a próxima guerra. Nem tão-pouco se prescindirá de educar a juventude nas tradições guerreiras, de alimentar a comezinha vaidade nacional aliada à glorificação do espírito guerreiro, enquanto for preciso contar com a possibilidade de vir a fazer uso desse espírito dos cidadãos na resolução dos conflitos pelas armas. Armar-se significa precisamente afirmar e preparar a guerra e não a paz! Portanto, não interessa proceder ao desarmamento gradual mas radicalmente, de uma só vez, ou nunca.
A realização de tão profunda modificação na vida dos povos tem como condição um enorme esforço moral e o abandono de tradições profundamente enraizadas. Quem não estiver preparado para, em caso de conflito, fazer depender o destino da sua pátria incondicionalmente das decisões dum tribunal internacional de arbitragem,

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Reinventar o Mistério

Cada vez acredito mais nisso: pode efectivamente haver bom sexo sem pecado. Mas não pode, nunca pôde, nem nunca poderá haver bom sexo sem mistério. Se muitos casais perdem o desejo ao fim de alguns anos, é porque o mistério desapareceu. Se outros tantos o mantêm latejante ao fim de várias décadas, é porque encontraram uma forma de reinventar o mistério. Feitas as contas, tem de haver sempre alguma espontaneidade – até alguma pressa, alguma urgência. E o melhor, apesar de tudo, é que o sexo seja muitas vezes bom e todas as restantes apenas assim-assim. No exacto instante em que for perfeito perderá dois terços do interesse, se não o interesse todo. Da próxima já não poderá ser melhor.

É claro: quatro quintos dos portugueses discordarão aberta e ostensivamente disto. Nos estudos sociológicos e nas conversas de café, nas telenovelas e nas reportagens «do social», não encontro outra coisa senão atletas sexuais – e nenhum atleta sexual alguma vez poderá ser surpreendido a aceitar que a sua última sessão foi apenas assim-assim (e muito menos que a próxima poderá ser assim-assim também).

Uma Vida Calma e Tranquila

A primeira pergunta que Diógenes fez a Alexandre é a primeira pergunta que qualquer pessoa inteligente deve fazer a si própria. Diógenes não desperdiçou um único momento.
– Alexandre, estás a tentar conquistar o mundo inteiro. Então e tu? Terás tempo suficiente, depois de conquistares o mundo, para te conheceres a ti próprio? Tens certezas sobre o amanhã ou sobre o próximo momento?
Alexandre nunca tinha conhecido um homem assim. Ele já tinha vencido grandes reis e imperadores, mas percebeu que Diógenes era um homem muito poderoso. Baixando os olhos, Alexandre respondeu:
– Não te posso dizer que esteja certo sobre o momento seguinte. Mas posso prometer-te uma coisa: quando tiver conquistado o mundo, vou desejar descansar e viver uma vida calma, tal como tu.
Diógenes estava a gozar um banho de sol matinal junto a um rio, rodeado por bonitas árvores. Ele riu-se… por vezes penso que o seu riso ainda deve continuar a ecoar.
Pessoas como Diógenes pertencem à eternidade. As suas assinaturas não são feitas na água.
Alexandre sentiu-se ofendido e perguntou-lhe porque se estava a rir.
– É muito simples! – respondeu Diógenes. – Se eu posso descansar e viver uma vida calma sem ter conquistado o mundo,

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Nascer em Nós

Depositamos pouca fé em nós mesmos. Acreditamos que as boas soluções só podem chegar-nos de fora, como se fossemos incapazes de as criar… Quantas vezes a fé e a esperança aparecem como uma desculpa confortável em que nos instalamos e desistimos de trabalhar!? Queremos muito que tudo mude (para melhor), de uma vez só, com uma só chave milagrosa e… enquanto estamos a dormir.
Outro é o desafio da existência humana. Para além de saber esperar, é preciso lutar e sofrer. Esperar não é ficar à espera, mas encontrar forma para que as coisas aconteçam. O melhor do mundo está no fundo de nós, mas é preciso que o façamos nascer e crescer…

As soluções estão, na maior parte dos casos, no seio dos problemas, quase sempre no exato ponto onde eles nasceram. Os problemas não são becos sem saída, mas muros a transpor: não são algo acabado, mas sim processos… não são quês, são comos.

Deus pode nascer em nós, não vem de fora, como um forasteiro. É connosco. É-nos íntimo. São as nossas mãos que o encarnam… é pela nossa vida que Ele quer chegar ao mundo.

Há muitos que o querem no alto,

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Devo à Paisagem as Poucas Alegrias que Tive no Mundo

Devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os homens só me deram tristezas. Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca me entenderam. Até os mais próximos, os mais amigos, me cravaram na hora própria um espinho envenenado no coração. A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa. É claro que nunca um panorama me interessou como gargarejo. É mesmo um favor que peço ao destino: que me poupe à degradação das habituais paneladas de prosa, a descrever de cor caminhos e florestas. As dobras, e as cores do chão onde firmo os pés, foram sempre no meu espírito coisas sagradas e íntimas como o amor. Falar duma encosta coberta de neve sem ter a alma branca também, retratar uma folha sem tremer como ela, olhar um abismo sem fundura nos olhos, é para mim o mesmo que gostar sem língua, ou cantar sem voz. Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno. Bem sei que há gente que encontra o mesmo universo no jogo dum músculo ou na linha dum perfil.

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Com Quantos Tenho que Casar?

Querida íbis:

Desculpa o papel impróprio em que te escrevo; é o único que encontrei na pasta, e aqui no Café Arcada não têm papel. Mas não te importas, não?
Acabo de receber a tua carta com o postal, que acho muito engraçado.

Ontem foi — não é verdade? — uma coincidência engraçadíssima o facto de eu e minha irmã virmos para a Baixa exactamente ao mesmo tempo que tu. O que não teve graça foi tu desapareceres, apesar dos sinais que eu te fiz. Eu fui apenas deixar minha irmã ao Avda. Palace, para ela ir fazer umas compras e dar um passeio com a mãe e a irmã do rapaz belga que aí está. Eu saí quasi imediatamente, e esperava encontrar-te ali próximo para falarmos. Não quiseste. Tanta pressa tiveste de ir para casa de tua irmã!

E, ainda por cima, quando saí do hotel, vejo a janela de casa de tua irmã armada em camarote (com cadeiras suplementares) para o espectáculo de me ver passar! Claro está que, tendo visto isto, segui o meu caminho como se ali não estivesse ninguém. Quando eu pretendesse ser palhaço (para o que, aliás,

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O Homem Engana-se a Si Próprio

Os homens nunca revelam os verdadeiros objectivos pelos quais actuam. Intimamente, exageram os motivos baixos, materiais: publicamente, anunciam os motivos nobres, espirituais. Mentem em ambos os casos. Os homens não conhecem os outros nem a si próprios.
A maior parte dos homens vive de instinto, hábito e imitação, animalmente – por vezes, com intermédios de felicidade inconsciente. Os poucos superiores sofrem, tentam, desesperam. Os mais elevados são os que desejam apenas as coisas inacessíveis, impossíveis (amor perfeito, arte perfeita, felicidade, eternidade, etc.).
Todos os homens tentam enganar o próximo. Todos os homens procuram superar e dominar o próximo. Todos os homens se imaginam no bem, no passado ou no futuro. Todos homens se esquecem dos verdadeiros fins e fazem dos meios os seus objectivos. Para onde quer que os homens se voltem, depara-se-lhes o impossível. Todos os homens se julgam mais que os outros.
Não basta aos homens possuir um bem, se não for maior que o do próximo. E, obtido um bem, cansam-se dele (saciedade, náusea) – ou então têm medo de o perder e padecem – ou desejam outro. Para obterem um bem imediato, não pensam no mal próximo que advirá.
Todos tentam extrair dos outros mais do que podem: os industriais dos compradores –

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O Destino de Cada Homem é o Seu Maior Prazer

No ser vivo toda a necessidade essencial, que brota do próprio ser e não lhe advém de fora acidentalmente, vai acompanhada de voluptuosidade. A voluptuosidade é a cara, a facies da felicidade. E todo o ser é feliz quando satisfaz o seu destino, isto é, quando segue a encosta da sua inclinação, da sua necessidade essencial, quando se realiza, quando está a ser o que é na verdade. Por esta razão Schlegel dizia, invertendo a relação entre voluptuosidade e destino: «Para o que nos agrada temos génio». O génio, isto é, o dom superlativo de um ser para fazer alguma coisa tem sempre simultaneamente uma fisionomia de supremo prazer. Num dia que está próximo e graças a uma transbordante evidência vamo-nos ver surpreendidos e obrigados a descobrir o que agora somente parecerá uma frase: que o destino de cada homem é, ao mesmo tempo, o seu maior prazer.

Instantâneos Diferentes do Ser

Os seres não cessam de mudar de lugar em relação a nós. Na marcha insensível mas eterna do mundo, nós consideramo-los como imóveis num instante de visão, demasiado breve para que seja percebido o movimento que os arrasta. Mas basta escolher na nossa memória duas imagens suas, tomadas em instantes diferentes, bastante próximos no entanto para que eles não tenham mudado em si mesmo, pelo menos sensivelmente, e a diferença das duas imagens mede a deslocação que eles operavam em relação a nós.