O Segredo de Salvar-me Pelo Amor
Quem há aà que possa o cálix
De meus lábios apartar?
Quem, nesta vida de penas,
Poderá mudar as cenas
Que ninguém pôde mudar ?Quem possui na alma o segredo
De salvar-me pelo amor?
Quem me dará gota de água
Nesta angustiosa frágua
De um deserto abrasador?Se alguém existe na terra
Que tanto possa, és tu só!
Tu sĂł, mulher, que eu adoro,
Quando a Deus piedade imploro,
E a ti peço amor e dó.Se soubesses que tristeza
Enluta meu coração,
Terias nobre vaidade
Em me dar felicidade,
Que eu busquei no mundo em vĂŁo.Busquei-a em tudo na terra,
Tudo na terra mentiu!
Essa estrela carinhosa
Que luz à infância ditosa
Para mim nunca luziu.Infeliz desde criança
Nem me foi risonha a fé;
Quando a terra nos maltrata,
Caprichosa, acerba e ingrata,
Céu e esperança nada é.Pois a ventura busquei-a
No vivo anseio do amor,
Era ardente a minha alma;
Conquistei mais de uma palma
Ă€ custa de muita dor.
Passagens sobre Ânsia
167 resultadosSolilĂłquio
Já que o sol pouco a pouco se desmaia
E meu mal cada vez mais se desvela,
Enquanto a pena, a ânsia, a mágoa vela,
Quero aqui estar sozinho nesta praia.Que bravo o mar se vĂŞ! Como se ensaia
Na fĂşria e contra os ares se rebela!
Como se enrola! Como se encapela!
Parece quer sair da sua raia.Mas tambĂ©m que inflexĂvel, que constante
Aquela penha está à força dura
De tanto assalto e horror perseverante!Ă“ empolado mar, penha segura,
Sois a imagem mais prĂłpria e semelhante
De meu fado e da minha desventura.
Doce Certeza
Por essa vida fora hás-de adorar
Lindas mulheres, talvez; em ânsia louca,
Em infinito anseio hás de beijar
Estrelas d´ouro fulgindo em muita boca!Hás de guardar em cofre perfumado
Cabelos d´ouro e risos de mulher,
Muito beijo d´amor apaixonado;
E nĂŁo te lembrarás de mim sequer…Hás de tecer uns sonhos delicados…
HĂŁo de por muitos olhos magoados,
Os teus olhos de luz andar imersos!…Mas nunca encontrarás p´la vida fora,
Amor assim como este amor que chora
Neste beijo d´amor que sĂŁo meus versos!…
Nenhum Mortal no Mundo Satisfeito
Nenhum mortal no mundo satisfeito
Com sua Sorte está, nunca é contente,
Pois de mil desatinos enche a mente
Sem que possa gozar um bem perfeito.O soldado deseja o canto estreito
Da cela do ermitão, com ânsia ardente:
Este, da guerra, o estrépito fremente
Deseja, sem razĂŁo, ao Ăłcio afeito.O rico, redobrados bens deseja;
O pobre, de quimeras se sustenta;
No coração humano reina a Inveja.Pobre, rico, fidalgo se alimenta
De insaciáveis desejos que lhe peja
Sua Sorte fatal, que os nĂŁo contenta.
Poema do SilĂŞncio
Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angĂşstia e de revolta.Foi em meu nome que fiz,
A carvĂŁo, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
– Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo…O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raĂzes banalĂssimas de egoĂsmo.Que sĂł por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tĂŁo humano!Senhor meu Deus em que nĂŁo creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.
O Inferno de Ser Eu
Ficarei o Inferno de ser Eu, a Limitação Absoluta, ExpulsĂŁo-Ser do Universo longĂnquo! Ficarei nem Deus, nem homem, nem mundo, mero vácuo-pessoa, infinito de Nada consciente, pavor sem nome, exilado do prĂłprio mistĂ©rio, da prĂłpria Vida. Habitarei eternamente o deserto morto de mim, erro abstracto da criação que me deixou atrás. Arderá em mim eternamente, inutilmente, a ânsia (estĂ©ril) do regresso a ser.
NĂŁo poderei sentir porque nĂŁo terei matĂ©ria com que sinta, nĂŁo poderei respirar alegria, ou Ăłdio, ou horror, porque nĂŁo tenho nem a faculdade com que o sinta, consciĂŞncia abstracta no inferno do nĂŁo conter nada, nĂŁo-ConteĂşdo Absoluto, [Sufocação] absoluta e eterna! Oco de Deus, sem universo, (…).
Siderações
Para as Estrelas de cristais gelados
As ânsias e os desejos vão subindo,
Galgando azuis e siderais noivados
De nuvens brancas a amplidĂŁo vestindo…Num cortejo de cânticos alados
Os arcanjos, as cĂtaras ferindo,
Passam, das vestes nos troféus prateados,
As asas de ouro finamente abrindo…Dos etĂ©reos turĂbulos de neve
Claro incenso aromal, lĂmpido e leve,
Ondas nevoentas de Visões levanta…E as ânsias e os desejos infinitos
VĂŁo com os arcanjos formulando ritos
Da Eternidade que nos Astros canta…
Encarnação
Carnais, sejam carnais tantos desejos,
Carnais, sejam carnais tantos anseios,
Palpitações e frêmitos e enleios,
Das harpas da emoção tantos arpejos…Sonhos, que vĂŁo, por trĂŞmulos adejos,
A noite, ao luar, intumescer os seios
Lácteos, de finos e azulados veios
De virgindade, de pudor, de pejos…Sejam carnais todos os sonhos brumos
De estranhos, vagos, estrelados rumos
Onde as Visões do amor dormem geladas…Sonhos, palpitações, desejos e ânsias
Formem, com claridades e fragrâncias,
A encarnação das lĂvidas Amadas!
XXXVIII
Quando, formosa Nise, dividido
De teus olhos estou nesta distancia,
Pinta a saudade, à força de minha ânsia,
Toda a memĂłria do prazer perdido.Lamenta o pensamento amortecido
A tua ingrata, pérfida inconstância;
E quanto observa, é só a vil jactância
Do fado, que os troféus tem conseguido.Aonde a dita está? aonde o gosto?
Onde o contentamento? onde a alegria,
Que fecundava esse teu lindo rosto?Tudo deixei, Ăł Nise, aquele dia,
Em que deixando tudo, o meu desgosto
Somente me seguiu por companhia.
Nas nossas democracias a ânsia da maioria dos mortais Ă© alcançar em sete linhas o louvor do jornal. Para se conquistarem essas sete linhas benditas, os homens praticam todas as acções – mesmo as boas.
Este Ă© o PrĂłlogo
Deixaria neste livro
toda minha alma.
Este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.Que compaixĂŁo dos livros
que nos enchem as mĂŁos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam!Que tristeza tĂŁo funda
é mirar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta!Ver passar os espectros
de vidas que se apagam,
ver o homem despido
em Pégaso sem asas.Ver a vida e a morte,
a sĂntese do mundo,
que em espaços profundos
se miram e se abraçam.Um livro de poemas
Ă© o outono morto:
os versos sĂŁo as folhas
negras em terras brancas,e a voz que os lĂŞ
Ă© o sopro do vento
que lhes mete nos peitos
— entranháveis distâncias. —O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchadas
de chorar o que ama.O poeta é o médium
da Natureza-mĂŁe
que explica sua grandeza
por meio das palavras.
O desejo da glória, o receio da vergonha, a ambição de fazer fortuna, o desejo de tornar a nossa vida cómoda e agradável e a ânsia de rebaixar os outros, são frequentemente as causas deste valor tão célebre entre os homens.
Barrow-On-Furness V
Há quanto tempo, Portugal, há quanto
Vivemos separados! Ah, mas a alma,
Esta alma incerta, nunca forte ou calma,
NĂŁo se distrai de ti, nem bem nem tanto.Sonho, histĂ©rico oculto, um vĂŁo recanto…
O rio Furness, que Ă© o que aqui banha,
SĂł ironicamente me acompanha,
Que estou parado e ele correndo tanto …Tanto? Sim, tanto relativamente…
Arre, acabemos com as distinções,
As subtilezas, o interstĂcio, o entre,
A metafĂsica das sensações –Acabemos com isto e tudo mais …
Ah, que ânsia humana de ser rio ou cais!
Escavação
Numa ânsia de ter alguma cousa,
Divago por mim mesmo a procurar,
Desço-me todo, em vão, sem nada achar,
E a minh’alma perdida nĂŁo repousa.Nada tendo, decido-me a criar:
Brando a espada: sou luz harmoniosa
E chama genial que tudo ousa
Unicamente Ă fĂ´rça de sonhar…Mas a vitĂłria fulva esvai-se logo…
E cinzas, cinzas sĂł, em vez do fogo…
– Onde existo que nĂŁo existo em mim?. . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . .Um cemitério falso sem ossadas,
Noites d’amor sem bĂ´cas esmagadas –
Tudo outro espasmo que princĂpio ou fim…
(…) Cada um se lança Ă vida, sofrendo da ânsia do futuro e do tĂ©dio do presente.
Ocasos
Morrem no Azul saudades infinitas
MistĂ©rios e segredos inefáveis…
Ah! Vagas ilusões imponderáveis,
Esperanças acerbas e benditas.Ă‚nsias das horas mĂsticas e aflitas,
De horas amargas das intermináveis
Cogitações e agruras insondáveis
De febres tredas, trágicas, malditas.Cogitações de horas de assombro e espanto
Quando das almas num relevo santo
Fulgem de outrora os sonhos apagados.E os bracos brancos e tentaculosos
Da Morte, frios, álgidos, nervosos,
Abrem-se pare mim torporizados.
Ă€ medida que aumentavam as ânsias de estar com ela aumentava tambĂ©m o temor de perdĂŞ-la, de modo que os encontros foram ficando cada vez mais apressados e difĂceis.
Toda ânsia é busca de prazer. Todo remorso, piedade, bondade, é o seu temor. Todo o desespero e as buscas de outros caminhos são a insatisfação.
O Lago Do Cisne
Foram meus olhos, duas asas tontas
que ao teu redor, como ao redor da luz
queimaram suas ânsias e ficaram
mortos no chĂŁo, como cigarras mortas…No bailado em que estavas, sobre o palco,
meu desejo – esse fauno de alma triste,
tomaria teu corpo e bailaria
atĂ© que o mundo se fundisse ao sonho…Olhos de luar e vinho que me seguem
na ária da solidão em que me envolvo
sem volta, sem partida, sem transcurso…Foram meus olhos que te descobriram
e ficaram vogando esse abandono
de cisne branco sobre o lago imenso…
Se aquilo que ocasiona prazer aos libertos eliminasse os receios do espĂrito, dos fenĂłmenos da natureza, da morte e das dores, e se ainda ensinasse o conhecimento da limitação das ânsias, nada terĂamos a desaprovar nessas pessoas.