A esperança nĂŁo serĂĄ a prova de um sentido oculto da ExistĂȘncia., uma coisa que merece que se lute por ela?
Passagens sobre ExistĂȘncia
593 resultadosDe entre os seres humanos, apenas conhecemos completamente a existĂȘncia daqueles a quem amamos.
Prazer Convicto ou sem DomĂnio
Quem age em vista do prazer e o persegue, por convicção e decisĂŁo, parece ser melhor do que quem nĂŁo age por cĂĄlculo, mas por falta de domĂnio. Ou seja, o primeiro parece poder ser mais facilmente corrigido, porque pode ser convencido a alterar as suas convicçÔes. Na verdade, o provĂ©rbio: «Se a ĂĄgua Ă© capaz de sufocar, porque a bebemos?» parece poder aplicar-se a quem nĂŁo se domina.
Se alguĂ©m age por ter sido convencido a fazer o que faz, deixarĂĄ de o fazer se for convencido de outro modo. Contudo, estando ele agora convencido de que deve fazer uma coisa, ainda assim farĂĄ uma coisa diferente. Ainda, se perda de domĂnio e o autodomĂnio podem ser ditos a respeito de tudo na existĂȘncia, quem Ă© que existe com uma absoluta falta de domĂnio? Porque ninguĂ©m perde o domĂnio a respeito de tudo. Contudo, dizemos de alguns que tĂȘm uma falta de domĂnio absoluta.
A Natureza Subjectiva do Tempo
O tempo, tal como o espaço, Ă© uma forma pura da intuição ou percepção sensĂvel. Ă a condição de toda a percepção activa imediata, e tambĂ©m de tudo o que Ă© percepcionado, isto Ă©, de toda a experiĂȘncia e de tudo o que Ă© experimentado. A natureza Ă© feita de tempo e de espaço, e Ă© um processo. Quando salientamos o seu aspecto espacial, estamos conscientes da sua natureza objectiva; quando salientamos o seu aspecto temporal, tornamo-nos conscientes da sua natureza subjectiva. Tal como a percepcionamos, a natureza Ă© um processo de devir infindĂĄvel e contĂnuo. As coisas chegam e partem no tempo, mas sĂŁo tambĂ©m temporais – o tempo Ă© o seu modo de existĂȘncia.
Para Além do Hoje
Cada vez mais se vive o momento. Fugimos do passado e temos medo do futuro, o que implica que somos forçados a viver um presente demasiado pequeno.
Os tempos de descanso devem ser ocasião de trabalho interior. Mas, vai sendo cada vez mais raro encontrar gente com memória, assim com também é raro encontrar pessoas com discernimento suficiente para se comprometerem em projetos a longo prazo.
Navega-se Ă vista… sem riscos, sem sucessos nem fracassos… sem sentido. Vamos dando as respostas mĂnimas ao mundo e aos outros, em vez de sermos protagonistas dos nossos sonhos e herĂłis apesar das nossas derrotas.
O passado e o futuro nĂŁo sĂŁo mentira. SĂŁo partes da verdade. Sou o que fui e o que serei. Uma identidade que vive no tempo, uma coerĂȘncia que se constrĂłi atravĂ©s diferentes espaços e tempos, amando o que hĂĄ de eterno em cada momento. Elevando o espĂrito acima da realidade concreta do mundo.Uma existĂȘncia autĂȘntica â uma vida com valor â constrĂłi-se com uma estrutura sĂłlida, equilibrada e aberta a horizontes mais longĂnquos em termos temporais. Um presente maior, com mais passado e mais futuro. Sermos quem somos, de olhos abertos.
O zero Ă© a maior metĂĄfora. O infinito a maior analogia. A existĂȘncia o maior sĂmbolo.
A caridade Ă© o amor Ă© o sol que Nosso Senhor fez raiar claro e fecundo; alegrando, nesta vida a existĂȘncia dolorida dos que sofrem neste mundo
A honra nĂŁo consiste em vanglĂłrias que insufla a vaidade; e sim no Ăntimo contentamento de si mesmo, que Ă© a seiva robusta de que se nutre a sua existĂȘncia.
Os tolos se prendem Ă s falsas existĂȘncias e perdem a liberdade de ação.
Quem, em nome da liberdade, renuncia a ser aquilo que devia ser, jĂĄ se matou em vida: Ă© um suicida de pĂ©. A sua existĂȘncia consistirĂĄ numa perpĂ©tua fuga da Ășnica realidade que era possĂvel.
A partir desse momento, a sua existĂȘncia nĂŁo foi mais do que um amontoado de mentiras, em que ela envolvia o seu amor como que em um vĂ©u para o esconder.
Era uma necessidade, uma mania, um prazer, a tal ponto, que se ela dissesse ter passado ontem pelo lado direito da rua, devia-se acreditar que passara pelo esquerdo.
Se Fosse Alguma Coisa, NĂŁo Poderia Imaginar
Monotonizar a existĂȘncia, para que ela nĂŁo seja monĂłtona. Tornar anĂłdino o quotidiano, para que a mais pequena coisa seja uma distracção. No meio do meu trabalho de todos os dias, baço, igual e inĂștil, surgem-me visĂ”es de fuga, vestĂgios sonhados de ilhas longĂnquas, festas em ĂĄleas de parques de outras eras, outras paisagens, outros sentimentos, outro eu.
Mas reconheço, entre dois lançamentos, que se tivesse tudo isso, nada disso seria meu.Mais vale, na verdade, o patrĂŁo Vasques que os Reis do Sonho; mais vale, na verdade, o escritĂłrio da Rua dos Douradores do que as grandes ĂĄleas dos parques impossĂveis. Tendo o patrĂŁo Vasques, posso gozar a visĂŁo interior das paisagens que nĂŁo existem. Mas se tivesse os Reis do Sonho, que me ficaria para sonhar? Se tivesse as paisagens impossĂveis, que me restaria de possĂvel ?
(…) Posso imaginar-me tudo, porque nĂŁo sou nada. Se fosse alguma coisa, nĂŁo poderia imaginar. O ajudante de guarda-livros pode sonhar-se imperador romano; o Rei de Inglaterra nĂŁo o pode fazer, porque o Rei de Inglaterra estĂĄ privado de o ser, em sonhos, outro rei que nĂŁo o rei que Ă©. A sua realidade nĂŁo o deixa sentir.
Existir Ă© algo; isso esmaga todas as razĂ”es. Nenhuma razĂŁo pode conceder a existĂȘncia, nenhuma existĂȘncia pode dar as suas razĂ”es.
Alma e Corpo – A IlusĂŁo da Integridade
Em qualquer momento em que a consideremos, a nossa alma total tem sempre um valor quase fictĂcio, apesar do numeroso balanço das suas riquezas, pois ora umas, ora outras, sĂŁo indisponĂveis, quer se trate de riquezas efectivas como de riquezas da imaginação… Pois as perturbaçÔes da memĂłria estĂŁo ligadas Ă s intermitĂȘncias do coração.
Ă sem dĂșvida a existĂȘncia do nosso corpo, semelhante para nĂłs a um vaso em que estaria encerrada a nossa espiritualidade, que nos induz a supor que todos os nossos bens interiores, as alegrias passadas, todas as nossas dores, estĂŁo perpetuamente em nossa possessĂŁo.
Por esse intrincado labirinto de ruas e bibocas Ă© que vive uma grande parte da população da cidade, a cuja existĂȘncia o governo fecha os olhos, embora lhe cobre atrozes impostos, empregados em obras inĂșteis e suntuĂĄrias noutros pontos do Rio de Janeiro.
Ă agradĂĄvel, de tempos em tempos, tentar imaginar o que teria sido a existĂȘncia se Deus tivesse conseguido um orçamento e roteirista melhores.
Todos Pensam de Forma Diferente, e Muitas Vezes Efémera
Cada indivĂduo vĂȘ o mundo – e o que este tem de acabado, de regular, de complexo e de perfeito – como se se tratasse apenas de um elemento da Natureza a partir do qual tivesse que constituir um outro mundo, particular, adaptado Ă s suas necessidades. Os homens mais capazes tomam-no sem hesitaçÔes e procuram na medida do possĂvel comportar-se de acordo com ele. HĂĄ outros que nĂŁo se conseguem decidir e que ficam parados a olhar para ele. E hĂĄ ainda os que chegam ao ponto de duvidar da existĂȘncia do mundo.
Se alguĂ©m se sentisse tocado por esta verdade fundamental, nunca mais entraria em disputas e passaria a considerar, quer as representaçÔes que os outros possam fazer das coisas, quer a sua, como meros fenĂłmenos. Porque de facto verificamos quase todos os dias que aquilo que um indivĂduo consegue pensar com toda a facilidade pode ser impossĂvel de pensar para um outro. E nĂŁo apenas em relação a questĂ”es que tivessem uma qualquer influĂȘncia no bem estar ou no sofrimento das pessoas, mas tambĂ©m a propĂłsito de assuntos que nos sĂŁo totalmente indiferentes.
Este desejo de elevar o mais possĂvel a pirĂąmide da minha existĂȘncia, cuja base me foi dada e me domina, ultrapassa qualquer outro e mal me permite um instante de esquecimento.
A lei seca da arte Ă© esta: ‘Ne quid nimis’, nada alĂ©m do necessĂĄrio. Tudo o que Ă© supĂ©rfluo, tudo aquilo que podemos suprimir sem alterar a essĂȘncia Ă© contrĂĄrio Ă existĂȘncia da beleza.
Não se Consegue ser Exterior à Nossa Própria Indiferença
A dificuldade da existĂȘncia estava precisamente neste problema concreto: por diversas vezes Walser se vira, ao longe, alegre, e tambĂ©m de longe observara a sua prĂłpria tristeza ou irritação. Nada de mais. Mas o que nunca conseguira era ser exterior Ă indiferença; ser exterior a si nos momentos, inĂșmeros, em que se encontrava neutro face Ă s coisas, inerte e em estado de espera perante a possibilidade de um acto ou do seu contrĂĄrio. Quanto mais intensidade existia no corpo, mais fĂĄcil era afastar-se, ser testemunha de si prĂłprio. As dificuldades de observação privilegiada, de uma existĂȘncia que lhe pertencia, surgiam assim, de um modo extremo, quando a intensidade dos sentimentos era quase nula. Se ele jĂĄ lĂĄ nĂŁo estava â na existĂȘncia â como se poderia ainda afastar mais?
Mas o que era concretamente este lĂĄ, este outro sĂtio que por vezes parecia ser o seu centro outras vezes o seu oposto? Sobre a localização geral desse lĂĄ, Walser nĂŁo tinha dĂșvidas: era o cĂ©rebro. Era ali que tudo se passava ou que tudo o que se passava era observado. Ali fazia, e ali via-se a fazer. Como qualquer louco normal, pensou Walser, e sorriu da fĂłrmula.
Gonçalo M.