GratidĂŁo
A minha gratidĂŁo te dĂĄ meus versos:
Meus versos, da lisonja nĂŁo tocados,
Satélites de Amor, Amor seguindo
Co’as asas que lhes pĂŽs benigna Fama,
Qual nĂveo bando de inocentes pombas,
Os lares vĂŁo saudar, propĂcios lares,
Que em doce recepção me contiveram
Incertos passos da IndigĂȘncia errante;
Dos olhos vĂŁo ser lidos, que apiedara
A catĂĄstrofe acerba de meus dias,
Dos infortĂșnios meus o quadro triste;
VĂŁo pousar-te nas mĂŁos, nas mĂŁos que foram
TĂŁo dadivosas para o vate opresso,
Que o peso dos grilhÔes me aligeiraram,
Que sobre espinhos me esparziram flores,
Enquanto nĂŁo recentes, vĂŁos amigos,
InĂșteis coraçÔes, volĂșvel turba
(A versos mais atenta que a suspiros)
No Letes mergulhou memĂłrias minhas.
Amigos da Ventura e nĂŁo de Elmano,
Aónio serviçal de vós me vinga;
Ao nome da Virtude o VĂcio core.NĂŁo sei se vens de herĂłis, se vens de grandes;
NĂŁo sei, meu benfeitor, se teus maiores
Foram cobertos, decorados foram
De purpĂșreos dossĂ©is, de mĂĄrcios loiros;
Sei que frequentas da Amizade o templo,
Que Ă©s grande,
Passagens sobre InfortĂșnio
64 resultadosA Compaixão como Prevenção
A compaixĂŁo Ă© frequentemente um sentimento dos nossos males nos males dos outros. Ă uma hĂĄbil antevisĂŁo dos infortĂșnios em que podemos cair. Damos auxĂlio aos outros para levĂĄ-los a nos dar outro tanto em ocasiĂ”es semelhantes; e os serviços que lhes prestamos sĂŁo, para dizer a verdade, bens que fazemos a nĂłs mesmos de antemĂŁo.
Todos temos força suficiente para agĂŒentar os infortĂșnios dos outros.
Quem nĂŁo tem o espĂrito da sua idade,
da sua idade tem todo o infortĂșnio.
Reflita sobre as suas bĂȘnçãos presentes, as quais todo homem tem bastante; e nĂŁo sobre os infortĂșnios passados, os quais todos homens tĂȘm alguns.
A Um GĂ©rmen
Começaste a existir, geléia crua,
E hĂĄs de crescer, no teu silĂȘncio, tanto
Que, Ă© natural, ainda algum dia, o pranto
Das tuas concreçÔes plåsmicas flua!A ågua, em conjugação com a terra nua,
Vence o granito, deprimindo-o … O espanto
Convulsiona os espĂritos, e, entanto,
Teu desenvolvimento continua!Antes, geléia humana, não progridas
E em retrogradaçÔes indefinidas,
Volvas Ă antiga inexistĂȘncia calma!…Antes o Nada, oh! gĂ©rmen, que ainda haveres
De atingir, como o gérmen de outros seres,
Ao supremo infortĂșnio de ser alma!
HĂĄ quatro espĂ©cies de amigos que o sĂŁo sinceramente: o que ajuda, o que permanece igual na prosperidade e no infortĂșnio, o que dĂĄ um bom conselho e o que tem uma simpatia real por nĂłs.
Afinal de tudo, os homens mais felizes sĂŁo aqueles a quem um infortĂșnio se impĂ”e mais levemente do que esperavam.
A amizade aumenta a felicidade e reduz o infortĂșnio, multiplicando a nossa alegria e dividindo a nossa dor.
Diabo: o autor de todos os nossos infortĂșnios e proprietĂĄrio de todas as coisas boas deste mundo.
O infortĂșnio illumina o entendimento. Para o que sofreu nĂŁo ha mistĂ©rios de dor no coração do estranho.
lamento para a lĂngua portuguesa
nĂŁo Ă©s mais do que as outras, mas Ă©s nossa,
e crescemos em ti. nem se imagina
que alguma vez uma outra lĂngua possa
pĂŽr-te incolor, ou inodora, insossa,
ser remédio brutal, mera aspirina,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vida nova e repentina.
mas Ă© o teu paĂs que te destroça,
o teu prĂłprio paĂs quer-te esquecer
e a sua condição te contamina
e no seu dia-a-dia te assassina.
mostras por ti o que lhe vais fazer:
vai-se por cĂĄ mingando e desistindo,
e desde ti nos deitas a perder
e fazes com que fuja o teu poder
enquanto o mundo vai de nĂłs fugindo:
ruiu a casa que Ă©s do nosso ser
e este anda por isso desavindo
connosco, no sentir e no entender,
mas sem que a desavença nos importe
nĂłs jĂĄ falamos nem sequer fingindo
que sĂł ruĂnas vamos repetindo.
talvez seja o processo ou o desnorte
que mostra como Ă© realidade
a relação da lĂngua com a morte,
o nĂł que faz com ela e que entrecorte
a corrente da vida na cidade.
A vida Ă© breve, mas os seus infortĂșnios fazem-na parecer longa.
Adeus Tranças Cor de Ouro
Adeus tranças cor de ouro,
Adeus peito cor de neve!
Adeus cofre onde estar deve
Escondido o meu tesouro!Adeus bonina, adeus lĂrio
Do meu exĂlio de abrolhos!
Adeus, Ăł luz dos meus olhos
E meu tĂŁo doce martĂrio!Adeus meu amor-perfeito,
Adeus tesouro escondido,
E de guardado, perdido
No mais Ăntimo do peito.Desfeito sonho dourado,
Nuvem desfeita de incenso
Em quem dormindo sĂł penso,
Em quem sĂł penso acordado!VisĂŁo, sim, mas visĂŁo linda,
Sonho meu desvanecido!
Meu paraĂso perdido
Que de longe adoro ainda!Nuvem que ao sopro da aragem
Voou nas asas de prata,
Mas no lago que a retrata
Deixou esculpida a imagem!Rosa de amor desfolhada
Que n’alma deixou o aroma,
Como o deixa na redoma
Fina essĂȘncia evaporada!Gota de orvalho que o vento
Levou do cĂĄlix das flores,
Curto abril dos meus amores,
Primavera de um momento!Adeus Sol, que me alumia
Pelas ondas do oceano
Desta vida, deste engano,
A Boa Disposição
A boa disposição Ă© o grande lubrificante da roda da vida. Torna o trabalho mais leve, reduz as dificuldades e mitiga os infortĂșnios. A boa disposição dĂĄ um poder criador que os pessimistas nĂŁo conseguem ter. Uma disposição alegre, esparançosa e optimista torna a vida mais suave, alivia a sua inevitĂĄvel monotonia e amortece os solavancos da estrada da vida.
Os doentes sĂŁo o maior perigo para os sĂŁos; nĂŁo Ă© dos mais fortes que vem o infortĂșnio dos fortes, e sim dos mais fracos.
Perder um pai ou uma mĂŁe, senhor Worthing, pode ser considerado um infortĂșnio; mas perder ambos parece descuido.
Quando o infortĂșnio se torna geral num paĂs, o egoĂsmo torna-se universal.
TĂŁo-somente o infortĂșnio pode converter um coração de pedra num coração humano.
Quanta Tristeza e Amargura
Quanta tristeza e amargura afoga
Em confusĂŁo a ‘streita vida!
Quanto InfortĂșnio mesquinho
Nos oprime supremo!
Feliz ou o bruto que nos verdes campos
Pasce, para si mesmo anĂŽnimo, e entra
Na morte como em casa;
Ou o sĂĄbio que, perdido
Na ciĂȘncia, a fĂștil vida austera eleva
Além da nossa, como o fumo que ergue
Braços que se desfazem
A um céu inexistente.