Passagens sobre Intelectuais

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Diz-me o que comes, dir-te-ei o que és. O carácter de uma raça pode ser deduzido simplesmente do seu método de assar a carne. Um lombo de vaca preparado em Portugal, em França, ou Inglaterra, faz compreender talvez melhor as diferenças intelectuais destes três povos do que o estudo das suas literaturas.

A Tirania Intelectual do Número

«Uma das mais estranhas ideias do vulgo, previu Henry Maine, é que o sufrágio universal pode promover e promoverá progresso, criando novas ideias, novas invenções, novas artes. Mas as probabiblidades são para que só produza uma forma nociva de conservantismo». Temos de admitir, com os ingleses ricos em preconceitos, que a democracia é hostil ao génio e à arte. Porque ela só dá valor ao que cabe dentro da compreensão dos espíritos médios; quando vê erguer-se o palácio de um cinema, julga tratar-se do Pártenon; «se dependesse da assembleia ateniense nunca o mundo teria a Acrópole» (Plutarco, Vida de Péricles).
A tirania intelectual do número pode tornar-se tão torturante como a dos monarcas; em alguns estados americanos o conhecimento acima de um certo limite já é considerado coisa perigosa. A desconfiança que a democracia tem da individualidade decorre da teoria da igualdade; desde que todos são iguais, basta a contagem dos narizes para a descoberta da verdade ou a santificação de um costume. E a democracia não é apenas uma filha da era da máquina que governa por meio de «máquinas»; ainda encerra em si a potencialidade da mais terrível das máquinas – a compulsão dos ignorantes contra a diferença,

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Enquanto a posição social e a riqueza podem contar sempre com a alta consideração na sociedade, os méritos intelectuais nunca devem esperar por ela. Nos casos mais favoráveis, serão ignorados; caso contrário, serão vistos como uma espécie de impertinência ou como um bem, que o seu possuidor adquiriu ilicitamente e ainda se atreve a jactar-se.

Passatempo: um dispositivo para promover a depressão. Exercício suave para a debilidade intelectual.

Nenhuma Época Transmite a Outra a sua Sensibilidade

Nenhuma época transmite a outra a sua sensibilidade; transmite-lhe apenas a inteligência que teve dessa sensibilidade. Pela emoção somos nós; pela inteligência somos alheios. A inteligência dispersa-nos; por isso é através do que nos dispersa que nos sobrevivemos. Cada época entrega às seguintes apenas aquilo que não foi.

Um deus, no sentido pagão, isto é, verdadeiro, não é mais que a inteligência que um ente tem de si próprio, pois essa inteligência, que tem de si próprio, é a forma impessoal, e por isso ideal, do que é. Formando de nós um conceito intelectual, formamos um deus de nós próprios. Raros, porém, formam de si próprios um conceito intelectual, porque a inteligência é essencialmente objectiva. Mesmo entre os grandes génios são raros os que existiram para si próprios com plena objectividade.

Viver é pertencer a outrem. Morrer é pertencer a outrem. Viver e morrer são a mesma coisa. Mas viver é pertencer a outrem de fora, e morrer é pertencer a outrem de dentro. As duas coisas assemelham-se, mas a vida é o lado de fora da morte. Por isso a vida é a vida e a morte a morte, pois o lado de fora é sempre mais verdadeiro que o lado de dentro,

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Personalidade Limitada

Há pessoas muito competentes no seu ofício mas que nunca se adaptam a certos obstáculos menores, como a nomes que desconhecem e saem do habitual. Também nunca sabem usar uma chave de fendas e não são capazes de conhecer uma marca de carros pelas jantes, por exemplo. Cada indivíduo tem um espaço muito limitado de operação e o seu cérebro trabalha num pequeno circuito de observações; a sua evolução é restrita ao que o rodeia e aos factos exteriores mais próximos. A educação sem grandes exigências de comportamento social e intelectual, leva-os a formar uma personalidade mesquinha, às vezes ressentida e admiradora de extremos, como da liderança dum chefe.

O Provincianismo Português (II)

Se fosse preciso usar de uma só palavra para com ela definir o estado presente da mentalidade portuguesa, a palavra seria “provincianismo”. Como todas as definições simples esta, que é muito simples, precisa, depois de feita, de uma explicação complexa. Darei essa explicação em dois tempos: direi, primeiro, a que se aplica, isto é, o que deveras se entende por mentalidade de qualquer país, e portanto de Portugal; direi, depois, em que modo se aplica a essa mentalidade.
Por mentalidade de qualquer país entende-se, sem dúvida, a mentalidade das três camadas, organicamente distintas, que constituem a sua vida mental — a camada baixa, a que é uso chamar povo; a camada média, a que não é uso chamar nada, excepto, neste caso por engano, burguesia; e a camada alta, que vulgarmente se designa por escol, ou, traduzindo para estrangeiro, para melhor compreensão, por elite.
O que caracteriza a primeira camada mental é, aqui e em toda a parte, a incapacidade de reflectir. O povo, saiba ou não saiba ler, é incapaz de criticar o que lê ou lhe dizem. As suas ideias não são actos críticos, mas actos de fé ou de descrença, o que não implica, aliás,

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Aquilo em que se Tem Mais Vaidade é o Corpo

Aquilo em que se tem mais vaidade é o corpo. Mesmo que aleijado, há sempre um pormenor que nos envaidece. Compô-lo. Arranjá-lo. O careca puxa o cabelo desde o cachaço ou do olho do cú para tapar a degradação. O marreco faz peito. O espelho é para todos o grande dialogante. Passa-se a uma vitrina e olha-se de soslaio a ver como se vai. Uma mulher perfeita (e um homem) não inveja o intelectual, o artista. O inverso é que é. Muitas mulheres (e homens) cultivam a excepcionalidade do seu espírito ou engenho por complexo ou vingança. Quando se não tem já vaidade no corpo, está-se no fim. Mas mesmo num leito de morte nos queremos «compostos». «Não me descomponhas» — disse a marquesa de Távora ao carrasco, uns momentos antes de ser decapitada. Tomam-se providências para como se há-de ir no caixão. A degradação do corpo é a última coisa que se aceita. Hoje lavei o carro e vesti um calção para me não molhar. Dei uma vista de olhos ao espelho. Grumos, tumefacções pelas pernas. Não gostei. Não muito tempo. Lembrou-me um certo professor. Tinha a bossa da oratória. E então contava: escrevia um discurso e lia. Parecia-lhe péssimo.

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O Riso é o Melhor Indicador da Alma

Acho que, na maioria dos casos, quando uma pessoa se ri torna-se nojento olharmos para ela. Manifesta-se no riso das pessoas, na maioria das vezes, qualquer coisa de grosseiro que humilha a quem ri, embora essa pessoa quase nunca saiba que efeito o seu riso provoca. Tal como não sabe (ninguém sabe, aliás) a cara que faz quando dorme. Há quem mantenha no sono uma cara inteligente, mas outros há que, embora inteligentes, fazem uma cara tão estúpida a dormir que se torna ridícula.
Não sei por que tal acontece, apenas quero salientar que a pessoa que ri, tal como a pessoa que dorme, não sabe a cara que faz. De uma maneira geral, há muitíssimas pessoas que não sabem rir. Aliás, isso não é coisa que se aprenda: é um dom, não se pode aperfeiçoar o riso. A não ser que nos reeduquemos interiormente, que nos desenvolvamos para melhor e que superemos os maus instintos do nosso carácter: então também o riso poderá possivelmente mudar para melhor. A pessoa manifesta no riso aquilo que é, é possível conhecermos num instante todos os seus segredos.
Mesmo o riso incontestavelmente inteligente é, às vezes, abominável. O riso exige em primeiro lugar sinceridade,

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Espírito Aniquilado pelo Corpo

O corpo encerra o espírito numa fortaleza; depressa a fortaleza é cercada por todos os lados, e por fim o espírito tem de se render. Mas, limitando-me a distinguir as duas espécies de perigos que ameaçam o espírito, e começando pelo exterior, lembrava-me de que já muitas vezes na vida me acontecera, em momentos de excitação intelectual em que uma circunstãncia qualquer suspendera em mim toda a actividade física (por exemplo, ao deixar de carruagem, meio embriagado, o restaurante de Rivebelle a caminho de um casino qualquer nas proximidades), sentir muito nitidamente dentro de mim o objecto actual do meu pensamento e compreender até que ponto dependia de um acaso, não apenas que tal objecto não entrasse ainda nos meus pensamentos, mas que fosse aniquilado com o meu próprio corpo.

Ser Português, Ainda

Para ser português, ainda, vive-se entre letras de poemas e esperanças, cantigas e promessas, de passados esquecidos e futuros desejados, sem presente, sem pensamento, sem Portugal. Para ser português, ainda, aprende-se a existir no gume da tristeza, como um equilibrista num andaime de navalhas levantadas, numa obra que se vai construindo sob uma arquitectura de demolição. Tínhamos direito a um Portugal inteiro, com povo e com a terra, mas o povo enlouqueceu e a terra foi arrasada e tudo o que era pátria, doce e atrevida, se afasta à medida que olhamos para ela, tal é a ânsia de apagamento e de perdição. Restam-nos sons e riscos. Portugal encolheu-se. Escondeu-se nos poetas e cantores. Recolheu-se nas vozes fundas de onde nasceu. Portugal abrigou-se em portugueses e portuguesas nos quais uma ideia de Portugal nunca se perdeu.

Para se ser português, ainda, é preciso estreitar os olhos e molhar a garganta com vinho tinto para poder gritar que isto assim não é Portugal, não é país, não é nada. Torna-se cada vez mais difícil que o povo e a terra e a ideia se possam alguma vez reunir.
É preciso defender violentamente as instituições: a Universidade, o Parlamento,

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O Bem e o Mal

Em princípio, é justo que se mostre maior afecto por aqueles que mais contribuíram para o enobrecimento dos homens e da vida humana. Se porém indagarmos quais são esses homens vemo-nos perante dificuldades. Nos chefes políticos, e até mesmo nos chefes religiosos, é por vezes bastante duvidoso sabermos se o que fizeram serviu mais para o bem do que para o mal.
Creio pois, muito sériamente, que a melhor maneira de servir os homens é ocupá-los numa tarefa nobre, mediante a qual eles se enobrecem indirectamente. Isto aplica-se em primeiro lugar aos artistas notáveis, em segundo lugar aos investigadores. É certo que os resultados da investigação não enobrecem nem enriquecem o homem; o que o enobrece são os esforços que faz pela compreensão, o trabalho intelectual produtivo e receptivo.
Seria decerto descabido querer-se ajuizar do valor do Talmude pelos seus resultados intelectuais.

O que parece ser otimismo é em geral efeito de um erro intelectual. Em The Opium of the Intellectuals

Aprender a Ser Feliz

É impossível exigir a estabilidade plena da energia psíquica, pois ela organiza-se, desorganiza-se (caos) e reorganiza-se continuamente. Não existem pessoas que sejam sempre calmas, alegres e serenas. Nem mesmo existem pessoas ansiosas, irritadas e incoerentes permanentemente. Ninguém é emocionalmente estático, a não ser que esteja morto. Devemos reagir e comportar-nos segundo determinado padrão para não sermos instáveis, mas este padrão reflectirá sempre uma emoção flutuante.

A pessoa mais tranquila perderá a paciência. A pessoa mais ansiosa terá momentos de calma. Só os computadores são rigorosamente estáveis. Por isso, eles são lógicos, programáveis e, portanto, de baixa complexidade. Nós, pelo contrário, somos tão complexos que a nossa disposição, humor e interesses mudam com frequência. Devemos estar preparados para enfrentar os problemas internos e externos. Devemos ter consciência de que os problemas nunca vão desaparecer nesta sinuosa e bela existência. Podemos evitar alguns, outros porém são imprevisíveis.

Mas os problemas existem para serem resolvidos e não para nos controlarem. Infelizmente, muitos são controlados por eles. A melhor maneira de ter dignidade diante das dificuldades e dos sofrimentos existenciais é extrair lições deles. Caso contrário, o sofrimento é inútil. Ser feliz, do ponto de vista da psicologia, não é ter uma vida perfeita,

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Nunca Mostrar Espírito e Entendimento

Como ainda é inexperiente quem supõe que, ao mostrar espírito e entendimento, recorre a um meio seguro para fazer-se benquisto em sociedade! Na verdade, na maioria das pessoas, tais qualidades despertam ódio e rancor, que serão tão mais amargos quanto quem os sentir não tiver o direito de externar o motivo, chegando até a dissimulá-lo para si mesmo. Isso acontece da seguinte forma: se alguém nota e sente uma grande superioridade intelectual naquele com quem fala, então conclui tacitamente e sem consciência clara que este, em igual medida, notará e sentirá a sua inferioridade e a sua limitação. Essa conclusão desperta o ódio, o rancor e a raiva mais amarga.
(…) Mostrar espírito e entendimento é uma maneira indirecta de repreender nos outros a sua incapacidade e estupidez. Ademais, o indivíduo comum revolta-se ao avistar o seu oposto, sendo a inveja o seu instigador secreto. A satisfação da vaidade é, como se pode ver diariamente, um prazer que as pessoas colocam acima de qualquer outro, mas que só é possível por intermédio da comparação delas próprias com os demais. No entanto, nenhum mérito torna o homem mais orgulhoso do que o intelectual: só neste repousa a sua superioridade em relação aos animais.

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O Tumulto

O tumulto concentrado da minha imaginação intelectual…
Fazer filhos à razão prática, como os crentes enérgicos…
Minha juventude perpétua
De viver as coisas pelo lado das sensações e não das responsabilidades.
(Álvaro de Campos, nascido no Algarve, educado por um tio-avô, padre,
que lhe instilou um certo amor às coisas clássicas.) (Veio para Lisboa muito novo …)
A capacidade de pensar o que sinto, que me distingue do homem vulgar
Mais do que ele se distingue do macaco.
(Sim, amanhã o homem vulgar talvez me leia e compreenda a substância do meu ser,
Sim, admito-o,
Mas o macaco já hoje sabe ler o homem vulgar e lhe compreende a substância do ser.)

Se alguma coisa foi por que é que não é
Ser não é ser?

As flores do campo da minha infância, não as terei eternamente,
Em outra maneira de ser?
Perderei para sempre os afetos que tive, e até os afetos que pensei ter?
Há algum que tenha a chave da porta do ser, que não tem porta,
E me possa abrir com razões a inteligência do mundo?

Os Falsos Cultos

A maior parte das pessoas, ao entregarem-se às chamadas ocupações intelectuais, considerando como tais o ler e o escrever (não o escrever cartas, mas o escrever como autor), não fazem de modo algum o que julgam fazer: porque nem embelezam a sua cultura – «ampliar» a sua cultura, como se costuma dizer, é um disparate horroroso – nem aguçam o seu entendimento, nem enriquecem a sua experiência, e não produzem mais nem nada mais importante que aqueles rapazes que remexem a terra à beira de um charco, deitam pedras para a água turva, etc., em suma, um nada em grande azáfama.
Nenhum bocado da superfície de uma figura pode ser criado senão a partir do seu âmago.

Ode Marítima

Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão,
Olho pro lado da barra, olho pro Indefinido,
Olho e contenta-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira.
Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo.
Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio,
Aqui, acolá, acorda a vida marítima,
Erguem-se velas, avançam rebocadores,
Surgem barcos pequenos de trás dos navios que estão no porto.
Há uma vaga brisa.
Mas a minh’alma está com o que vejo menos,
Com o paquete que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.

Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente,

Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.

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